EMILY

-Vamos, princesa.- tiro ela da cadeirinha.

-Tia Emi...- ela sacode um brinquedo.

-Isso, tia Emi.- levo ela até a porta.

Era a típica casa americana, tinha um balanço na varanda e me lembrei que tinha um balanço na minha casa quando eu era pequena.

Não sei por que começo a querer chorar por causa disso, acho que é a falta que eu sinto dos meus pais, já não falo com eles há tempos.

Aperto a campainha e logo a porta abre, vejo uma mulher de trinta e poucos anos com um sorriso de orelha a orelha e um vestido florido.

-Você deve ser a Emily.- ela sorri.- Emma falou que ia vir.

-Sim.- sorrio.- Então eu volto para pegar ela as sete.

-Ok, qualquer coisa eu ligo para você ou Emma.- ela pega Alice e a bolsa.

Assim que estou dando a bolsa começo a passar mal, franzo as sobrancelhas e me apoio na lateral da porta.

-Tudo bem?- ela parece preocupada.

-Sim, sim.- volto ao normal, ou tento.- Eu vou...

-Não quer entrar? Você pode beber água.- ela abre espaço.

-Ok.- começo a entrar.

Ela começa a andar e me sigo, vejo as crianças todas brincando e tudo mais, as babás parecem bem atentas e ao mesmo tempo calmas.

Alice é deixada ali com as outras crianças e ela vai até a cozinha comigo, então pega um copo e enche de água.

Sento em um banquinho e sorrio agradecendo bebo até a metade e começo a me sentir melhor.

-Você trabalha em que?- ela levanta as sobrancelhas.

-Arquiterura.- murmuro.- No prédio do centro.

-Ah, sei onde é.- ela parece animada.- E como está lidando com tudo?

-Com tudo?- tento sorrir.- Emma falou alguma coisa?

-Não.- ela ri.- Olha, eu sou obstetra.- ela pega um cartão da bolsa.- Quando for fazer a primeira consulta, venha me procurar.

Olho para o cartão e então para ela, meu rosto se fecha e eu não consigo ou não quero entender direito.

-Espere...

-Está de quantas semanas?- ela pergunta.- Está pálida, então deve estar vomitando demais, né?

-Eu preciso ir.- me levanto.- Obrigada pela água.

-De nada.- ela me observa enquanto eu volto para pegar o cartão dela.

Passo pela sala e abro a porta, vou até o carro depressa e começo a dar a partida quando meu celular começa a tocar.

Respiro fundo e mordo o lábio com força quando vejo que é Matthew. Não, não posso fazer isso, agora, primeiro tenho que ter certeza.

Ela convive com mulheres grávidas, então é comum que ela ache que todas estão grávidas, simples, ela pode estar enganada.

Eu só estou doente, com uma virose, não posso estar grávida, eu fiz com camisinha todas as vezes....

-Não...- paro o carro no sinal.- Mas eu tomei a pílula...

Apoio o queixo na direção e deixo o celular tocando, encaro o sinal e me pergunto o que eu vou fazer, mas não posso me desesperar.

Eu vou fazer o teste, dependendo do resultado eu penso no que fazer, então a primeira coisa a fazer é passar na farmácia.

O sinal abre e eu estaciono na primeira farmácia, pego apenas minha carteira e saio do carro com pressa.

Vou até a farmácia e começo a procurar pelos testes, não consigo encontrar nada e começo a me desesperar com isso.

-Moça.- me apoio no balcão.- Eu preciso de um teste de gravidez.

-Só um?- ela começa a se aproximar da prateleira.

-Cinco.- mudo de ideia.

Ela pega os cinco e eu pego o dinheiro, ela coloca na sacola e eu pego rapidamente sem nem pegar o troco.

Volto para o carro e começo a dirigir de novo, tento chegar o mais rápido em casa sem ultrapassar os sinais.

Pego minhas coisas e começo a entrar no prédio, guardo as chaves na bolsa e aperto várias vezes o botão do elevador.

Ele abre e algumas pessoas saem, eu entro rapidamente e aperto no meu andar, fico olhando para o visor, parece que demora uma eternidade.

Não estou nem com vontade de fazer xixi, mas eu vou dar um jeito, nem que eu tenha que tomar vinte litros de água.

Chego no meu andar e abro a porta, fecho com o pé e cubro o nariz com o antebraço enquanto abro a geladeira, pego três garrafas de água e fecho a geladeira.

Vou até o quarto e me tirando no banheiro, deixo os testes em cima da pia junto com a água e tiro toda a roupa que não preciso.

Me encaro no espelho e respiro fundo algumas vezes, então amarro o cabelo e começo a tomar a primeira garrafa de água.

𖣘

MATTHEW

-Obrigado por ir lá pegar ela.- Josh fala pegando Alice dos meus braços.

-Não tem problema.- fecho a porta atrás de mim.- O que aconteceu com Emily?

-Ela disse que ainda estava mal.- ele explica pegando a bolsa.- Você tinha dito que ela melhorou.

-Quando eu deixei ela, estava melhor.- balanço a cabeça.- Tinha até comido mais.

-Pois é, parece que piorou.- Josh fala preocupado.- Ligou para Emma e disse que não estava bem.

-Eu acho que vou lá, ver se ela precisa de algo.- começo a abrir a porta.

-Matt.- ele fala antes de eu abrir a porta.- Convença ela a ir no hospital.

-Eu vou.- assinto.- Ligo para você se acontecer qualquer coisa.

𖣘

MATTHEW

O elevador abre e eu caminho com calma até a porta, aperto a campainha e encosto a lateral do meu corpo na parede ao lado da porta.

Ouço algo lá dentro mas ninguém atende, começo a me preocupar e aperto a campainha de novo.

-Emily, eu estou preocupado.- falo contra a porta.- Abra a porta.

-Olha, eu só estou doente.- ela fala abafado.- Não precisa se preocupar.

-Claro que eu preciso.- tento pensar em algo.- Eu posso fazer algo para você comer.

-Eu já tenho.- ela parece estar chorando.

-Emily.- minha garganta fica com um nó enorme.- Eu só quero ver você.

-Eu estou bem, Matthew.- ela suspira.- E eu já marquei uma consulta, então não precisa se preocupar.

-Ótimo.- comprimo os lábios.- Mas eu ainda quero ver você.

Ela fica calada e então ouço as chaves, a porta abre e Emily cruza os braços irritada, observo o rosto vermelho dela.

Começo a me aproximar e ela deixa, então seguro sua nuca e a trago para mim, Emily me abraça e encosto o queixo no topo da sua cabeça.

-Estou realmente preocupado.- sussurro.

-Eu sei, mas eu vou ficar bem.- ela começa a acariciar minhas costas.

-Tem certeza que não quer que eu faça algo?- acaricio os cabelos dela.

-Não, eu falo com você se quiser.- ela levanta a cabeça e me encara.

Nos observamos e eu passo o dedão pelos lábios dela, Emily então abaixa a cabeça e beijo sua testa acariciando a bochecha dela.

-Eu vou comer algo e dormir.- ela se afasta.

-Vai me ligar se precisar de algo?- dou alguns passos para trás.

-Vou sim.- ela sorri.- Obrigada por isso, Matthew.

-De nada.- observo ela com atenção.

Ela fecha a porta e tranca, sorrio para a porta e me sinto um bobo, vou até o elevador e encosto meu corpo enquanto aperto o térreo.

Minhas bochechas começam a doer e acho que isso pode dar certo, eu e Emily podemos recomeçar de novo, isso pode dar certo.

Vamos recomeçar do zero, vou fazer tudo certo dessa vez, hoje só foi uma prova disso, vamos recomeçar e eu vou poder me redimir.