IV. O Guardião do Templo do Sol.
Fazia dois meses que a aventura de Draken e Aelyn tinha iniciado. Apesar de terem um mapa para o templo do sol em Valysha, os dois ainda estavam perdidos. Enquanto caminhavam no que parecia ser um grande círculo, Draken aproveitava essas brechas para aprender um pouco mais sobre lendas, criaturas místicas e claro, sobre os Deuses, já que ergueria a Espada do Sol da Deusa Ayhan e não tinha ideia se algo aconteceria a ele, se ganharia poderes e se tornaria inigualavelmente forte. Ele gostava de ler. Acabava fascinado nas novas descobertas e quanto mais lia, mais parecia que não sabia nada.
— Aqui diz que os minotauros possuem fraqueza nas pernas.
— Ele não é um minotauro, é um metamorfo classe quatro. — Aelyn respondeu-o. — Você tem que pensar nele e matá-lo pelo que é!
— Mas ignorarei que tem cascos e chifres enormes?
— Nem encontramos o templo do sol ainda! Odeio admitir, mas talvez esse mapa seja falso.
— É, a julgar pelo fato de que estamos andando em círculos há dois dias, talvez realmente seja. — reclamou sentando-se em uma pedra. — Não se certificou de que era verdadeiro antes de nos enfurnar na floresta?
— Se alguém encontrou o templo, nunca voltou para contar a história.
— É? Que inspirador. — bebeu água e encarou o livro que lia, lembrando-se de uma coisa. — Já ouviu a história de que Ayhan foi criada para transmitir a luz de Guerenon?
— Já, a Deusa do Sol, não é? Por quê?
— Me dê sua espada.
Draken puxou Estrela Brilhante e subiu em uma árvore. Depois que encontrou o sol, levantou a espada deixando que fosse iluminada por ele. Ergueu o mais alto que podia e uma pequena fresta brilhante no cabo da lâmina, iluminou-se fazendo a espada mostrar um caminho.
— Temos que ir para leste. — pulou no chão, caindo em pé na frente da moça e a encarou.
— Como... — Aelyn lhe olhava impressionada. — Você só leu alguns livros.
— Gosto dos detalhes. — sorriu devolvendo a espada a ela. — Vamos, deve dar umas duas horas de caminhada. — pegou suas coisas, as dela e voltaram a andar.
Aelyn havia criado tremenda feição por seu companheiro de aventuras. Nunca tinha passado tanto tempo ao lado de um rapaz tão bonito e gentil. Na maioria das vezes os homens não lhe levavam a sério por ser uma garota e ser tão nova, mas Draken era diferente. Ele lhe via como ela realmente queria ser vista, uma ótima caçadora e claro que ela acabou desenvolvendo sentimentos por ele, uma espécie de amor platônico que provavelmente não seria correspondido, já que o ferreiro de Belioz tinha dado a entender algumas vezes que não a via do mesmo jeito e a diferença de idade não colaborava muito.
— Se lembra do que disse, sobre o metamorfo? — Aelyn puxou assunto.
— Tentar matá-lo antes que se transforme, mas e se já estiver transformado?
— Teremos que contar com a sorte, não é?
Depois de duas horas ou mais chegaram em um local coberto por uma parede espessa de videiras. Lá estava o templo, quase no meio da floresta, cujo esplendor ocultou-se por trepadeiras e cipós. Além disso, uma grama verde invadia as frestas entre os tijolos do chão, feitos de ouro maciço, e ajudava tudo a se esconder muito bem. As portas estavam escancaradas, inclusive uma delas parecia quebrada ao meio e metade dela dobrava-se encostando no chão. A outra entreaberta, não tinha danos, mas ambas davam a entender que foram arrombadas há anos por alguma coisa terrivelmente grande.
Havia um cheiro de animal sujo pairando no ar, às vezes mascarado por odor de sangue cozinhando e o barulho de algo que borbulhava, como uma panela no fogo. Tomaram coragem então, já sabiam o que supostamente esperar daquele lugar e não tinham mais motivos para evitá-lo.
— Parece que alguma coisa morreu aqui. — Aelyn resmungou tapando o nariz. — Vem, vamos entrar. — puxou Draken pelo braço e os dois adentraram no templo.
A princípio tudo pareceu vazio. Estava escuro e só conseguiram ver poucos dedos à frente de seus narizes. O som mais alto que ecoava eram seus passos no corredor de ouro coberto por mato. A Deusa Ayhan estava entalhada em várias estátuas de pelo menos três metros cada, elas contavam a história da Deusa e de quando sua espada foi forjada por Azora com ajuda da luz do sol. A espada foi criada depois que a primeira arma de Ayhan, a lança Rubi de Sangue, partiu-se ao meio e a ponta desapareceu em Velkhan.
A Espada do Sol era uma arma enorme, com corte do começo ao final de sua lâmina. Na base ela era mais larga e entalhado próximo ao cabo havia uma grande estrela dourada com uma esfera alaranjada no centro, que parecia ser a fonte de todo o poder dela. Além disso, foi completamente banhada a ouro e possui um dos cortes mais afiados de Velkhan, sendo possível partir o inimigo ao meio com um único golpe, já que levantá-la demandava de força descomunal.
Assim como a espada Estrela Brilhante, do Deus Guerenon, a do sol estava protegida por um encantamento que só a liberaria na presença de um verdadeiro descendente de Ayhan. A lâmina de Guerenon era guardada em uma caixa encantada, mas a espada de Ayhan foi presa a uma pedra no topo de um altar no templo do sol e não demorou para que fosse avistada pelos dois caçadores. Aelyn, mais que depressa correu ao encontro desta, subiu os degraus e depois de cuspir nas duas mãos, pensando que ajudaria, ela tentou puxar a espada e tirá-la da pedra, mas assim que a tocou, o templo todo começou a se iluminar pelo reflexo do sol reluzindo no ouro, preso as paredes como se magia fluísse ali novamente.
— Acho que não devia ter feito isso. — Draken puxou a espada que tinha nas costas e começou a procurar por seu inimigo potencial, o metamorfo classe quatro. Um urro forte parecido com o de um touro bravo ecoou no ambiente inteiro e olhos vermelhos quase na altura das estátuas se acenderam atrás do altar feito para a espada. Então, aquele que parecia ter mais de três metros era o monstro da qual todos falavam, o minotauro guardião do templo.
— Essa coisa é enorme! — Aelyn saltou as escadarias pegando sua espada nas mãos. — Draken, vou distraí-lo, você pega a espada.
— Claro! Isso dará muito certo. — reclamou vendo a menina sendo seguida pelo monstro.
Por um momento pareceu que o metamorfo só seguia aquele que havia profanado a espada, lhe tocando, isso significava que Draken tinha um tempo para raciocinar antes de fazer qualquer outro movimento. Ele achou que os livros lhe ajudariam novamente, sem que ninguém precisasse morrer ou que precisassem matar o guardião, que estava ali apenas porque foi designado a proteger tudo.
— Ei, ei! — Aelyn correu na direção dele e os dois viram o minotauro se aproximar. — Por que está parado aí e não foi pegar?
— Não percebe que a espada está presa na pedra? Quer que ele fique correndo atrás de nós dois?
— Droga, Draken! — tentou golpear o animal, mas falhou deixando a espada cair longe. O minotauro continuava a seguir na direção da garota que mesmo tentando correr, não tinha mais para onde ir, ele a mataria, devia aceitar seu fim dignamente. Porém, antes que pudesse ser atingida por um dos chifres, sentiu Draken lhe empurrar recebendo por ela o golpe que perfurou seu peito. O animal o arremessou longe, sem se importar se estava vivo ou morto, já que o buraco enorme dava a ele pouca chance de sobreviver. — Draken! Consegue me ouvir? — gritou-o, mas não obteve resposta.
A verdade é que se ele fosse um homem comum aquilo acabaria ali. Apesar de desacordado, o rapaz ainda estava vivo e logo iria descobrir o quão forte poderia ser para lutar por quem lhe importava. Com o homem desacordado, Aelyn estava sozinha. Mesmo que a espada Estrela Brilhante fosse rápida, a garota começou a acreditar na ideia de que seu infeliz acidente de parti-la ao meio lhe fez perder a magia e agora era apenas uma espada comum. Ninguém a defenderia desta vez de sua sentença de morte, afinal, não poderia contra atacar aquela coisa de três metros ou mais, apenas com uma lâmina normal e isso decretava seu fim.
Foi quando os dois ouviram, o minotauro e Aelyn. Draken estava no altar e ao tocar a espada, imediatamente foi tomado por intenso brilho, dourado como um raio de sol e cada entranha de seu corpo sentiu o poder de Ayhan que lhe invadia e era emanado da espada.
— Nunca vi isso acontecer. — a moça comentou percebendo que até mesmo o minotauro tinha parado de atacar.
Apesar de ter se levantado, caminhado e tocado a espada. Apesar do brilho intenso e a suposição de que poderia removê-la da pedra, o rapaz ainda estava ferido e logo caiu no chão desacordado. Os segundos de luz deixaram de significar alguma coisa para o animal que defendia o templo e voltou-se para Aelyn, a franzina garota, disposto a matá-la e terminar seu serviço. Antes que pudesse furá-la com um dos chifres como fez ao rapaz, algo atravessou entre eles rapidamente, cortando ao meio os dois pares de chifres, derrubando o minotauro no chão, atordoado e derrotado.
— Draken? Você tirou a espada da pedra! — a garota olhou-o, estava fraco, sangrando por uma ferida extremamente profunda, mas em pé empunhando a Espada do Sol.
— Não podia deixá-lo te matar. — respondeu sorrindo antes de cair de joelhos. Imediatamente Aelyn correu até ele e tentou segurá-lo, mas o mesmo despencou por inteiro no chão, ainda mais fraco que antes.
— Aquele que conseguir remover a espada da pedra será digno de seu poder. — Aelyn ouviu alguém dizer e olhou, era um menino, até mais novo que ela, em pé atrás dos dois.
— Você é o metamorfo místico? Uma criança! — perguntou perplexa.
— Tenho mais idade do que aparento, jovem caçadora. Estou aqui desde que nasci e meus pais antes de mim. Fomos designados a proteger a Espada do Sol de malfeitores, mas esse homem. — apontou Draken. — Ele a tirou da pedra, o que prova que merece o poder.
— É, mas por sua causa ele morrerá.
— Talvez não. — saiu para fora e emitiu alguns sons, parecidos com o de pássaros. Logo uma figura feminina saiu da floresta. Uma mulher cujo corpo estava praticamente inteiro coberto por desenhos tribais e suas roupas curtas eram tão finas que sequer escondiam sua nudez. — Essa é Vivian, uma das poucas selvagens de Valysha, acho que pode ajudá-lo.
A selvagem ajoelhou-se ao lado de Draken e rasgou suas vestimentas para ver a extensão do ferimento no peito dele. Era grande, circular e parecia muito profundo, o bastante para conseguirem saber que se fosse um qualquer não sobreviveria. Mesmo que tenha perfurado parte do tórax, o coração permanecia intacto. Vivian, não falava a língua dos homens, mas depois de constatar por si que algo poderia ser feito, ela acenou com a cabeça e saiu para a floresta.
— Ela não vai nos ajudar? — Aelyn perguntou preocupada com o rapaz desmaiado.
— Não se preocupe, Vivian foi buscar alguma coisa, sabe exatamente o que está fazendo.
— Só não nos matou porque ele pegou a porcaria da espada. — olhou o metamorfo. — Por que não nos deixou tentar primeiro antes de furá-lo ao meio?
— Não é tão simples assim, fui designado para protegê-la e não mostrou-se digna. — respondeu-a. — Meu nome é Jared.
— Aelyn e esse semimorto é o Draken.
— Vieram de longe?
— Sou de Dungen e ele de Belioz.
— E porque vieram atrás da Espada do Sol?
— Pelas lendas que ouvi de que itens de Deuses brilham na presença das fadas.
— Ah, já ouvi a respeito, mas nunca vi acontecer. Desejam encontrar fadas?
— É uma das nossas missões.
— Não seria mais fácil usar o Cajado de Nivlek, aquele do Deus da Escuridão?
— Por quê?
— Não sabe como o cajado foi feito? Dizem que Crowe o fez. Ouvi que ele o forjou com a própria carne e ossos e para lhe dar poder, o cristal no topo dele foi feito com pó de fada, isso faz com que possa... — Aelyn interrompeu o garoto.
— Ele pode encontrar fadas, se existirem. — olhou-o. — Assim é mais fácil do que rodar pelas cinco cidades procurando algo que está oculto dos homens.
Vivian voltou correndo com um cesto cheio de coisas e depois de amassar algumas plantas em uma pedra, ela as colocou no ferimento de Draken enrolando tudo com alguns tecidos. Vivian não falava nada, mas parecia saber o que fazia, por isso Aelyn decidiu não questioná-la.
— É verdade que selvagens não falam o idioma dos homens? — Aelyn perguntou ao metamorfo, Jared.
— Ela não. Vivian nunca foi escravizada ou forçada a aprender, sempre viveu livre na floresta.
— Sozinha?
— Infelizmente. Não sei muito sobre sua história, mas pelo que entendi, está à espera do irmão. Ela me ajuda a cuidar do templo desde que apareceu por aqui.
— Nunca tentou roubar a espada?
— Selvagens foram algumas das criações de Ayhan. Eles a veneram e mesmo depois da guerra continuam adorando-a, por isso foram contra os humanos e em sua maioria os que não tornaram-se escravos foram mortos. Vivian tem uma fé muito grande na Deusa do Sol, por isso nunca tentou profanar a espada dela na pedra, esperando por um dono.
— Vocês ficaram aqui, ajudando um ao outro a exterminar os não merecedores da espada?
— Protegemos o que seria de direito de quem a espada escolhesse. Draken foi escolhido, ele a mereceu.
— Mas isso só seria possível se ele fosse descendente de Ayhan.
— É provável, mas ele não me parece um Deus. — deu ombros.
— Escute, sabe onde está o Cajado de Nivlek?
— Da última vez que soube, no castelo de Elirach em posse dos sacerdotes. Se não foi dado a nenhuma sacerdotisa, é claro. Elas não ficam lá para sempre, depois que terminam o treinamento, seguem seus rumos.
— E se foi dado a uma delas?
— Talvez consigam encontrá-la ou terão de procurá-la por Velkhan. Mas seja qual for seu assunto com as fadas, se realmente quer encontrar o que busca, não irá desistir.
— Já viu isso? — puxou o mapa da bolsa e mostrou ao garoto. — Dizem que é o antigo território das fadas.
— Já vimos esse lugar aqui. Não é Vivian? — apontou a selvagem e ela aproximou-se mexendo com o papel, fez depois alguns gestos a Jared e ele traduziu.
— Ela disse que essas terras foram destruídas por Crowe na guerra, quando profanou a fonte de pó das fadas ele destruiu tudo. O que sobrou do lugar é um deserto árido e extenso sem vida alguma. As fadas provavelmente não moram mais lá, para encontrá-las precisará do cajado.
— Se não tiverem sido todas mortas por Crowe. — lamentou-se.
— Magia mística nunca acaba, afinal, olhe para nós, para essas espadas. — apontou a longa espada dourada. — Aquele poder que emana de coisas e seres como eu, tem que vir de algum lugar, não é?
— Os Deuses se foram, o que resta de magia vem de suas criações. O que fará agora que não tem mais nada para guardar?
— Ajudar Vivian a encontrar sua família e depois voltarei para meu povo nas cavernas de Dungen.
— Ele ficará bem? Pode perguntar a ela?
Jared apontou Draken e seu ferimento fechado por um curativo rústico. Depois olhou Vivian e ela acenou positivamente indicando que o rapaz sobreviveria e ficaria bem. Vivian podia não dizer nada, mas sabia que Draken era diferente da maioria dos humanos, ele não era um ser sem poder algum, caso contrário não poderia ter tirado a espada da pedra e se fosse o que a selvagem acreditava ser, estava diante do filho de Ayhan, o semideus do sol.
— Ele irá sobreviver. — levantou-se. — Fiquem aqui, vou procurar alguma coisa para que comam.
Jared saiu deixando os três ali sozinhos, dentro do templo. Já quase anoitecia. O sol que antes dava luz as paredes do templo aos poucos diminuía e a jovem caçadora que viveu uma grande experiência traumática com um metamorfo e seu amigo meio morto, estava agora sendo tomada por exaustão, pois sua adrenalina aos poucos esvaía.
Draken ainda permanecia desacordado, mas não completamente inconsciente. Em sua mente tudo funcionava, no que se assemelhava a um sonho real e bastante vívido em que ele caminhava procurando alguém.
— Tem alguém aí? — gritou para o imenso escuro e o lugar se acendeu. No topo da escada do templo do sol, havia um trono no lugar onde devia estar a espada e nele uma figura feminina com uma coroa e vestes douradas. Era belíssima e muito parecida com o rapaz, com olhos esverdeados e cabelos loiros. No meio da testa da mulher, havia um sol desenhado, marcado e brilhante, era como os humanos o desenhavam apesar de se parecer visualmente com uma bola de fogo, eles sempre insistiam em dar-lhe raios compridos e brilhantes.
— Vejo que finalmente a encontrou.
— Quem é você? — perguntou a mulher sentada no trono que o observava se aproximar lentamente.
— Não sabe mesmo quem sou, meu caro? Deixe que me apresente então. Sou Ayhan, a Deusa do Sol e você é Draken, o homem que conseguiu tirar a espada da pedra.
— Estou morto? É por isso que está aqui, quer me levar ao submundo ou ao paraíso? — olhou os lados esperando encontrar Jirak, para encaminhar sua alma.
— Morto? — riu como se fosse brincadeira. — Não, apenas dormindo profundamente. Ainda não chegou sua hora querido, há uma longa jornada pela frente e você precisa cumpri-la.
— Por que estou aqui? O que quer de mim?
— Por que o poder que corre sobre suas veias, o poder da ordem, é meu. Precisa aprender sobre ele e estarei aqui, em seus sonhos para lhe ensinar. Serei sua confidente, conselheira e protetora. Enquanto estiver sobre meus cuidados, nenhum ser comum poderá lhe matar.
— Por que eu? Sou o simples filho de ferreiro, só peguei a espada para salvar Aelyn, não sabia que ela me escolheria.
— Sua história não se resume apenas a isso, agora você é um guerreiro, um dos poucos que possuem a arma de um Deus e pode fazer uso dela. Não abuse do poder, faça bom uso dele.
— Está bem, vossa supremacia ou sei lá como devo chamá-la. — curvou-se.
— Não há necessidade disso, um dia saberá de tudo e irá entender. Espero que nos vejamos de novo e continue sendo corajoso e leal, como parece. Agora, deve acordar antes que achem que morreu, adeus, meu menino. — estalou os dedos.
— Odeio quando... — Draken abriu os olhos. — Oh! Eu não morri? — sentou-se encarando o templo escuro.
— Draken? — Aelyn levantou a cabeça limpando os olhos, depois de acordar. — Você está bem?
— Estou, acho que sim. — puxou o curativo feito por Vivian. — Olha, está curado, fechou.
— Nossa, ela é uma boa curandeira.
Vivian andou até ele e o encarou bem de perto, segurando suas bochechas e virando sua cabeça da direita para a esquerda como se procurasse alguma coisa.
— O que essa mulher está fazendo? — Aelyn questionou incomodada com a intimidade que a selvagem achava ter com o rapaz.
— Como vou saber, acabei de conhecê-la. — disse falhando pela pressão em suas bochechas. Seus lábios estavam tão juntos que pareciam a boca de um peixinho dourado. No instante seguinte, a mulher puxou-o para ela e lhe beijou espantando não só Draken, mas Aelyn, que ficou completamente perplexa e com um ciúme indisfarçável.
— Ei, ei! — Draken afastou-a delicadamente. — Agradeço pela ajuda, mas não é assim que funciona. — tocou os lábios, agora úmidos e estranhou a sensação que sentia. Nunca tinha beijado uma mulher para saber o que estava certo ou errado naquilo que fizeram.
— Ela não compreende nossa língua, não adianta. — Aelyn respondeu grossa. — Mas acho que esse tipo de linguagem, uma dança de línguas, ela compreende. — arqueou as sobrancelhas e virou a cabeça para a mulher ajoelhada. — Completa pervertida.
Vivian continuava a encará-lo. Tocou seus cabelos, lhe fez carinho no rosto desenhando sua face com os dedos, parecia apaixonada e isso não seria possível, já que ambos eram muito diferentes e ele tinha uma missão a cumprir que ainda não incluía apaixonar-se por uma dama ou uma selvagem bastante atraente.
— Aelyn, ela está me olhando estranho. — Draken cochichou pelo canto da boca. — Será que vai me comer, não tinha selvagens canibais há uns anos?
— Ela não é canibal. — Jared chegou com frutas. — Só está achando que você é uma espécie de divindade, por isso se apaixonou.
— Que? Eu sou apenas um ferreiro de Belioz e ela acabou de me conhecer, não pode ter se apaixonado, isso é improvável.
— Ela sabe pelo menos o que é se apaixonar? — Aelyn continuou a reclamação do parceiro. — Amor não é dar um beijo e achar que sente alguma coisa, é mais que isso.
— Acalmem-se. — Jared começou a rir. — Devem ir embora ao amanhecer e tudo ficará bem, desde que ela não comece um ritual para casarem, ficará a salvo.
— É isso, ela beija um homem depois o faz seu marido ou coisa do tipo? — Aelyn perguntou.
— Algo parecido. — Jared concordou. — Só que ela é exigente, precisa ser alguém como ele. Formar uma família com o homem que levantou a espada de Ayhan não é para qualquer um.
— De repente Draken virou noivo? — Aelyn resmungou.
— Ah, saí de Belioz para me tornar caçador de recompensas, casar ainda não está nos planos.
— Não se preocupe, ela não irá segui-los por aí tentando te obrigar a casar com ela.
— Como parece ter tanta experiência se é só uma criança? — Draken questionou o menino. — Metamorfos envelhecem menos ou coisa parecida?
— Sei um pouco das coisas e sei sobre ela porque sempre estivemos juntos depois que meus pais morreram. Na época eu tinha uns cinco anos. Ela me ensinou o que sei para sobreviver e devo minha vida a ela.
— Seus pais eram metamorfos místicos? Eles foram mortos na guerra dos 900 dias, pela rainha, porque ela queria exterminar toda e qualquer coisa que se voltasse contra os humanos?
— É. Meus pais lutaram bravamente para proteger esse lugar, mas não conseguiram. A rainha deixou tudo quando os matou, sequer ligou para a espada e nem tinha ideia de que eu estava aqui. Depois, a vegetação tomou conta do templo e ele desapareceu na floresta, sendo achado por uns poucos aventureiros que tentaram, mas por falharem foram mortos. Sinto falta dos meus pais, desejaria que a rainha pagasse, todos nós fomos criações dos Deuses, deixar de acreditar neles é um pecado que nós metamorfos, não cometemos.
— Preciso dar uma volta, vocês deviam voltar a dormir. — Draken levantou-se incomodado e com um pouco de dificuldade saiu andando. — Amanhã temos que sair cedo, descanse.
— Você também devia. — Aelyn insistiu.
— Só preciso de ar fresco, volto daqui a pouco.
Draken caminhou para fora, sentou-se em uma grande pedra e passou a olhar o céu tranquilamente. A noite estava bela, ventava um pouco frio, mas algo agradável a quem passou boa parte da vida perto de fornalhas. Ainda se perguntava como um ferimento daquela magnitude tinha fechado tão rápido, mas não havia uma explicação que fizesse sentido a ele, a não ser que a espada tivesse algo a ver com isso ou que ele fosse alguma espécie de divindade, como Vivian acreditava. Ouviu alguém aproximar-se e voltou seu olhar a ela. Era a selvagem loira de belos olhos azuis, cabelos longos e tatuagens que lhe cobriam por inteira. Envergonhado ainda por seu primeiro beijo, baixou a cabeça esquivando-se do olhar dela e depois sorriu.
Vivian tentou beijá-lo uma outra vez, imediatamente o rapaz jogou seu corpo para trás, enfiando-se no meio do mato e com uma cambalhota levantou olhando para a moça. Julgou aquilo tremendamente bobo e humilhante, por isso agradeceu mentalmente por estarem a sós.
— Você é muito bonita, mas não posso fazer isso. Me entende? — ela ainda insistia, instigada por um desejo inexplicável que brotava de seus olhos, enquanto dava passos até ele e o rapaz dava passos para trás. — Como uma garota que não me conhece tem todo esse desejo por mim? Está louca? — ele começou a rir e sentou-se tentando entender toda a situação, já ela, ajoelhou-se na frente dele e ficou lhe encarando. — Olha. — se aproximou um pouco e segurou seus ombros, torcendo para que ela entendesse. — Não podemos ficar juntos, está bem? Separados... — separou dois dedos para ver se ela entendia.
Vivian levantou a cabeça e encarou os olhos do rapaz. Depois baixou o olhar para os dedos e repetiu o gesto. Draken respirou aliviado achando que a garota tinha entendido, então permitiu-se voltar a aproveitar a vista da bela noite e o céu inundado por estrelas brilhantes. Distraiu-se novamente, se deixando levar pela brisa e a suavidade da noite no meio da floresta, foi quando ouviu um barulho, ao virar-se se deparou com a mulher que aparentemente não tinha desistido. Ela agora estava nua em sua frente.
— Definitivamente vou para o submundo. — continuou olhando-a em pé, enquanto ela parecia esperar que ele fizesse algo. Draken se levantou e andou até as roupas dela recolhendo-as do chão, tentou cobri-la como um bom cavalheiro, mas a garota insistia naquilo que tinha posto na mente, ia desvirtuá-lo. — Você está nua... — virou-se de costas indignado e tentou recobrar o pouco de respeito que lhe restava. — Minha camisa está toda rasgada, pelos Deuses, vou acabar no submundo, o que pensarão disso!
Estava confuso, tinha sensações estranhas correndo seu corpo, mas não era hora de questionar sua sexualidade, mesmo que ela parecesse muito mais aflorada que antes. Respirou fundo e adentrou o templo deitando-se no chão de barriga para cima, olhava o teto sem conseguir parar de pensar no que havia acontecido a pouco. Pensou se devia mencionar isso a alguém, se devia pedir perdão para a Deusa do Sol por profanar o templo, se Vivian sabia que aquela era a primeira vez dele. Perguntava-se se foi bem, se tinha a satisfeito como pareceu ou ela apenas fingiu tudo e desistiu no caminho, já que o abandonou ali, insatisfeito, com o órgão descoberto e duro.
Ele pensou que um dia acabaria tendo esse tipo de experiência, se casasse e não antes disso. Não achava ser o tipo que se deitaria com várias mulheres, mas aparentemente finalmente percebeu que era um homem atraente e significava que mesmo sem apaixonar-se poderia relacionar-se com belas moças. Apesar de querer saber o que era amor, como era sentir alguém preenchendo seus pensamentos e tornando-se o centro de sua vida. Draken estava confuso. Não sabia se tinha sentimentos por Vivian ou aquilo que fazia seu coração bater fortemente era puro prazer. Na verdade, complicou-se, porque quando o dia amanhecesse, sendo prazer ou amor ele partiria seguindo em sua jornada.
E assim o fez. Quando o sol raiou novamente, iluminando o templo do sol, Aelyn e Draken despediram-se de Jared e seguiram caminho. Aelyn contou ao rapaz loiro sobre o Cajado de Nivlek e que essa era a próxima missão dos dois. Ele já carregava consigo a Espada do Sol e apesar de enorme e aparentemente pesada, para ele não parecia. Tudo a partir de agora mudaria e destinos se entrelaçariam como linhas de uma grande jornada.
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