1: Seis Letras Na Macieira
1
Astrarg, abril de 509
Depois que o sacerdote fez seu discurso para que os céus aceitassem a alma da falecida, o homem então se abaixou, pegou um punhado de terra e a atirou sobre o caixão. Como doeu aquilo, como doeu ver pás e mais pás de terra cobrindo o caixão. Doía tanto que ele teve que levar a mão ao buraco onde um dia ficara seu coração.
Mesmo sendo um senhor de muitas terras e outras tantas posses, ele se considerava possuidor de apenas dois tesouros; um deles estava indo para baixo da terra agora, o outro era a garotinha de três anos que estava ao seu lado, segurando sua mão.
— Papai...
— O quê, meu amor?
— Por que estão plantando a mamãe?
A garganta dele queimou com tanta intensidade que até mesmo respirar tinha ficado difícil.
— Não... não estamos plantando ela, meu bem — respondeu com a voz fraca, embargada. — Sua mãe precisa descansar, ela foi dormir um sono bem longo.
— Quando ela vai acordar? Quero que ela cante uma canção de ninar pra mim hoje à noite, como ela sempre faz.
Ele respirou fundo.
— Algum dia, meu bem... algum dia ela vai acordar.
2
Naquela noite, depois de pôr a filha para dormir, ele se agachou ao lado da cama dela.
— Ainda tão jovem, mas tão fofa, tão bonita. — Ele penteou uma mecha de seu cabelo para trás da orelha.
Ele podia ver os traços da mãe refletidos no rosto dela, o cabelo, a boca pequena, os olhos meio puxados, verde-esmeralda.
— Um dia você se tornará uma bela mulher, homens farão filas para contemplar sua beleza, para implorar por sua atenção. Mas não se preocupe, papai não vai deixar nenhum deles tocar em você... Nenhum deles é ou será bom bastante... nenhum.
3
Aos cinco anos, como de costume, ela recebeu seu primeiro véu. Estava brincando no quarto quando o pai entrou escondendo algo atrás das costas.
— Tenho uma coisa para você — disse ele.
— Posso tentar adivinhar? — perguntou ela animada.
— Claro, você tem três chances, se não acertar, eu ganho um beijo.
— Tá. Uhmmm... é um pedaço de bolo.
— Ihh, passou longe.
— Uhmmm... é um bife assado.
Ele riu.
— Não, não é comida, amor.
Ela fez menção de responder novamente, mas ele a interrompeu.
— É sua última chance, use com sabedoria.
— Uhmm... Uhmmm... um vestido!
— Quase... — Ele mostrou o presente. — É um véu. Você já é uma mocinha, não pode mais andar por aí ostentando os cabelos para que todos os homens possam ver.
A tradição amparada por lei dizia que toda mulher, ao completar cinco anos de idade, tinha que passar a ocultar seus cabelos — o símbolo de sua feminilidade — de todos aqueles que não fossem seus pais ou irmãos.
Todas as mulheres do continente seguiam aquela tradição passada de geração em geração desde que a humanidade passara a habitar aquelas terras.
— Achei que iria demorar mais até eu precisar usar — disse ela.
— Não senhora, a tradição diz que é aos cinco anos, e hoje é o seu aniversário de cinco anos, não?
A garota assentiu. O pai então lhe entregou o véu, e ela o contemplou por um instante. O tecido era de algodão branco, com bordados azuis em forma de borboletas e flores.
— Gostou? — perguntou o pai.
A garota sorriu e o abraçou.
— Claro, papai, é lindo. Você me ensina a colocar?
— Está bem, mas preste atenção, papai não vai poder fazer isso por você para sempre.
— Tá bem.
Ele pôs o véu na cabeça dela, pegou uma das pontas e deu duas voltas ao redor de seu pescoço, firmando assim um capuz perfeito, cobrindo todo o seu cabelo, mas deixando seu belo rosto completamente à mostra.
— Era assim que sua mãe costumava usar — a voz dele ficara triste de repente, mas a garota não estranhou, a voz dele sempre mudava quando ele falava da falecida esposa.
O que a garota fez foi abraçá-lo, seu abraço sempre o fazia sentir-se melhor.
— E o meu beijo, hã? — perguntou ele. — Você não acertou, está me devendo.
Ela riu e então o beijou.
4
Foi ao completar dez anos que ela fez o pedido ao pai.
— Como assim brincar lá fora? — perguntou ele.
— Papai, suas terras são enormes...
— Nossas terras, meu bem, tudo que é meu também pertence a você.
— Tá, nossas terras são enormes, mas eu não conheço nada além da casa grande e o jardim. Quero brincar na lavoura, papai, quero ver as árvores do bosque... quero ser livre para andar por aí.
Ele se sentou ao lado dela na cama.
— Meu doce, meu tesouro... como eu vou deixar você sair por aí com todas as pessoas más que existem lá fora?
— Mas eu não estou pedindo para sair da fazenda. Só quero poder ir até o bosque, por exemplo; e não vou demorar muito, papai. Por favor, estou cansada de ver paredes aonde quer que eu vá. Não quero mais ser um pássaro engaiolado.
O pai lhe tocou a face.
— Não posso deixar você sair por aí como bem quiser todos os dias. — Ela virou a face tristonha para o outro lado, então o pai a virou de volta. — Mas podemos chegar a um acordo, se quiser negociar.
A garota se animou de repente.
— Que tipo de acordo?
— Eu deixo você brincar na fazenda inteira...
— Se...?
— Se você prometer que vai sempre usar botas para evitar picadas de cobras e insetos; que não vai, em hipótese alguma, sair da propriedade; e que sempre estará de volta antes do almoço, se sair de manhã, e antes do pôr do sol, se sair à tarde.
— Está bem, eu aceito, papai.
— Eu ainda não terminei, meu bem.
— Hã? Tem mais?
— Você só pode sair em datas específicas. No primeiro dia de primavera e no seu aniversário.
— Só nesses dias?! O resto do ano eu vou ter que ficar presa em casa?!
— Não levante a voz para mim, não quero ter que te castigar, você sabe que eu odeio fazer isso.
— Desculpe — ela baixou a voz junto com os olhos cheios de lágrimas.
O pai pigarreou.
— Muito bem, é pegar ou largar, o que me diz?
— Não tenho muitas opções, ou aceito ou fico presa aqui o ano inteiro. Mas se vai ser assim, eu quero sair hoje mesmo, hoje à tarde.
— Mas já hoje? — questionou o pai.
— Se só posso sair em duas ocasiões ao ano, quero aproveitar desde já. Não vou suportar esperar até o ano que vem, papai.
O pai pensou por um instante.
— Está certo então. Mas você tem que cumprir todas as exigências, e também não pode tirar o véu da cabeça em momento algum. Papai teria que matar o homem que visse seus cabelos.
— Está bem, papai — disse ela, abraçando-o.
5
Antes do almoço, o pai aproveitou para reunir todos os empregados da propriedade.
— Ouçam bem, pois vou explicar apenas uma vez!
Minha filha vai sair para brincar na propriedade essa tarde. Quero todos os seguranças armados e patrulhando as principais entradas e saídas da fazenda, se virem qualquer pessoa estranha... quero essa pessoa morta no instante seguinte.
— Sim, senhor! — responderam os seguranças em uníssono.
— Mais uma coisa! Se alguém que não faça xixi de cócoras incomodar, falar ou simplesmente olhar diretamente para ela, eu mesmo vou matar o infeliz! Entendido?! — Todos permaneceram em silêncio, mal respiravam. — PERGUNTEI SE ENTENDERAM?!!
— Sim, senhor!
6
Naquela tarde, assim que terminou de almoçar, a garota calçou suas botas de cano alto, pegou uma cesta com sanduíches, algumas frutas e saiu para brincar. Quando chegou à porta, encontrou-se com o pai.
— Lembre-se do que conversamos, sim?
— Está bem, papai, eu vou lembrar — respondeu a garota.
Depois de um abraço demorado, o pai deixou a filha ir.
7
Após um certo tempo caminhando, procurando um bom lugar para fazer seu piquenique, a aniversariante se deu conta de que o bosque seria a área mais apropriada. Árvores em abundância, sombras largas e robustas, pelo menos era assim que todos descreviam. Dessa forma, ela caminhou para lá.
8
Chegou ao bosque e se deparou com várias árvores diferentes. Algumas, como os eucaliptos e as oliveiras, ela sabia o nome, outras ela não fazia ideia. Procurou por uma que não estivesse cheia de folhas secas ou capim embaixo, mas não encontrou.
Devia ter trazido um rastelo ou algo do tipo, pensou.
Ela nunca tinha usado um rastelo ou qualquer ferramenta de trabalho braçal na vida, mas já tinha visto os empregados da fazenda usar, então deduziu que não seria tão difícil. O pai sempre a incentivou a praticar bordado, renda, tricô, costura, culinária, escrita, leitura, além de filosofia e línguas diversas, mas nunca a deixou sequer pensar em trabalhar na lavoura.
9
Já havia cruzado quase que o bosque inteiro e não tinha encontrado a árvore certa ainda. Estava começando a pensar em fazer o trabalho de limpar uma daquelas, mesmo sem ter uma ferramenta, quando ergueu um pouco mais o olhar e viu diversas esferas vermelhas enfeitando uma árvore não muito distante dali.
Seguiu na direção daquela árvore, achava que sabia do que se tratava, e se estivesse certa, então aquela seria a ideal. Se tivesse folhas ou capim embaixo dela, ela os removeria com as próprias mãos se fosse necessário, mas queria aquela árvore para seu piquenique.
De repente, algo lhe fez despertar de seu pequeno devaneio. A cerca que indicava o final da propriedade surgiu na frente dela, e do outro lado, a pouco mais de cinquenta metros, estava a árvore que ela buscava, uma bela macieira. Olhando bem, notou que a área sombreada pela árvore estava bem limpa, não havia folhas caídas, muito menos capim crescendo ali. Ela então deu uma bica em um graveto que se encontrava no chão diante dela.
— Por que tinha que ser do outro lado? — reclamou ela. — Por que você não podia ter nascido desse lado, dona árvore?
Ela olhou para a cesta em sua mão, olhou para trás, lembrando do longo caminho percorrido para chegar até ali, por fim, olhou para a cerca. Era feita com grossas estacas de madeira na vertical e estacas mais finas na horizontal, pregadas com enormes hastes de metal. Apesar da altura e da imponência, a cerca tinha espaço suficiente para que alguém do tamanho dela passasse sem muito esforço entre as estacas.
— Desculpe, papai, mas eu não estou indo tão longe assim da propriedade — disse ela, cruzando a cerca. — E só vai ser por um instante, já, já eu volto para as nossas terras.
10
A área sombreada pela árvore estava realmente bem limpa, nem um único pé de capim crescia ali, nem uma única folha se encontrava no chão.
Algo que ela também reparou foi que à direita de onde ela estava, a menos de vinte metros, se encontrava um penhasco, não era muito alto, e lá embaixo corria um pequeno rio, quase um riacho. Apesar de não ser muito alto, ainda assim aquela era definitivamente a queda mais alta que ela já tinha visto na vida. Sabia que poderia ser perigoso se aproximar mais, então voltou para a sombra da macieira. Pôs a cesta no chão e a abriu, tirou um dos sanduíches de dentro e começou a comer.
Era um dia de sol relativamente forte, e uma brisa leve e fria soprava ali, provavelmente, por causa do pequeno rio. As folhas da árvore dançavam com a brisa, fazendo um barulho gostoso e relaxante. Ela fechou os olhos e, pela primeira vez na vida, sentiu-se completamente livre, ela era agora um pássaro engaiolado que havia aprendido a destrancar o cadeado da porta.
Terminou de comer o primeiro sanduíche e, quando estendeu a mão para pegar outro, ouviu o som de algo caindo ao chão. Olhou para o lado e viu uma maçã a poucos metros de onde ela estava. Levantou-se sorrindo e foi até a maçã, apanhou a fruta, limpou-a no vestido para tirar os grãos de areia e se preparou para mordê-la.
Antes que a maçã chegasse até sua boca, uma voz falou:
— Sabia que roubar é errado?
Assustada, ela deixou a fruta cair.
— Quem está aí? — perguntou, olhando de um lado a outro.
— Aqui em cima, ladrazinha.
Ela olhou para o topo da árvore, mas demorou um pouco até finalmente encontrar o dono daquela voz.
— O que você faz aí em cima? — perguntou ela, um pouco nervosa.
— Eu que te pergunto... o que VOCÊ faz aí embaixo?
— Uhhh, bem...
O garoto começou a descer da árvore em uma sequência de movimentos rápidos e bem coordenados, quando chegou a um galho baixo, ele soltou as mãos e enfim chegou ao chão.
Ele aparentava ser dois ou três anos mais velho que a garota e também era mais alto, pelo menos uns dez centímetros. Tinha olhos e cabelos castanho-escuros e trajava uma típica roupa de camponês: sapatos de couro, calças marrons, camisa branca surrada e suspensórios.
— Você ainda não respondeu minha pergunta, ladrazinha.
— Eu... Eu não sou ladra — respondeu ela, dando um passo atrás enquanto ele se aproximava.
— Não? Você não estava prestes a comer uma maçã da minha árvore?
— Sua árvore?
— É, MINHA árvore. — Ele apontou para a árvore com o polegar. — Essa macieira é minha.
A garota tomou um pouco de coragem, não podia deixar que qualquer valentão a intimidasse logo no seu aniversário, logo depois de desfrutar de um pouco de liberdade.
— Eu... Eu não estou vendo seu nome nela!
— Então abra os OLHOS! — gritou ele, apontando novamente para a árvore, dessa vez com o indicador.
A garota forçou um pouco a vista e viu seis letras de tamanho médio gravadas no tronco da árvore.
— Den... zel?
— Isso, esse é o meu nome, ceguinha.
Envergonhada, a garota foi rapidamente até sua cesta e a apanhou.
— Desculpe, eu não sabia... Eu não queria roubar suas maçãs — disse, começando a se virar para ir embora, mas o garoto a segurou pelo pulso esquerdo.
— Não tão rápido — disse ele.
— Eu só queria uma sombra para fazer um piquenique, não queria roubar nada — ela tentou se explicar. — Vou agora mesmo procurar outra lá do outro lado da cerca, minha casa fica para lá. Só... só não me bata, por favor.
O garoto começou a rir.
— E por que eu te bateria?
— N-Não ia bater?! — perguntou ela, surpresa.
— Não... mas se você gosta desse tipo de coisa, então...
— Não, não, eu não gosto não — ela se apressou a dizer.
Ele pôs a mão livre em um dos bolsos, tirou de lá uma bainha com uma faca e a colocou na mão dela, que ele ainda segurava, e depois a largou.
— Uhmm... para que isso?
— Maçãs são mais gostosas quando estão descascadas — respondeu ele.
— Hein?!
— Desculpe, aquilo que falei sobre você estar roubando minhas maçãs, era só brincadeira. Tenho muitas aqui, não ligo se quiser pegar algumas. Pelo menos assim elas não estragam, já que não posso comer todas, não é? Só tenho uma condição.
— Qual?
— Que você se case comigo.
Ela soltou um gritinho baixo e agudo, quase um guincho, então seu rosto começou a corar intensamente.
O garoto começou a rir outra vez.
— Olha só, ela corou mesmo! — então ele pigarreou. — Desculpe, desculpe, estou apenas brincando; não é essa a condição. Na verdade, só quero que você descasque algumas maçãs pra mim também.
Ela esfregou a boca com as costas da mão que segurava a bainha e a faca.
— Seu bobo.
— Ahh, não fica chateada, choronazinha — disse ele. — Você tinha que ter visto sua cara, foi engraçado sim.
— Ladrazinha, ceguinha, choronazinha... você gosta mesmo de dar apelidos para as pessoas, não?
— Se você me disser seu nome, eu paro de te dar apelidos.
— Aztrix — murmurou ela.
— Como?
— Az... trix... AZTRIX!
— Tá, tá, não precisa gritar, Aztrix.
— Senhorita — corrigiu ela.
— É o quê?
— Srta. Aztrix... Meu pai disse que um homem deve se dirigir dessa forma a uma mulher solteira.
— Eu ainda não sou um homem, você ainda não é uma mulher.
— Mesmo assim, ele disse que...
— Quer saber, Aztrix, diz ao seu pai que eu mandei ir se lascar, tá? Você vai descascar as maçãs ou não?
— Você é tão indelicado — disse ela, indo pegar a maçã que tinha deixado cair.
— É, já me falaram algo assim.
11
Enquanto Aztrix descascava mais maçãs, Denzel deu uma boa olhada nela.
Usava um vestido verde, que de tão claro era quase branco, botas de cano alto, além do indispensável véu que toda garota usava, o dela era branco com bordados azuis. Tinha um rosto bem bonito, mas, com certeza, a coisa mais linda nela era aqueles olhos verdes meio puxados. Por um instante, ele se pegou imaginando qual seria a cor do cabelo que ela escondia sob o véu.
— Tá olhando o quê? — perguntou ela, colocando mais uma maçã descascada dentro da cesta.
— Só em como você é lenta descascando maçãs.
Ela esfregou novamente a boca com as costas da mão.
— Anda, me joga uma aí — pediu ele.
Ela pegou uma das maçãs dentro da cesta e atirou nele, usando toda a força que possuía, mas ele apanhou a fruta no ar com extrema facilidade, e com a mão esquerda, sendo que ele aparentava ser destro.
Depois de morder a maçã, ele piscou para ela. Ela então corou, dessa vez, de raiva; ele, por sua vez, tornou a rir.
12
— Você brinca muito aqui? — perguntou ela, mordendo uma das maçãs.
— Só quando tenho algum tempo sobrando. — Ele
estava agora comendo outra maçã.
— Você que deixa a sombra da árvore limpinha assim, sem capim ou ervas daninhas?
— É, eu e minha amiga.
— Sua amiga? Ela brinca aqui com você?
— Não exatamente. Vou te apresentar ela.
O garoto se levantou e caminhou em direção ao tronco da árvore.
Animada com a possibilidade de conhecer outra pessoa, Aztrix se pôs de pé e bateu a poeira da roupa, depois arrumou o véu na cabeça.
— Essa aqui é a minha amiga — Denzel saiu de trás do tronco da árvore com uma enxada na mão. — O nome dela é Abigail.
Aztrix ficou sem reação por um momento, depois começou a rir com vontade.
Denzel só conseguia pensar em como a gargalhada dela era gostosa, contagiante; quando se deu conta, ele estava rindo também.
13
— Então... você coloca nome nas suas enxadas, é? — questionou ela.
— No começo eu só chamava de dona enxada, aí, quando comprei outra, coloquei um nome nessa pra diferenciar as duas. Aliás, a grandona sombreando a gente é a Firízia.
De repente, Aztrix olhou para o horizonte e viu o sol começando a descer rumo ao seu tão merecido descanso. Imediatamente, ela se pôs de pé de um salto, bateu a poeira do vestido e apanhou a cesta.
— Qual o problema? Viu uma barata? — perguntou Denzel.
— Não, não é isso. É que eu prometi para o meu pai que retornaria para casa antes do pôr do sol, se eu me atrasar, ele vai brigar comigo.
— Tá, eu te acompanho até sua casa.
— Não! De jeito nenhum!
— Hein?!
— Ehhh... se o meu pai me vir chegando com um garoto... — ela ficou sem jeito. — Ele vai matar você e me dar uma surra de cair o couro.
Denzel começou a rir outra vez. Então, vendo que ela parecia chateada...
— Desculpe, desculpe. Está bem, nesse caso... também vou voltar pra casa.
— Aqui... — Aztrix lhe devolveu a faca que ele a emprestara.
— Você volta? Quero dizer, pra fazer outro piquenique qualquer dia desses? — questionou ele.
— Uhhh... vou me esforçar para voltar. Quero dizer... se você deixar, afinal, a árvore é sua, não?
— Eu iria amar... — Ela deu um sorrisinho de canto de boca, então ele pigarreou e pôs as mãos nos bolsos. — Quero dizer, você não é muito boa descascando maçãs, mas é melhor do que eu mesmo ter que descascar.
Ela emburrou a cara, esfregou a boca com as costas da mão e começou a se afastar da árvore e do garoto.
— Foi um prazer também! — exclamou ele.
14
Ela teve que correr bastante, estava coberta de suor e ofegante quando chegou à sua casa, mas, no fim das contas, não se atrasou, nem teve que ouvir nenhuma reclamação do pai.
Naquela noite, porém, ela dormiu feliz e triste. Feliz porque havia sido livre por um dia inteiro, e triste porque no dia seguinte, a porta da gaiola tornaria a se fechar.
Então, passarinhos... Gostaram do primeiro capítulo?
Esse primeiro capítulo, assim como o segundo, foram enviados para mim em janeiro, como presente, pelo TJFELIX, conforme já mencionei na apresentação. Muito pouco foi mudado posteriormente, apenas pequenos ajustes.
Não sei a reação de vocês ao lerem, mas eu me emocionei com o início, com a cena do enterro, fiquei aflita com o rigor do pai posteriormente e gargalhei com o Denzel apresentando a Abgail à Aztrix. Por fim, fiquei ansiosa pelo próximo encontro deles, dessa forma, foi maravilhoso depois fazer parte da criação desses encontros.
E com vocês, como foi?
OBS.: Amanhã ou à noite posto o capítulo 2, será um capítulo por dia, ou dois (assim espero).
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