Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

1

Foi uma viagem um tanto quanto constrangedora, Mauricio não se lembrava há quanto tempo não colocava uma mulher dentro do carro, a última tinha sido Soraia. Shirley era uma moça desinibida e foi ela quem puxou assunto:

—  E então? Viagem de negócios?

—  Na verdade não. Estou indo ver meu filho. Eu e ele vamos passar algum tempo juntos. A mãe dele vai fazer uma viagem ao exterior.

— Então você já foi casado. 
Mauricio ponderou por alguns segundos.

— Me divorciei recentemente.

— Me desculpe. Não é da minha conta. Não quis ser bisbilhoteira. Mas sei bastante coisa sobre você. Disso eu não sabia.

Ele se lembrou de sua agente, na época tentando animá-lo, dizendo que podiam usar a coisa da separação para promover ainda mais sua carreira. Mas ele tinha optado pelo anonimato. Nenhuma palavra sobre aquilo vazou para a mídia. Quando a coisa vazou, eles já estavam separados há um ano e já não importava mais.

— Bem... isso é constrangedor para ambas as partes...

— Sei como é.

Mauricio achava que ela não sabia, não tinha idade suficiente para saber, mas não disse nada.

Atirou fora a guimba de cigarro e ligou o rádio.

— Gosta de rock? – Perguntou esperançoso.

— Rock é vida. – Ela sorriu aparentemente se lembrando de alguma coisa.

— O que foi?

— Eu me lembrei... quando eu tinha uns 19 anos comecei a namorar um cara e ele começou com uma mania esquisita de me chamar de mano, tá ligado... esse tipo de coisa.

— E o que você fez?

— Mandei ele pastar.

— Garota inteligente.

— Passei a minha vida inteira ouvindo rock.

— E você não tem namorado?

Shirley o fitou com um sorriso nos lábios, depois olhou para a noite.

— Não. Por enquanto não. Tenho outras prioridades. Uma delas é a faculdade de letras.

Mauricio ponderou que estava diante de uma moça cheia de autocontrole. Ela ia longe na vida, se tivesse foco e força de vontade. Era o tipo de mulher pela qual ele se interessaria, talvez se ela fosse mais velha. Era uma garota bonita e atraente, embora ele não estivesse seriamente atraído por ela. Ele achava que aquilo era um trauma. Desde a coisa com Soraia, ele acabou se retraindo dentro de uma espécie de bolha de segurança. Não tinha ideia de quanto tempo ficaria lá, só sabia que não tinha a menor vontade de sair. As coisas estavam bem assim, e era melhor deixar. Não se mexe naquilo que está quieto.
Seguiram o resto da viagem em silêncio, ouvindo o som da música de rock que parecia encher a noite agora enluarada. Não havia qualquer vestígio da tempestade que tinha caído minutos antes. Mauricio ponderou que havia qualquer coisa de mágico na noite, e na forma como a lua passava a dominar o céu.

— Chegamos. – Disse Shirley, e Mauricio quase deu um salto, - Minha entrada é logo ali na frente.

Eles pararam diante de uma porteira preta, típica daquelas regiões rurais, e Mauricio parou o jipe. A porteira evocou algumas lembranças de sua infância. Mauricio tinha sido criado nas regiões rurais, ali de Pindamonhangaba, passara grande parte da vida em contato com animais de fazenda e com natureza. Naquela época a vida era boa e ele não sabia.

Era engraçado o contraste que havia entre a infância e a vida adulta. As crianças pareciam viver em um mundo à parte, um mundo mágico e perfeito, sem guerras, dominado pela inocência e pela diversão. Quando se crescia aquele mundo mágico, frágil começava a desmoronar e não havia nada que se pudesse fazer para reverter o processo. Você era tirado de lá à força, não tinha escolha, e logo era apresentado ao mundo real, cheio de dor, decepção, dominado pelo terror da compreensão e a perda irreversível da inocência. Pensando por esse prisma, Mauricio chegava à conclusão de que o ser humano era amaldiçoado, e a maldição se chamava vida, que nada mais era do que uma corrida desenfreada em direção à morte.

Shirley olhou para ele e sob o luar que agora dominava o céu, aquele olhar era quase hipnotizante. Ela parecia uma índia saída de alguma lenda. Os dois ficaram alguns segundos em silêncio, parecia que ela queria dizer algo, mas ele sabia que ela não ia dizer, depois ela segurou a maçaneta e destravou a porta.

— Bem, estou entregue. – Disse ela. - Obrigada pela carona.

— Você mora aqui? – Perguntou Mauricio olhando para a porteira e não vendo nenhuma casa.

— Lá em cima. A casa fica a uns quatrocentos metros.

— Ótimo.

Ela abriu a porta e foi descendo, mas parou de repente.

— Quer saber... quer entrar um pouco?  - Era um convite. O primeiro convite que ele recebia de uma mulher depois da separação. - Meu pai ia adorar conhecer você.

— Bem... Eu adoraria, mas preciso seguir viagem...

— Uns quinze minutos. Seja lá para onde for que estiver indo, você deve estar atrasado mesmo. O que são mais quinze minutos? Meu pai pode te contar melhor aquela história e te mostrar a coisa... a esfera.

Mauricio suspirou e pensou um pouco. Até que ponto ele estava interessado naquela história? Parecia alguma coisa bem promissora, algum tipo de lenda local contada de uma maneira que ele nunca tinha ouvido. E aquela garota estava dizendo que o pai dela tinha em casa a tal esfera, uma coisa, que segundo uma lenda, aprisionava uma bruxa indígena e uma legião de demônios. Era basicamente o que ele estava procurando para começar a escrever seu novo livro.

Quinze minutos. O que eram quinze minutos para um cara que já estava atrasado há horas? Além disso, ele podia dar uma olhada na coisa. Podia ser apenas um velho maluco que colecionava porcarias (e tinha uma coleção dos livros dele, Shirley dissera), mas e se não fosse? Se não fosse ele precisava de uma história pra contar no seu próximo livro, e aquele pessoal parecia ter uma história.

— Bem, quinze minutos não é nada, e se tiver café fica melhor ainda.

Shirley sorriu.

— Posso fazer um bom bule de café Sr. Maurício.

Ela desceu e abriu a porteira. Maurício passou e ela voltou a fechar.

Depois ele prosseguiu aos trancos e barrancos por uma pequena estrada cercada por uma floresta. O lugar devia ser belo durante o dia, mas agora, de noite, parecia que ele estava entrando diretamente dentro do cenário de algum filme de terror Slash, podia prever que a qualquer momento um assassino psicopata estilo Jason, munido de um machado ensanguentado, ia pular na frente do Jipe, a qualquer momento.

Logo ele viu algumas lâmpadas acesas e uma casa típica de roça apareceu semi oculta pelas trevas da noite, acesa daquela forma ela assemelhava-se a um estranho monstro.

À esquerda ficava um velho galpão, talvez um celeiro. A casa tinha uma varanda que fazia um L na fachada.

Um velho corcel 1 laranja, com pneus com bandas brancas, estava parado perto da varanda, e Maurício logo pôde ver que, apesar de velho, o carro estava em quase perfeito estado de conservação.

Mauricio, que adorava carros antigos, desceu e passou a admirar o carro.

— Você encontrou o zé.

— Zé?

— É o xodozinho do meu pai. Ele comprou esse carro em 1973 e desde então não comprou nenhum carro na vida.

— Único dono?! Puxa!

— Ele anda meio cansado ultimamente, coitado. Não se pode culpá-lo por isso.

As luzes na varanda da casa se acenderam e logo um senhor aparentando ter mais de 60 anos saiu. Era alto, magro, estava usando calça jeans, um casaco de lã. Usava óculos e tinha ares de intelectual, e Maurício ficou se perguntando como um intelectual ia parar em um fim de mundo como aquele. Talvez por opção, qualidade de vida. Nada se comparava ao ar do campo.

— Filha!

— Oi pai.

— Tentei funcionar o Zé para ir buscar você, mas fiquei com medo de ficar na estrada. Esse carburador já era mesmo. 

Shirley abraçou o senhor.

— Fez bem de não ir. Peguei uma carona ilustre. Quero te apresentar, o senhor Maurício Antunes da Silva.

Maurício se aproximou do velho e este abriu um sorriso, mostrando dentes que o escritor ponderou serem próteses.

— Sr. Maurício! Eu sou seu fã. E qual a probabilidade de um velho encontrar o cara que pensa ser o melhor escritor de todos os tempos, ainda mais dando uma carona para a sua filha?

Maurício sorriu e apertou a mão que lhe era oferecida. As mãos dele eram calejadas, ásperas.

— Ela me falou. É muita gentileza de sua parte, seu...

— Paulo. Me chamo Paulo.

— É um prazer conhecer o senhor. – Ele apontou para o carro. – E o Zé.

— O Zé é meu xodó. Tenho ele desde 1973 e nunca desejei outro carro na vida.

— Os antigos são os melhores. Sempre foram. Eu não troco meu Willys ali por um importado, nem a pau.

— É um homem inteligente. Sei disso porque leio seus livros. Mas que bons ventos o trazem aqui?

Foi Shirley quem respondeu:

— Ele apareceu no Parada Obrigatória e me deu uma carona até aqui.

— A tempestade me pegou no meio do caminho. – Disse Mauricio. – Foi sorte encontrar a lanchonete.

— Aquele velho João foi bem esperto em construir aquela espelunca. A ideia era só o posto de gasolina, depois de algum tempo ele passou a oferecer outros serviços. Ficou rico, o filho da puta. Mas vamos entrar, me deixe oferecer ao senhor um copo de café. Me desculpe, mas não temos xícaras.

— Acho que tomar café na xícara é uma bobagem. Mas eu não quero atrapalhar. Já é muito tarde e...

— Não vai ser incomodo nenhum, vamos entrar. Filha, faça um café.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro