C a p í t u l o 7
A vista da varanda do quarto era glamorosa. O sol se pondo deixava o céu com a coloração laranjada, como a arte impecável de um artista que coloca todas as suas emoções sob uma tela, sem pressa e com muita perfeição.
Passei o dia inteiro trancafiada dentro do quarto, sem ânimo para sair, felizmente ninguém pareceu se importar com isso. Scarlet me fez companhia durante todo esse tempo, ela era uma boa pessoa, simpática e até falante ao extremo, porém uma excelente companhia.
Apenas com um pijama resolvi que era hora de conversar com meus amigos. Apontei a câmera frontal do celular para mim forçando um sorriso.
—Olha a princesa ai! — disse o eufórico Alan surgindo na tela do meu celular. Ampliei o sorriso quando Hope o empurrou também querendo ser vista.
— Oi! Estou tão feliz em ver vocês. — suspirei tentando soar normal.
— E como são as coisas por ai? — perguntou Alan entusiasmado. As coisas eram péssimas, o clima na realidade, as coisas eram extravagantes e chiques, não reclamando, porém achando um grande exagero. — Você saiu no Jornal aqui de Nova Iorque, eles só não têm uma foto, mas anunciaram que a herdeira perdida de Áster viveu por dezoito anos aqui.
—Ah, Áster é um lindo país. — digo pensando nas belas ruas pelas quais passamos vindo para o palácio, isso foi a única coisa que literalmente conheci aqui. Meus amigos tinham tanta coisa para contar e eu preferi ouvir, naquele momento queria sair um pouquinho da minha realidade, ir para o mais longe possível.
A Herdeira de Áster foi encontrada. Qual era o peso dessas palavras? Não tinha consciência do que significava um trono ou uma coroa, mas entendia que era uma responsabilidade gigantesca, afinal era o governo de um país. Bloqueei a tela do celular observando a escuridão que formou-se no céu, eu estava definhando em tantos pensamentos, torturava-me com vários questionamentos, questões das quais eu não poderia responder e nem tinha a quem perguntar.
**********
Ouvi um som de cortina ser arrastado e em seguida feixes de luz iluminam todo o ambiente, meus olhos abrem-se buscando uma razão pela qual estava sendo acordada naquele momento. Rapidamente encontro olhos verdes encarando-me com desaprovação, franzi a testa não entendendo sua atitude, olhei no relógio do meu telefone e percebi serem apenas 01:00a.m ainda. Ele só podia estar ficando louco.
—O que houve?! — pergunto tentando não surtar. O sol nascia em plena madrugada?
—Bom dia, alteza. — desta vez ele usava apenas uma calça jeans preta e uma camiseta social branca sendo coberta por uma jaqueta de couro marrom. Sua voz estava tão grave quanto no dia anterior e sua expressão permanecia indiferente. Ao seu lado direito estava Helena com um belo sorriso, já ao seu esquerdo Scarlet me olhava com certo temor. — Primeira regra do dia: " Qualquer pessoa que morar neste palácio precisará acordar antes das sete da manhã." — declarou Zander com autoridade. Bufei ainda não entendendo o motivo do antes das sete precisar ser às uma da madrugada.
—Mas ainda são 1:00 da madrugada. — protestei mostrando a tela do meu telefone com o horário. Ele olhou e respirou fundo como se buscasse paciência.
— Para alguém com ótimas notas no colégio, você parece ter esquecido que horários mudam quando estamos em outro continente, tem algo relacionado com a rotação da Terra. — questionou com desdém. — Bem, fui orientado pelo rei para cuidar de toda a sua formação como rainha, tudo que precisar saber lhe ensinarei, tudo que a mim foi confiado transmitirei para você. Então alteza, esteja pronta em vinte minutos, e lembre-se de ajustar seu horário com seis horas de diferença. — sua última frase teve uma pontada de deboche. Um deboche que ficava bem nele. Oh, não! Deboche não é nada legal, ainda mais quando foi usado contra você. Zander me encarou por mais alguns segundos até finalmente se retirar do quarto com toda aquela confiança que seus passos davam. Suspirei ainda confusa com toda essa sua frieza e arrogância, principalmente comigo, como se eu representasse uma espécie de ameaça.
Tratei de afastar quaisquer pensamentos que o envolvesse, minha cabeça já estava com problemas suficientes para ter mais um, apesar de ser um belo problema.
Depois de um bom banho tomado para despertar meu corpo ainda sonolento, vesti uma calça jeans cintura alta e um suéter vermelho que dava um bom contraste com meus cabelos castanhos. Gostava de suéteres tanto quanto de calça jeans, eles eram confortáveis e bonitos, duas coisa difíceis de conseguir hoje em dia. Conforto e beleza em um só lugar. Praticidade era meu segundo nome, pois em menos de vinte minutos sai do quarto dando de cara com Zander conversando com um dos seguranças do palácio, ele me olhou e seguiu seu olhar para meus pés. Ridículo! Obvio que estava calçada. O segurança concordou com qualquer coisa que ele tenha falado e saiu.
—Começamos bem, conseguiu cumprir o horário que lhe foi pedido, espero que não tenhamos problemas em relação a isso. — disse olhando seu relógio de pulso e eu sem querer sorri, pois tinha grandes problemas relacionados a cumprir horários, pontualidade não era meu forte. — Algum problema? — perguntou franzindo a testa. Neguei respirando fundo para conseguir controlar-me. —Certo, acompanhe-me, irei apresentar-lhe o castelo.
Segui seus passos pelo imenso corredor reparando o quão alto seu corpo era, literalmente um jovem de lutas, será que ele lutava? Oh, será que aqui existiam arenas de lutas até a morte como em jogos vorazes? Eu não duvidaria, constituições monarcas costumavam ser cruéis na maioria das vezes, pois foram escritas faz décadas. Descemos tantos degraus que minhas pernas doeram quando chegamos ao térreo, ela já parecia acostumado com aquilo.
—Tomaremos café da manhã no jardim hoje. — avisa o príncipe caminhando normalmente por todo aquele salão que precisávamos atravessar para chegar até o jardim, fiquei deslumbrada mais uma vez com tudo aquilo. Mas nada se comparava com o belo jardim que meus olhos contemplaram, aquela beleza que não consegui delimitar, o cheiro de grama molhada parecia coisa de um mundo paralelo. Haviam várias edificações com a arquitetura semelhante a do palácio, porém não quis focar tanto nelas, o bonito aos meus olhos era o caminho de pedrinhas no qual caminhávamos, queria sorrir e tirar os sapatos para ter uma sensação melhor, entretanto contive essa insanidade dentro de mim. Olhei para um dos lados avistando uma estufa, ou o que me parecia ser.
Zander caminhou mais um pouco até parar perto de uma mesa farta debaixo de uma árvore de grande porte com folhas cor de rosa. Ele olhou pra mim que ainda estava parada encarando tudo na minha volta e suspirou, acelerei meus passos sentando rapidamente em uma das duas cadeiras vagas, pelo visto só seriam nós dois.
—Alteza, lembre-se sempre que precisa permitir que o cavalheiro a conduza até o se assento. — falou Zander sutilmente.
—Ah, claro, perdão! Devo ter ferido sua masculinidade. — debochei com desdém me colocando de pé novamente. — Se faz tanta questão de apenas empurrar a cadeira para que eu me sente, não vou questionar.
—Não, não faço nenhuma questão de ser cavalheiro com a senhorita. — rebateu sentando-se na cadeira a minha frente. — Mas creio que quem não tenha tido o privilegio de conviver com essa sua língua sem freio vá querer ser o mais gentil possível. — ele não sorriu e nem eu, apenas nos encaramos com faíscas saindo pelas ventas. Ele era antipático e eu linguaruda.
Sento-me na cadeira enquanto ele coloca o guardanapo sobre seu colo.
— Oh, essa não é a maneira correta de uma princesa sentar. — observa suspirando novamente. — Parece que tem um peso morto sob suas costas. Sente-se de forma reta, não irá querer encarar grandes situações sem postura. — aconselha com seus olhos compenetrados sob mim, busco uma forma mais confortável de manter minha coluna reta, o que era difícil, figurativamente parecia haver um peso morto sobre minhas costas. — Pedi para prepararem um chá de ervas nativas, é saboroso e cultural.
Concordei em experimentar um pouco da cultura de Áster, apesar de nunca ter provado uma gota de chá na vida. Peguei uma xícara colocando-a na sua frente para que ele pudesse me servir já que estava com o bule em mãos. Seu olhar foi de reprovação total.
— Sempre espere ser servida com a xícara sobre o pires e nunca coloque as duas mãos nela, isso a faz parecer uma selvagem. — advertiu com incredulidade e eu apenas revirei os olhos querendo jogar a xícara na sua cabeça, porém entendia que suas observações eram necessárias.
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