Com Ela
MATTHEW
Estávamos na caminhonete, da República para o centro da cidade eram duas horas e tivemos que sair cedo.
Emily estava nervosa, ela tinha trocado de roupa várias vezes até escolher um vestido branco com flores azuis.
Não sabia por que ela estava tão nervosa, não fazia questão que ela gostasse do meu pai, e sabia que ele não ia gostar dela.
Só estava a levando para ele saber que eu estava saindo sério com alguém, ele não precisava gostar dela.
Paramos na frente da casa e eu fiquei olhando aquela casa, desde que eu tinha saído não tinha voltado mais.
-Já voltou aqui depois...- ela pergunta com gentileza.- Depois que saiu?
-Não, nunca precisei.- desligo o carro.- Vamos, quanto mais rápido chegamos mais rápido podemos sair.
-Ok.- ela abre a porta.
Dou a volta no carro e seguro a mão dela, Emily aperta minha mão e eu começo a puxar ela para a porta.
Respiro fundo e toco a campainha, Emily se aproxima de mim e viro meu rosto tocando a testa dela com meus lábios.
Lembro de cada coisa que ele fez em cada canto dessa casa, nunca houve nenhum lugar seguro para correr.
Minha mãe se suicidou nessa casa, meu pai invés de ter alguma reação só disse que isso seria uma mídia ruim.
Ouço os passos se aproximando da porta e Emily se afasta um pouco, não sei se ela está querendo dar uma boa impressão.
Falei para ela que não precisava, a única pessoa que precisa gostar dela sou eu, então eu fico quero falar para ela novamente.
A porta abre antes que eu consiga e vejo meu pai, ele está com uma roupa social assim como eu e Emily.
Ele parece surpreso ao ver Emily, achou que tinha me traumatizado o bastante para eu não namorar, mas aqui estava eu.
-Podem entrar.- ele fala em uma voz gentil que nunca usou comigo.
Faço Emily entrar primeiro e ela passa por ele dando um sorriso educado, percebo ele olhar para ela e então olhar para mim.
-Quanto tempo com essa? Dois dias?- ele brinca e eu fico sério.
-Vai fazer dois meses.- falo com naturalidade.
Ele fica calado e eu passo por ele, passo a mão pelos cabelos e vejo que tem outro cara vindo na nossa direção.
-Matthew, você é igual ao seu pai.- ele sorri achando que isso é bom.- E você é...
-Emily...
-Drews.- ele completa sorrindo.- Você e seu irmão são um destaque em nossas listas de opção.
-Ah.- ela fica surpresa.- Obrigada.
-Não sabia que os dois estavam namorando.- ele parece animado.- Com certeza vai querer ficar juntos depois da universidade.
-Bem...- começo a falar.
-Matthew vai ficar ainda mais na carreira depois do universidade.- meu pai chega oferecendo uma cerveja para mim.- Vai querer o que, Emma?
-Emily.- corrijo e ela toca meu ombro.
-Vinho? Ouvi falar que é bebida de mulher...
-Cerveja para ela também.- começo a me exaltar.
-O que estiver mais fácil.- ela fala naquela voz calma e educada.
Ele sai e voltamos a conversar com aquele cara, nem sei o nome dele e ele parece perceber que não se apresentou.
-Chris Leiser.- ele se apresenta.- Então, está sério?
-Sim.- bebo um pouco, como estou dirigindo essa vai ser a única.
-É melhor quando está em um relacionamento que a pessoa entenda que precisa treinar muito.- ele explica.- Vaia deitar a proposta que fizemos?
-Eu...- Emily olha para mim e apenas a observo.- Eu não vou seguir jogando, recebi uma proposta em Seattle para arquitetura.
-Que pena.- meu pai chega com vinho e bufo, ela acaricia meu braço.
-Obrigada.- ela murmura bebendo um gole.
-Então como irão fazer?- Chris é intrometido, não?- Seattle e Toronto ficam bem distantes...
-Vocês tem uma associação em Seattle, não?- pergunto.
Chris parece pensar a mesma coisa que eu e meu pai lançar para mim aquele olhar desaprovador, quando eu era criança era sempre seguido de um chute ou soco.
Emily parece perceber o mesmo olhar e algo em mim se aquece quando ela da um passo discreto para ficar entre eu e meu pai.
-Realmente temos.- Chris fala calmo.- Mas quando houver jogo deverá ir para Toronto...
-Se garantir a passagem dela também.- balanço os ombros.- Vou para onde você quiser.
-Não é possível que esteja considerando isso, Matthew.- meu pai fala calmo, apenas por que um amigo está aqui.
-Precisamos ceder algumas coisas.- passo o braço pelos ombros de Emily.
-Isso é extremamente maduro.- Chris olha para amei pai.- Fez um ótimo trabalho com esse menino, Gregory.
-O almoço está pronto.- ele fala sério indo até a mesa.
Olho para Emily e ela olha para mim com culpa, eu nego com a cabeça e afasto a cadeira para que ela sente ao meu lado.
Todos sentam à mesa e eu percebo meu pai olhando com ódio para Emily, essa é a última vez que trago ela aqui.
-Fizemos uma proposta para o seu irmão também.- Chris começa a conversa.
-Ele me falou.- Emily parece desconfortável com o olhar do meu pai.
-Acha que ele vai aceitar?- pergunta curioso.- Fizemos uma proposta bem atraente.
-Bem, ele está com alguns problemas.- ela sorri sozinha e acho isso adorável.- Mas vou lembrar a ele da proposta.
-Tomara que ele resolva.- Chris começa a cortar a carne.
Ficamos em silêncio enquanto comemos, engulo a comida rapidamente já pensando na desculpa que vou precisar dar para ir embora.
Olho para o lado e Emily está meio encolhida, olho para meu pai e ele ainda está encarando ela com aquela cara de bosta.
Limpo a garganta tomando o resto da cerveja e então encostando minhas costas na cadeira, coloco a mão na coxa dela mas ninguém pode ver.
-Acho que...
-Podemos ir ao meu escritório?- meu pai levanta.- Chris e Emily podem conversar por uns instantes.
Levanto logo para acabar com isso e sigo ele até o escritório, aquele lugar sempre foi o pior de todos, nunca gostava de entrar aqui.
Respiro fundo quando ele fecha a porta e começa a ir até a escrivaninha, então senta com um pé apoiado no chão e me encara.
-O que está fazendo?- ele rosna.
-Como assim?- finjo não saber.
-O que está fazendo com aquela menina?- ele aponta.- Ela vai destruir sua carreira...
-Ela não vai destruir nada.- balanço a cabeça.
-Ela está grávida?- ele pergunta e paro o encarando.- É por isso que está fazendo isso?
-Não...
-Podemos resolver isso, mas tem que ser rápido...
-Se encostar nela você é um homem morto.- me aproximo.- Ela não está grávida, não estou fazendo isso por obrigação...
-Então está apaixonado.- ele fala com nojo.- Quando você se tornou tão fraco?
A porta abre rapidamente, talvez tenhamos gritado alto demais, mas que vejo é Emily e ela parece assustada.
-Está na hora de ir.- ela fala.- Temos compromisso, lembra?- ela me observa.
-Sim, é verdade.- começo a me afastar.
-Quanto dinheiro quer para parar de se encontrar com meu filho?- meu pai fala e eu paro.
-Você não falou isso.- eu falo com raiva.
-Vamos logo, Matthew.- Emily parece calma.
Meu pai se aproxima dela e eu não quero nem pensar nele a tocando, seguro a camisa dele e o jogo contra a parede.
-Não se aproxime dela.- falo com raiva.
-Matthew!- Emily segura minha blusa.- Vamos embora, vamos.- ela me puxa.
-Se alguma vez falar dela de novo daquele jeito ou ameaçar tocar nela...- largo ele.- Eu devolvo a você tudo que fez comigo, seu velho nojento.
Me afasto dele e Emily me observa, eu vejo que tem algo nos olhos dela e me sinto mal, isso só fez mostrar a ela que eu era igual meu pai.
Caminhamos pelo corredor do escritório, era embaixo das escadas, então nem tinha colocado os pés no segundo andar.
Acho que se eu voltasse para o segundo andar eu literalmente ficaria louco, nem mesmo podia chegar perto do meu quarto.
Me lembrei de todas as coisas que ele fez enquanto passava pelos cantos com Emily, ela estava com uma cara assustada.
Tentei tocar ela mas logo recolhi a mão, Chris estava vestindo o casaco quando chegamos na sala, perto da porta.
-Recebi uma ligação, preciso ir.- ele explica calmo e sem perceber nossas feições.- Seu pai está bem?
-Sim, ele está.- falo abrindo a porta.
-Quero você na minha empresa daqui a dois dias, diga seu nome e eles deixam você subir.- Chris explica enquanto saímos.- Vamos assinar o contrato.
-Claro.- assinto.
-E Emily...- ele para na frente dela.- Lembre seu irmão.
-Pode deixar.- ela tenta sorrir.
Vamos em direção ao meu carro e começo a perceber que Emily vai dizer algo para mim, e sei o que ela vai dizer.
Quem quer namorar com um cara fodido, com um pai fodido e com a infância toda fodida, Emily não merece isso.
Então assim que entramos no carro ela coloca o cinto e eu apenas encaro o volante com medo do que vai acontecer.
Ela respira fundo e sei o que vai sair da boca dela, ela vai dizer que não pode sair com um cara como eu e eu vou aceitar.
Abaixo minha cabeça como uma criança que está prestes a receber um carão, e assim que ouvi ela se remexer sinto os lábios dela na minha bochecha.
De tão surpreso que estou viro o rosto e ela coloca a mão no meu pescoço enquanto aproxima os seus lábios dos meus.
Minhas mãos vão até os quadris dela e tento puxá-la para meu colo, ela ajusta a minha cadeira para que consiga sentar.
Enquanto ainda estamos juntos ela passa os braços pelos meus ombros e me abraça com força afundando o rosto no meu pescoço.
Minhas mãos sobem pelas costas dela e aperto seus ombros sem acreditar no que ela está fazendo.
-Sinto muito.- ela sussurra.
-Pelo que?- sei que ela vai terminar comigo agora.
-Seu pai...- ela se afasta.- Ele é...- ela comprime os lábios.
-Cruel?- pergunto e ela assente.- Entendo se não quiser mais nada comigo...
-Acha que eu sou assim?- ela levanta as sobrancelhas.- Precisa de muito mais para me afastar, Matthew.- ela se aproxima.
-Quer continuar namorando comigo?- sou pego de surpresa.
-Claro.- ela percebe.- Você não é igual a seu pai...
-Eu quase bati nele.- falo baixo.
-Não importa, não é a mesma coisa.- ela acaricia meu rosto.- Você não é igual a ele.
-Você acha?- não sei por que apenas a opinião dela importa.
-Simz você é gentil, carinhoso e bondoso.- ela passa a mão pelos meus cabelos.- E cem vezes mais bonito.- isso me faz sorrir convencido.
-Eu sou bonito?- desço minhas mãos até as pernas dela.
-Uma versão feminina daquela menina gostosa do colegial.- ela sussurra e eu rio beijando o pescoço dela.
-A menina gostosa do colegial vai dar um presente pra você.- sussurro contra a pele dela e a sinto arrepiar.
-Que presente?- a voz dela fica rouca.
Levo a mão até a barra do vestido dela e começo a subir, Emily sorri parando minha mão e beijando meus lábios levemente.
-Mais tarde.- sussurra.
-Por que?- pergunto como uma criança mimada.
-Porque eu preciso terminar o trabalho.- ela senta no canto.- É para amanhã.
-Se eu ajudar e terminamos mais cedo, você vai transar comigo?- ela cora e eu sorrio achando isso uma graça.
-Talvez.- ela balança os ombros.
-Você não pode fazer isso.- falo mais descontraído.- Me viciou em você e agora está me negando algo muito, muito importante.
-Ah, que pena de você.- ela fala em uma voz fininha enquanto saio da vaga.
-Se está com pena deveria me deixar fazer o que estou planejando.- viro uma esquina.
-Mais tarde.- ela fala com mais seriedade.
Olho para ela por um momento e percebo que ela me fez esquecer minhas inseguranças tão rápido que nem lembro mais.
Claro que nunca vou esquecer das coisas que ele fez, mas ela fez tudo ficar tão mais leve... me sinto melhor com ela.
Espero nunca precisar deixar ela frente a frente com meu pai, quero que as coisas deem certo com Emily e não vou estragar tudo, nem mesmo pensar em estragar tudo.
Então começo a voltar para a República que é onde o trabalho dela está, e metade das suas roupas e livros.
Ela praticamente está morando lá, e eu gosto disso, não tenho nada que reclamar dela, então em Seattle vai ser fácil.
Tudo vai ser fácil, se eu estiver com ela.
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