Shadow: 001
— Tudo bem por aí, seu pamonha? Confesso que estou surpresa por ter suportado esses poucos minutos de batalha. E bastante surpresa também pelo fato de ter chego neste local antes de qualquer outro. Devo parabenizá-lo por isso, depois. Porque agora, é o momento de pôr as bolas no buraco.
Hmm.
Quem fala "pôr as bolas no buraco" em uma situação como essa?!
Se bem que, não seria a Yuna ali se tivesse usado uma expressão mais comportada. E como já era quase uma lei nesta série de contos e novelas, aquela que detêm o título de Assassina de Youkais surgiu no momento certo e no local exato para ampliar ainda mais o meu tempo de vida como shinigami.
O cenário pode ser descrito de diversas formas, mas se me é permitido resumir, estávamos em uma planície gramada em alguma realidade alternativa ou dimensão paralela a nossa. Havia algumas árvores mais distantes em alguns pontos, e silhuetas de montanhas era possível enxergar ao longe, mas não havia nenhum vestígio de que um dia houvera algum tipo de civilização por ali. E, pela quantidade de luas no céu, três, para ser mais específico, eu podia apostar que aquele local ficava em um planeta distante de nossa galáxia. Da última vez em que uma fenda na realidade foi aberta, fomos parar em um deserto gigante do outro lado do universo. A ideia não parecia ser diferente daquela vez.
Oh, já ia me esquecendo de mencionar sobre a oficina que aparentava ser um pequeno armazém naquele lugar, mas isso foi construído pelo próprio Aleister Oz, e não era originário dali.
E falando no diabo.
Acho que não existe a necessidade de entrar em detalhes sobre como foi meu confronto de cinco minutos, ou menos, contra aquele mágico de circo, visto que o verdadeiro embate estava para começar. É só importante ressaltar que, embora o mágico fosse humano, eu não tive a menor chance contra ele. Pelo pouco que me mostrou, ouso dizer que estava acima de meu mestre em suas habilidades místicas.
Todavia, Yuna derrotou meu mestre no passado, e acredito que agora, com toda sua evolução, o mesmo resultado se repetiria com maior facilidade.
Ela simplesmente surgiu em um piscar de olhos entre mim e o mago, no momento em que um disparo de mana concentrada vinha em minha direção, logo após ter sido lançado longe por uma magia gravitacional. E com a palma de sua mão, Yuna conteve o raio de energia mágica, o desfazendo em fagulhas azuladas ao mover seu braço para o lado, como se espantasse uma mosca.
A Assassina de Youkais já se encontrava em sua forma escura, o Modo Morgana, com suas vestimentas negras, tomadas pela escuridão da mana negativa, e seus longos cabelos na cor branca, como uma cortina de neve. E com seus olhos cor-de-rosa selvagens, ela me observou por cima de seu ombro após sua fala peculiar.
— Agradeço pelos elogios, Yuna, mas imagino que não seja a melhor hora para isso, realmente. Esse mago não é qualquer um.
— E eu sei bem disso. — Seu olhar me deixou, retornando sua atenção para o Aleister mais adiante. — Esse mágico de circo é o responsável pelos shikigamis que surgiram nessas últimas semanas e também por alguns acontecimentos misteriosos do passado, mas acredito que você já saiba disso, não é?
— Bem, sim.
— Ótimo. Não preciso me aprofundar em detalhes depois, pelo menos. Se estamos aqui, hoje, significa que o estoque de shikigamis e experimentos desse homem se esgotou. Agora, não há nada além dele mesmo diante de seus ideais malucos. Onde já se viu, querer concentrar uma forma de magia ancestral em um familiar?
— O que me dá mais medo é que ele quase conseguiu.
— Exato. "Quase" é a palavra correta. Mas não precisa se preocupar, seu pamonha. Eu vou dar um fim nesse cara de uma vez por todas.
Me deixando sem o direito de dar alguma resposta para sua frase cheia de convicção, Yuna deu alguns passos para frente sem tirar os olhos do mago de chapéu-coco. Não havia retorno para daquele ponto em que nos encontrávamos. Ou derrotávamos Aleister Oz e voltamos para casa felizes, ou éramos derrotados por ele e assistíamos seu plano de anos ser concluído com êxito.
Diferente da vez com Maçã do Éden, em que arrisquei não fazer nada e o mundo entrou em uma crise espiritual de mudar o curso da história, dessa vez eu estava ao menos considerando as consequências cabíveis e as não cabíveis também. E foi por esse motivo que combinei com Yamato dele me contar a localização exata de onde Aleister iria pôr em prática a última etapa de seu plano, depois dele ter me esclarecido tudo sobre o NIP, em uma aparição um tanto quanto duvidosa na madrugada do dia 16 de abril, logo após eu chegar de Kobe, onde desfiz uma fenda para uma realidade paralela com Yuna.
Contudo, o que o Vingador de Vidro me contou naquele dia não é nada que vocês já não saibam. Tirando um ponto, claro, que é a localização de nosso fatídico confronto final.
Niigata.
Sobre a Ponte Bandai.
Foi lá onde Aleister Oz armou seu esconderijo para concretizar seus ideais. No meio da ponte, ele criou uma fenda dimensional invisível e intocável para qualquer um, e que só poderia ser aberta com energia mística aplicada no ponto certo. Era algo praticamente impossível de se abrir por fora, mas por dentro, um simples feitiço foi o suficiente.
E como entrei nesse reino escondido?
Ora, Yamato foi quem me trouxe.
Mesmo que a fenda dimensional estivesse selada e escondida no nosso mundo, o Vingador de Vidro é capaz de acessar a Dimensão Espelhada e assim consegue passar por qualquer fissura entre reinos que esteja em nosso mundo, sendo ela trancada ou não.
Foi seu último favor antes de, aparentemente, dizer adeus.
Eu não poderia simplesmente ignorar esse gesto.
Porém, no final, é Yuna quem vai à linha de frente mais uma vez.
Sempre foi sobre ela, afinal de contas, e eu não deveria estar surpreso.
Agora, é só sentar e assistir a conclusão dessa corrente de eventos.
— Hmph, inquietante. Eu não esperava que chegasse tão rápido depois de minha margem na realidade ser revelada por esse shinigami esquecido.
— Pois é, seu pamonha, enfim estamos frente a frente, e espero que de verdade dessa vez. Você é real, não é? Ou é só mais um daqueles seus truques de mágica baratos?
— Não, sou eu de verdade, em carne e osso. E este aqui é meu lugarzinho especial. Venho o chamando de casa há alguns meses.
— Onde exatamente é aqui?
— É a borda da criação. O local capaz de ater vida humana mais próximo da raiz de nosso universo. Pode-se dizer que é a primeira versão de algo como o nosso ecossistema.
— Entendi. Um planeta longínquo, um mago esquisito e um ideal maluco. É o lugar perfeito para esfregar a cara de alguém no asfalto... grama.
— ......
— Vou lhe dar duas opções, antes de qualquer coisa. A primeira é se render, e fazer seu exército de monstros de argila cessarem seu vandalismo lá fora. Já a segunda é me enfrentar, levar uma surra, e possivelmente morrer no processo. E aí, o que é que vai ser?
Sem respostas verbais, o mago ajeitou sua postura, ficando completamente de frente para a Assassina de Youkais. E em um gesto que poderia ser entendido como desafiador, fez surgir uma varinha de madeira branca em sua mão, a posicionando à frente de seu peito, ao mesmo tempo em que escondeu sua mão livre nas costas.
Os trajes de Aleister Oz eram os mesmos de sempre. Roupas de um mágico de circo branca com detalhes na cor beje. E um chapéu-coco também beje sobre seu cabelo loiro, o que deixava em destaque seus olhos azuis.
— Está bem, seu pamonha. Se o que deseja é lutar, então tudo bem. Para ser sincera, não esperava menos de alguém como você. Já deve ter perdido toda noção de perigo durante todo esse tempo que passou atrás desse seu objetivo. Mas não se preocupe, serei misericordiosa com você.
Deslizando seus pés no gramado com seus tênis de basquete tingidos pelo vapor negro da mana negativa, e com seus braços acompanhando o movimento de suas pernas em harmonia, Yuna Nate tomou sua posição de combate à poucos metros de nosso adversário.
— Alguma última palavra?
— Nenhuma, Slim Shady.
E assim, em uma súbita movimentação, logo após a fala de Aleister chegar aos meus ouvidos, aquela que detêm o título de Assassina de Youkais surgiu em um salto à média altura diante do mágico de circo, com sua perna iniciando um chute cruzado que decapitaria aquele mago sem nenhuma dificuldade.
Como era de se esperar, a perna de Yuna desferiu seu golpe sem dar brechas em velocidade para que aquele homem pudesse ter a chance de se esquivar. No entanto, ele nem ao menos precisou se preocupar com isso. Ao que o peito do pé da hanyou ficou a míseros centímetros de sua face, algo escuro que emergiu do chão e bloqueou o chute de Yuna como se ela tivesse golpeado um saco de areia.
— Tsc.
Ela retornou os pés ao solo, dobrando os joelhos sutilmente, e nesse mesmo momento teve de reagir a um contra-ataque surpreendente.
Do mesmo ponto que emergiu da primeira vez, mais duas coisas escuras agora atacaram a Assassina de Youkais como se fossem tentáculos gêmeos, ágeis o suficiente para que ela tivesse certa dificuldade para se esquivar, e a obrigando a saltar para trás a fim de criar uma distância segura do mago e daquilo que a atacara.
— É... a sombra dele?
Naquele ponto, olhando atentamente em um espaço tranquilo, aquela pergunta só poderia ser retórica, não?
Tanto o que bloqueou a perna de Yuna quanto o que tentou atacá-la um segundo depois, era a sombra de Aleister Oz se materializando e se movendo como se tivesse vida própria.
— Então ainda tem mais um.
— Ora, vejo que notou rápido, Slim Shady. Ou melhor dizendo, Yuna Nate.
— Só agora que foi descobrir meu nome, é? Bem, que seja. É a primeira vez que vejo algo tão peculiar quanto isso. Um shikigami invocado na própria sombra de seu onmyoji, é algo inovador. Você elevou o conceito de familiar místico para um nível novo, meus parabéns.
— Que inquietante. Mesmo se aprofundando nas artes das trevas como claramente está fazendo, a simples existência de um shikigami em uma sombra lhe é inovadora. Parece que precisa estudar muito mais os limites da magia negra.
— Agradeço a crítica construtiva. — E Yuna retomou sua posição de batalha. — Todavia, sua sombra não irá te proteger por muito mais tempo.
— Só cabe ao destino dizer.
E novamente emergindo de sua sombra, tentáculos gêmeos e negros se esticaram na direção de Yuna tentando agarrá-la, um pelo flanco direito e outro pelo flanco esquerdo respectivamente. Tentativas das quais ela se safou com facilidade com seu jogo de pernas executado no momento certo.
Entre os dois chicotes de sombras que havia acabado de desviar, nossa querida Assassina de Youkais saltou para uma altura considerável, e em pleno ar, mexeu seu corpo como se fosse uma rebatedora de baseball, embora a finalidade daquela posição não fosse para nada do gênero. Em suas mãos, um grande machado no estado sólido da água se formou em um instante, e Yuna arremessou sua grandiosa arma gélida na direção de Aleister Oz.
O machado de gelo desceu girando contra o mago, ferindo o ar a cada volta em torno de si mesmo.
— Inútil.
E novamente, um tentáculo de sombra emergiu aos pés do mágico de circo e se esticou diretamente contra a arma gélida que descia voraz, alterando a forma de sua extremidade para a de uma mão obscura.
Ao que a sombra estava envolvendo seus dedos escuros no cabo do machado, com Aleister certo de seu triunfo, a arma de gelo simplesmente se desfez em duas armas menores, com cada uma saindo pela lateral daquela sombra materializada. E os machados menores continuaram sua trajetória até nosso adversário, como se fossem misseis teleguiados.
No entanto, as pequenas armas de gelo foram ineficazes em suas funções. Já que, ao se aproximarem do corpo de Aleister Oz, sua sombra, mais uma vez, se ergueu e impediu os machados no estado sólido da água, que só se cravaram na penumbra mágica.
Por outro lado, se é que vocês já a bem conhecem, não era esse o verdadeiro plano de Yuna para burlar as defesas daquele shikigami em sombra.
Do céu para a terra, em um piscar de olhos, a Assassina de Youkais surgiu às costas do mágico de circo, que olhou por cima do ombro como se já tivesse imaginado tal movimentação inesperada. Contudo, Aleister nada poderia fazer para se esquivar do soco que o punho esquerdo da hanyou já estava para disparar. Mas seu shikigami...
O golpe de Yuna foi lançado sem gentileza, e de nenhuma forma o mago conseguiria reagir. Pela altura, direção e firmeza do soco desferido pela Assassina de Youkais, a coluna do homem era o seu alvo, o que com certeza o faria perder os movimentos de boa parte de seu corpo pelos danos que seriam causados. Mas, como com as tentativas de ataques anteriores, Yuna foi interrompida pela sombra. E diferente das outras ofensivas, que só foram facilmente bloqueadas, esse soco só pôde ser impedido vários tentáculos agarrando o corpo da hanyou, onde a maioria segurava seu braço a centímetros de seu propósito.
Por aquela estratégia do familiar, é certo dizer que o soco de Yuna era potente o suficiente para atravessar a sombra shikigami e ainda acertar o mágico de circo. E uma prova disso foi a terrível ventania gerada sem controle assim que os tentáculos de sombras contiveram o corpo de Yuna.
Um vendaval que fez a poeira chicotear e meus cabelos subirem de uma só vez.
Agora, Yuna estava paralisada pelo shikigami, às costas de seu invocador, mas não se manteve naquele estado vulnerável por muito tempo. Assim que Aleister Oz notou a vantagem que detinha, nossa querida Assassina de Youkais já estava para se libertar de suas correntes. Como se fosse uma vontade divina, os tentáculos de sombras que a seguravam começaram a ser congelados gradativamente até a sua origem.
Seja lá do que fosse produzido aquela carapaça de shikigami, contanto que fosse material, era possível ser tomado pelos poderes gélidos de Yuna.
Ao entender onde a hanyou estava tentando chegar, o mago recolheu sua sombra, cortando-a de suas partes já congeladas que se esfarelaram em neve, e sem que precisasse completar um passo adiante, um portal se abriu à frente dele e o engoliu, se abrindo a alguns metros de distância da Assassina de Youkais.
— Inquietante. Quase me pegou... hã?
Era muito cedo para cantar vitória, só que Aleister não se tocou disso. Provavelmente deve ter esquecido por um instante contra quem estava lutando. Foi quase como se ela tivesse acompanhado a trajetória do portal, pois, assim que o mago surgiu de volta no gramado, mal conseguiu completar sua frase antes que Yuna se colocasse ante a ele com os joelhos consideravelmente dobrados e o punho direito armado para um golpe.
Um uppercut foi o movimento realizado pela hanyou antes mesmo que o shikigami tivesse tempo para reagir e defender seu mestre.
Ao que os dois já estavam com os pés fora do solo, ele por ter sido alvejado embaixo do queixo e ela por ter saltado ao realizar seu golpe, foi que a sombra começou a se mover, erguendo tentáculos na direção de Yuna em pleno ar.
Porém, tanto a hanyou quanto o mágico de circo estavam em uma distância um pouco elevada do chão, e o shikigami precisava se esticar bastante até chegar no nível deles.
Mas, agora que separou o onmyoji de seu familiar, mesmo que em um espaço tão curto, não poderia perder a chance de finalizá-lo. Então, desfazendo sua pose de soco contra o céu, Yuna preparou seu próximo golpe. E no segundo em que seus corpos pairaram no ar, antes de serem sorvidos de volta ao chão pela gravidade, a hanyou disparou seu punho com a firmeza de uma rocha, acertando o centro do peito de Aleister e o lançando meteórico para longe e para o solo, o que também fez sua sombra ser arrastada junto.
O corpo do mago passou por cima de mim e sua sombra shikigami quase me atropelou por baixo, não fosse um salto para o lado meu.
Quando o mágico de circo estava para se chocar em terra firme, sua sombra, naturalmente, ficou abaixo de seu corpo, e alguns tentáculos amorteceram sua queda, embora ele tenha se arrastado no gramado até seu corpo cessar de uma vez.
O primeiro soco no queixo já seria o suficiente para matar um ser humano comum, apesar de que seu objetivo era tirar o mago do solo, o afastando de seu shikigami. Mas, o segundo soco, direto e reto contra o tórax dele, certamente seria fatal para qualquer um humano, mesmo para meu mestre. Contudo, pela distância que agora o homem se encontrava estatelado, era difícil ter certeza de sua morte.
Os pés de Yuna retornaram ao chão, pousando-a com naturalidade, e ela iniciou seus passos tranquilos até o meu lado.
— Acha que ele está morto, Yuna?
— Se está? Bem, o que você acha?
— Tsc, não é hora para isso, não acha? De todo modo, respondendo a senhorita, eu acredito que Aleister, sendo um humano normal, embora misticamente aprimorado, não resistiria a um soco como o que você aplicou.
— A lógica de sua resposta é inegável, mas, se escapou de sua desleixada atenção, seu pamonha, o shikigami ainda está vivo, e como ele foi invocado na sombra de seu invocador, é provável que, assim que seu dono morresse, ele logo sumisse também.
— Então, se a sombra está viva, o mago também está. Mas nenhum ser humano sobreviveria àquele soco, não é?
— Talvez seja hora de considerarmos que esse mágico de circo não seja humano.
— Hmm?
Interrompendo o diálogo entre Yuna e eu, um grunhido veio de onde o corpo de Aleister se encontrava caído. Em volta do mago estatelado, tentáculos de sombras estavam erguidos para protegê-lo de todos os lados e um deles, como se sua existência já não fosse bizarra o suficiente, criou uma boca com dentes brancos em sua extremidade, o que o deixou parecido com uma planta-carnívora. E foi esse o tentáculo que lançou aquele grunhido aos sete ventos.
Então, o apêndice mais ao lado também se modificou como o outro, e também grunhiu ao que sua boca sorridente foi formada.
— Hum, hum, hum. Realmente inquietante.
A voz agora era dele, Aleister Oz. Seu corpo, que estava estendido no gramado aparentando estar sem vida, começou a se levantar, empurrado por seus tentáculos de sombras pelas costas, o fazendo ir dos noventa graus para zero, como um ponteiro de relógio vai das nove horas ao meio-dia.
Seu chapéu-coco que caíra no uppercut de Yuna, ressurgiu magicamente sobre sua cabeça assim que ele se firmou de pé. E em seu peito, na região onde o letal punho da hanyou o alvejou, sua vestimenta de mágico de circo estava... trincada?
— Yuna, o que aquilo significa?
— Como imaginei, é por isso que esse animador de festa infantil nunca trocou de roupa. Não é só um traje bobo de mágico assalariado, aquilo é uma armadura. Porém, não é uma das mais resistentes.
Fazendo sua observação, Yuna apontou com o queixo na direção do mago adiante. E eu me atentei para ver do que se tratava.
O traje de mágico de circo que lhe caia tão bem, começou a estender as fissuras da rachadura central como se fosse feita de porcelana, e logo toda sua vestimenta estava lentamente caindo aos pedaços.
— Só fica mais esquisito, não acha, seu pamonha?
— É, não dá para falar nada.
Ao que o traje, ou armadura, de Aleister Oz se estilhaçou por completo, tínhamos à nossa frente o mago totalmente nu. Porém, seu corpo, sua pele, era diferente do que imaginávamos, afinal. De forma resumida, se me permitem ser breve nesta descrição, do pescoço para baixo daquele mágico de circo, seu corpo era como o de uma marionete em todos os aspectos. E marcado em seu peito de madeira, uma runa mágica estava marcada em preto.
— Então, ele também é capaz.
— Capaz? Capaz do quê, Yuna? Não me diga que...
— Sim. É como a da minha panturrilha.
— Mas o da sua panturrilha não é um... hã? Uma runa...?
— Sei que antes era um kanji esquisito, mas andei estudando bastante nessas duas semanas. Agora, a minha também é uma runa. O que achou?
— Tsc, eu não tenho que achar nada. Vocês da magia negra que se entendam.
— Hmph, pode deixar, seu pamonha. Parece que as coisas vão ficar interessantes de verdade.
Como de costume, Yuna tomou a dianteira com dois passos à frente, e suas mãos foram para sua cintura, aguardando ansiosa pelo o que Aleister Oz tinha escondido em sua manga.
— Vejo que ainda não me mostrou do que realmente é capaz, não é? Essa runa mágica em seu peito é um feitiço para ativar uma forma escura, estou certa? Isso me surpreendeu. Pensei que só a sua varinha fosse capaz de utilizar magia negra, mas parece que você por si mesmo também consegue.
Ela disse isso por conta dos meios em que se pode usufruir desse tipo de magia. O método mais comum e seguro, é utilizar algum objeto que já contenha a mana negativa, como a varinha de Aleister, que o permite utilizar da energia obscura sem que seja prejudicado, mas com as limitações que o objeto em questão lhe entrega. No caso dele, por utilizar uma varinha mágica, suas limitações são quase nulas.
Já um outro modo de se usufruir da magia negra, que não é o mais recomendado, é injetando-a em seu corpo e deixando-a contaminar seus circuitos mágicos. Assim, apesar de ser um procedimento que com o tempo o corromperá, o matando ou alterando drasticamente seu fluxo de mana, é o método mais eficaz quando falamos da utilização de magia negra.
O Modo Morgana de Yuna é um feitiço que utiliza o sangue da bruxa Morgana Le Fay, que foi totalmente corrompida pela mana negativa, para injetar a magia negra nos circuitos mágicos de nossa querida Assassina de Youkais. Antes, o feitiço era marcado por um kanji desconhecido em sua panturrilha, mas agora, a marca é de uma runa mágica. E, no peito amadeirado de Aleister Oz, outra runa mágica está presente, o que pode ser descrito como, nas palavras do próprio mago, um tanto inquietante.
Qual o significado dessas runas, afinal?
— Eu me isolei por anos, com a finalidade de descobrir uma forma de acessar a energia que está presente na origem do universo, e então encontrei um meio. Mas ainda era necessário, para realizar o verdadeiro ideal do NIP, conseguir uma forma para conter tamanho poder mágico. Vários e vários testes foram realizados. Cobaias e mais cobaias, de todos os tipos. Nada era efetivo. Até que, enfim, depois de muito estudo isolado neste reino distante, uma nova descoberta. A resistência do Metal Multiversal à mana ortodoxa, e a possibilidade de contê-la dentro de um shikigami do mesmo material. Eu mudaria o mundo inteiro. Criaria um novo império pagão e unificaria a humanidade em uma única ordem religiosa.
— E os que não quisessem segui-los? E os ateus?
— Ora, seriam exterminados. Não há espaço para transgressores em meu mundo.
— Hmph, entendi, seu pamonha. Você é tipo um católico fanático, só que com ideais narcisistas. Okay. Agora não me restam mais dúvidas, você merece ter sua cara esfregada no asfalto... terra, grama, tanto faz.
— Bem, inquietante. Não esperava que amolecesse e se juntasse a mim nesta empreitada por conta doque te contei. Só queria deixar claro que não há nada que me faça voltar atrás,não importa o quê. Estou a um obstáculo irritante para conseguir realizar o maior feito no mundo da magia, e não será você ou esse shinigami esquecido queirá me deter. Contemple, Assassina de Youkais, o poder da minha forma escura.
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