Depois de verem a enorme peça de Festus, eu pude confirmar que era ralmente dele. Não tinha jeito de levá-la. Ninguém tinha força ou lugar para levar. No final, acabamos deixando lá... Peter pode dar um jeito ao chamar alguém, mas isso é insano. Só fiquei pensando "Onde está o resto do dragão? E Leo?".

Me deitei por cima do colchão pequeno. Preferi dormir na minha própria barraca e sozinha. Se tivesse algum sonho ruim, preferi que estivesse sozinha e sem alguém para se preocupar.

Fechei os olhos, controlei a respiração e finalmente consegui dormir...

***

Ecoava uma gargalhada feminina em volta. Me assustei e ao mesmo tempo gostei, aquela voz era muito bonita, admito. Franzi as sobrancelhas. Não sabia onde estava ou de quem era aquela risada.

Levei a mão até o pescoço para pegar o relógio, mas ele não estava lá. Isso é impossível, ele nunca saiu de perto de mim! É como uma parte do meu corpo.

- Quem..?

- Apenas espere, garotinha. A sua hora vai chegar, assim como a de seu pai. - Diz com a voz séria - Minha vingança está só começando.

- Você não sabe com quem está mexendo. - Falei quase engasgando.

- De um jeito ou de outro... Estarei a sua espera.

***

Abri os olhos, desta vez não tomei um susto. O medo era tão grande que apenas minha respiração falhava. Me levantei devagar e toquei o relógio, graças aos deuses ele ainda estava ali.

- Isso é o que vamos ver. - Apertei o objeto, determinada.

- O que você tem, garota? - perguntou Peter arrumando as coisas. Ele parou e me observou - Tem certeza de que está bem? Parece pálida.

- Não tenho nada - revidei. - É sério, se tivesse, eu contaria.

- Pegue - ele entregou minha mochila - Melhor se trocar. Vamos sair mais tarde. Beatriz está esperando lá fora com aqueles cereais... Não sei porque não trouxe uma comida descente!

Ri de seu desespero e pedi para sair da barraca (eu ein, somos amigos mas aí já é demais). Quando saí, terminei o cereal - horrível - que Beatriz havia preparado para nós. Era o meu único alimento então tinha que aproveitar.

- Vamos continuar a caminhada. - Ela disse, já com a mochila nas costas.

Caminhamos por um tempo, eram tantas árvores que me cansei de ver o verde.

- Aqui só tem árvores? - perguntou Peter, como se lesse meus pensamentos.

- Não. Há uma estrada bem pertinho, na nossa esquerda. Mas prefiro não arriscar, já que estamos nesse ambiente eu tenho uma vantagem.

Pensei na peça de Festus da noite anterior. Não aguentava mais o gosto de cereal na boca, se saísse dali eu iria direto para o McDonald's mais próximo.

Para nos distrairmos nessa caminhada infinita, comecei a cantar Back in Black. Ou melhor, gritei.

- Lydia? - disse Beatriz assusada.

- O que? - Sorri ao ver seu rosto, com uma expressão confusa.

- Que coisa é essa?

- Uma música - Peter diz. - Dã.

- Canto para me senti "poderosa" nessas viagens - falei, lembrando das minhas várias aventuras.

- E funciona! - disse Peter que também cantou. Logo Beatriz também acompanhou só com o ritmo.

- Deuses, vocês são loucos. - Beatriz disse.

- Nós não - falei - Você que é, só gosta de cereal e barrinhas nutritivas.

- Mas elas são deliciosas. Querem o que? Que eu pegue um peixe e coloque-o na fogueira? - diz em tom irônico.

Olhei para Peter, que sorria. Respirei fundo e vi meu relógio, já era quase hora do almoço.

- Ia ser muito bom. Tem algum riacho por aqui?

Beatriz revirou os olhos e suspirou.

- Sim. Tem um aqui perto...

- Então o que estamos esperando?! - gritou Peter, me fazendo pular de susto. - Nunca estive com tanta fome na vida!

- É para lá - ela apontou para a direita e Peter correu na direção do lago.

Eu fiz o mesmo e corri até ele. Ouvi o som de água corrente, batendo nas rochas e peixes pulando. Tudo aquilo me lembrava o acampamento.

Quando finalmente cheguei, Peter estava deitado na grama e admirando o pequeno riacho.

- Eu monto a fogueira! - falei.

- Eu pego o peixe! - diz Beatriz. Ela pisa na grama e surge um galho de árvore enorme, junto com outro mais fino. Os dois formavam arco e flecha.

- Eu já falei o quanto isso é incrível? - diz Peter.

- Já disse, obrigada - ela responde, entrando no riacho e procurando um peixe.

Procurei uma madeira, galhos ou troncos de árvore. Encontrei um tronco enorme perto de nós. Peguei o relógio e apertei o botão, a espada surgiu.

- As garotas trabalhando... - disse Peter - isso é bom, não é? Eu fico só aqui deitado, aproveitando essas visões maravilhosas.

- Você que pensa! - falo - Já tenho um trabalho para o senhor Collins.

Cortei a madeira de uma vez e olhei para Beatriz, que observava atentamente o riacho em busca de um peixe.

Arregalei os olhos quando vi uma névoa preta vir de trás de uma pedra. Me aproximei de Beatriz que nem prestava atenção.

- Nico? - falei baixo quando a sombra de um menino apareceu das sombras. Era ele sim. Tenho certeza.

Beatriz mirou nele, assustada e disparou a flecha.

- Não! - gritei e joguei meu braço livre para o lado. O tempo congelou.

Corri até Nico. A flecha estava triscando em sua testa. Peguei a flecha e enxerguei um peixe no riacho. Tirei ele e enfiei e flecha no mesmo.

Girei a mão, o tempo voltou ao normal, fiquei olhando Beatriz, incrédula. Nico respirava fundo assustado.

- Deuses... - falei. - Você tem demência?

- E-eu não sabia - ela disse.

- Perdi alguma coisa? - disse Peter confuso, ele olha atentamente para a cena e ri - Engraçado, pareceu a cena de uma série que vi uma vez.

- O que importa é que todos estamos bem. E eu peguei o peixe. - Falei, ajudei Nico a se levantar. - E você também é maluco. Vai aparecer logo na água! Tem cérebro por acaso?

- Mas eu disse que vinha! Antes de conversarmos, preciso me secar.

Realmente, ele estava encharcado.

- Vamos.

***

Depois de montar a barraca, eu e Nico ficamos lá dentro.

- Você está bem? - Pergunto.

- Sim. Só um pouco molhado. - Ele saiu com a toalha enrolada na cintura, as roupas secavam do lado de fora. - Mas fala, eu sei que tem alguma coisa para contar.

Arqueei a sobrancelha, me perguntando se ele sabia mesmo o que eu tinha par contar. Como minha mãe me disse uma vez: é melhor colocar tudo para fora do que deixar apodrecendo por dentro.

- Foi o sonho.

-

Oi lindos! Como estão?

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