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2. Alvorada Voraz

Yago imaginara encontrar um lugarejo muito pobre, de terra batida, quiçá enlameado... Já que choveu bastante nos últimos dias... Também imaginara encontrar cabanas de palha e casinhas de sapé.

Só que não.

As pequenas ruas eram pavimentadas e meticulosamente limpas. Yago parou no começo da rua principal, relanceando os olhos ao redor. Avistou um pequeno hostel; um restaurante; e diante dele, uma plaquinha de madeira entalhada, muito simpática, indicava um até-que-moderno-e-surtido supermercado praiano.

O supermercado ocupava dois pisos. Parecia grande, moderno... Até demais para atender um povoado tão pequeno. Devia ser por causa dos turistas, no verão. Ele apostava que a ilha ficava cheia de gente vindo de todas as partes do mundo.

Avançou pelo meio da rua, observando o sol fazer brilhar o desenho da placa do estabelecimento. As letras estavam desenhadas em meio às flores entalhadas, provavelmente, nativas da região. Dizia: Alvorada Voraz.

Hum... Sugestivo. Seria por que se come demais na ilha? Ou uma homenagem à canção do RPM?

Decidiu, então, comprar alguns mantimentos, antes de tomar o rumo para o lado mais isolado da ilha; pretendia acampar durante o tempo que lá permanecesse.

Assim que entrou no supermercado, avistou uma fileira de caixas entregues às moscas. Só dois em funcionamento - cada qual com uma garota. E as duas com cara de entediadas.

A loira escultural com os cabelos queimados de sol pareceu-lhe mais entediada do que a morena baixinha e gordinha com cara de boneca feliz. Elas o encararam como se o estivessem avaliando. Bem, na verdade, era isso mesmo o que estavam fazendo... Achando a gordinha mais simpática, Yago evitou olhar uma segunda vez para a loira escultural. Já tivera a sua cota de mulheres belas e perigosas. Não lhe fizeram mal, mas... Não lhe trouxeram coisas positivas tampouco.

[Se bem que... Bem, aquela dali parece menos com uma "tiete" e mais com uma "guerreira sanguinária".]

Ele pigarreou, constrangido, e deixou a velha prancha de surf num canto, perto da entrada, escorada em seu pesado mochilão. Aliviado com a ausência do peso nas costas, ensaiou um cumprimento, enquanto caminhava para um dos longos corredores, feito de prateleiras. As duas não corresponderam, apenas o encararam como aves de rapina. Pareciam duas águias...

Talvez condores...

Ele sentiu alívio quando desapareceu em meio às prateleiras, ficando fora de vista. Concentrou-se nos mantimentos que precisava comprar. Caminhou a esmo, ouvindo seus pés calçados com as botas ecoando no piso imaculado.

O lugar estava deserto. Seus passos só rivalizavam com a música de fundo (uma daquelas antigas canções americanas dos anos 1980, tocando bem baixinho). O locutor da rádio murmurou o nome, o cantor e passou para outra canção, anunciando, em seguida, o nome da rádio e do patrocinador daquela hora.

Sentinela FM. Canasvieiras.

Com as mãos ocupadas com latas, ele se deu conta que precisava de um carrinho... Fechou os olhos por um instante e, com um suspiro, retornou para o começo do corredor, a fim de buscar um carrinho. Achou a fileira de carrinhos, próxima aos caixas. E sob o olhar fixo das duas mulheres, endireitou as costas e as encarou. Elas o encararam de volta.

Gente, aquilo estava parecendo filme de terror. Logo as duas pulariam para fora de suas estações de trabalho, gemendo e babando como duas zumbis comedoras de cérebro. Daí, iriam persegui-lo pelos corredores.

Ele piscou. Elas não se moveram. Desconfortável, Yago empurrou o carrinho de volta para o corredor. Dessa vez, antes de desaparecer lá dentro, ele apontou para o corredor e foi. A única reação que obteve foi da loira escultural com cara de poucos amigos: ela ergueu uma sobrancelha.

Ainda bem que as prateleiras o protegeram do olhar perfurante daquelas duas. Agora ele entendia porque o supermercado estava entregue às moscas... (E achou ter entendido porque o nome era Alvorada Voraz).

A resposta não era a ausência dos turistas durante a baixa temporada; ou o horário. Eram as duas maníacas na entrada do estabelecimento.

Melhor se apressar, antes que fosse devorado mesmo.

[Mas a gordinha ainda lhe pareceu a mais simpática das duas - levaria o carrinho para o lado dela, quando acabasse.]

Ele tirou um papel dobrado, rasgado e sujo, desdobrou e se concentrou na lista. Ele era vegetariano, a meio caminho de se tornar vegano, mas as vezes, era preciso fazer algumas exceções. Além do mais, o veganismo era muito mais do que adotar uma alimentação saudável, e sim, totalmente isenta de produtos feitos a base do sofrimento animal.

Com um suspiro, ele começou a ler (e teve que ler duas vezes, pois mal conseguia entender a própria letra).

__________________

1. Comida instantânea - pudim em pó, miolos (Ah, quer dizer, miojos!) e risoto desidratado;

2. Um pacote de leite a base de arroz;

3. Quatro garrafas de água mineral de dois litros (e aí, como é que vai carregar, compadre?)

4. Barras de cereais e de banana desidratada;

5. Saquinho de uva passa;

6. Prestobarba (e uma tesoura, porque só gilete não dá conta);

7. Papel higiênico e papel toalha;

8. Sacos de lixo pretos grandes, médios e pequenos;

9. Gatorade de limão;

10. Pão Integral e pão preto fatiado;

11. Pacotinhos de tempero;

12. Espinafre;

13. Alho (pro caso de as duas garotas no caixa não serem zumbis, mas vampiras);

14. Ovos (e vai carregar na cabeça, compadre?)

15. Umas frutinhas (Quem sabe, banana, ameixas e mamão; não muitas, já que avistou umas pitangueiras carregadas pelo caminho);

16. Café solúvel do tipo arábico (não ficava sem café forte e quente);

17. Pão fatiado (Ah, esse já foi, ele estava se repetindo na lista, por isso, riscou o item).

18. Manteiga (multiuso culinário).

___________________________

Achou que fosse suficiente para uns quatro a cinco dias.

Conduziu o carrinho até a área dos caixas, já decidido a passar suas comprar com a morena simpática. Tratou de ignorar os olhos penetrantes e nefastos da loira.

Será que as valquírias seriam como ela? Belas e frias?

Enquanto colocava as compras na esteira, Yago viu, de relance - e não porque estivesse prestando atenção, fique bem entendido - que a loira se chamava Danika.

Hum... Um nome exótico e raro. Ele já ouviu antes, certamente. Não era tão raro assim. De qualquer forma, combinava com ela.

A morena abriu um sorrisão e começou a registrar os produtos. O nome no crachá dizia Aline. Ela mascava escandalosamente um chiclete que aparecia de quando em vez, no canto da boca.

- Estamos fora de temporada - comentou, como não quer nada.

- Pois é... - Isto, eu já percebi! Yago, ficou sem saber o que dizer mais.

- Você veio com alguma excursão? - Ela insistiu, franzindo a testa enquanto tentava passar pelo leitor o código de barras da barrinha de cereais. Assim que conseguiu, o sorriso voltou a dominar o semblante afável e ela o encarou, à espera da resposta.

- Não - informou Yago, sucinto. - Vim sozinho.

E não é de sua conta! - pensou, mas não disse.

Ela levantou a sobrancelha, mostrando-se insatisfeita com a resposta.

A loira apenas se inclinou, apoiando os cotovelos na esteira vazia, ao lado. O movimento juntou os seios por baixo da blusa justa e decotada. Ela ficou observando Aline passar as compras, olhando alternadamente dos produtos para Yago... Mas não era para ele, exatamente, que ela olhava... e sim, para as suas roupas. Desde as velhas botas, passando pela calça caqui folgada e rasgada num dos lados; bem como o moletom preto que já viu dias melhores. Ah, fora a barba espessa, longa, e os cabelos desgrenhados. Ele imaginou, com algum humor, que Danika deve tê-lo classificado como indigente. Na melhor das hipóteses, um mendigo "rato de praia".

Ela desviou o olhar dele com desdém. Em outros tempos, Yago teria ficado puto, porque acreditava que não era a roupa que tornava uma pessoa inferior a outra. Ademais, havia um estereótipo para viajantes como ele - somando-se ao fato, a velha prancha de surf esperando, na entrada. Ele sabia que muita gente tinha preconceito contra os surfistas. Se havia quem achasse o esporte maneiro, estiloso e descolado, havia quem achasse um carimbo para a vagabundagem.

Considerando a mania de se avaliar as pessoas pelo que ostentam - casa, carro e roupas... A garota provavelmente o classificou como vagabundo classe A.

- São oitenta e dois reais, com sessenta e oito centavos - anunciou a garota morena, em alto e bom som, como se o desafiasse a pagar aquele valor.

Então, ele concluiu, Aline compartilhava do modo de pensar da outra, só que disfarçava melhor...

Yago meneou a cabeça, como quem aceita os fatos da vida. As duas iriam cair do cavalo agora mesmo. Trocou o peso do corpo e pescou o cartão de crédito Visa Diamond Extra-Premium-Double-International, no bolso da calça. Pigarreou e o estendeu. Ela olhou do cartão para o seu rosto. Só faltava perguntar se tinha fundos. Ou se ele tinha roubado o cartão.

- Débito - avisou o homem, erguendo as sobrancelhas.

Aline hesitou por um instante apenas. Mas quando passou o cartão e o caixa apitou, a garota ficou aliviada. Danika estreitou os olhos. Definitivamente, ela devia pensar que ele roubou o cartão. E obrigou o proprietário a lhe dar a senha com uma faca no pescoço.

Yago torceu os lábios, perguntando-se se estava tão pouco apresentável assim? Será que estava fedendo? Mas ele tinha tomado banho naquele mesmo dia, quando deixou o hotelzinho no centro de Joinville, norte do estado. Yago olhou para as próprias roupas. Passaria tranquilamente por mais um turista, ou surfista chegando por aquelas paragens. Por que não? Qual o problema nisso?

De repente, achou que o problema fosse o cabelo mais longo que o normal, ou a barba. Sim, ele estava com aspecto de rato de praia - daqueles ratos que vivem literalmente na praia; o que não está longe da verdade... Pelo menos nas próximas semanas, já que ele pretendia acampar.

Se ele deixou a barba e o cabelo crescerem foi para impedir que o identificassem. Se é que alguém iria identificá-lo. Afinal, existem pessoas conhecidas apenas em suas esferas de atuação e pessoas conhecidas por todas as esferas e mídias sociais. Ele se encaixava no primeiro caso, não no segundo.

Animada, Aline começou a colocar as compras nas sacolas plásticas com a logomarca do supermercado. Era uma logomarca bastante florida... E colorida... Ele até pensou em dizer que não precisava de sacola plástica, pois polui o meio ambiente; que ele possui uma sacolona ecológica caprichosamente dobrada ao redor da velha sanduicheira, no interior da sua mochila de montanhista abarrotada e quase se rasgando de tão cheia... Mas daí a loira se levantou de seu caixa e veio ajudar a empacotar as compras. Ele decidiu se calar, e aproveitou para observá-la melhor.

A loira era deslumbrante mesmo. Toda natural... Tinha um corpo de parar o trânsito. Ela desviou os olhos esverdeados dele para as compras e as guardou com uma eficiência de impressionar. Coisas pesadas em baixo, coisas frágeis em cima. Pão separado. Ela estendeu as sacolas que ele retirou de suas mãos pequenas. Reparou que os dedos femininos estavam cobertos por anéis coloridos e os delicados pulsos, adornados com pulseiras.

Imaginou que não deveria ser muito prático de se trabalhar com tantos badulaques.

Olha só você, compadre, fazendo seu próprio julgamento...!

- Volte sempre - disse ela, parecendo querer dizer exatamente o contrário.

Yago sorriu.

- Ah, eu vou voltar - respondeu com uma piscadela feita para irritar. Ele caminhou sem pressa até a prancha e a mochila.

Sabia muito bem que as duas iriam ficar assistindo-o tentar levar tudo, sozinho. Sentindo irritação, ele saiu apressado para a rua sem olhar para trás. Acostumado a viver em movimento, Yago tinha os seus métodos para carregar muita coisa com economia cinética. Amarrou as sacolas umas nas outras, amarrou as alças das águas minerais, duas para cada mão, distribuiu o peso das compras, metade para cada mão. Passou as alças da mochila pelos braços, colocou a prancha debaixo da axila e, por último, abaixou-se com cuidado para pegar as sacolas mais leves. Assim que ergueu a cabeça, percebeu que a loira estava assistindo de boca aberta.

Ele saiu para a rua, seguindo a direção indicada pelo mapa do diário de viagens, o qual, havia memorizado.

A caminhada até o penhasco norte foi longa e dolorosa para seus braços, mãos e pernas. Mais longa do que imaginava. Yago parecia uma mula de carga. Lá pela metade do trajeto, parou para descansar e colocar a maioria das coisas na sacolona ecológica. Era bem resistente, e acabou ficando tão pesada quanto uma rocha.

Beleza, a musculação do dia está garantida. E sem pagar academia, refletiu, com bom humor. Lançou um olhar para o profundo mar azul e suspirou. Devagar se vai ao longe!

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Yago escolheu a face mais protegida do afloramento rochoso, entre duas enormes rochas, em razão do vento que soprava incessante, vindo do mar. Só então, começou a montar a barraca.

Não havia árvores por perto. Só lá em cima. Então, ele teve que andar bastante para encontrar gravetos que servissem para uma fogueira. Já estava quase desistindo quando avistou um grupamento de árvores mais ao longe. Imaginou que deveria ter cascas e folhas caídas no chão, galhos mortos... Foi até lá para ver se coletava alguns.

Já começava a escurecer quando conseguiu reunir gravetos suficientes para acender uma fogueira. Algumas gaivotas retardatárias passaram por ele gritando; voavam rumo aos ninhos... Ele sorriu e acenou para elas.

-Olá vizinhas!

Terminou de organizar suas coisas e preparou o jantar.

Ele se sentou diante da fogueira respirou fundo, contemplando a noite límpida e cintilante. Escutou o mar quebrando pertinho. Naquele momento, sentiu-se vivo e parte do plano de Deus.

E então agradeceu por isso.

Aquele cenário era capaz de destruir qualquer muro das lamentações que uma pessoa construísse em torno de si. Quem sabe o que a vida poderia lhe trazer? Certamente, ele não esperava tanta paz...

Lembrou a si mesmo que era preciso confiar em Deus.

Então começou a desenrolar o colchonete portátil.

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Dias depois...

Yago bocejou uma, duas vezes... Daqueles bocejos gostosos e barulhentos que a gente pode dar quando não tem absolutamente ninguém por perto. O cansaço gostoso o estava dominando. Diferente do cansaço das viagens e turnês.

A turbulência dos últimos meses, vivendo uma roda viva, era um desafio a sua natureza tranquila. E talvez por essa razão ele estivesse tão necessitado de uma pausa.

As coisas estavam começando a entrar nos eixos, criando um cenário promissor... Bem, não havia cenário mais promissor do que aquele... Sentiu que encontrou o seu lugar. Não entendia como, porquê, nem de que jeito... Só sabia que tinha encontrado.

Olhou para o celular que costumava usar só para ler e pesquisar... Decidiu não entrar. Devia ter uma infinidade de e-mails não respondidos esperando por ele. Não abriu nenhum deles e não abriria agora. A ideia era permanecer desconectado do mundo, certo?

Ele reuniu forças para se levantar e escovar os dentes usando o resto da água que sobrou da garrafa. Da próxima vez, iria até a praia para coletar um pouco de água do mar na garrafa vazia, não se importava de usar em outras coisas e poupar a água potável.

Ainda pensando nisso, ele cuspiu num pequeno recipiente de plástico que usaria provisoriamente, até descobrir como descartar adequadamente - sem que fosse na natureza. Ele abominava quem desfrutava da natureza e largava seus dejetos para trás. Yago não deixava nada para trás, nem um sinal de sua presença.

Engatinhou para dentro do pequeno "iglu", afofou o travesseirinho e tão logo encostou a cabeça, adormeceu como uma pedra outra vez.

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O grito de uma gaivota o despertou. Ele piscou para a claridade, confuso e perdido. Então, espreguiçou-se demoradamente, testando os músculos e articulações. Era um ritual que nunca esquecia de fazer - o hábito de alongar, fazer a circulação funcionar, aquecer, lubrificar... Nunca se erguer rápido... Hábito de um desportista com duas décadas de prática.

Levantou devagar observando o céu azul, com pouquíssimas nuvens. Já era dia alto. Meu Deus! O quando eu dormi, dessa vez? Apanhou o relógio de pulso e deixou escapar um assovio baixo. Dormiu por dezesseis horas seguidas. Já era quase meio dia, do dia seguinte. Seu estômago se manifestou. Descobriu que estava faminto, mas se comesse agora, teria que esperar para entrar no mar. E Yago precisava do mar quase tanto quanto precisava de alimento.

Vestiu o macacão às pressas, levantou a prancha e desceu o caminho estreito entre as pedras até a praia deserta. Era uma praia pequena, com faixa de areia curta e branquinha. O vento ao redor uivava, indicando uma mudança do tempo logo mais... As ondas, como ele imaginava, estavam divinas. Ondulavam longe e quebravam alto.

Ele prendeu o leash da prancha no tornozelo, colocou-a sob o braço esquerdo e correu para o mar.

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