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Feralia - Parte III

Ato V

— Vem pra cima, seus maricas — a voz dela é um rosnado de desprezo, cuspida entre dentes sujos de sangue.

O mais corpulento dos criminosos avança primeiro, brandindo um pedaço de metal enferrujado como uma espada improvisada. Seus olhos são pura fúria, e o peso de seu golpe carrega o desespero de um homem que sabe que esta luta pode ser sua última. Ele tenta um golpe horizontal, mirando o pescoço da mulher, mas ela já leu seu movimento antes mesmo de ele agir e, num reflexo felino, ela se abaixa no último instante, sentindo o vento do aço passando a milímetros de acima de sua cabeça.

O impacto da lâmina atinge o tronco de uma árvore atrás dela, arrancando farpas da madeira como se fossem estilhaços de uma explosão. A mulher não perde tempo: gira a lança em um arco brutal, a haste de madeira cortando o ar com um silvo antes de atingir o joelho do homem com força total.

Crack.

O som do osso partindo é nauseante. Ele ruge como um animal ferido, desabando de lado enquanto sua perna dobrada num ângulo antinatural se recusa a obedecer. A dor o domina, mas ele ainda tenta rastejar para trás, os olhos arregalados em puro terror.

— É só isso que você tem, seu lixo inútil? — Ela cospe no chão ao lado dele, erguendo a lança para finalizar o golpe.

— Uto! — grita o homem, chamando seu companheiro.

A resposta vem antes mesmo que a mulher perceba.

Uto salta por trás, as mãos calejadas se fechando como garras ao redor dos ombros dela, tentando imobilizá-la. O bafo quente e fétido dele bate contra a nuca da guerreira, e sua voz é uma promessa de carnificina.

— Vou arrancar sua cabeça, sua cadela desgraçada!

Mas ele comete um erro fatal. A mulher não luta para sobreviver. Ela luta para matar.

Ela gira o corpo como um redemoinho de fúria, sua mão soltando a lança por um segundo para agarrar o punho de Uto. Antes que ele possa reagir, o cabo da lança sobe em um arco esmagador, acertando o estômago dele com uma força tão violenta que o ar escapa de seus pulmões em um gemido seco.

Ele se dobra ao meio, cuspindo saliva misturada com bile, os olhos saltando das órbitas. Mas não há tempo para misericórdia.

A mulher solta a lança e avança, saltando para frente como um predador. Seu joelho sobe em um movimento implacável e preciso, encontrando o nariz de Uto em cheio.

CRACK.

O som é grotesco. A cartilagem e os ossos se despedaçam sob o impacto, e um jorro de sangue quente explode do rosto dele como um estouro de carne podre. Uto cai como um cadáver, gemendo, o nariz uma ruína ensanguentada que já não parece mais humano. Mas sua mão ainda se move, agarrando cegamente um bastão no chão. Num movimento desesperado, ele balança a arma, atingindo a perna direita da mulher com força bruta.

A dor explode em sua coxa e a mulher vacila por um instante, sentindo um espasmo percorrer sua coxa perdendo controle dos joelhos, fazendo-a cair sobre um dos pés, sua respiração saindo em um grunhido de raiva pura. Ela pisca, forçando o foco, entretanto o próximo ataque já está a caminho.

Um homem de cabelos ruivos, com o rosto contorcido de ódio, avança como um touro enlouquecido.  Seu corpo se choca contra a mulher, agarrando-a pela cintura e derrubando-a com brutalidade. Sem dar-lhe tempo para reagir, seus dedos se enredam nos cabelos dela, puxando-os com força antes de descarregar um soco que estala no rosto dela, quebrando um de seus dentes. O impacto ressoa no ar, mas ele não hesita. Com um movimento feroz, segura-a pela roupa e a ergue sem esforço, lançando-a como se fosse um mero farrapo ao vento.

Ela voa para trás, seu corpo girando no ar antes de atingir o solo. Raízes e pedras rasgam sua pele enquanto ela rola pelo chão, deixando um rastro de sangue fresco. Mas ela não para. Seu corpo age antes mesmo de seu cérebro processar.

O ruivo avança para esmagá-la com o peso do próprio corpo.

A guerreira espera.

Ela conta os segundos. Um. Dois.

Quando ele se aproxima, ela explode em um movimento fulminante. Num passo curto e veloz, ela se move para o lado, girando o quadril e agarrando o braço dele com ambas as mãos. O impulso dele se torna sua maior fraqueza. Ela gira o corpo com brutalidade, alavancando sua força de uma forma que torce o peso dele contra ele mesmo, lançando-o pelo ar.

O impacto expulsa todo o ar de seus pulmões, e ele grita em agonia, contorcendo-se. Mas ele não tem tempo para recuperar o fôlego. A mulher salta sobre ele, suas pernas travando ao redor do tronco dele em um triângulo de pernas, pressionando o pescoço com força contra a articulação de seu joelho.

O ruivo se debate, as mãos tentando inutilmente afrouxar o aperto, mas seus movimentos ficam mais fracos a cada segundo.

— Boa noite, — ela murmura, o tom frio e controlado, enquanto o ruivo desfalece, seus braços caindo inertes ao lado do corpo.

Ela o solta com um empurrão, ofegante. O gosto de sangue em sua boca não é só dos inimigos. É dela também.

Mas não há tempo para descanso. O som de botas esmagando folhas secas ecoa atrás dela. Dois homens. Um com uma faca longa. Outro com um bastão grosso. Eles não dizem nada, apenas se entreolham com medo de atacar.

A mulher sorri, seus dentes manchados de sangue.

Como alguém pode lutar assim? — o pensamento me atravessa, enquanto observo os dois homens restantes tomarem posição.

O primeiro segura uma faca longa e afiada, girando-a entre os dedos com fluidez. O outro empunha um bastão grosso, segurando-o com ambas as mãos, como um guerreiro antigo preparando-se para esmagar um crânio. Eles cercam a mulher, os olhos analisando cada movimento dela, tentando prever sua próxima ação.

Mas ela não se move por instinto. Ela estuda.

Seu olhos percorrem até a lança caída no chão, o aço da lâmina refletindo a luz pálida da lua.

O homem do bastão se lança primeiro.

— Cerqueira, dá cobertura! — ruge o agressor, levantando o bastão acima da cabeça.

Ele desce o golpe com força brutal, mirando esmagar o crânio dela como um martelo sobre um prego.

Mas a mulher reage rápido. Ela desvia o corpo para o lado, o golpe passando a centímetros de sua têmpora, fazendo o vento do impacto chicotear seu rosto.

E então, vem a surpresa. Cerqueira se aproveita da brecha e avança num piscar de olhos, o punho dele cortando o ar como um chicote.

CRACK!

O soco atinge seu maxilar com força total.

Sua cabeça gira e o gosto de sangue explode em sua boca. O impacto é tão feroz que seus pés vacilam, seu corpo se desequilibra, e por um instante o mundo se inclina.

Seus olhos piscam rápido. Ela sentiu esse golpe.

Mas não há tempo para recuperação. O homem do bastão já está vindo de novo, a arma descendo como um trovão em direção ao topo da cabeça dela.

A guerreira não pensa. Ela age.

Num movimento desesperado, ela se atira no chão, rolando sobre o próprio eixo como um redemoinho de morte e recuperando a lança enquanto o bastão atinge o vazio, acertando apenas o rastro de poeira que ela deixou para trás.

Com a base da lança, ela golpeia a lateral da canela do homem e ele tropeça violentamente, um grito agudo escapando de sua boca enquanto ele cai de joelhos, agarrando a perna ferida. Os ossos rangeram com o impacto.

Ele mal tem tempo de gritar novamente antes de o golpe final chegar.

A mulher avança como um raio, seu cotovelo esquerdo se projetando como um aríete e a força da cotovelada explode contra a têmpora dele, seu crânio sendo sacudido grosseiramente.

O homem desaba de cara no chão, o impacto sendo o último som que ele ouviria naquela noite.

Cerqueira tenta se aproximar, mas a ponta da lança da mulher o afastando. — Pinheiro! — ele grita, chamando pelo companheiro caído.

Mas Pinheiro não responde. Ele não se move.

Cerqueira trava o maxilar e ajusta a postura. — Desgraçada! — ele ruge, avançando rápido.

A lâmina corta o ar, um borrão prateado que busca a garganta dela.

Mas a mulher não se move para trás. Ela sorri. Um sorriso sombrio. Lento. Afiado. Cruel.

No último instante, a mulher ergue a haste da lança, desviando o golpe de Cerqueira com um bloqueio seco e brutal. Com um movimento veloz, ela desliza por baixo dele, sua perna chutando o tornozelo do homem. O som do osso torcendo-se não é natural. 

Cerqueira desaba de joelhos, seu rosto contorcendo-se numa careta de dor e ódio, mas antes que ele possa soltar um único grito, a mulher gira a lança num arco devastador. 

O cabo da arma atinge sua têmpora com precisão monstruosa. A força do golpe desloca sua cabeça para o lado, sua pele se rasgando ao contato bruto com a madeira. Cerqueira cai para trás, seu corpo tremendo em espasmos descontrolados, os olhos girando num reflexo perdido entre a consciência e a inconsciência. 

Mas não há tempo para respirar, atrás dela, um rugido gutural corta o ar. O homem corpulento, aquele que ela derrubou no início, se levanta de novo.

Ele está furioso. Seu peito sobe e desce em arfadas bestiais, o rosto coberto de suor e sangue, seus olhos dilatados, carregando nada além de ódio e um instinto assassino. Ele avança como um monstro, e a mulher mal tem tempo de reagir. 

WHAM.

Ele a atropela com a fúria de um animal, jogando seu corpo ao chão com brutalidade insana. O impacto arranca o ar de seus pulmões, a dor irradiando por suas costelas enquanto a terra se torna sua sepultura temporária.

Ele cai sobre ela, sua massa esmagadora prendendo-a como um peso morto. 

Então, as mãos dele encontram seu pescoço. 

Dedos grossos e rijos como ganchos de ferro envolvem sua garganta, apertando com uma pressão desumana. 

A mulher se debate, seu corpo arquejando contra o sufocamento impiedoso. Suas unhas raspam contra a pele áspera dele, sua visão já começa a escurecer.

O mundo se torna um borrão escuro, um vórtice sufocante de dor e desespero. Seu corpo está desistindo, os pulmões queimando como se fossem implodir. Seu instinto berra para reagir, mas seus membros estão pesados, a força escapando como areia entre os dedos. O tempo desacelera. Talvez seja assim que termina...

Entretanto a fúria dentro dela é maior que a fraqueza, e em um último impulso, ela força os dedos contra os olhos do corpulento, cavando fundo. O barulho é grotesco, um som úmido e repugnante de carne sendo perfurada e o corpulento berra num tom gutural, um urro de agonia primitiva. Ele solta o pescoço dela instantaneamente, seu corpo sacudindo de dor. 

Sangue escorre em grossas trilhas pelos cantos de seus olhos enquanto ele tateia o próprio rosto, seus dedos sujos se embebendo na própria dor. 

A mulher, ainda que com o corpo gritando em protesto, aproveita a fraqueza e se vira, rolando para o lado e escapando da pressão esmagadora antes que fosse tarde demais. 

Ela agarra a lança caída, seus pulmões queimando, e gira com um golpe selvagem. A extremidade da haste explode contra a lateral do crânio dele, o impacto fazendo seu pescoço torcer-se num ângulo irregular. 

Ele cambaleia para trás, tonto e desorientado, mas não cai. 

Ele não pode cair. Não sem levá-la junto. 

Num último ato de desespero, o corpulento se lança sobre ela novamente, seus braços abertos como os de um predador que sabe que esta é sua última chance de matar. 

A mulher não recua. Seus olhos se estreitam, seu corpo se enrijece e ela se lança contra ele, e os dois se chocam como feras, engalfinhando-se numa luta que é mais selvagem do que técnica, mais instinto do que estratégia.

Eles rolam pelo chão, trocando socos e golpes, mas o corpulento consegue vantagem e a empurra contra uma rocha próxima, forçando-a para baixo, seus dedos tentando esmagar sua garganta.

Ela se debate, sua respiração se torna um ruído áspero e sufocado. Mas a dor não a detém e ela revida, com um grunhido animalesco, enterra os dentes no antebraço dele.

O grito do homem é agonizante.

Sangue jorra, quente e espesso, escorrendo entre seus dentes. Ela arranca um pedaço de carne.

— Meu Deus... ela mordeu ele! — cochicho para Coimbra, minha voz presa entre choque e horror.

Ele não pisca, os olhos arregalados, a respiração acelerada.

— Isso... é insano, Naomi. — Há algo em seu tom que não é apenas medo. É fascínio.

— Porco nojento! — Ela balbucia, cuspindo a carne!

O corpulento tenta se afastar, sua mão instintivamente pressionando a ferida aberta, mas ela não permite.

Ela se joga sobre ele e, com um grito de pura fúria, desfere uma cabeçada feroz contra o nariz dele. O osso se rompe instantaneamente, e uma explosão de sangue cobre seu rosto e o dela.

Ele cambaleia, seus olhos vidrados de dor e choque, sua boca tentando formar palavras que nunca chegam.

Ela agarra a lança caída, e antes que ele possa se recuperar, ela crava a lâmina diretamente em seu peito. O aço rompe a carne, osso e pulmão, afundando até o cabo. Ele arregala os olhos, tossindo um jato de sangue. Seu corpo treme violentamente, suas mãos se agarram à lança, tentando desesperadamente puxá-la para fora. Mas não há mais saída.

Ele engasga, seu corpo dá um último espasmo... e então, desaba como um cadáver sem nome.

A mulher permanece sobre ele, seus joelhos cravados no solo, sua respiração soando como um rugido contido. Ela se levanta lentamente, cambaleando, seu corpo é um mosaico de sangue e ferimentos, sua pele manchada de suor e destruição. Ela segura a lança com força, os músculos trêmulos, os olhos fixos na carnificina ao seu redor.

— Ela não vai parar. — A voz de Coimbra sai como um sussurro incrédulo. 

— Nem eles, — respondo, apontando com o queixo para o homem que começa a se levantar.

Pinheiro, que parecia inconsciente, se apoia no chão, sua mão pressionando o joelho ferido. Seu rosto é um mapa de hematomas e sangue, mas seus olhos brilham com ódio febril. Ele cambaleia em sua direção, o bastão ainda firme em sua mão trêmula.

Atrás dele, os outros se arrastam de volta ao combate, como guerreiros recusando-se a ceder.

Uto se arrasta com uma perna mutilada, o rosto inundado de sangue, mas ainda de olhos fixos nela. 

Cerqueira cospe um dente no chão, sangue escorrendo de seus lábios partidos, e cerra os punhos, seus olhos carregados de pura loucura.

Eles estão destruídos, embora não derrotados, e muito menos dispostos a aceitar a morte tão facilmente.

Ato VI

A mulher cospe sangue no chão, seu rosto tomado pela fúria. E exaustão Seu corpo grita por descanso, todavia sua alma grita por mais sangue. Ela levanta a lança, os dedos tão firmes quanto no começo da luta. Seu olhar se torna algo inumano, o branco outrora puro está tingido de vermelho, marcado por vasos rompidos e pelo sangue que escorre, misturando-se à íris castanha quase apagada.

Em tom baixo, porém carregado com algo pior do que ódio, ela sussurra: — Vocês não sabem a hora de desistir.

O primeiro a avançar é Uto. Seu rosto está deformado, o sangue escorrendo pela boca, mas ele solta um grito animalesco e se lança sobre ela, o corpo em frangalhos, mas ainda disposto a matar.

O golpe vem rápido e bruto, um soco desesperado, carregado de força cega, e ela desvia por instinto, sentindo o ar cortando seu rosto conforme o punho de Uto passa a centímetros de sua pele.

Antes que ele possa se recompor, ela gira o corpo e usa a lança para empurrá-lo contra uma árvore próxima, a madeira da arma raspando contra sua carne ensanguentada. Ele se debate, agarrando a lança com as mãos ensanguentadas.

— Fica quieto, seu lixo. — Ela murmura, antes de erguer o joelho e afundá-lo diretamente no estômago dele.

 O golpe faz o corpo inteiro de Uto sacudir, seus olhos se arregalam, e ele desaba de joelhos, vomitando sangue.

Mas ele ainda rasteja, puxando-se para mais perto dela, suas mãos sangrentas cravando-se na terra, recusando-se a cair.

Rapidamente a mulher se vira no último segundo, sentindo o frio cortante do metal se aproximando.

Cerqueira. Ele vem pelas costas, a faca brilhando sob a luz pálida da lua, buscando a carne dela. Mas ela sente, e antes que a lâmina atinja seu rim, ela se afasta, desviando por um fio, e gira com o cotovelo, acertando em cheio o nariz de Cerqueira.

O estalo do impacto é alto, e ele tropeça para trás, os olhos vidrados de dor. Mas ele não para. Ele solta um urra e avança novamente, o braço cortando o ar num arco mortal, tentando apunhalá-la de qualquer jeito.

Ela bloqueia o golpe com a haste da lança, desviando a lâmina para o lado. O metal passa rente ao seu rosto, cortando um fio solitário de seu cabelo.

Aproveitando a abertura, ela gira o cabo e bate com toda força contra a lateral da cabeça dele e sua pele se rompe instantaneamente, e um corte profundo se abre acima da sobrancelha de Cerqueira, jorrando sangue em cascata.

Ele cai pesadamente, mas ainda tenta desesperadamente agarrá-la.

Ela apenas se afasta, mas quando percebe já está cercada.

Pinheiro e Uto não hesitam. Eles a atacam ao mesmo tempo, um pela frente e outro pela lateral. Uto pega o pedaço de metal do criminoso morto, enquanto Pinheiro tenta agarrá-la.

Ela salta para trás, mas é tarde demais para evitar o contato. Uto acerta o lado de sua costela com o pedaço de metal, arrancando-lhe um grito de raiva.

— É só isso?! — Ela rosna, cuspindo sangue no chão. — Achei que vocês queriam me matar, seus bostas! — A dor é excruciante, mas ela não se deixa dominar.

Com o braço livre, ela crava o cabo da lança na coxa de Uto, enterrando-o até o osso.

— FILHA DA PUTA! — Ele berra, caindo para trás, a perna tremendo violentamente.

Mas ainda não acabou, Pinheiro a agarra pelo braço, seus dedos como ganchos de ferro, tentando imobilizá-la, mas ela reage com puro instinto, girando o corpo e acertando joelhada feroz em sua virilha, e ele desaba no chão, agarrando entre as pernas, os olhos inundados de dor.

Ela se vira para o Uto, que cambaleia para frente, um rosnado animalesco escapando de sua garganta. Seu corpo estremece, os músculos lutando para manter-se em pé, mesmo com a lança cravada profundamente em sua perna. O sangue escorre em trilhas grossas, empapando sua calça rasgada e se misturando à terra abaixo dele. Mas ele não para.

Seus olhos estão arregalados, inflamados por uma fúria insana, como se a dor não fosse suficiente para quebrá-lo. Com um grito rouco, ele ergue o pedaço de metal, serrilhado e enferrujado, mirando um golpe brutal na cabeça da mulher.

Ela vê o ataque vindo no último instante.

Seu corpo reage antes mesmo de sua mente processar. Ela se abaixa em um movimento rápido, sentindo o ar cortando acima de sua cabeça enquanto o golpe passa a um fio de distância de sua bochecha. A ponta do metal resvala de leve em sua bochecha, deixando um corte fino, do qual brota uma gota solitária de sangue. Muito perto. Perto demais.

Ela gira o corpo com agilidade, sua perna se flexionando antes de disparar um chute devastador direto na lateral da perna ferida de Uto e o osso já fragilizado cede de vez, quebrando-se com um estalo grotesco que ecoa na noite. O mundo de Uto se reduz a um torvelinho de dor absoluta. Ele despenca de joelhos, suas mãos agarrando a perna quebrada num reflexo involuntário. Seus pulmões tentam soltar um grito, mas apenas um engasgo sufocado escapa de sua boca aberta. O choque é tão avassalador que sua voz simplesmente falha, deixando-o ali, imóvel, seus olhos arregalados em puro horror.

Ainda assim, ele tenta agarrá-la.

Seus dedos se arrastam pelo chão, buscando desesperadamente qualquer coisa para puxá-la junto com ele para a morte. Sua respiração vem curta e errática, misturada a gemidos gorgolejantes. Mas a mulher não espera, e com um grito selvagem, ela desfere a lança contra o peito dele, afundando-a até a metade.

O impacto o empurra para trás, e ele para, como se seu corpo tivesse acabado de ser desligado. Seus olhos piscam, surpresos, enquanto ele olha para baixo, observando o metal atravessado em sua carne. O sangue sobe até seus lábios, quente e denso, antes de escorrer pelo canto de sua boca. Mas ele ainda não aceita a morte.

Com um tremor violento, ele tenta dar outro passo. Ele avança com a lança ainda cravada em seu peito, como se pudesse ignorar o inevitável, como se pura teimosia fosse o suficiente para mantê-lo vivo.

Todavia a mulher não permite. Ela o empurra com força, jogando-o de costas contra o chão. O baque ressoa no solo, levantando uma fina camada de poeira e sangue. Ele tenta se erguer de novo, mas seu corpo já não responde. Mesmo assim, ele ainda resiste, seus músculos tremendo enquanto sua mão treme e rasteja na direção dela.

Ela pisa em seu rosto com brutalidade, esmagando o nariz já fraturado sob o peso de sua bota ensanguentada.

— Morre logo, filha da puta! — ela grita, sua voz rouca e carregada de exaustão.

O som do cartilagem cedendo é abafado por um grito de puro desespero. Uto se contorce sob sua pisada, os dedos crispados em espasmos, sua respiração reduzida a um chiado sufocado.

A mulher pressiona o pé contra o rosto dele, inclinando-se levemente, sua expressão carregada de exaustão, mas também de uma fúria cruel. Seu peito sobe e desce com respirações rasgadas, e quando ela fala, sua voz é um rosnado rouco, nascido da dor e do ódio: — Morre logo, filha da puta! — o grito rasga sua garganta, carregado de cada gota de sangue que ela já derramou naquela noite.

A mão de Uto se ergue uma última vez, seus dedos sujos de sangue se curvando em um gesto de desafio. Ele vira a cabeça para cuspir um último insulto, os olhos semicerrados e cheios de fúria.

— Vai pro inferno, sua maldita... — sua voz sai como um sussurro distorcido, mas nunca termina.

O brilho de vida desaparece de seus olhos. O ar abandona seus pulmões em um último suspiro áspero. Seus membros se afrouxam. E então, ele finalmente para de se mover.

Ela permanece sobre o cadáver por um instante, o corpo tremendo de exaustão. Seus olhos azuis encaram o rosto inerte de Uto, analisando-o como se quisesse se certificar de que ele jamais se ergueria novamente. E então, ela tira o pé do rosto esmagado do homem.

Sua respiração vem pesada, irregular, mas a batalha ainda não acabou. Lentamente, ela se vira

Pinheiro está de pé, ajudando Cerqueira a se levantar. O rosto do primeiro está coberto de sangue, o segundo, furioso. Eles trocam olhares rápidos, as palavras carregadas de raiva e desespero. 

— Se a gente cair aqui, vai ser por sua culpa, seu inútil! — Pinheiro esbraveja, o medo disfarçado sob o tom ríspido. 

Cerqueira solta um grunhido de pura fúria, empurrando o outro para o lado ao se firmar nos pés. — Cala essa boca! 

Eles não perdem mais tempo. Atacam ao mesmo tempo. 

Mas a mulher já está se movendo. Sua lança ainda está presa no cadáver de Uto, e ela não tem tempo de recuperá-la. Seu olhar varre o chão até encontrar um galho grosso e retorcido, caído a poucos centímetros de distância. Ela o agarra. 

Seu corpo age por puro instinto, o galho pesado transformando-se em uma extensão de sua vontade. 

Pinheiro avança primeiro, o punho cerrado buscando acertá-la no rosto, mas ela é mais rápida e gira o galho no ar, um movimento fluido e violento, e o impacto contra a lateral da cabeça de Pinheiro é tão forte que o crânio dele inclina-se bruscamente para o lado. Seus olhos rolam para trás, e ele cai como uma pedra, batendo contra o chão sem emitir um único som. 

Mas Cerqueira não para. A lâmina dele brilha na penumbra e o aço desliza pelo ar e corta as costas da mulher, rasgando pele e músculo. 

A dor explode em ondas ferozes. Ela solta um grito cortante, seus joelhos falhando momentaneamente e o calor do próprio sangue escorrendo, manchando sua roupa e pingando no chão a faz ranger os dentes. Sentindo Cerqueira se aproximar, pronto para desferir outro golpe, ela joga seu corpo para trás, atirando-se de costas contra ele. O impacto os lança ao chão com brutalidade e a faca de Cerqueira cai junto com eles. 

— Sua maldita! — Ele ruge, sua fúria crescendo em meio ao choque da queda.

Mas ele se recupera rápido e, em um movimento feroz, envolve seu antebraço ao redor do pescoço da mulher, apertando com todo seu ódio.

A pressão na garganta é absurda, esmagadora. A mulher se debate, os pulmões queimando, os dedos se agarrando desesperadamente ao braço de Cerqueira na tentativa inútil de afastá-lo. 

Sua visão começa a escurecer. Cada piscada se torna um borrão. Seus movimentos se tornam mais fracos. 

— Sua vadia! Você não vai sair viva daqui! — Cerqueira rosna, sua voz impregnada de ódio e triunfo.

Mas ele comete um erro. Ele não vê a mão dela tateando o chão, os dedos dela roçam algo frio: o cabo da faca, e a última fagulha de força em seu corpo se concentra nesse momento. 

Com um impulso desesperado, ela crava a lâmina no olho de Cerqueira, até o cabo.

O grito dele não é humano. É um som horripilante, um urro de puro terror e sofrimento. Ele se afasta, contorcendo-se, as mãos agarrando freneticamente a lâmina encravada no próprio rosto. Seu corpo treme violentamente, e então, ele cai para trás, debatendo-se como um animal moribundo. 

O sangue jorra, escuro e espesso, manchando sua pele, pingando entre seus dedos trêmulos. Seus gemidos tornam-se sussurros agonizantes, até que seu corpo finalmente cede, e ele para de se mover. 

A mulher ofega e com dificuldade ela tenta se levantar, mas seu corpo não obedece de imediato. Seus músculos estão no limite, seus ossos parecem feitos de vidro, sua pele é um campo de batalha aberto.

Finalmente, ela se ergue, cambaleando, suas pernas trêmulas como se a qualquer momento fossem falhar. Ela está um desastre ambulante, seu ombro deslocado, as costas em carne viva, os hematomas cobrindo cada centímetro visível de sua pele. 

Ela tosses forte, o gosto de sangue preenchendo sua boca. Uma gota de sangue escorre pelo canto de seus lábios, mas ela apenas a limpa com as costas da mão.

Com esforço, ela se apoia contra uma árvore, os dedos apertando a casca áspera enquanto luta para não desabar. Seu peito sobe e desce com respirações curtas e dolorosas, mas ela ainda está de pé, seus olhos tingidos de vermelho brilham com uma determinação quase sobre-humana, como se ela se recusasse a cair antes de terminar o que começou.

Com um suspiro pesado, a mulher se aproxima, cada passo dolorosamente consciente. Seus dedos se fecham sobre o cabo da lança, e com esforço ela puxa. O som de carne se rasgando e o estalo seco do metal contra os ossos ressoam no ar, enquanto a lâmina é retirada com violência silenciosa.

Quando a lança é finalmente removida, o corpo de Uto cede ao peso da gravidade, caindo de lado de forma grotesca. Sua morte não é uma despedida digna, mas uma humilhação final. De dentro de seu corpo inerte, um último golpe do destino: suas fezes se espalham pelo chão, manchando o cenário com um toque de repulsa visceral.

Ela observa, impassível. Não há nojo em seu olhar, apenas uma frieza sombria, como se já tivesse se afastado emocionalmente de tudo o que restou daquele homem. Seus olhos então se erguem, movendo-se lentamente pela cena à sua frente. Como se guiados por um instinto primordial, ela fixa o olhar em algo mais, algo que ainda se move: Pinheiro. Ele rasteja pelo chão, suas mãos feridas deixando rastros de sangue no solo sujo, e sua testa rasgada e encharcada de sangue. Seus olhos, arregalados e cegos pelo terror, não conseguem ocultar o medo que transborda de sua alma. Ele se arrasta como um animal ferido, implorando por algo que já sabe que não vai receber, uma chance, uma salvação que não virá.

Ele vê a lança pingando sangue. Vê a expressão dela vazia de remorso. E também vê quando ela ergue a lança.

— Vai pro caralho, sua puta! Isso não vai... — sua ameaça morrendo na garganta com a mulher atravessando sua cabeça.

O corpo dele treme, espasmos involuntários sacudindo seus membros enquanto sua boca se abre e fecha sem emitir som algum. Os olhos, antes cheios de ódio, se apagam em um segundo.

A mulher puxa a lança de volta, mas dessa vez a lâmina fica, e o sangue escorre pela ponta do bastão, pingando na pele do cadáver e encharcando o chão.  Ela solta o ar, recuperando o fôlego, mas antes que possa reagir, o ruivo reaparece das sombras, cambaleante, mas com um olhar feroz.

— Desgraçada! — Ele rosna, os olhos brilhando em pura fúria. 

A mulher mal tem tempo de se virar. O soco vem catastrófico e o impacto explode contra o lado de seu rosto, girando sua cabeça violentamente para o lado. Ela cai de joelhos, a visão se tornando um borrão avermelhado.  Seus ouvidos zumbem, e o mundo parece tremer. 

Entretanto ele não para, antes que ela possa sequer recuperar a consciência, ele a agarra pelos cabelos e a puxa grosseiramente. A dor na raiz de seus fios rasga seu couro cabeludo, e seus pés saem do chão. 

— Agora você morre, sua piranha! — Ele rosna, os dentes cerrados de puro ódio. 

Ele desfere um chute diretamente em suas costelas já feridas. O golpe é devastador e ela sente algo ceder dentro de si, uma dor lancinante irradiando por todo seu torso.

Ela cambaleia para trás, tentando se manter de pé, mas o ruivo avança novamente, dessa vez chutando a base das pernas da mulher, que desaba batendo contra o solo é brutal, e seguidamente sentindo o peso do ruivo sobre ela. 

Ele a prende no chão, montado sobre seu corpo e começa a socá-la ferozmente. O primeiro golpe rasga sua bochecha. O segundo faz sua visão piscar em branco. O terceiro é puro desespero, o punho dele esmagando contra seu maxilar com força o suficiente para fazer seus dentes rangerem. Cada golpe parece sugar sua energia, seu corpo fica mole e seus braços se tornam fracos. Ela não consegue reagir. 

Ele agarra seu pescoço com uma das mãos, enquanto a outra continua socando sem piedade. 

O ar da mulher começa a faltar e sua visão parece escurecer.

— A gente tem que fazer alguma coisa, — cochicha Coimbra, tenso ao meu lado, mas antes que ele possa se mexer, ela reage.

O instinto grita. O corpo luta. E, em um movimento súbito, a mulher agarra o braço do ruivo, torcendo-o com precisão. Os ossos rangem sob a pressão, e ele urra de dor. E a mulher continua, usando o peso do próprio corpo, ela desliza para o lado, dobrando o braço dele em um ângulo impossível e aplicando uma chave de braço.

Ela puxa com tudo e a articulação dele cede. O estalo do osso deslocado ecoa até meus ouvidos, junto com o grito desesperado do ruivo que se contorce em agonia absoluta, usando sua mão livre para desferir um soco direto na costela ferida da mulher. 

A mulher solta um grito sufocado e perde momentaneamente o controle da posição, e ele se livra, saltando sobre ela de novo, no entanto dessa vez ela está pronta, e antes que ele a esmague com seu peso, ela escorrega por baixo dele, deslizando com agilidade felina para suas costas e envolvendo o pescoço dele com seus braços em um mata-leão.

As pernas da mulher se fecham em torno do torso dele, enquanto seus braços esmagam sua garganta. O ruivo se debate violentamente, tentando arrancá-la de cima dele, seus dedos rasgam a terra, sua boca abre e fecha, tentando desesperadamente puxar ar. Contudo não há ar, só a pressão esmagadora. 

E então... ele começa a enfraquecer, seus movimentos ficam mais lentos, seus olhos rolam para trás, seus braços ficam pesados e, finalmente, ele para de se mexer. 

A mulher mantém a posição por mais um instante, apenas para garantir, antes de soltá-lo.

Ela se apoia nos joelhos, sua respiração pesada e irregular enquanto tenta reunir forças para se levantar. O sangue escorre de um corte na lateral do rosto inchado, misturando-se ao suor que cobre sua pele. Com um esforço tremendo, ela apoia uma mão no chão e, cambaleando, se põe de pé. Suas pernas tremem, e a dor latejante no corpo quase a faz cair novamente, mas ela se mantém firme.

Seus olhos percorrem o cenário de carnificina ao redor, repleto de corpos, sangue, e, agora, silêncio. E ela, no meio disso tudo, com a respiração ainda entrecortada, limpa o sangue da boca com as costas da mão e ergue o queixo, cada movimento carregado de exaustão e determinação, como se ainda não fosse a hora de parar.

Eu e Coimbra permanecemos imóveis, nossos corpos pressionados contra o chão úmido, a respiração controlada ao máximo. Ela está de pé no centro da carnificina, seu corpo balança ligeiramente, como se um vento forte pudesse derrubá-la.

Inesperadamente, seus olhos, vermelhos pelo sangue e pelo esforço, se voltam lentamente em nossa direção, como se já soubesse o tempo todo que estávamos ali.

Um arrepio frio percorre minha espinha e, por um instante, tudo desacelera. O brilho em seu olhar não é apenas de exaustão ou triunfo. Há algo mais profundo ali. Algo perigoso. E de maneira desconexa ao momento, um sorriso se forma nos lábios da mulher, um gesto estranho e desconcertante em meio ao massacre. É um sorriso estranho, selvagem, mas não ameaçador, porém também não é de alívio.

O sangue escorre pelo canto de seus lábios, tingindo seus dentes de vermelho. Mas ela não se importa. Por um segundo interminável, nossos olhares se prendem. Meu peito se aperta com a estranheza do momento.

Então, sem aviso, seus pernas joelhos tremem, dobrando-se como se fossem feitos de areia. Seus dedos afrouxam e o bastão escorrega de sua mão ensanguentada, caindo com um baque surdo contra a terra encharcada. Ela balança para frente, os olhos ainda presos aos meus, mas já desfocados. E então, desaba. Ela não solta um único som, apenas cai, seu corpo atingindo o chão com força, os membros se espalhando de maneira desordenada, como se toda a luta tivesse sido arrancada dela em um único instante.

O corpo ensanguentado e inerte, deixando um silêncio inquietante pairar sobre a floresta.

Pinheiro

Uto

Cerqueira

Ruivo

Corpulento

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