Thunder: 004
— Faz anos que alguém me deixa tão excitada como você, ovelha negra. E nunca alguém me deixou tão próximo da morte como fez há pouco. Tenho de admitir, esse poder crescendo dentro de você é surpreendente, e dificilmente se encontra algo dessa magnitude nos dias de hoje. Pelo menos, não em uma hanyou como você.
E assim, nós voltamos para o ponto de checagem em que paramos na história.
Madrugada do dia 2 de abril, em Fukushima.
Naquela usina de vento onde a guria tinha apostado ser um QG do NIP, e onde ela esperava encontrar Aleister Oz e seus shikigamis, mas que no final, acabou somente se deparando com uma semideusa notória.
Ao redor daquela conhecida como Abelha Trovejante, relâmpagos em miniatura surgiam e sumiam com um brilho azul, enquanto ao chão à sua volta, raios saltavam do solo para o solo, como golfinhos brincando na superfície do mar. Faíscas elétricas e azuladas também dançavam em seus dedos das mãos, sempre ligando o polegar aos outros quatros com um relampejo azul.
— Fico realmente lisonjeada sobre a parte que me toca, chiquitita, mas nunca fui muito de levar os elogios para o coração. Você é parte de uma missão inacabada minha e pretendo vingar o meu fracasso hoje.
— Hmph, como esperado da Assassina de Youkais. Você quer ir até o fim com isto, não é? Então, tá. Eu também pretendo te pulverizar ainda hoje.
Posicionando seu antebraço direito até a frente de seu peito, como se tivesse arrancado do chão, uma espada amarela apareceu com raios de mesma cor entre seus dedos apostos. A mão de Nuwa envolveu o punho daquela katana, que teve sua elétrica energia amarelada dissipada logo em seguida.
— Já estava demorando, hein. Achei que tivesse se livrado dessa coisa brega. Essa espada parece uma casca de banana. Mas, deve ser como dizem. Uma abelha morre ao se separar de seu ferrão, não é?
— Já deve saber o que significa se revelei a Lâmina da Lua de Mel neste duelo, não sabe?
— Sim, sim. Eu já conheço bem os seus truques.
— Tsc.
Acompanhando seu estalo de língua, a semideusa moveu seu braço, estendendo-o para o lado e rasgando ar com sua espada amarelada. Somente esse simples movimento foi o suficiente para que três cata-ventos à nossa esquerda, e à direita de Nuwa, fossem fatiados ao meio.
Não satisfeito só com isso, o movimento que deveria ser inofensivo realizado pela filha do deus do trovão, mesmo ao longe, produziu um arranhão na bochecha da guria, que um segundo depois foi regenerado pela sua altíssima capacidade de cura.
Ultimamente, as pessoas têm ferido suas bochechas mais do que o normal.
— Então, é assim que vai ser, Abelha Trovejante? Fique você sabendo que não tenho mais aquela espada que usava na época do Mandarim.
Levando sua mão aberta para o lado, da mesma forma como a de Nuwa, uma katana apareceu no meio do ar para que a guria a apanhasse. E, assim que o fez, a magia negra iniciou seu processo de contaminação na espada, a tornando um artefato totalmente negro, exceto por seu punho, que estava forrado pela pelagem de um tigre branco.
A katana já conhecida por mim, Katônomaru, agora estava banhada pelo poder assombroso da mana negativa.
E como se tivessem ensaiado aquilo, em uma curiosa harmonia, tanto Yuna quanto Nuwa deslizaram seus pés no solo e moveram suas katanas para tomarem a mesma posição de guarda com suas espadas, a Ko Gasumi No Kamae.
— ......
— ......
Em silêncio absoluto, onde até mesmo a respiração das duas pareceu se encerrar, a Assassina de Youkais e a Abelha Trovejante se moveram, desaparecendo de súbito e de súbito reaparecendo uma ante a outra.
As lâminas se cruzaram, e o choque entre os metais dividiu a planície onde nos encontrávamos entre a escuridão das trevas de Katônomaru e a luminosidade elétrica da espada amarelada da semideusa.
Não demorou para que o gume das katanas parassem de se beijar, gerando um som agudo que zuniu com o vento, para que novamente voltassem a se atracar sem gentileza, ao que a guria-abelha e a nossa guria iniciaram uma sequência de golpes tão rápidos que pareciam só estarem fazendo rabiscos com faíscas em pleno ar.
A velocidade era tamanha, que eu teria dificuldades de acompanhar precisamente aqueles movimentos mesmo se colocasse minha existência acima da velocidade do som. Na verdade, mesmo o som estava com problemas em acompanhar as centenas de golpes. Para cada faísca gerada no ar, o ruído metálico que deveria ser produzido pelo encontro das lâminas chegava aos meus ouvidos caninos a duas ou três faíscas geradas depois.
E quando Yuna sofreu um golpe mais forte, e foi desequilibrada, o som de dois movimentos anteriores ainda estavam para chegar até mim, para só depois o som mais forte ecoar pela planície.
— Tsc.
Com seu equilíbrio comprometido, a Assassina de Youkais deixou sua guarda abrir por um instante, que foi o bastante para que a filha do deus do trovão tentasse concluir o embate com seu próximo golpe. Uma estocada com sua katana, cujo intuito era atravessar um ponto um pouco abaixo do tórax da guria. No entanto, mesmo que desengonçada, Yuna foi capaz de bater com a lâmina na espada de Nuwa, a safando de um golpe de misericórdia, mas não erguendo sua guarda de volta.
Irritada por ter tido sua finalização frustrada, a Abelha Trovejante desferiu um chute reto no corpo que estava para retomar seu equilíbrio da Assassina de Youkais, acertando-a na altura do umbigo com um impacto que retumbou com o som de um trovão.
Yuna tossiu sangue.
E seu corpo foi lançado como a bala de um canhão na direção do que parecia ser o centro de comando daquela usina de vento. Seu corpo arrombou uma das portas de ferro do local e só parou de voar quando lá dentro, onde capotou algumas vezes no chão.
Pela potência do golpe aplicado, eu, como inugami, e consequentemente um shikigami, precisava verificar o estado da guria. Sendo assim, sem mesmo retornar minha atenção para a semideusa, eu disparei na direção de seu corpo estatelado.
Adentrando a área até então fechada, eu deslizei minhas patas no cimento para desacelerar meu corpo e parar ao lado de Yuna jogada ao chão.
Sua respiração processava com uma certa dificuldade, e seus olhos se mantinham fechados, dando a impressão de que estivesse adormecida.
— Ei, guria... guria!
— Arf... hmm... Ulim.
Seus olhos abriram lentamente, como a porta automática de uma garagem, e as íris cor-de-rosa, ferozes como as de uma tigresa, me observaram com apreço.
— Você precisa para com isso, guria. A magia negra é muito prejudicial.
— Não se preocupe, seu pamonha, eu já usei algumas vezes esta forma escura e meu corpo vem se adaptando a cada vez. Significa que conseguirei me manter por mais tempo no Modo Morgana e poderei acabar coma essa chiquitita de uma vez.
— Não é isso o que está parecendo. A guria-elétrica já resistiu a muito do que você tentou realizar, e ela mal aparenta estar cansada. Por outro lado, imagino que você mal tenha forças para se levantar.
— Tsc, quem você pensa que eu sou, hein? Eu só estou relaxando as penas.
Ao dizer isso, a guria começou a se erguer devagar, realmente não demonstrando estar com o corpo em más condições. Claro que, aquela disposição poderia ser fruto dos efeitos da mana negativa em seus circuitos mágicos.
De todo modo, ao que se colocou de pé, Yuna olhou diretamente para a semideusa ao longe, que se aproximava sem o mínimo de pressa em nossa direção. Sua espada amarelada brilhava como um relâmpago estático em sua mão, e a aura imponente que Nuwa transmitia, mesmo distante, praticamente me sufocava só com a sua essência.
— Precisamos abortar nossa missão, guria. Eu não posso permitir que saia mortalmente ferida deste duelo. Está enraizado em meus circuitos mágicos, você sabe. Se essa semideusa chegar próximo de te matar, não terei outra opção além de...
— Já disse para ficar tranquilo, seu pamonha. Você não me escutou, foi?
— Mas guria...
— Eu irei acabar com a Abelha Trovejante. Ainda não cheguei no meu limite.
— E o que você fará, guria? O que mais você pode fazer? Ela quebrou uma manipulação de realidade apenas com força de vontade. Não está visível a diferença de poder?
— Você está assistindo o confronto pelo buraco de uma fechadura, então. Por que você acha que Nuwa evocou sua espada?
— Eu... não sei. Imagino que seja mais fácil matá-la com uma arma, talvez.
— Seu corpo é só metade divino, a outra metade é humana. Diferente de mim, a Abelha Trovejante teve um treinamento raso em artes marciais e condicionamento físico, se tornando dependente de seus poderes como filha de um deus para enfrentar suas batalhas. E esse seu poder é grande o suficiente para isso, de fato. Mas, ela não sabe o controlar muito bem, prejudicando a si mesmo quando em grandes quantidades de uso. Como seu corpo é só metade divino, dependendo da quantidade de energia que ela utiliza, sua parte humana sai bastante danificada. Sei disso porque isso acontecia comigo antes de Mena me treinar. Meu corpo é extremamente resistente à ausência de calor, mas há um limite até para mim. Quando enfrentei minha mãe, por exemplo, ela era capaz de exercer uma queda de temperatura pelo contato que superava meus limites e poderia me congelar. Quando a chiquitita quebrou o Inverno Negro, ela usou uma quantidade suficiente para rasgar a realidade e ainda para mantê-la viva. E mesmo para a filha de um deus, isso é muito.
— E-Eu acho que compreendi, guria. Mas, exatamente como você usará esse detalhe a seu favor?
— Não está claro? Sua carne está fraca. Então, Hachinomaru, a Lâmina da Lua de Mel, foi evocada para que ela evitasse o contato físico de um duelo corpo a corpo. Com Katônomaru, mesmo com a magia negra, não será possível vencê-la e eu admito. Mas com uma coisa muito resistente, que possa ser capaz de repelir um relâmpago, posso acabar com ela com poucos golpes.
— Não temos nada tão duro assim, temos?
— Mas é claro. Por que eu diria algo do tipo se não tivéssemos?
Dobrando uma perna, mantendo-se em equilíbrio apenas sobre a outra, Yuna levou sua mão até seu tênis de basquete, puxando seu cadarço para desamarrá-lo e o retirando de seu pé no processo. Com a outra perna, fez exatamente o mesmo, e então soltou seu par de calçados, cuja coloração negra por conta da mana negativa estava se esvaindo, e os tênis trincaram sutilmente o solo cimentado abaixo. Depois de seus calçados de basquete, a guria cravou sua katana à sua frente e retirou suas luvas de suas mãos, também as largando de qualquer jeito, e deixando a gravidade sorvê-las para o chão. E assim como nos tênis, o vapor negro também as deixou.
— Guria, ela está chegando.
— Eu estou vendo, seu pamonha. Não parece o chefe final de Yoshi's Island?
— Não é o momento para referências.
Ignorando meu comentário como se eu nunca o tivesse feito, a Assassina de Youkais se preparou para o round final.
Em seus antebraços e em suas pernas, uma grossa camada de gelo negro se formou envolvendo sua pele alva em escuridão. Era o mesmo tipo de gelo que a guria criou naquela barreira para se proteger do dragão de eletricidade de Nuwa. Vendo aquele material novamente, não pude deixar de questionar.
— Que forma de poder é essa, guria? Esse gelo negro...
— Gelo negativo, Ulim. Um estado da matéria criado após ser exposto a uma temperatura menor do que -5 graus kelvin. Ou seja, a partir de cinco graus abaixo do zero absoluto. Quando isso acontece a matéria se torna indestrutível e absoluta em relação ao seu ponto de fusão. Não importa o quão quente seja a energia ou quão afiada seja a espada, o gelo negativo não se abalará.
— Mas -5 graus kelvin, é impossível.
— Não para a magia negra. E a propósito. — Ela moveu seus olhos para Katônomaru cravada ao solo. — Apareça... Kyoko.
Como se respondesse à voz de Yuna, a lâmina da espada caça-fantasma brilhou em púrpura, segundos antes de começar a ser engolida por vapor negro.
Em seu punho, uma mão de energia negra se formou a envolvendo com seus dedos, e logo um braço surgiu a partir dali. Então, duas pernas, uma de joelho e a outra somente flexionada. Um tronco, que se conectou ao braço já gerado e criou o braço restante. E por fim, mas não menos importante, sua cabeça, cuja forma não me era estranha.
A aparência no geral daquele boneco de magia obscura não me era estranha.
Ou melhor... boneca.
Ela não trajava algo como uma roupa, o que a fazia parecer um manequim de sombras. Mas seus traços e suas proporções eram comuns para minha memória visual. A boneca pelo menos tinha cabelo, ainda que artificial. Era curto, terminando na altura de seu queixo, com as pontas cortadas em linha reta, assim como em sua franja, o tornando algo um pouco quadriculado ao meu ver.
Eu conhecia esse corte de cabelo que, embora comum na Terra do Sol Nascente, junto daquelas proporções e traços daquela boneca de energia negra solidificada, só poderia ser pertencente a uma pessoa.
Não é à toa que a guria a evocou com esse nome.
Kyoko.
A antiga Assassina de Youkais.
Outrora morta por Yuna Nate, e depois morta novamente ao retornar como onryo usando magia negra na espada que agora pertence a guria.
O que as Assassinas de Youkais tinham com magia negra, afinal? Algum tipo de habilidade de classe exigida após certo nível?
— G-Guria, o que é isso? É uma cópia da Kyoko?
— É uma duplicada das trevas, Ulim. Evocada a partir do resquício de alma de Kyoko que se manteve em Katônomaru. Com isso, todos meus recursos estão sendo utilizados. Estou em cem por cento, agora. Algo que não faço há algum tempo.
Eu cogitei fazer algum comentário sobre sua técnica com mana negativa, mas um rugido trovejante me capturou a atenção vindo da direção de nossa adversária em lenta e contemplativa aproximação.
Um novo dragão elétrico tomou forma e investiu veloz contra nós.
Em contrapartida, nosso lado também avançou em ataque. Mas não Yuna e muito menos eu. Quem partiu para bater de frente com o dragão de relâmpagos da Abelha Trovejante foi a evocação sombria da antiga Assassina de Youkais.
Puxando a katana do solo, Kyoko disparou da posição em que estava, se tornando um vulto escuro com sua agilidade ao se mover em uma ofensiva que seria um suicídio para alguém como eu.
Ela nem ao menos pensou no que poderia acontecer se fosse engolida pela criatura elétrica. Ao que se aproximou do monstro de raios, saltou para dentro de sua boca, segurando Katônomaru com ambas as mãos.
A mandíbula do dragão se fechou sem gentileza. Porém, no instante seguinte, o corpo da criatura se contorceu rapidamente, antes de se desfazer em faíscas azuladas de energia.
E reaparecendo para nossa vista, a póstuma Assassina de Youkais rabiscou o ar com sua lâmina.
— Cof...
— Hmm?
Ainda ao meu lado, a guria tentou tossir disfarçadamente e cuspiu um pouco de sangue para o flanco fora de minha visão.
Não sei se ela notou que eu percebi, mas agiu com a indiferença de como se não tivesse notado.
— Hmph, é tudo ou nada agora, seu pamonha.
Como se as palavras murmuradas para mim servissem de comando para Kyoko, a evocação sombria avançou agora contra Nuwa Lei Feng, que não cessou seu caminhar tranquilo mesmo após lançar um dragão em nossa direção.
Veloz e zunindo como uma flecha, a antiga Assassina de Youkais se colocou diante da semideusa em uma fração de segundo, cortando o vácuo com sua espada para alvejá-la horizontalmente. No entanto, a guria-elétrica aparou o golpe da evocação sem muito esforço, só posicionando sua lâmina amarelada, Hachinomaru, no lugar correto.
Ela nem ao menos levou seus olhos para a duplicata. Seu foco se manteve indesviável sobre Yuna.
— Guria...?
Ela simplesmente não estava mais ali.
Com um silêncio que nem a mais densa floresta poderia proporcionar, a guria desapareceu do meu lado e me obrigou a correr meus olhos por todos os cantos para encontrá-la.
Seu corpo estava em um ponto alto em pleno ar, que traçava uma linha reta entre ela e a Abelha Trovejante em um ângulo de quarenta e cinco graus. Em sua mão, uma lança de gelo negro já estava inclinada para ser arremessada contra a filha do deus do trovão. Mas, não seria somente de uma lança que o ataque de Yuna seria composto. Assim que ela moveu seu braço para lançar sua arma gélida, mais quatro lanças idênticas surgiram ao seu redor e foram disparadas como se puxadas pela principal.
As lanças desceram meteóricas na direção de Nuwa, que reagiu tão ágil quanto as armas gélidas de magia negra. Empurrando Kyoko para o lado com sua lâmina, a guria-abelha saltou para trás, conseguindo escapar das lanças que se cravaram no gramado e criaram pequenos tapetes de gelo aos seus redores. Contudo, ao que seus pés reencontraram o solo, a evocação sombria da Assassina de Youkais surgiu às costas da semideusa para outra tentativa de ataque com Katônomaru.
— Tsc, inseto.
Kyoko golpeou com sua katana, desferindo um arco na vertical com sua lâmina. Porém, como a própria Nuwa resmungou, seu movimentou foi inútil. Talvez, se fosse tão rápido quanto a luz, poderia ter sido eficaz. Mas, novamente sem olhar para a evocação, a Abelha Trovejante criou um escudo de energia azulada às suas costas que a protegeu como se fosse o casco de uma tartaruga.
Katônomaru travou contra a energia condensada de Nuwa Lei Feng, que se virou para a evocação e...
E Yuna apareceu a centímetros da guria-elétrica, segurando pelo pulso o braço em que empunhava a Lâmina da Lua de Mel, e a encurralando sob a brecha de sua própria defesa. Por mais que Kyoko não representasse uma ameaça de fato para Nuwa, qualquer recurso que ela precisasse utilizar para se defender dela, abriria um espaço enorme para a guria, que era o verdadeiro predador ali.
Indefesa, a semideusa foi golpeada por um feroz soco da atual Assassina de Youkais, fazendo-a inclinar seu tronco para frente e expelir sangue pela boca. O impacto do punho da guria causou um som abafado de batida que foi possível escurar mesmo estando um pouco distante.
Seu escudo de energia que a protegia de Kyoko e Katônomaru se desfez após a guria-elétrica sentir a dor pelo golpe de Yuna, o que dava permissão para a falecida Assassina de Youkais aplicar seu movimento de finalização. No entanto, ao que a lâmina da katana prosseguiu com seu golpe vertical, ela foi instantaneamente travada a centímetros do pescoço de Nuwa.
Trava pela própria mão da semideusa.
Por sua mão nua, apanhando o aço místico como se apanhasse um bastão.
— Está me subestimando, ovelha negra?
O líquido carmesim começou a escorrer e pingar da mão que segurou a espada pelo seu gume, mas a Abelha Trovejante mostrou não se importar com a contínua perca de sangue. Ela cerrou os dentes, provavelmente que para lidar com a dor de seu ferimento somado ao desconforto do soco que deve ter ficado em seu abdômen. Mas não só por esses dois fatores que seus dentes tocaram uns aos outros. A filha do deus do trovão queria dar o troco pela dor que acabara de sofrer. Na mão que ela sacrificou para apanhar Katônomaru, um brilho azul emergiu de seu ferimento, como se relâmpagos saltassem de um vulcão em erupção. Os raios elétricos se formaram logo depois e, como se a espada estivesse encharcada de água, tomaram conta da lâmina em um piscar de olhos, a envolvendo em pura alta voltagem.
A temperatura subiu a um nível tão absurdo com os relâmpagos blindando a lâmina caça-fantasma, que o sangue da guria-abelha começou a se tornar vapor.
E então, repentinamente, a energia alterou sua coloração. Indo de seu brilhoso azul, para um fosco branco e preto. Não. Aquela cor era cinza. Como o gorro da guria.
Mas por que os raios mudaram de cor? Será que...
— Você se tornou bastante irritante, não é, Assassina de Youkais?
— Droga...
Talvez se a guria tivesse dito uma palavra extra além de "droga", ela teria sido mortalmente ferida em seu peito. Porém, ela era astuta como uma raposa. Yuna entendeu o que a semideusa fez e notou sua intenção a tempo de conseguir se safar do que se sucedeu com um salto para esquerda. E sua evocação, Kyoko, como se compartilhasse da astúcia de sua evocadora, largou Katônomaru prontamente e também saltou para o seu lado esquerdo. E essas reações sincronizadas foram para saírem vivas do relâmpago cinzento que Nuwa transformou a espada de Yuna e lançou, puxando com força das mãos de Kyoko contra nossa querida Assassina de Youkais.
Como já latido, tanto a guria quanto sua evocação se esquivaram do ataque, cuja pressão do arremesso fez com que uma espiral de poeira se manifestasse rapidamente ao redor da Abelha Trovejante, e a espada envolta em raios cinzentos voou tempestuosa contra as árvores que rodeavam a estrada por onde Yuna e eu viemos.
A explosão de energia ao longe clareou o céu da madrugada com um brilho nublado e gerou uma ventania poderosa para todos os lados.
Minha imaginação canina me levava a acreditar que Katônomaru não tinha sobrevivido à exposição de tal poder, mas posteriormente isso me foi provado o contrário.
— Tá. Você me fez sangrar de verdade desta vez, não? Por acaso você se tornou imortal, Yuna?
Acompanhando sua própria fala, Nuwa Lei Feng ajeitou sua postura.
O ferimento em sua mão não se regenerou, embora o sangramento tenha diminuído bastante. Por ser uma semideusa, mesmo um ferimento profundo, acompanhado por uma queimadura de terceiro grau à sua volta, deveria ser um pequeno problema para sua capacidade regenerativa. Até para a guria não seria uma dificuldade.
Alguma coisa havia de diferente naquele machucado, e ao farejar à distância com meu olfato místico, eu consegui descobrir o que era.
O odor de mana negativa exalava no interior da ferida da guria-elétrica.
O que também confirmou minha teoria. A causa da mudança de cor da eletricidade dela, foi por ter usado a magia negra na lâmina de Katônomaru para contaminar seus relâmpagos e assim torná-los raios de energia obscura.
Por isso a explosão foi tão majestosa.
— Eu não tenho culpa, está bem? Você quem decidiu segurar a lâmina com a mão nua, e ainda usou da magia negra nela para me atacar. Seu ferimento deve estar contaminado pela mana negativa agora e até que ela se esvaia, a magia pura que consertaria sua mão será ineficaz. Isso significa, chiquitita, que pelo menos na palma de sua mão esquerda, você é bem mortal agora. Como se sente sobre isso?
— Tsc, você gosta bastante de falar, não é? Desde quando agravou seu senso de humor, hein?
— Não sei do que está falando, Nuwa. Sempre fui o amor de pessoa que vê à sua frente. De todas as Assassinas de Youkais, quem é a mais calada está mais atrás de você.
— Hmph, essa sua evocação não seria nenhum problema para mim se não fosse uma isca para baixar minha guarda. Uma pena você estar quase perdendo o foco por conta dos efeitos da magia negra em seu corpo, não? Deveria desfazê-la para economizar energia, não acha?
— É, tem razão. Mas com a Lâmina da Lua de Mel em sua mão, eu prefiro não apostar tão alto aqui. Se guardar Hachinomaru, eu mandarei Kyoko descansar, o que acha?
— Hmm... bem, isso me parece bem mais excitante, ovelha negra.
— Sabia que gostaria da ideia, chiquitita.
Deixando de lado seja lá o que havia naquela repentina conversa entre amigas, Nuwa fez sua katana amarelada sumir com um faiscar elétrico da mesma cor. E do outro lado, a evocação de Yuna, a já falecida Assassina de Youkais se desfez em vapor obscuro, que voou na direção de sua espada na floresta.
— Agora sinto que podemos decidir quem é superior de forma justa, Yuna.
Com um relampejo azul, a semideusa foi do ponto em que estava para a centímetros da guria, com uma velocidade que poderia ser facilmente confundida com um teletransporte.
Nossa querida Assassina de Youkais não teve tempo nem de cogitar se proteger. A Abelha Trovejante se locomoveu mais rápido do que as sinapses da guria conseguiam processar. Seu braço direito também foi igualmente veloz, traçando seu golpe mortal contra Yuna sem nenhum pingo de hesitação.
Quando percebi, a mão e o pulso da filha do deus do trovão invadiram o corpo da guria pelo plexo solar.
O sangue humildemente começou a escorrer por sua boca com seu vermelho vivo. No segundo seguinte, os cabelos brancos do Modo Morgana voltaram a sua coloração original, assim como seus olhos cor-de-rosa, mas agora sem o brilho terapêutico que eles costumavam ter. O vapor escuro se desgrudou de suas roupas, e o gelo negativo que protegia seus antebraços e pernas se desfez em neve.
O que eu temia aconteceu, no final.
Que péssimo shikigami eu sou, não acham?
Mas o que um familiar como eu poderia fazer contra uma semideusa?
— Hmph, eu desejo um terceiro combate contra você, Assassina de Youkais.
Nuwa retirou sua mão tingida de carmesim do interior de Yuna e o corpo da hanyou caiu de joelhos, quase como uma boneca sem vida, se mantendo naquela posição, sem desabar para frente ou para o lado.
Ela já não suportava mais antes de evocar Kyoko, essa é a verdade.
Esse saco de teimosia. O que ela tem na cabeça?
— Ei, lobo, deixe-me perguntar uma coisa? A cabeça de sua dona desgrudar do corpo vai depender de sua resposta.
— N-Não ouse tocar mais um dedo na guria. Mesmo consciente de minha inferioridade...
— O que vocês do NIP querem com meu parceiro?
Hmm? Ela disse...?
— NIP? Nós não somos parte do NIP. Você faz parte do NIP, não é? E de que parceiro é esse que está falando?
— Hmm, você não sabe mesmo do que estou falando? Você é um shikigami, não?
— Se está me confundindo com aquelas aberrações, eu ficarei bastante ofendido.
— Hmph... faz sentido agora.
Sem dar mais explicações sobre as questões lançadas para mim, a semideusa virou as costas para a guria inconsciente de joelhos e começou a caminhar de volta para sua van na área cimentada da usina de vento.
Porém, entre seu sétimo e oitavo passo.
Seus pés foram congelados ao chão, a impedindo de continuar.
Nuwa olhou para seus pés e depois por sobre o ombro para Yuna Nate, que ainda se mantinha de joelhos e sem consciência.
— Belo truque, Slim Shady.
O gelo que envolvia seus pés foi quebrado por energia elétrica, e a Abelha Trovejante prosseguiu com sua caminhada, sem tornar a olhar para trás.
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