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3. Um forasteiro entre nós

– Já faz quase uma semana... – disse Danika conferindo as unhas antes de pegar a lixa. – Lilica me contou que lá da casa dela, dá pra ver a ponta da barraca.

Lilica é a esposa do Pai Osório, o dono da única lotérica da ilha e da casa de orações. O casal mora não muito longe do penhasco e da trilha que conduz à Praia Marrenta.

Como Aline não dissesse nada, apenas a olhasse, ela acrescentou:

– Aquela praia é perigosa!

Aline olhou para o teto, cismando sobre o assunto, e acabou concordando: – É mesmo.

Danika irritou-se um pouco com a falta de interesse dela.

– Será que ainda está vivo? – Suspirou.

Aline riu. – Esquece o cara. Se estivesse morto, a gente já saberia, porque notícia ruim chega rápido.

– Mas como a gente vai saber, espertinha? E se ele estiver lá, sozinho, sem ninguém para lhe acudir?

– Lilica falou que depois da maré cheia, não viu mais a ponta da barraca.

– Desde quando?

– Desde ontem.

– Ei, vocês duas! – chamou Javier, o responsável pelo açougue e pelo estoque do supermercado.

Na verdade, ele era o faz-tudo de dona Eulália. Coração mole, não resistiu a necessidade de tapar buracos. E ele acumulou muitas funções no supermercado. Vivia resmungando pelos cantos, mas nunca na frente da boa e doce velhinha. Por ter tantas responsabilidades, às  vezes, ele se comportava como se fosse o chefe. O que irritava Danika sobremaneira.

– Preciso de ajuda lá atrás – disse ele, em tom exigente.

As duas trocaram um olhar e resolveram tirar na sorte. Danika perdeu e teve que ajudar Javier a receber o caminhão de entregas.

Os produtos chegavam de barco das distribuidoras de Palhoça, São José e Florianópolis. O barco entregava no pequeno cais da ilha, e o caminhão do Seu Carlos ia até lá buscá-los.

– Musculação de pobre – resmungou Danika, em tom de brincadeira.

– Mas você tem dois salários. É professora... – zombou Carlos, o motorista do pequeno caminhãozinho.

Carlos trabalhava por conta própria. Realizava vários tipos de entrega, não só para o supermercado. Seu caminhão de baú pequeno já serviu de ambulância, entrega dos Correios e uber improvisado para a comunidade – e tudo isso num único dia.

– E você acha que professora ganha muito? - ela rebateu, com uma risada de escárnio. – É por isso que tenho dois empregos, meu filho!

Carlos riu também, pois sabia que a realidade do ensino público brasileiro era desoladora. Afora este inegável fato, mesmo com o salário baixo, Danika estaria trabalhando tempo integral como educadora... Se pudesse. Contudo, a escola só funcionava à noite. Para alunos adultos. Não havia crianças na ilha. Nem adolescentes.

O motivo? Difícil obter uma única explicação para esse estado de coisas. Alguns casais eram idosos demais. Em sua maioria, pescadores, que nunca pensaram em sair de lá. Dentre os filhos e netos solteiros ou casados, a maioria dos jovens deixava a ilha em busca de oportunidades melhores. Mudavam para o continente, pensando na boa estrutura, como atendimento médico e entretenimento. Logo percebiam que a capital carecia de um sistema de saúde bem distribuído entre os bairros, carecia de boa mobilidade; e que diversão era só no shopping. Daí,  mudavam para mais longe e com mais opções, como os bairros continentais.

Alguns dos adultos solteiros na meia-idade também deixavam a ilha a fim de encontrar oportunidades melhores de trabalho e estudo. Os que ficavam queriam sossego e continuavam o trabalho dos antigos moradores, na pesca, na arte de fazer renda, e no pequeno comércio. Tudo isso talvez explique a raridade de nascimento e de permanência dos jovens na ilha.

O turno matutino da escola acabou fechando há cinco anos. Data em que o último aluno se formou, com dezoito anos e "ganhou o mundo" como dizem por aí.

Em contrapartida, descobriu-se que muitos dos idosos residentes não concluíram os estudos; a maioria nem frequentou a escola. Especialmente os pescadores. Assim, a escola voltou a funcionar à noite, há dois anos, com um projeto de educação para adultos.

O docente responsável ganhava por horas-aulas, e como estas eram ofertadas uma vez por semana, para uma turma de quatro a cinco alunos de cada vez, é óbvio que Danika precisava de uma segunda renda.

Desde que era uma adolescente, ela trabalhava no supermercado. Começou como ajudante informal, abrindo as sacolas plásticas. E fazer isso exige método. Logo, Dona Eulália passou a pagar uns trocados para a jovem interessada em ganhar seu dinheirinho... E lhe ensinou os macetes do atendimento ao público.

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Quando Danika entrou para a faculdade de Pedagogia, teve que deixar a ilha para viver numa república de estudantes, na ilha-capital. Visitava os pais nos feriados, e no final de ano, mas só voltou para ficar, depois de formada. Descobriu que a escola fora fechada e seus sonhos desceram com a maré...

Acabou retomando o antigo emprego porque a Pedagogia era um campo restrito em qualquer lugar (e ainda mais na Ilha das Guirlandas).

Danika recuperou o emprego no supermercado; Dona Eulália a recebeu de braços abertos. Daí, o Estado decidiu reabrir a escola e a oferta de se tornar a professora titular surgiu naturalmente  - considerando que ela era a única professora formada do lugar, e que conhecia a comunidade.

Mas o primeiro ano não foi nada fácil. O grande desafio de Danika foi convencer os idosos a frequentarem a escola. E convencê-los exigiu estratégia. Por sorte, os velhinhos confiavam nela. Afinal, conheciam seus pais; conheciam-na desde pequena... Desde que os pais a trouxeram do continente.

As aulas se tornaram um sucesso. A partir de então,  a escola vem sendo mantida em funcionamento.

Pode-se dizer que Danika é tão boa com sacolas plásticas quanto com didática.

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Vinte minutos depois de ajudar Javier a descarregar o caminhãozinho de Carlos, Danika voltou para o seu posto, no caixa; estava toda suada, imaginando que teria de tomar outro banho antes de começar a aula da noite.

– Pode ir, Danika – disse Javier, enxugando as mãos num pano que já viu dias melhores. – Como você se deu ao trabalho de me ajudar, acho que Aline dá conta de fechar os caixas, sozinha. Afinal, é o mínimo que ela pode fazer por você.

No entender de Javier, Danika fez por merecer. Era uma garota legal, simples e trabalhadora; sempre disposta a ajudar todo mundo. O maior desafio da moça acontecia à  noite. Ao tentar alfabetizar adultos idosos/geniosos, e fazer com que obtenham o grau de instrução que não tiveram na juventude.

Javier as vezes se perguntava quanto tempo duraria o trabalho dela. Afinal, um dia, não haveria mais alunos para estudar. Não haveria turmas. Daí, talvez ela tivesse que escolher entre procurar um trabalho como professora fora da ilha, ou continuar no supermercado, só como caixa.

– Ei, não é justo que eu feche os dois! – Protestou Aline.

Javier encolheu os ombros e se afastou, deixando-a resmungar à vontade. Aline fez uma careta e mostrou a língua para as costas dele.

Divertida, Danika pegou as suas coisas e saiu apressada. Estava mais do que feliz por não ter que fechar o caixa.

Não pode deixar de rir das caretas que Aline estava fazendo por trás do uruguaio. Ela estava se especializando... Uma mais criativa e grotesca que a outra. Logo ganharia até daquela comediante que fazia umas caras muito doidas – a Lucille Ball.

Ela conheceu Lucille nas matinês de sábado.

Seu amigo Demétrio tinha um monte de gravações de séries e filmes antigos e oferecia sessões variadas no paralelepípedo – como chamavam a micro praça.

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Demétrio era um jovem pescador, que foi viver no continente, onde estudou e aproveitou para viajar. Enfim, foi conhecer um pouco do mundo.

Desfrutar...

Ao ser informado da morte do pai, porém, o rapaz voltou à  ilha para ajudar a mãe.

Era um cara sem ambições, mas esperto. Sabia negociar e ninguém lhe tirava farinha. Os outros pescadores que trabalharam com o seu pai, passaram a confiar na sua inteligência e ponderação. Demétrio assumiu o lugar do pai nos negócios de pescado, mas deu o seu toque pessoal. Pouco a pouco conquistou um lugar na comunidade ultra fechada da Ilha das Guirlandas.

Demétrio criou as sessões de vídeo para compartilhar a sua paixão pelo cinema e pela cultura vintage. Aos poucos, as sessões contagiaram os moradores. Tornaram-se,  aliás, a grande atração do lugarejo.

No entanto, parte desse contágio se devia ao fato de Demétrio ser um dos poucos solteiros jovens da ilha. As garotas o disputavam quase a tapa. Avesso a gaiolas e coleiras, ele conseguiu se esquivar das investidas.Nisso, puxou à mãe, Dona Jandira, que era líder comunitária e política nata.

Ele só não se esquivava de Danika, porque ela não estava interessada nele, como homem. Apenas como amigo. Já a maluquinha da amiga dela, Aline, eis uma esfinge gritando: Perigo! Perigo!

Claro que ele namorava as garotas, mas... Não se comprometia com nenhuma. Além de sagaz, Demétrio tinha uma lábia e tanto... E qualquer coisa que gritasse "Perigo!", ele pulava fora.

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