𝘿𝙤𝙧𝙚𝙨 𝙚 𝙋𝙧𝙞𝙢𝙚 𝙎𝙤𝙣𝙜𝙨
┎𝗡𝗼𝗺𝗲, 𝗮𝘂𝘁𝗼𝗿𝗮: 𝑆𝑎𝑘𝑘𝑎 𝐾𝑢𝑚𝑎.
┣𝗡𝗼𝗺𝗲, 𝗵𝗶𝘀𝘁ó𝗿𝗶𝗮: 𝐴 𝐽𝑜𝑟𝑛𝑎𝑑𝑎 𝑑𝑒 𝑀𝑎𝑟𝑖𝑎 𝑒𝑚 𝐴𝑟𝑑𝑜𝑛𝑖𝑎.
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⪛Capitulo um ☘
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Piscou os olhos. A jovem havia acordado do seu sono. Sua cabeça doía, sua mente era inundada por lembranças e sua visão girava.
Em um flashback anterior, ela estava caindo, e depois estava em pé em meio a um altar, não tão velho, não tão novo. A sensação do lugar era acolhedora e segura, a deixando confusa. Onde e em que lugar ela estava? Ela estava tão desnorteada que nem se aguentava em pé.
Os pássaros diminuíram sua cantoria, como se respeitassem o estado desorientado da jovem.
O vento soprava com força, e ela sentia a pressão contra o seu corpo. À medida que o vento aumenta, o som também se intensifica. O zunido nos ouvidos se torna mais alto, quase ensurdecedor.
A falta de ar é uma sensação opressora. Ela inspirava profundamente, mas, parecia que o ar não estava chegando aos pulmões. Cada respiração era um esforço, e ela se sentia sufocada. O peito apertava, e o desespero começava a se instalar.
O vento, agora furioso, parecia querer arrancar ela do chão. O som era como um rugido constante, ecoando nos seus ouvidos. A dor se espalhava pela cabeça, ela fechou os olhos e botou as mãos quadriculadas no ouvido, tentando se proteger.
Tudo ao seu redor parecia distorcido. O mundo estava em movimento, girando e girando. Ela se sentia pequena e vulnerável diante daquela força invisível. Era insuportável! Era horrível! ...
Era como se o mundo tivesse desacelerado. O coração, outrora uma marreta implacável, agora batia em compasso suave. O ar, antes cortante e escasso, tornou-se manso, acariciando a pele com delicadeza. A respiração, que outrora se assemelhava a um vendaval descontrolado, agora seguia um ritmo tranquilo e regular.
Ela estava ali, de joelhos na relva úmida, com os olhos fixos no horizonte. As lágrimas secavam lentamente em suas bochechas, e o medo que a havia dominado minutos atrás parecia ter se dissipado como a névoa da manhã.
O som da natureza ao seu redor era um bálsamo para sua alma ferida. Os pássaros cantavam em harmonia, como se soubessem que ela precisava daquela melodia para se curar. As folhas das árvores sussurravam, e o vento a acariciava como um velho amigo.
Ela fechou os olhos e inspirou profundamente. O cheiro da terra molhada, das flores silvestres e do musgo nas pedras invadiu seus sentidos. Era como se a própria natureza estivesse lhe oferecendo conforto e perdão.
As lembranças do ataque de pânico ainda estavam frescas em sua mente. O coração acelerado, a sensação de sufocamento, o terror que a havia paralisado. Mas agora, ali, na quietude da natureza, ela se sentia segura. A terra envolve-a em seus braços, parecia dizer: "Está tudo bem, você está a salvo."
Ela abriu os olhos e olhou para o céu. As nuvens se afastavam, revelando um azul profundo e infinito. Era como se o universo também estivesse lhe pedindo perdão por tamanha aflição. E então, ela sorriu. Um sorriso tímido, mas sincero. A tempestade havia passado, e agora restava apenas a serenidade. Em seus pensamentos, ela agradecia aos céus por finalmente ter parado.
Minutos depois, ela se levantou, sentindo a grama úmida abaixo dos pés. E ao inspirar o ar novamente, ela olhou ao redor, prestando atenção em duas formas quadriculadas e brilhantes em sua frente.
O primeiro, à esquerda, era uma maravilha geométrica. Suas linhas azuis e brancas entrelaçadas formam uma malha intricada, como constelações em uma noite estrelada. No centro, um núcleo luminoso pulsa, irradiando energia misteriosa. Era como uma estrela encapsulada, um microcosmo de luz e segredos. O segundo, à direita, é mais etéreo. Sua superfície verde suave parecia vibrar com vida. Dentro dele, círculos e curvas se sobrepõem, dançando em harmonia. O primeiro quadrado, com bordas nítidas e linhas perfeitas, emana uma sensação de conforto. Sua luz é suave, acolhedora, como o abraço de um velho amigo. E à contemplá-lo, sentia-se envolta em uma manta quente, protegida das tempestades do espaço.
Mas é o segundo quadrado que despertava a verdadeira reverência. Sua luminosidade é poderosa, intensa como o olhar de uma estrela prestes a explodir. As bordas tremulam, como chamas dançantes, e sua energia é palpável. E ao se aproximar, sentia o vento furioso de um furacão, o rugido de um trovão distante; um poder ancestral, cósmico, que transcendia o seu entendimento.
Os dois quadrados, lado a lado, eram opostos e complementares. O conforto e o poder se entrelaçam, criando uma dualidade intrigante. Ela se sentia bem ao segurá-los.
— ... Bonito.
Foi a única coisa que conseguiu falar. E, como se estivesse escutando, as duas formas quadrangulares brilharam. Sorriu, sentindo-se um pouco melhor da sua dor de cabeça.
Ela virou, percebendo que se encontrava em meio a uma floresta. O desconhecido a deixava assustada, mas, alguma coisa nessa floresta transmitia proteção, então não temeu. Ela começou a andar, seus passos lentos e calmos, enquanto seus olhos viravam ao comando da sua curiosidade.
O vento sussurrava entre as árvores, suas folhas secas dançando em uma coreografia silenciosa. O caminho à frente era um tapete dourado, coberto pelas folhas que haviam caído, como se a própria terra estivesse se despedindo do outono.
Cada passo ecoava, e o som parecia penetrar mais fundo do que o solo. O ar estava impregnado com o aroma terroso das folhas, um perfume nostálgico que invadia os sentidos. O vento, calmo e gentil, acariciava o rosto, mas não conseguia dissipar a tensão que se acumulava no peito.
O coração, esse órgão tão resiliente e misterioso, parecia apertado, como se algo invisível o envolvesse. Não era ansiedade, pelo menos não da forma que conhecia. Era uma sensação desconhecida, uma mistura de expectativa e apreensão. A cada segundo, algo parecia apertar ainda mais, como se estivesse testando os limites do próprio coração.
As árvores, altas, baixas e majestosas, lançavam sombras sobre o caminho. Seus galhos retorcidos pareciam mãos estendidas, como se quisessem tocar o céu. E o vento, sempre presente.
Caminhar ali era como adentrar um mundo à parte, um lugar onde o tempo se esticava e as preocupações cotidianas se dissolviam. Cada folha sob os pés era um fragmento de memória, um elo com o passado. E o coração, apertado e ansioso, parecia guardar segredos que nem mesmo o vento ousava revelar.
Assim, entre árvores e folhas secas, o caminho seguia, e o coração continuava a apertar. Não havia pressa, apenas a sensação de que algo importante estava prestes a acontecer. E talvez, apenas talvez, o vento soubesse o que era. Mas ele permanecia calado, como um cúmplice silencioso nesse enigma do coração humano.
E então seus passos pararam, e sua mente parecia que havia parado também.
O coração da jovem batia como um tambor desgovernado, uma sinfonia de ansiedade e medo. Cada batida parecia ecoar por todo o seu ser, reverberando nas paredes de sua mente. Ela não sabia o motivo, mas o coração insistia em acelerar, como se tentasse escapar do próprio peito.
O desconforto era palpável. Ela se sentia menor, encolhida sob o peso daquela sensação. O mundo ao seu redor parecia mais amplo, mais ameaçador. Às árvores pareciam desabar sobre ela. Respirar se tornara um desafio, como se o ar estivesse rarefeito, escasso.
Sua pele, antes imaculada, agora ardia. Cada poro parecia uma ferida aberta, exposta ao vento cortante. Ela não se lembrava de ter se machucado, mas as marcas estavam lá, invisíveis aos olhos, mas tão reais quanto a dor que sentia. Era como se algo dentro dela estivesse se rasgando, se rompendo.
Era uma dor estranha, diferente de qualquer coisa que já experimentou. Não era física, mas emocional. Uma ferida na alma, talvez. Ela tentava entender, revirando memórias, buscando pistas. Mas nada fazia sentido. Apenas o coração acelerado, o desconforto e a sensação de estar à beira de algo desconhecido.
Talvez fossem os fantasmas do passado, ressurgindo para assombrá-la. Ou talvez fosse algo mais profundo, algo que ela ainda não compreendia. Ela permanecia ali, no limiar entre o conhecido e o inexplicável, com o coração em fúria e a pele ardendo.
E enquanto o mundo girava ao seu redor, ela se perguntava: "o que estava acontecendo?", " Por que meu coração insistia em apertar, em acelerar?", "E por que essas feridas invisíveis pareciam queimar como brasas?", Nada fazia sentido!
Seu corpo caiu para frente, perto de algumas moitas. Os objetos estranhos e brilhantes rolaram não muito longe, mas ela não ligou. Seus joelhos estavam drobados e uma de suas mãos se encontrava em seu peito, enquanto a outra estava no chão, impedindo-a de ir ao chão. Sua respiração acelerada, ar preso, impedindo que ela fizesse aquele ar gélido para seus pulmões.
Mas, quando pensou que iria desmaiar, alguém parecia estar junto a ela. E ao virar sua cabeça para trás, viu um ser, de pele estranha e olhos demonstrando preocupação, mas que brilhavam em um lindo azul de cristal. A desconhecida estendeu sua mão, falando as seguintes palavras: "Você está segura agora", disse em uma língua conhecida. "Nesta floresta, somos todos parte de algo maior."
E só assim, sua visão girou, e antes mesmo que ela segurasse aquela mão, sua visão escureceu. A última coisa que viu foi a expressão surpresa daquela ser desconhecida.
❮..❯
Os olhos piscaram, como se despertassem de um longo sono. A escuridão que os envolvia começou a se dissipar, revelando contornos indistintos. O cansaço pesava em cada músculo, como se tivesse corrido uma maratona sem treino prévio. O suor escorria pela testa, formando pequenos riachos que se perdiam na pele. A visão, antes turva e confusa, agora se ajustava lentamente, como uma câmera desfocada que finalmente encontrava seu foco.
O quarto era estranho, desconhecido. As paredes pareciam mais próximas do que o normal, e os móveis, embora familiares em forma, tinham uma aura de estranheza. O ar estava impregnado com um cheiro indefinível, uma mistura de madeira e algo metálico. O silêncio era quase palpável, como se o próprio ambiente segurasse a respiração.
A mente oscilava entre o despertar e a desconfiança. Onde estava? Como havia chegado ali? As memórias eram fragmentadas, como pedaços de um quebra-cabeça que se recusavam a se encaixar. O coração batia acelerado, como se soubesse algo que a mente ainda não compreendia.
Com cuidado, ergueu-se da cama. Os pés tocaram o chão frio de pedra, e a sensação enviou um arrepio pela espinha. Cada passo era cauteloso, como se o próprio chão pudesse trair. As mãos exploraram o ambiente, tocando superfícies ásperas e desconhecidas. Uma janela revelou o mundo lá fora: um céu cinzento e nuvens pesadas, como se o próprio tempo estivesse retendo a respiração.
A desconfiança persistia. Quem era o dono deste quarto? Por que estava ali? As perguntas giravam como folhas secas em uma tempestade. Mas uma coisa era certa: o sono havia desaparecido, substituído por uma urgência silenciosa. O corpo estava alerta, pronto para reagir ao menor sinal de perigo.
Os olhos continuaram a piscar, a mente a buscar respostas e o coração a bater em compasso acelerado. O suor secou na pele, mas a desconfiança permaneceu, como uma sombra que se recusava a se dissipar.
Ela girou lentamente, os dedos trêmulos, agora com seus olhos fixados na superfície fria do espelho. O que refletiu de volta não era a adolescente que ela conhecia. Não, essa figura era uma estranha, uma metamorfose mágica que a deixou sem fôlego.
Seu cabelo, antes comum, agora fluía em ondas escuras de um azul profundo. Cada fio parecia tingido pela própria noite, e ela imaginou que, sob a luz da lua, brilharia como um oceano noturno. As covinhas que costumavam dançar em suas bochechas haviam desaparecido, substituídas por uma pele impecável e azulada. Não havia olheiras sob seus olhos; em vez disso, eles eram profundos e intensos, como se escondessem segredos ancestrais.
Seu corpo estava envolto em um traje que parecia tecido de estrelas. O azul escuro era pontilhado com marcas mais claras, como constelações em um céu noturno. O material brilhava suavemente, como se fosse alimentado por alguma energia cósmica. Ela não conseguia identificar o estilo ou a origem desse traje, mas sabia que não era do seu mundo.
Seus olhos, agora da mesma tonalidade do cabelo, tinham riscos azuis que desciam abaixo das pálpebras, seguindo o contorno do rosto até o queixo e depois para a garganta.
Ela tocou o espelho mais uma vez, como se esperasse que ele a levasse de volta à sua vida anterior. Mas a metamorfose era irreversível. Ela era outra pessoa agora. E enquanto olhava para o reflexo, sentiu uma centelha de excitação e medo. Quem era essa nova versão de si mesma?
A dor de cabeça começou como um zumbido distante e gradualmente se intensificou. Parecia que alguém estava martelando dentro de sua cabeça, fazendo com que suas têmporas latejassem e sua visão ficasse turva. Ela apertou os olhos e pressionou as mãos contra as têmporas, mas a dor persistia.
O quarto parecia se fechar ao seu redor, as paredes se aproximando, o ar ficando mais pesado. Ela queria gritar, mas sua garganta estava seca e apertada. O medo a sufocava, como se estivesse presa em uma teia invisível.
❮..❯
Em um canto menos sombrio da casa, Lysara, uma Ardoni de olhos experientes, mexia com destreza em uma panela de sopa de cogumelos. O aroma terroso e reconfortante preenchia o cômodo, mas sua mente estava longe dali. Ela havia deixado a jovem ferida no quarto ao lado, e a preocupação a corroía.
O grito ecoou pelos corredores, um som agudo que fez seu coração disparar. Lysara largou a colher de pau e correu. As paredes pareciam se fechar sobre ela enquanto atravessava o corredor estreito.
A porta do quarto estava entreaberta, e a luz fraca do lampião revelou a figura encolhida em um canto do quarto espaçoso. A jovem, sua pele vívida em azul, agora estava pálida, com os seus olhos arregalados de medo. Lysara suspirou, e andou calmamente até a jovem, agachando ao seu lado para poder falar com mais clareza.
— Vossa alteza, você está bem?
Sua voz carregava preocupação, mas, um pouco temerosa pelas suas ações futuras. Lysara deveria tocar em seu ombro e a confortar? Ela não tinha certeza que daria certo.
Mas para a jovem, tudo estava mudado. Ela não tinha a mesma aparência de antes, e isso a assustava. Principalmente, a presença da que devia ser a anfitriã deste local.
— ... Onde eu estou?!
A sua voz era carregada de medo e surpresa. Suas mãos estavam trêmulas pelo medo, seus olhos arregalados estavam tremendo e seu corpo no mesmo estado. Era uma pergunta a ser respondida com cuidado, porque, uma palavra errada, poderia desencadear mais medo à recém chegada.
E com um suspiro, Lysara respondeu.
— Você está em sua casa, vossa alteza. Está segura!
Afirmou por último, colocando sua mão no ombro da jovem, que se encolheu pelo toque, ainda sem nem mesmo olhá-la nos olhos e nem se virando para ela. Era como se ela estivesse perdida em seus pensamentos, na tentativa de expulsar o que quer que viesse nela.
A jovem engoliu sua própria saliva, balançando sua cabeça para os lados, para logo depois apontar sua mão para frente, especificamente para o espelho.
— ... O que é isso!?
Perguntou, com sua respiração rápida e corpo trêmulo.
Lysara olhou para onde ela apontava, sorrindo levemente ao perceber o real problema.
— Está é a sua forma transformada, vossa alteza.
A respondeu com leveza, ajudando-a a se levantar. E a jovem, ao prestar mais atenção nela mesma, sem olhar para o espelho, disse.
— Essa... Não é eu!
Lysara suspirou profundamente, dando algumas batidinhas no ombro da jovem, para depois guiá-la para a cama. E ao vê-la sentar, a entregou um copo de água, que antes ficava ao lado de uma jarra de madeira em cima da escrivaninha.
— Responderei todas as suas perguntas, vossa alteza. Mas, antes tem que beber toda essa água!
A jovem respirou fundo e deu seu primeiro gole. Um gole foi o suficiente para que ela acabasse com toda a água. Lysara ficou em sua frente, fazendo com que a jovem a observasse com mais atenção.
— ... O que você é?
A jovem perguntou, vendo a pessoa desconhecida sorrir, colocando a mão na cintura e dizendo.
— Meu nome é Lysara Sendaris. Sou uma Ardoni, e sou a encarregada de cuidar desse lugar.
— ... Então, você é a dona daqui?
A jovem mais uma vez perguntou, com sua mão em seu peitoral, percebendo que sua respiração estava mais lenta e seu coração estando no caminho para a calma.
Lysara riu, um riso leve e baixo, deixando a jovem confusa, se perguntando mentalmente o que ela havia falado que saiu tão engraçado.
— Perdão, vossa alteza. Eu não resisti. Aham!
Se desculpou para a jovem, dando uma tossida forçada antes de falar.
— Na verdade, este lugar é seu, vossa alteza.
— Como pode ser meu, se eu nem mesmo sei onde estou? E nem vem com o papinho que eu perdi a memória! Eu tenho as minhas memórias intactas!
Pediu, enquanto a outra relaxava mais o corpo e dizer.
— Não se preocupe, eu não diria nada desse tipo. Você veio de outra dimensão, portanto, estamos em um mundo diferente do seu, princesa.
— Qual é o nome desse lugar?
Perguntou, saindo de cima da cama e indo em direção a janela, abrindo-as, revelando um céu limpo das nuvens cinzentas.
— ... Estamos na terra de Ardonia, vossa alteza.
A respondeu, observando o corpo da jovem tremer pela resposta. Depois de alguns minutos de silêncio, Lysara decidiu perguntar desta vez.
— Qual seria o nome da senhora, vossa alteza?
Um silêncio se instalou pelo quarto, mas, só então após respirar fundo, a jovem respondeu.
— ... Meu nome é Maria. Obrigada por cuidar de mim, Lysara.
Agradeceu, olhando nos olhos da Ardoniana que sorriu largamente, percebendo seu olhar determinado em receber respostas.
❮..❯
Na penumbra da sala de jantar, duas figuras se encontravam, seus contornos delineados pela luz que filtravam pelas janelas. A madeira da cadeira rangia suavemente sob o peso de seu corpo, enquanto a atmosfera estava impregnada com o aroma reconfortante da sopa de cogumelos que repousava na bacia à sua frente.
Maria, com os olhos inquisitivos e o cenho franzido, parecia mergulhada em um mar de confusão. Seus dedos brincavam com a borda da colher de sopa, como se buscasse respostas nas ondulações do caldo quente. O mundo ao seu redor parecia turvo, e ela ansiava por clareza.
Do outro lado da mesa, Lysara emanava uma serenidade quase etérea. Seus olhos, profundos como poços antigos, fixavam-se em Maria com compreensão. Ela era a guardiã daquele território, a detentora do conhecimento deste vasto novo mundo.
— Então... A minha raça se chama "Voyator"?
— "Voyator" significa "viajante". Mas, para nós, os seres de Ardonia, significa "viajante de dimensões".
Esclareceu, observando a jovem dar sua primeira colherada. Maria sentia o gosto salgado da sopa, ouvindo sua barriga roncar com fome, deixando-a envergonhada. Lysara não riu, ela sabia que isso só traria desconforto.
— A sua raça pertence à família dos sete deuses em nosso mundo. Você faz parte da linhagem da nobreza, "o sangue celestial".
— ... E isso significa??
— Significa que vossa alteza foi um dos filhos escolhidos.
Ela também se sentou em uma cadeira, observando a face confusa da jovem ficar mais séria.
— Teve outros antes de mim?
— Teve sim. Muitos outros vieram ao nosso mundo, e claro, eles tinham a mesma coloração e o mesmo traje que o seu.
Essa afirmação fez Maria relaxar, para logo depois pegar mais um pouco da sopa e pôr na boca.
— ... Tem mais alguma pergunta, vossa alteza?
Maria balançou a cabeça, dizendo de maneira silênciosa o "sim", em volume baixo.
— Eu tenho um conhecimento básico sobre esse mundo. Deve imaginar o porquê.
— Sim, eu imagino. A forma como você e seu povo nos vêem é diferente. Se não me engano, talvez para você "nós" não passamos de... ficção?
Maria balançou a cabeça, confirmando.
— Você faz parte do clã Sendaris, não é?
— Faço sim, senhora.
— E o que você está fazendo aqui? Não deveria estar em Sendaria?
Perguntou. E Lysara, arregalou levemente suas pupilas, um pouco surpresa.
— ... Oh, eu... Não nasci em Sendaria.
— O quê?!
Ficou ligeiramente surpresa, dando um pulo da cadeira, o que acabou fazendo com que o móvel caísse para trás em um baque.
— ... Minha família tem o dever de cuidar deste lugar. Eles escolheriam meu irmão que nasceu primeiro para ser o guardião, mas, ele acabou adoecendo.
— Então... Você cuida desse lugar desde ...?
— Desde anos. E como deve ter percebido, sou uma adulta agora, e sou experiente em alguns assuntos.
Maria piscou os olhos, levemente surpresa, mas, tratou de se acalmar e ajeitar a cadeira no lugar, para logo depois se sentar e suspirar.
— Mais alguma dúvida?
— ... Ah... Onde está sua família agora?
— Eles vivem em uma vila humana não muito longe daqui.
Maria balançou a cabeça para cima e para baixo, de testa franzida. Ela pegou um pouco do caldo e o pôs na boca, engolindo.
— ... Onde é exatamente "aqui"?
— Larantiga, lar ancestral da sua espécie, vossa alteza.
— Sua família ganhou essa missão de proteger esse lugar ou...?
Lysara balançou a cabeça para cima e para baixo.
— Ganhamos essa missão por um mensageiro dos deuses há séculos atrás. E desde então, minha família veio protegendo essa ilha por eras.
— Por eras... Mas, porque eu fui escolhida?
— ... Meus pais diziam que os filhos do sangue real só viam ao nosso mundo por um motivo: para nos salvar!
Maria a olhou como se estivesse ficando louca. Seus olhos estavam arregalados, com o medo inundando seu ser.
— ... "Você entenderá quando chegar a hora". Foi o que o mensageiro disse ao primeiro Voyator que chegou à nossa terra.
Lysara deu duas batidinhas no ombro da jovem, que respirou fundo e começou a comer de sua sopa com calma, com as mãos trêmulas.
❮..❯
O sol se punha ao longe, pintando o céu com tons de laranja e rosa. Maria estava na borda do enorme castelo da ilha flutuante de Larantiga, onde se erguia majestosamente. As paredes do castelo eram douradas, com uma leve tonalidade amarelo, e os telhados rosados adicionavam um toque de encanto natural ao lugar. Logo abaixo, árvores com suas folhas rosas e árvores comuns criavam uma paisagem exuberante.
Mas o que mais surpreendia Maria era sua audição aguçada. Ela ouvia sons que seu ouvido normal jamais captaria: o sussurro do vento nas folhas, o bater das asas de pássaros distantes e até mesmo a pulsação da energia que inundava Larantiga. Essa sensação a deixava confusa e, ao mesmo tempo, levemente assustada.
Maria estava próxima aos portões de vidro, enormes janelas também feitas desse material transparente. Seu olhar estava distante, perdido na paisagem à frente. Ela se perguntava como havia chegado ali, em um lugar tão mágico e enigmático.
Os mesmos quadrados de poder estavam ao seu lado, o que a surpreendeu de imediato. Ela se perguntava como esses objetos estavam ali, sendo que havia se esquecido completamente deles e os deixado para trás. Mesmo levemente assustada por esse detalhe, ela ignorou a sensação incômoda e voltou a observar a paisagem. No entanto, mesmo estando os ignorando, aqueles objetos faziam um barulho de energia, chamando a sua atenção novamente. Maria franziu a testa, curiosa e intrigada.
Sem opção de ignorar, ela se aproximou dos objetos. Eram quadrados de cores magníficas: azul e verde. As cores brilhavam junto aos últimos raios de luz do sol, criando um espetáculo hipnotizante. Maria queria saber mais sobre eles. Sua curiosidade era enorme, e descobrir mais sobre esses objetos podia ajudá-la a se distrair de tudo o que a afligia.
Com cuidado, ela tocou o quadrado azul. Uma sensação elétrica percorreu seu corpo, como se estivesse conectada a algo maior. O quadrado verde reagiu de maneira semelhante. Maria sentiu uma energia pulsante, uma conexão com algo além do seu entendimento.
— ... Canções primárias. É o nome delas.
A voz de Lysara a tirou dos seus pensamentos, assustando-a.
Maria virou-se e se deparou com a figura de Lysara, que ainda continha a sua espada de ferro em suas costas.
— Nós, os Ardoni, somos os únicos com a habilidade de exercer o poder das canções, mas, agora, parece que vossa alteza também pode usá-las.
Lysara se aproximou, ficando ao lado da sua superior, parando de falar para observar a paisagem com um sorriso nostálgico.
— ... Eu ouvi falar sobre elas, em meu mundo...
Maria continuou.
— Mas, não sei exatamente quais são as habilidades destas canções primordiais. Nunca foi mencionado mais duas canções!
Lysara fechou os olhos, aproveitando do vento que havia passo por elas.
Assim, Lysara falou, com uma voz suave.
— Os Voyator tem a capacidade de, ao vir para nosso mundo, ganhariam uma arma escolhida à dedo pelos deuses.
Lysara continuou.
— E parece que os deuses reconheceram às canções primordiais. E agora, elas são suas.
Maria suspirou, ainda com suas mãos levemente levantadas, segurando nas músicas com firmeza.
— Os Voyators são criaturas bem... Curiosas.
Lysara suspirou, rindo um pouco em um tom mais baixo.
— Desculpe, é que... Ouvir vossa alteza falar dessa forma da própria espécie me pareceu engraçado.
Se desculpou, topando a boca com a mão, rindo, fazendo seu corpo tremer enquanto ria.
Maria cerrou os olhos, confusa, mas, uma luz de esclarecimento veio à sua mente e a fez rir, finalmente entendendo o que a Ardoni queria dizer.
— É verdade. Se isso é um castelo, então deve existir uma biblioteca por aqui, certo?
Lysara balançou a cabeça para cima e para baixo, confirmando de maneira silênciosa com a cabeça ao virar-se na sua direção.
— Então... Você pode me guiar? Eu não sei onde fica.
— Vossa alteza é a dona deste castelo, os espíritos a ajudariam se pedir. Estou indo, tenho que preparar o jantar.
Antes mesmo de Maria falar, Lysara já havia se distanciado, e por causa disso, Maria se calou, permitindo que a Ardoni fosse embora.
Maria suspirou profundamente, guardando as suas Canções Primordiais no inventário, onde se encontrava no seu quadril. Ela ainda estava tentando se acostumar com o jeito de usá-lo.
Maria deslizou pelos corredores do palácio, seus passos determinados ecoando suavemente nas paredes de pedra. Os últimos raios de sol filtravam-se pelas janelas altas, pintando o chão de um dourado suave. Objetos decorativos adornavam as paredes: tapeçarias tecidas com fios de ouro e retratos de paisagens.
Enquanto Maria seguia em frente, uma presença etérea surgiu à sua frente. Um espírito pequeno, vestido em tons de branco e preto, flutuava no ar. Seus olhos eram profundos e sábios, e ele parecia conhecer os segredos ocultos do palácio. Sem dizer uma palavra, o espírito começou a guiar Maria.
Ela o seguiu através de corredores estreitos e escadarias em espiral, até chegarem a uma porta de madeira maciça. O espírito apontou silenciosamente para o trinco, e Maria empurrou-o com cuidado. A porta rangeu ao se abrir, revelando uma visão deslumbrante.
A biblioteca se estendia diante dela, prateleiras altas repletas de livros antigos e empoeirados. A luz do sol filtrava-se pelas janelas altas, criando manchas douradas no chão de madeira. Maria caminhou entre as estantes, suas mãos roçando as lombadas gastas dos livros. Cada volume parecia contar uma história, um segredo esperando para ser desvendado.
No centro da sala, havia um altar branco. Sobre ele nada repousava, então, ela caminhou até às prateleiras e procurou pelo tema que veio procurar, e ao achar, o abriu e andou até o altar, repousando o objeto empoeirado nele.
Com um suspiro, Maria folheou as páginas. Ela sabia que ali, naquela sala silenciosa, encontraria as respostas que buscava. O espírito permaneceu ao seu lado, observando-a com olhos gentis. E assim, Maria começou a ler.
Ela mergulhou nas páginas amareladas de um livro empoeirado. As palavras dançavam diante de seus olhos.
O livro contava a história dos Ardoni, uma raça antiga e poderosa. Eles foram os únicos capazes de manipular às Canções, habilidades musicais que transcendiam o simples entretenimento. Cada nota, cada melodia, continha poderes ocultos, e os Ardoni eram os guardiões desse conhecimento.
As Canções Primordiais eram às canções mais fortes dos Ardoni. Criadas nos albores do tempo, essas canções possuíam um poder inimaginável. Só uma delas era perigosa o suficiente para poder desencadear um grande estrago.
Mas com grande poder vinha uma terrível condição. Aqueles que tocavam as canções por muito tempo, sofriam consequências terríveis. A saúde deles se deteriorava lentamente, como se a própria melodia sugasse a vida de seus corpos. Os Ardoni sabiam disso e, mesmo assim às usavam. E com sabedoria, decidiram proteger as canções primordiais em locais seguros com os Mestres dos quatro clãs, longe das mãos gananciosas.
Em um gesto decidido, Maria fechou o livro antigo, ignorando as páginas que detalhavam o funcionamento das misteriosas canções. Ela já conhecia a essência desse poder, não precisava de confirmação impressa. O conhecimento estava gravado em sua mente, como uma melodia persistente.
O silêncio da sala a envolveu, deixando para trás as palavras escritas e os segredos entrelaçados nas páginas. O espírito que a acompanhara até ali havia desaparecido, deixando-a sozinha com seus pensamentos.
Maria caminhou pelo corredor, os passos ecoando no chão de pedra. A luz do sol filtrava pelas janelas altas, criando padrões dourados no chão. Ela se perguntou se os Ardoni também sentiam a mesma solidão quando se afastavam das canções.
Não era comum para alguém como ela, uma humana comum, carregar o fardo dessas novidades. Mas Maria estava se acostumando à ideia de que sua "espécie" tinha habilidades desconhecidas, talentos ocultos que poderiam se manifestar em momentos inesperados.
As Canções Primordiais permaneciam em sua mente, uma tentação perigosa. Ela sabia que não deveria tocá-las, ou usá-las, mas a curiosidade a impelia. O preço da canção era alto: saúde debilitada, vida sugada lentamente.
Maria ponderou sobre o que mais esse mundo escondia.
— O que mais você tem a me oferecer, Ardonia?
Maria perguntou de maneira leve, olhando para a vista de fora da janela, parada em meio ao corredor.
Castelo; maior construção da ilha Larantiga
𝗡𝗼𝘁𝗮𝘀 𝗱𝗮 𝗮𝘂𝘁𝗼𝗿𝗮:
𝑂𝑖, 𝑒𝑢 𝑠𝑜𝑢 𝑑𝑎𝑖𝑎𝑛𝑒, 𝑚𝑎𝑠 𝑣𝑜𝑐ê𝑠 𝑚𝑒 𝑐𝑜𝑛𝒉𝑒𝑐𝑒𝑚 𝑐𝑜𝑚𝑜 "𝑆𝑎𝑘𝑘𝑎 𝐾𝑢𝑚𝑎". 𝐸𝑢 𝑠𝑜𝑢 𝑎 𝑐𝑟𝑖𝑎𝑑𝑜𝑟𝑎 𝑑𝑒𝑠𝑡𝑒 𝑙𝑖𝑣𝑟𝑜, 𝑒 é 𝑢𝑚 𝑔𝑟𝑎𝑛𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑎𝑧𝑒𝑟 𝑡ê-𝑙𝑜𝑠 𝑒𝑚 𝑚𝑒𝑢 𝑙𝑖𝑣𝑟𝑜
𝐸n𝑓𝑖𝑚. 𝑉𝑒𝑛𝒉𝑜 𝑎𝑞𝑢𝑖 𝑖𝑛𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎𝑟 𝑞𝑢𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑒 𝑙𝑖𝑣𝑟𝑜 𝑓𝑜𝑖 𝑐𝑟𝑖𝑎𝑑𝑜 𝑎 𝑏𝑎𝑠𝑒 𝑑𝑜 𝑎𝑢𝑥𝑖𝑙𝑖𝑢 𝑑𝑜 𝑎𝑝𝑙𝑖𝑣𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜 𝐵𝑖𝑛𝑔, 𝑞𝑢𝑒 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑟𝑒𝑣𝑒𝑢 𝑞𝑢𝑎𝑠𝑒 "𝑡𝑜𝑑𝑎𝑠" 𝑎𝑠 𝑠𝑖𝑡𝑢𝑎çõ𝑒𝑠 𝑑𝑎 𝑝𝑟𝑜𝑡𝑎𝑔𝑜𝑛𝑖𝑠𝑡𝑎
𝐸𝑠𝑡𝑒 𝑢𝑛𝑖𝑣𝑒𝑟𝑠𝑜 𝑓𝑜𝑖 𝑐𝑟𝑖𝑎𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑐𝑟𝑖𝑎𝑑𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑐𝑎𝑛𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑦𝑜𝑢𝑡𝑢𝑏𝑒 𝑐𝒉𝑎𝑚𝑎𝑑𝑜 "𝕊𝕢𝕦𝕒𝕣𝕖𝕕 𝕄𝕖𝕕𝕚𝕒", 𝑒 𝑎 𝑠é𝑟𝑖𝑒 𝑒𝑚 𝑠𝑖 𝑠𝑒 𝑐𝒉𝑎𝑚𝑎 "𝕊𝕠𝕟𝕘𝕤 𝕆𝕗 𝕎𝕒𝕣", 𝑢𝑚𝑎 𝑎𝑛𝑖𝑚𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑚𝑖𝑛𝑒𝑐𝑟𝑎𝑓𝑡 𝑐𝑜𝑚 𝑢𝑚𝑎 𝒉𝑖𝑠𝑡ó𝑟𝑖𝑎 𝑖𝑛𝑐𝑟í𝑣𝑒𝑙! 𝑅𝑒𝑐𝑜𝑚𝑒𝑛𝑑𝑜 𝑎𝑠𝑠𝑖𝑠𝑡𝑖𝑟𝑒𝑚 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑚𝑒𝑙𝒉𝑜𝑟 𝑒𝑛𝑡𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝑓𝑎𝑛𝑓𝑖𝑐𝑡𝑖𝑜𝑛.
Qualquer dúvida, tirem nesse comentário. Grata :)
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