Capítulo 11 - Sir Pedro
"O que aquela menina fazia na sua sala de visitas, Pedro?"
Encostei na parede ao lado da porta e suspirei pausadamente, na intenção de escutar mellhor...
"Não tenho que te dar explicações, Kamila."
"É inacreditável. Mesmo com a morte de Melinda, você continua agindo como ele."
"Odeio que fiquem tentando indagar minha vida pessoal, ou o motivo da decisão que tomo."
"Pergunto porque você não tem familia e nem amigos com quem possa contar."
Posso sentir a tensão na voz dela, ele à deixou com raiva e nervosa.
"Lembre-se. Seguiu tanto as regras de seu pai que magoou a única pessoa que te deu amor, e passou longos anos vivendo sozinho nessa enorme mansão."
"Já chega de tocar nesse assunto. É minha antiga professora, não minha conselheira."
"Não vou embora, essa menina pode ser uma golpista pronta para matá-lo."
Levo minha mão direita até meu coração. É admirável a atitude dela, mesmo que ofensiva.
"Não é nada educado ficar escutando conversas atrás da porta. Penélope, vá agora para a aula de escrita."
Sobressaltei os olhos e andei a passos rápidos pelo corredor, em direção ao lugar de onde vim.
Terça-feira, 01 de Abril.
Penélope Featherington
Passaram-se três dias desde que recebi a carta de Sir Pedro. Nela dizia para eu e Bárbara, o esperar no convés do segundo andar, na tarde deste dia. Por sorte, sua assinatura serviu para liberar a circulação dela no navio... Finalmente.
Entrelaço as mãos na frente do corpo, enquanto aguardo sua chegada. Bárbara está ao meu lado, sem dizer nada. Desde o momento em que fui buscá-la na festa de despedida da terceira classe, notei que ela não queria estar aqui, comigo. E deu tanta raiva sua reação. A cada palavra que eu dizia, ela contorcia o nariz, ou olhava para aquelas duas. Mantive a postura de superior, algo que só apareceu depois de longos minutos tentando entender o motivo da sua atitude.
Ereta, mantenho uma expressão séria, meio carrancuda. Não merecia passar por aquilo. Olho para o barco distante que se aproxima. Ele é de madeira, tem uma rede de pesca pendurada em uma das três colunas, e parece que pode desmontar a qualquer momento. Sir Pedro está na proa, nos olhando sério e com uma postura elegante. Atrás dele, há três homens, vestindo o mesmo modelo, sendo a parte de cima uma camisa branca de um tom meio cinza, quase desbotado, e a parte de baixo um macacão alaranjado.
— Parece tão bem para quem viajou mais de vinte e quatro horas num barco — comento humorada quando o barco encosta no navio. Consigo arrancar sinais de um sorriso em Sir Pedro. Bárbara suspira com pesar.
— O único disponível à fazer uma viagem tão longa. Sendo última opção, ele não decepcionou. — Ele anda pela prancha até o navio e para um passo à nossa frente. Comprime os lábios olhando para mim, e levanta uma sobrancelha ao olhar para Bárbara. — Pegue suas coisas e vá com eles, mas não volte para minha propriedade. — Abro a boca e arregalo os olhos. — Já instrui os homens que vieram comigo, vão te deixar no porto de embarque.
— Por quê? O que eu fiz? — exitante ela balbucia com a voz aguada. Ele sorri com desapreço.
— Penélope é minha representante. Seu dever era serví-la, mas a deixou sozinha após uma única, e sem importância, ordem. — Arqueio as sobrancelhas inflando o ego. Sou importante, não há referencia melhor do que esse argumento.
Ergo o rosto e a olho de esguelha. Ela me olha franzindo a testa, se eu não tivesse sido atração de um espetáculo, feito por ela há horas atrás, iria me opor.
— Mas ela não ficou sozinha. Passou a viagem toda com Colin Bridgerton — cospe as palavras, é sobre mim, mas foram direcionadas à Sir Pedro.
Mesmo perplexa, consigo manter a postura indiferente, como se sua insinuação não fosse grande coisa. No momento não premeditado, argumento um contexto muito convincente.
— Vejo Colin Bridgerton como um concorrente forte — começo tendo a atenção de ambos direcionada à mim. — Enquanto todos os outros estavam olhando papéis ou a reação dos sócios, ele e eu, estávamos despreocupados esperando o oponente em comum terminar.
— Está duvidando da sua capacidade, Penélope? — pergunta Sir Pedro, maneando a cabeça para o lado, mandando Bárbara sair.
Acompanho ela com o olhar. Bárbara sai com a cabeça baixa, sem dizer nada.
— Não, apenas gosto de estar um passo a frente do inimigo — respondo o que sei que ele quer ouvir.
— Bom saber — diz Colin se posicionando entre mim e Sir Pedro. — Tema mesmo, Srta. Featherington. — seu tom é sério, mas consegue arrancar de mim uma risada.
— Colin Bridgerton — cita Sir Pedro, olhando de mim pra ele. — Muito ouvi falar desse nome.
Eles têm grande interesse, um no outro. Selo os lábios ao perceber que estou sendo excluída da conversa. Fico muito contente por não ter que interagir com Colin... agora.
— O senhor era o que antes dessa viagem? — indaga Sir Pedro, prendendo os olhos a Colin, o fitando.
Estou usando um vertido branco, com um decote discreto, uma fita rosa clara em volta da cintura, e um chapéu cor de pele. Achei adorável o look. Para me entreter, enrolo a ponta da fita nos dedos, brincando de forma boba.
— Sir Pedro Greenwood. Os tripulantes do navio estão dizendo que irão processar nosso barco como clandestino. — informa um dos homens, que amarrou uma corda naval no cunho do navio, parando atrás de Sir Pedro.
Coloco as mãos para trás do corpo e me apoio nos calcanhares. Sir Pedro vira para conversar com ele. Olho para Colin, que também me olha, mas de uma forma diferente. Ele passeia seus olhos pelo meu corpo e volta a olhar para meu rosto, sorrindo de lado. Com as maçãs da face vermelha, consigo o encarar e manter seus olhos presos aos meus.
A maior intimidade que tivemos foi nos beijos. E a cada reencontro ficamos assim, eu meio envergonhada, e ele com o olhar um tanto atrevido.
— Penélope, me acompanhe até a sala do Capitão. — Sir Pedro passa por nós, sem nos tocar ou olhar. Bem sério. O sigo após dar um sorriso discreto para Colin.
*********
Segundo murmúrios de pessoas da cidade, algo que notei logo na primeira semana que cheguei em Gretna Green, Sir Pedro viveu durante dez anos sozinho. Enclausurado na culpa e dor de uma grande perda. Seus pais morreram dois anos após o falecimento de sua única irmã, Melinda Greenwood, que tentou abortar um bebê concebido fora do casamento, sendo moça e solteira, ingerindo uma xícara com café, e veneno de rato. Ela cuidou de Sir Pedro quando ele era criança. Apontaram semelhança entre nós, como ser uma moça sem nada atrativo, de opinião e posicionamento diferente.
— Vim para acompanha-la, não cuidar da negociação — diz Sir Pedro, sentado numa cadeira, com o espelho na mão e fazendo a barba. Uma empregada do navio massageia seus pés.
Pouso os cotovelos em cima da pequena mesa, e as mãos embaixo do queixo, estou de frente para ele, sem dizer nada, apenas observando em silêncio.
— Foi muita irresponsabilidade dos sócios com os concorrentes — resmunga olhando para a moça de joelhos a sua frente. Ele raramente conversa na frente de empregados, mas quando o faz, os intimida com o olhar. — Ficaram adiando uma reunião que deveria ter sido finalizada no mês passado, bem no meio da viagem.
— Pareceu um fenômeno sobrenatural, tantos imprevistos terem acontecido — comento passando os dedos pelas folhas do caderno de anotações. Rio fraco antes de complementar: — Ao ponto de só conseguirmos resolver sobre essa reunião, no final da viagem.
— Descaso — pontua. — Não gosto de Colin Bridgerton. — Ao ouvir tiro os olhos do caderno e olho para ele. Sua face assume uma expressão de desagrado. — Lembre-se do que ele fez. Também não a quero perto dele.
— Está bem. — Ele tira os olhos do espelho para me olhar, arqueia uma sobrancelha, e volta a olhar para o espelho.
A sobremesa chegou. Comemos na presença de Dylan, que ajudou a serviçal a trazer nossa refeição. Ele dedicou maior parte da atenção à Sir Pedro, direcionando a mim apenas alguns sorrisos discretos e amigáveis. Até aliviou a tensão que senti nas outras noites, quando ele tentava entrar na minha cabine, mas vou ficar atenta, e falar para Sir Pedro sobre isso, pois pelo olhar e gestos, fica bem difícil confiar na índole desse homem, ele transmite ser uma pessoa egoísta e fria em relação aos outros, e tem um caráter duvidoso.
— Gostei de conversa com o senhor, Sir Pedro Greenwood — cumprimenta num tom firme e gentil. — A propósito... Peço sua permissão para dançar com a Srta. Penélope Featherington esta noite. — De forma delicada, olho para ele.
— Não será possível. Só sairei desta cabine para ir à reunião — digo enquanto forço um sorriso.
— Não vejo mal algum conceder. — Sir Pedro maneia a cabeça concordando.
— Sendo assim... — mantenho o sorriso forçado e aceito a contragosto.
Na reunião, começada às 17:20h, todos os concorrentes começaram e terminaram no tempo marcado. Era dez minutos para cada apresentação. Deixaram eu, Colin e Dylan, por último.
— Eu passo minha vez — declara Dylan, fazendo Sir Pedro olhá-lo com uma sobrancelha arqueada.
— Srta. Penélope Featherington — chama um dos sócios. Fico em pé, vou até a ponta da enorme mesa, e paro em frente a todos.
Decidi mudar à proposta que iria fazer.
— Serei breve. — Olho para cada um dos sócios. — Tenho ações de três empresas em meu nome. Ofereço uma negociação que trará um ótimo beneficio para quem aceitar. — Pego as folhas com slogan e três sugestões de textos diferentes. — Uma delas transporta mercadorias. Outra, compartilha informações em diversas cidades. A terceira e muito importante, cria qualquer matéria sugerida, tendo apenas os componentes, é claro.
— E quem garante que são suas? — pergunta um dos concorrentes, o terceiro a se apresentar. Os sócios olham dele para mim.
— Eu tenho documentos que provam. — Junto as mãos e as deixo à altura da barriga. — Cópias, os originais estão bem guardados. — Olho para o senhor Muhammad, que assente. — Empresa de tranporte, jornal e fábrica, localizadas em Londres. Tenho mais de vinte por cento de ações em cada uma, e estou disposta a negociar as três.
Uma salva de palmas, a maioria nem se pode-se considerar palmas, e logo estou sentada no meu lugar, ao lado de Sir Pedro, com Colin e Dylan a nossa frente.
— Colin Bridgerton.
Colin fez uma proposta de investimento em tecido. Algo que todo mundo usa. Foi bem interessante sua apresentação, mas não acho que ele merecia ganhar. Sir Pedro também. Fiquei em terceiro lugar de melhor apresentação, o segundo apresentou algo em relação a sapataria.
— Que decisão de merda — reclama Sir Pedro após rir de escárnio. — Penélope Featherington fez uma das melhores apresentações. Merecia um lugar melhor.
— Amigo, ela já está em um dos três lugares, deveria se sentir honrada — contrapõe com desdém Liceu Zagallo, um dos sócios.
— Está bem, Sir Pedro. — Seguro em seu braço. Ele está sentado na ponta da cadeira, com as mãos na mesa. Me aproximo do seu ouvido e sussurro: — Por favor, eu já estou muito magoada, não faça eu ser o centro das atenções estando nesse estado.
Ele suspira e encosta na cadeira, fitando o senhor loiro, que tem um meio sorriso e um olhar contente.
— Vamos? — Olho para a mão estendida e meio triste aceito. Dylan, me direciona até o salão de dança, ao lado da enorme mesa posta para nós.
Não olhei em seus olhos, senti os olhos de Colin me queimar, percorrer meu corpo. Um calafrio e... solto seu braço e saio do salão para pegar o ar da noite, o clima frio. Adoraria ficar sozinha, mas logo alguém chega.
— Isso foi humilhante! Por que aceitou dançar comigo se sua intenção era me deixar? — Ignoro seu tom estrondoso e indignado. — Penélope Featherington! — cita com ódio. — Vire-se pra mim quando eu estiver falando.
— Dylan — digo. — Não quero nem ter amizade com alguém como você. — Sou virada de forma brusca. Meu corpo está mole graças a grande decepção. — Menos ainda aproximação. — Olho seus olhos, sua expressão de raiva.
— Eu vou ensiná-la a respeitar um homem. — Logo após dizer Colin aparece por trás e dá um soco em sua cabeça, bem no cabelo, o barulho doeu meus ouvidos. Ele me larga e segura Colin. Eles trocam socos, tem tanto sangue que nem sei quem está mais machucado. Sem reação e quase desmaiando, observo. Colin o derruba no mar, mas Dylan o puxa e ele também cai. Nesse momento eu entro tateando os objetos e tento gritar por socorro.
Por sorte, alguém escuta e chama outras pessoas.
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