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1. O cabo do leque

Para um viajante livre, conhecer é o princípio da experiência, bem como o tempero de toda jornada. O antes, o durante e o depois, quando se olha para trás.

Contudo, para conhecer, é preciso aprender a desfrutar - sem pressa de alcançar o destino final. O prazer reside em não esperar pelo esperado. Sem filtros, barreiras e pré-julgamentos.

Apenas desfrutar...

Yago Toledo foi testado em sua compreensão sobre o conceito, quando se deparou com a ilha das Guirlandas...

Claro, conhecia o litoral catarinense e podia listar as ilhas frequentadas pelos turistas... Campeche, Arvoredo, Francês, Ratones e Anhatomirim estão entre as mais de trinta ilhotas espalhadas ao redor de Florianópolis - capital do Estado. Sem dúvida, elas são bastante conhecidas no circuito local. Porém, nem de longe são as mais intrigantes.

Ao norte da ilha-capital, encontra-se um conjunto de pequenas ilhas a compor um arquipélago peculiar. Elas não aparecem na divulgação turística; motivo pelo qual Yago rumou para lá.

Os arquipélagos normalmente são classificados como agrupamentos, ou conjuntos de ilhas próximas umas das outras; este agrupamento, entretanto, apresenta um formato diferente. As ilhas não se encontram tão perto umas das outras... Espalham-se pelo oceano como um grande leque aberto, composto por seis pontinhos que não constam nos mapas oficiais. O primeiro, o "cabo do leque", torna-se visível apenas a olho nu para os frequentadores da Praia de Canasvieiras.

Yago não era nenhum "frequentador". Não calçava Havaianas novinhas em folha, como os turistas que tentavam parecer casuais. Suas botas enlameadas e rasgadas não poderiam estar mais deslocadas no ambiente. Eis um andarilho em trajes tão gastos... Que passaria por um sobrevivente de guerra, um imigrante ilegal, ou fugitivo da justiça malinesa... Se não fosse pela velha prancha de surf, à tiracolo.

A prancha equilibrava o despojamento, pois sinalizava uma finalidade (não muito bem vista por gente inflexível, mas ainda assim, uma finalidade).

Contudo, como a praia ainda é o espaço mais democrático que existe, Yago teve a mesma visão panorâmica que os turistas de Havaianas e os senhores inflexíveis, ao embarcar na balsa para a travessia. Acomodou-se no piso superior da embarcação, junto aos demais passageiros e lá permaneceu, contemplando o primeiro dos seis pontinhos do arquipélago. A medida que a balsa singrava os mares escuros, o "cabo do leque" começou a aumentar de tamanho no horizonte e a revelar seus contornos.

Alguém teria dito que a travessia leva de dez a vinte minutos... A duração da viagem é o tempo que Yago teria para reler as informações. O guia recém-comprado, ou melhor, o "diário de viagens" havia lhe fornecido um vivido retrato das ilhas. Analisando, agora, a encadernação de couro e a letra desenhada, ele concluiu tratar-se de um item de colecionador. Um verdadeiro "achado", como dizem por aí.

Yago adquiriu-o em um sebo, no centro da cidade. A obra literalmente caiu da prateleira para as suas mãos, enquanto andava a esmo por entre as estantes empoeiradas. Logo reparou na data da edição, 1953, escrita com bela caligrafia; naquele momento, pensou em devolver a obra para o devido lugar. Inesperadamente, foi interceptado por uma jovem descalça, enrodilhada num chale roxo, em contraste com o vestido alvo, quase luminoso.

- Acho que você deveria ler, se deseja encontrar um lugar especial.

Afastou-se em seguida e desapareceu no interior da livraria...

Yago não deu muita importância ao jeito da moça, acostumado em suas andanças a encontrar todo tipo de gente. Além do mais, já estava entretido com a obra. Era um caderno... Nunca teve um desse nas mãos, pois ninguém mais se dava ao trabalho de redigir "diários de viagens"... Publicava-se digitações de blogues, posts, e até livros de viagens... Mas um manuscrito? Acabou levando o item consigo... E foi assim que ficou sabendo sobre o arquipélago.

As páginas amareladas do diário descortinaram mapas e desenhos amadores in loco da geografia, flora e fauna das seis ilhotas... E lhe informaram que "o cabo do leque" fora inicialmente denominado de "A ilha das Ferraduras"... Por causa do formato pronunciado em "U" de suas praias e baías.

Quase podia ver, através da sua imaginação, as praias separadas por montes escarpados e afloramentos rochosos... De acordo com o "guia", os penhascos íngremes projetavam-se sobre o vaivém das ondas, que quebravam em praias praticamente intocadas... De areia branquinha... Cujo acesso se fazia por meio de trilhas tortuosas.

Será que tal beleza permanecia intocada, em pleno século 21? O rapaz tinha lá as suas dúvidas...

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Ao desembarcar na ilha, junto aos poucos passageiros, Yago teve um choque de realidade. No centro, aninhava-se um vilarejo de casinhas pitorescas, com telhados cobertos de vegetação, em comunhão com flores transbordantes de balcões e sacadas.

Os telhados de grama das casas mesclavam-se aos de barro vermelho de outras construções, muito próximas... Se tivesse um drone para fazer o sobrevoo, Yago teve certeza de que obteria a imagem de um xadrez ecológico. As fileiras de tetos recobertos por gramíneas - herança dos antigos escandinavos - proporcionavam uma integração à natureza e regulavam a temperatura ambiente, no interior das construções. Além de criar um curioso efeito de contraste com as telhas de barro vermelho que cobriam as casas vizinhas.

A maioria das residências era cercada por pequenos e acolhedores jardins. Alguns mais elaborados que outros, com flores coloridas e plantas viçosas de diferentes formatos, tamanhos e origens. Isso indicava que os moradores não viviam em total isolamento, já que importavam plantas. Bem... As antenas de TV também diziam que o isolamento era ilusório.

Mas o que esperava? Uma tribo nos confins de uma reserva florestal, direto das páginas de Henry Rider Haggard¹?

A grama ao redor cheirava tão bem... Yago parou na primeira elevação para inspirar profundamente. Inebriou-se com a mistura de maresia e mato. Contemplou o mar faiscante e depois, voltou-se para olhar as casinhas com gramíneas, ao pé do pequeno promontório.

Teriam os vikings aportado na ilha das Guirlandas, antes de Colombo chegar às Américas? Imaginem só o choque ou o descrédito dos historiadores tradicionais.

Impossível.

Será?

Os moradores mais antigos do vilarejo certamente detinham informações à respeito. Deveriam conhecer as tradições orais. De certo, os navegadores nórdicos tiveram o curso do navio desviado. Acabaram naufragando naquele lugar. Gostaram tanto que alguns ficaram, enquanto outros continuaram suas aventuras comerciais pelo globo.

A imaginação de Yago voou longe... A única referência no diário de viagens era sobre a lenda de um naufrágio e a aparência nórdica dos locais. Também abordava a chegada dos portugueses - no caso, os açorianos. Mais tarde, os escravos fugitivos, e os alforriados também...

Houve uma inevitável miscigenação.

Yago foi arrancado da leitura pelos gritos das gaivotas sobrevoando o pequeno cais, lá embaixo... Estavam atrás das sobras dos lanches ou de algum carregamento interessante. Ele suspirou, voltando os olhos para o entorno.

-Cara... se este diário contém alguma verdade, estamos falando de centenas de anos antes do descobrimento - comentou consigo.

Foi fisgado pela curiosidade. Principalmente quando o autor, um ilustre desconhecido, mencionou que a lenda dos vikings não é o aspecto mais extraordinário da ilha. Infelizmente, não entrou em maiores detalhes...

Bem, Yago estava disposto a conhecer... E desfrutar.

Quanto à história e à geografia oficiais, que sequer mencionam o arquipélago e suas origens... Hmm...

Ele encolheu os ombros, cogitando se os historiadores de vez em quando não descartavam informações anteriores às "datas corretas". Os fenícios, os egípcios, os romanos, os chineses, e os vikings podem muito bem terem ido além do que se supõe. Por que os vikings não teriam residido naquele minúsculo território? Não fizeram isso na América do Norte?

Bem, Yago se orgulhava de ter a mente aberta.

De acordo com o seu exótico guia, os navegadores portugueses que por lá circularam, descreveram os habitantes da ilha como estranhos índios louros de olhos azuis. Ao longo dos anos, eles foram desaparecendo, absorvidos pela miscigenação étnica e cultural... A história notável de seus antepassados decerto esquecida, no grande esquema das coisas. Mas não completamente.

-United Colors of Beneton - murmurou, fechando o guia. Guardou-o no bolso da bermuda e passou as alças da mochila pesadíssima, pelos ombros. Se desejasse se refrescar, a praia estava ao seu alcance por alguns metros de descida íngreme.

Tentador... Mas por ora, não. Tinha algumas prioridades.

Antes de avançar em sua exploração pela ilha, Yago percebeu a existência de outras construções em estilo português-colonial, agrupadas em diferentes relevos da ilha. Imaginou que teria tempo para explorá-las.

O sol já começava a queimar. Ele conseguia sentir nos braços enquanto seguia rumo ao centro da vila. Um e outro morador cruzou o seu caminho, cumprimentando-o de maneira contida. Mesmo para um forasteiro desavisado, como era o caso de Yago, as origens escandinava, portuguesa e africana saltavam aos olhos numa combinação exótica. Muito diferente da fenotípica da ilha vizinha, Florianópolis, e as demais localidades do litoral catarinense.

-United Colors of Beneton - repetiu baixinho.

A diversidade étnica naquele pingo de terra cercado de água por todos os lados, reforçou a sua ideia de que o Brasil era como um grande cristal de quartzo polido. Dependendo da face em que incide a luz, a superfície revela diferentes tonalidades, facetas e nuances que não são imediatamente reconhecidos, ou percebidos por quem vê de longe. Assim é a sociedade brasileira, com seus grupos, costumes, ideias, posturas e valores. De longe, o país parece uma coisa. De perto, e dependendo do ângulo em que a luz bate, o país é outra... Não é possível "classificar" características brasileiras ou generalizá-las para todo o território.

Os telhados da vila não são feitos de quartzo, mas também reluzem, conforme a luz do sol incide sobre eles. Pura magia. Foram as telhas brilhantes, combinadas aos telhados com gramíneas... Sim, o xadrez ecológico... O que mais chamou a atenção de Yago... E o arrancou de sua perene desolação.

A ilha revelou-se um bombardeio sensorial. Chocou o organismo e a mente do andarilho emocionalmente cansado; forçou-o a sair da concha da indiferença. E ele se apaixonou pelo lugar.

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Yago esteve viajando por tanto tempo, sem destino certo, sem encontrar o que procurava... Sem se encontrar...

Evitou a família e os amigos. De vez em quando, enviava-lhes um cartão-postal. Só para dizer que ainda estava vivo. O gesto era mais para o bem deles, do que do seu.

Sua solidão era autoimposta.

Uma penitência.

Esteve sempre em movimento, cuidando para não ficar tempo bastante para estabelecer laços em qualquer lugar... A ferida aberta na alma tirava-lhe o sossego nos momentos mais dolorosos, especialmente, à noite, quando perdia o sono. A próxima onda impedia que a dor piorasse...

Yago percorreu todo o litoral brasileiro e estrangeiro, em busca das ondas... Mas evitou os points da moda para não ser reconhecido. Não queria plateia - jornalistas, "caçadores de prancha", curiosos, brothers... Estes, principalmente. Seguiu na contramão do calendário do surf - uma vez que isso era parte do problema.

O celular tocou pela quarta ou quinta vez, desde a travessia marítima. Tocava muitas vezes.. Ele quase nunca olhava. Ficou tentado a jogar o aparelho longe... Para que o mar o engolisse. Só não o fez porque respeitava o mar. Não iria contribuir para polui-lo mais do que já poluíam. Ao invés disso, deixou-o no silencioso como vinha fazendo à maior parte do tempo. Não ignorava o celular por rebeldia contra a tecnologia escravocrata... Era mais uma questão decisória.

Ele respirou fundo, sentindo-se bem pela primeira vez em séculos. Virou-se e retornou para a base do penhasco, a fim de refazer o caminho que o conduziu ao centro do vilarejo.
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Rodapé:

1 - Henry Rider Haggard é um autor da Era Vitoriana que escreveu, em 1885, As Minas do Rei Salomão. E escreveu muito antes dos bisavôs de George Lucas pensarem em constituir família... Muito antes deste criar Indiana Jones, para o cinema. (N. de A.)

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