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New Chamor, 1 de janeiro de 2018
00:01
12 dias
Ouço os fogos de artifício e me pergunto se Helena está comemorando. Talvez ela já tenha se esquecido de mim. Talvez esteja até melhor sem mim. Ela deve estar extremamente feliz festejando a chegada do ano novo com seu marido e uma bela taça de champanhe. Aliás, será que Donnie já se recuperou da perna quebrada?
Me sinto uma pessoa terrível por pensar esse tipo de coisa. É claro que Helena jamais faria isso. Não é?
Sinto tanto a falta dela. Choro todos os dias enquanto os outros estão dormindo, pois não quero chamar atenção. Permito com que a saudade mortal que estou sentindo seja liberada aos poucos, como um tipo de luto. Mesmo que ninguém tenha morrido — ao menos por enquanto.
Tive um sonho na última vez que dormi — hoje? Ontem? Quanto tempo faz? —, um sonho lindo em que me reencontrava com Helena e nós nos abraçávamos. Um dos melhores sonhos que já tive na vida, mas que me fez desabar em lágrimas ao acordar.
Assim que o som de festa lá fora cessa, tento voltar a dormir. Parece impossível. Cada dia que passa me sinto mais imunda. Credo, eu não escovo os dentes há quanto tempo? Pensar nisso me dá vontade de vomitar.
Não sei quantas horas se passam até que ouço o ranger da porta. Sei que a Lacuna entra aqui todas as noites para nos trazer comida, mas mesmo assim isso ainda me dá arrepios. Saber que ela vem aqui todos os dias enquanto dormimos e nos observa, indefesos. Um calafrio percore meu corpo me fazendo tremer.
A porta se abre, uma luz fraca passa por ela. Vejo uma figura se aproximando, a Lacuna dentro de um corpo humano entrando aqui no cômodo com algo nas mãos. Fecho os olhos para fingir que estou dormindo, e aguardo até que ela posicione as refeições ao lado de cada um — agora somos apenas quatro. Fico me perguntando se ela vai capturar mais alguém ou se fui a última.
Então ouço o barulho de porcelana pousando sobre madeira bem à minha frente. Além disso, uma respiração lenta e constante que não desaparece.
— Sei que está acordada — diz uma voz masculina grave e ameaçadora. Nunca tinha visto a Lacuna tomando forma de um corpo masculino, e até cheguei a me perguntar algumas vezes se ela tinha mesmo essa capacidade. Agora, sei que tem.
Não consigo ver bem sua aparência física porque a única luz que existe aqui vem de trás dela, tornando-a apenas uma silhueta sem formato específico, agachada bem em minha frente.
— Tramando algo, Srta. Miller?
Não respondo, mas a encaro fixamente. Ela — ou seria ele agora? Essa coisa de metamorfose é tão confusa — me encara no fundo dos olhos, e então percebo o brilho azul constante que sai dos seus.
— Você só fala se for com a Rachel, é? — percebo o tom de deboche em sua voz. Ela ri. — Bem, eu tenho ela bem aqui se você deseja.
A Lacuna mexe um dos braços, presumo que procurando algo no bolso. Ela então estende a mão em minha direção e abre, revelando três esferas que possuem pontos azuis brilhantes. Sei bem o que são. Uma delas é o olho da verdadeira Rachel, aquela que nunca cheguei a conhecer.
— São lindos, você não acha?
Permaneço calada. Não quero falar com ela.
— Imagine o seu bem aqui. Eu poderia muito bem fazer isso, sabia?
— E por que não faz? — me sinto uma burra, idiota, estúpida completa assim que termino de falar. Tenho vontade de cortar a minha língua fora.
— Ainda não chegou a sua vez. Mas não se preocupe, existe uma fila por ordem de chegada. — a voz do homem impõe respeito, poder. Me sinto extremamente ameaçada por isso. A Lacuna escolhe muito bem os corpos que vai dominar.
— Por que você faz isso? — sinto que não consigo mais dominar minha boca, então simplesmente deixo tudo sair: — Você não pode simplesmente matar todos nós e se alimentar? Por que você precisa nos manter aqui, definhando, sofrendo? Isso é divertido, por acaso?
O homem se levanta, mas permanece parado no mesmo lugar. Não vejo, mas sinto um sorriso se formando em seus lábios.
— Mais do que você imagina.
Ele estica um dos braços em minha direção e seu dedo indicador encosta em minha testa. Durmo imediatamente.
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