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Prólogo

Sul do Brasil, Estância Santa Rita, final do século XIX.

O vento açoitava as venezianas como se fossem braços de gelo dispostos a entrar na casa para levar a alma de alguém como um prêmio pelo inverno longo e gelado. O tique-taque do relógio em cima da cornija da lareira da saleta que uma dia havia sido da mãe eram um desafio para os nervos de Bibiana, deixando-a em estado de alerta. Ela olhava da irmã para o cunhado em busca de conforto, de que algum deles lhe dissesse algo para amenizar a passividade que a haviam colocado enquanto esperava que o pai morresse. Matilde também estava ali, quieta e pálida à espera de notícias de Juan, que estava trancado com o pai em seu leito de morte.

Jose Carlos Junqueira havia sido um herói da Guerra do Paraguai, ao menos era isso que lhe contavam acerca do pai, um coronel condecorado que se casara com uma rica herdeira e com ela construíra uma família. Bibiana poderia se orgulhar dos feitos do pai se não soubesse o quanto um homem poderia se tornar tóxico quando a ambição o movera a justificar cada maldita decisão que as aprisionou dentro daquela casa e que matara a mãe de tristeza.

E agora o pai jazia em uma cama depois de sofrer mais um ataque apoplético, preso entre o mundo dos vivos e dos mortos como castigo por ter se empenhado em destruir a própria família, sem sequer lhes dar uma explicação.

Bibiana se corroía por dentro para entender o porquê um homem se empenhava tanto para se manter indiferente às filhas.

Não!

Ela não poderia ficar presa dentro de uma sala sufocante, olhando para o fogo na lareira, e que também queimava seu juízo para inflamar a indignação que só fazia crescer dentro dela, enquanto o pai se despedia do mundo sem lhe dar a explicação que sempre ansiou receber.

Então, deslizou os olhos uma última vez entre aqueles que lhe eram mais caros e decidiu que precisava ir atrás das respostas. Ninguém a notou quando abriu a porta que mantinha a sala quente para ir ao encontro do pai.

No corredor iluminado por velas, encontrou Dolores que carregava uma bandeja com um bule de café recém-coado. A preta velha resmungava uma oração enquanto arrastava os chinelos no chão de assolado. Devia já estar encomendando a alma do moribundo.

— Vou ajudá-la. – Bibiana abriu a porta para Dolores entrar.

— Não deveria ir buscar sarna para se coçar – alertou-a a criada, como se fosse uma vidente cuja capacidade para ler mentes a aproximava do mundo sobrenatural. Dolores havia envelhecido na Estância Santa Rita e conhecia a amargura de cada uma das filhas do patrão, um homem que havia perdido a gentileza quando se tornara rico e agora cumpria a penitência de uma morte difícil por ter trocado o amor verdadeiro pela ganância de uma vida de riqueza.

— Não pode me julgar quando sabe que tenho o direito de receber uma explicação – Bibiana retrucou, magoada.

— Você já sabe de tudo, menina! – insistiu a mais velha. — Fique com suas irmãs e pare de se machucar ainda mais.

Bibiana não deu ouvidos para os conselhos da mulher que conhecida os segredos de todos que passaram pelo casarão da Estância Santa Rita, talvez melhor que qualquer outro, e seguiu ao encontro da única pessoa que poderia lhe dar as respostas que tanto queria.

A lua já estava bem baixa no céu, logo amanheceria, e talvez já houvesse perdido a última chance de falar com o pai, seria uma conversa de pai para filha, sem a ameaça de açoite que costumava impedi-la de confrontá-lo. Um moribundo não teria força para lhe corrigir com o chicote, muito menos para ameaçar quem mais amava, no caso uma das irmãs.

Bastava ela atravessar a porta que ficava do outro lado do corredor.

Era dali ou de cima de seu cavalo que Junqueira costumava comandar seu império. E seria ali que a morte o abraçaria para cobrar cada uma de suas dívidas. A justiça divina era implacável e todo homem e mulher, um dia, teria que enfrentar o juízo final.

Sem chicote.

Sem chicote.

Bibiana ainda podia ouvir o barulho das chibatadas que Lucila recebeu em seu lugar. Era seu maior tormento. O pai havia sido impiedoso em usar a irmã para puni-la; o coronel sempre soubera que a filha do meio jamais se renderia à dor do couro entrelaçado.

Apenas precisava saber o porquê não a deixava ser quem era.

E quando decidiu atravessar o corredor deu de cara com o irmão bastardo, a quem o pai havia exigido a presença em seu leito de morte.

— Tudo bem? – ela perguntou ao encará-lo.

— Acredito que vai ficar – respondeu o castelhano, os olhos vermelhos indicavam que havia se emocionado.

— Ele morreu? – Ela precisava saber, as mãos em punhos de cada lado do corpo revelavam a apreensão de talvez ter chegado tarde demais. E o mero pensamento a fazia se sentir covarde, tal e qual acontecera quando Lucila havia sido castigada em seu lugar.

— Ainda não – esclareceu Juan —, mas acho que não vai demorar.

— Ele mudou o testamento, Juan! Apenas Matilde sabe quais foram suas novas disposições, mas ela se recusa a contar. Você a conhece tão bem quanto eu e sabe o quanto é leal com quem ajuda. – Ela argumentou na tentativa de descobrir os motivos que levaram o pai chamar o filho para uma última conversa. E não, ela não se ressentia se o pai tivesse o reconhecido e dado a ele o status de herdeiro que merecia, mas se ressentia por não a ter chamado, de não ter chamado a ela e as irmãs.

Juan consentiu com a cabeça, a exaustão lhe era aparente e Bibiana evitou de estender a conversa, indicando onde poderia encontrar os outros. Aceitou suas palavras e o seu beijo na testa como o apoio que lhe faltava para encontrar o pai. Juan atravessou o corredor para resolver seu destino no exato momento em que Dolores saía. Ela e Bibiana trocaram um olhar de cumplicidade, mas a preta decidiu seguir seu caminho de volta para a cozinha, sabendo que palavras jamais seriam suficientes para convencer uma obstinada a mudar de ideia.

Bibiana, finalmente, abriu a porta e entrou sorrateiramente no gabinete que fora convertido em quarto de doente, cuidando para não fazer barulho.

O coronel estava com a cabeça virada para o outro lado, olhando para o vazio da janela. Havia algo de mórbido no antigo gabinete do pai, um cheiro de pelego misturado à cera de velas, era o perfume da morte.

— Pai – ela arriscou chamá-lo. — O senhor pode me ouvir?

Sssiiiimmmm... – A voz do coronel saiu arrastada e ficou nítido o esforço com que tentava reunir as palavras.

— Sou eu, Bibiana – ela avisou.

— Eu sei que é você, Bibiana – ele a surpreendeu. — Jamais outra das minhas filhas teria a coragem de me enfrentar no meu leito de morte. Eu deixei uma carta para cada uma de vocês – avisou, o fôlego cada vez mais pesado.

Bibiana soltou um longo suspiro e corrigiu a postura, não queria que o pai a julgasse covarde, mesmo que ele não a estivesse olhando.

— Eu queria ouvir do senhor o que tem a me dizer – explicou.

— Sente-se na cadeira – ele pediu —, assim não preciso me virar para você.

Ela atendeu o pedido do pai e se sentou na cadeira ao lado de sua cama. O corpo quase sem vida se esforçava para manter a respiração, e mesmo naquela situação deplorável, entre a vida e a morte, a altivez o mantinha em um estado constante de alerta, como se ele se empenhasse para morrer com dignidade.

— Eu estou cansado – admitiu ele —, e quero apenas partir em paz com todos. Então, me diga o que a trouxe até mim depois de anos me desprezando.

— Eu não o desprezava – ela esclareceu. — Foi o senhor quem decidiu me aprisionar dentro de casa, como se uma mulher não pudesse se dedicar a outra coisa a não ser as prendas domésticas.

— Eu errei com você, minha filha – ele confessou, deixando-a de boca aberta tamanha foi a surpresa. — Na verdade, eu falhei com todas. Devo a todas vocês, incluindo sua mãe, um pedido de desculpas. Mas a você, eu devo mais que isso, eu devo confessar que sempre foi a filha que Deus me enviou para continuar meu legado e que eu não tive a sensibilidade de perceber.

Bibiana sentiu um nó na garganta se formar. Mas se esforçou para falar o que precisava.

— Eu teria teimado se o senhor não tivesse usado minhas irmãs para me chantagear – falou finalmente. — E talvez tivesse conseguido provar que poderia ser aquela que cuidaria de todos, mas então o senhor me proibiu e eu não tive escolha depois que açoitou Lucila em meu lugar. Não sei se serei capaz de perdoá-lo por isso, por me impedir de ser livre usando minhas irmãs para me impedir de ir embora.

— Era o único jeito que encontrei de colocar freios em seus ímpetos, Bibiana. Você sempre foi a ventania que cruzou meu caminho, para me provar que mulheres podem ser mais do que rostos bonitos para enfeitar nossas casas. Mas minha arrogância não me deixou ver o quanto era especial. De todos os meus filhos, você é a que a mais se parece comigo, talvez por isso as discussões se tornaram uma constância, a ponto de fazê-la me odiar.

Bibiana sacudia a cabeça ao lembrar da mãe lhe alertando sobre o quanto era parecida em gênio com o pai. Mas ela não queria ser amargurada como ele e eis que havia sido ele quem a aprisionou para que não pudesse correr atrás do próprios sonhos; sonhos esses que não poderiam ser realizados na cozinha da estância ou nas aulas de piano que detestava. Ela queria tão somente ser livre para conhecer o mundo e a partir disso, decidir seu futuro.

— Você queria um filho e, então, nasceu mais uma mulher e me tornei a frustração de um homem que não tinha conseguido gerar um varão para perpetuar seu nome – a dor que sentia se misturava às palavras repletas de acusação —, mas eu queria lhe provar que poderia ser melhor que um filho homem, que eu poderia orgulhar o senhor, e por isso fui me misturar com os peões. Mas quando deixou claro que jamais toleraria que uma filha o envergonhasse diante dos peões, eu me senti desprezada e Santa Rita se tornou sufocante.

— Eu fazia vistas grossas quando era menina, embora jamais a perdi de vista. Mas então você cresceu, foi para a Capital estudar e voltou uma mulher feita... Não era direito que a filha do patrão andasse com os peões – ele sustentou seu ponto de vista. — Você deveria ser uma dama.

— Eu jamais quis ser uma dama, pai – disse ela em tom de voz alterado, mas logo tapou a boca ao perceber que deveria ter mais respeito por um moribundo. — Eu apenas queria ser útil para a fazenda.

O coronel estendeu o braço e segurou a mão da filha.

— Eu cometi muitos erros, Bibiana. Tantos que não me restará outro lugar a não ser o purgatório. Mas ao menos eu posso acreditar que estou deixando o meu melhor para este mundo. Você, Bibiana e Juan são a única parte boa que deixo como herança para o mundo, para que consertem meus erros. Me perdoe por ter usado sua irmã para aprisioná-la, Bibiana! Me perdoe por não a entender.

— Pai, por que você usou Lucila para me controlar? Eu preciso saber por que – ela implorou enquanto segurava firme na mão dele.

— Porque você morreria de tanto apanhar, mas jamais se entregaria. Você é uma Junqueira, Bibiana, querendo ou não carrega a minha determinação de vencer na vida e a valentia para não temer a dor e a morte. Você é sangue do meu sangue, a Junqueira que levará nosso legado adiante. Estou falando uma mentira, minha filha? – Ele apertou a mão dela e puxou o ar para recuperar o fôlego. — Estou mentindo que teria morrido de tanto apanhar, mas jamais daria o braço a torcer?

— Não está mentindo! – Ela respondeu, muito emocionada pelo pai a ter chamado de filha. — Eu teria aguentado até a última gota de sangue...

— Sem soltar uma lágrima que eu sei, porque é uma Junqueira – ele completou e a constatação de que a conhecia muito bem a abalou profundamente. Como negar que eram mais parecidos do que imaginava?

— Eu queria não me sentir tão machucada para conseguir amá-lo, mas é tudo tão confuso. – Bibiana sentia-se perdida, totalmente desolada com o fato de que o pai a havia afastado de sua vida quando o que ela sempre quisera foi impressioná-lo.

— Não precisa me amar quando não mereço, minha filha. Tente me perdoar um dia e essa promessa já me é suficiente.

Ela secou as lágrimas com a ponta do xale enquanto a outra mão ainda estava presa a do pai, a mesma mão que se levantava para puni-la quando a julgava rebelde e desobediente. E quando as ameaças e as correções não surtiram o efeito desejado, ele as levantava para as irmãs; e foi quando percebeu que ele havia descoberto um jeito muito mais eficaz de controlá-la.

— Eu prometo que vou tentar perdoá-lo, pai! – prometeu ela com a voz embargada.

— Leia minha carta para você, Bibiana, mas quando seu coração estiver pronto.

— Vou ler – ela ratificou a promessa. — Agora que sei que entendeu o que sou e o que quero, talvez eu possa perdoá-lo. Talvez...

— Você está finalmente livre para viver de acordo com suas vontades – ele disse, um último suspiro antes de começar a tossir.

Ela se levantou e curvou o corpo para beijá-lo na testa.

— Obrigada por me libertar, pai – agradeceu e se afastou da cama com passos curtos, sentindo-se esgotada e com os nervos abalados.

Bibiana talvez tivesse encontrado mais do que uma explicação para a prisão que a jogaram, talvez houvesse encontrado a redenção para ser feliz, mas a amargura de uma vida em que o amor foi sufocado em prol da soberba e da avareza ainda a impedia de acreditar que o mundo poderia ser um lugar menos perigoso para uma mulher. 

***

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