C a p í t u l o 6
Entrei no quarto ainda com uma súbita raiva do que havia acontecido, porém não disse nada a ninguém, apenas esperei sentada na cama enquanto Scarlet conversava com Lion, eles pareciam íntimos e falavam de mim, minha orelha esquerda queimava e eu sabia o que aquilo significava, eles não falavam bem. Esperei a ruiva aparecer e ela surgiu de volta ao quarto depois de um tempo.
—Então? Quem era o estressadinho que "ordenou" que eu ficasse encarcerada? — debocho visivelmente irritada com toda aquela situação.
—Bem se a senhorita faz referência ao Príncipe Zander, ele é o príncipe e se chama Zander. —ironizou soltando uma risadinha e cobrindo a boca depois.
Zander esse era o nome do belo/grosseiro homem. O nome era tão peculiar quanto o esverdeado de seus olhos.
— Um bonito nome para alguém tão feio de alma. — reclamo tentando manter minha postura séria, mas falhando miseravelmente. Um riso espontâneo saiu dos meus lábios sendo acompanhado do olhar incrédulo, porém divertido de Scarlet sob mim.
—Senhorita! Normalmente o príncipe Zander é bem simpático, porém reservado na maioria das vezes. —defendeu-o pegando uma toalha de cima do sofá. — Agora a senhorita precisa estar apresentável caso queira encontrar com o rei. — concordei não conseguido tirar os belos olhos da minha mente.
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Scarlet queria me dar banho, onde se viu aquilo, quase morri do coração quando ela comunicou que era comum a realeza não se lavar sozinha. Nem pensar! Se tudo era tão exagerado, aquilo ultrapassava todo nível de extravagancia.
Quando finalmente senti a água se libertar pelo meu corpo, senti-me pequena demais para todo aquele exagero do qual vim me colocar, até o chuveiro era de prata!
Depois de muito tempo pensando nas minhas escolhas, decidi sair do chuveiro para encarar a vida real. Scarlet e Helena encaravam vários vestidos sobre a cama. Certo, eu nunca imaginei ter tantas opções assim.
—Eu não me acho muito legal de vestido. — afirmo enxugando o cabelo com uma das toalhas limpas que havia encontrado no banheiro. Helena me olhou incrédula como se a tivesse ofendido.
—Esses vestidos foram escolhidos a dedo pela rainha. — retrucou a garota que parece não gostar muito da minha presença. Reviro meus olhos colocando as botas cano baixo que havia vindo, na verdade usava a mesma roupa que tinha chegado e dormido, pois não fazia ideia da minha mala.
—Senhorita, as moças de Áster, ainda mais da família real, não costumam usar calças. — disse Scarlet pacientemente. Olhei para elas convicta de que ninguém impediria que eu me apresentasse ao rei com aquelas roupas. Suspirei fundo pensando no que falar, eu não tinha controle sobre minha língua, só que precisava tê-lo o mais rápido possível.
—Moças, apenas me levem ao rei, eu cuido do que vestir. — afirmei entregando a toalha para Helena que pareceu insatisfeita com minha atitude. —Poderia me acompanhar, Scarlet? — a simpática garota concorda e me guia para fora do quarto.
Andava por aqueles corredores imaginando o que aquelas paredes de aparência medieval haviam suportado, Guerras? Possivelmente umas mil diferentes. Será que aguentariam outras mil? Era estranho ao extremo pensar que moraria ali, tudo era tão extravagante que meus olhos doíam apenas em olhar.
Descemos dois andares para chegar a uma área com apenas uma porta, dourada e igual às outras como presumia.
—Bata três vezes na porta e espere ordens para poder entrar. —instruiu Scarlet com seriedade na voz. Concordei respirando fundo, poxa vida só era Aidan, o homem simpático de Nova Iorque.
Fiz como ela pediu e ao ouvi sua palavra passe entrei, não havia seguranças naquela porta como existia em todas as outras. Aidan sorriu quando me viu e eu faria o mesmo se não percebesse Zander ali, com a expressão indiferente, aquela maneira que seus olhos encaravam os meus parecia uma coisa absurda, absurda para mim que era afetada, mas não digo o mesmo do príncipe que olhou-me de cima abaixo certificando-se que eu estava devidamente calçada.
— Querida, esse é o Príncipe Zander Decksheimer. — sorriu ao mencionar o filho de criação com um orgulho estampado em seu rosto.
—Já tive o privilegio de a conhecer, Majestade. —esclareceu o príncipe se colocando de pé pronto para se retirar do tal escritório. Observei o lugar que tinha um grande lustre no teto iluminando todo o ambiente, as cores e os móveis eram rústicos e aparentemente caros, pelo visto ninguém ali tinha um senso de não desperdiçar tanto dinheiro.
—Peço que continue aqui Zander, quero falar com os dois. — a expressão do rei me pareceu séria. Eu não sabia o que fazer para onde corre, não tinha mínima ideia de como lidar com ele sendo o rei e não apenas o Aidan, era a mesma pessoa, só que agiam de maneira diferente. Respirei fundo me sentando na cadeira ao lado de Zander. O rei respirou fundo olhando para mim, como se buscasse forças do além para aquela conversa, queria dizer que não precisávamos conversar nada no momento, até o urgente também poderia esperar mais alguns dias. —Bria, você tem dezoito anos, é a herdeira legitima de Áster, como sabe você é a única filha de sangue que tenho, logo será a próxima na linha de sucessão. A constituição de Áster revela que o próximo na linhagem tome posse do que é seu por direito aos vinte e um anos, ou seja, a coroa do reino terá que ser sua, receberá a coroa, porém o trono só será seu depois da minha morte, todavia precisará agir como rainha perante Áster, seu povo precisa confiar em suas decisões, acreditar que estão em boas mãos. — respirou fundo outra vez. — Como futura rainha devia ter recebido todos os ensinamentos sobre a constituição, leis, regras, na verdade tudo sobre seu reino e como se portar desde muito nova, porém isso não foi possível, então decide encarregar Zander que sabe absolutamente tudo sobre Áster para lhe preparar como a futura herdeira da coroa.
Seu olhar se encheu de expectativa, mas minha única reação foi soltar uma risada escandalosa, aquilo só podia ser uma piada, uma piada de mau gosto, Governar um reino? Aquilo era muito para minha sanidade mental, não tinha talento para nada que não envolvesse uma tela e tintas, nada além disso me atraia.
—Certo, certo. Qual a razão da piada? — pergunto observando os olhares incrédulos dos dois.
—Não foi uma piada. — retrucou o rei tentando entender o motivo da minha crise de risos.
Naquele instante percebi que era sério e minha mente maluca começou a entender a urgência que queria que eu o acompanhasse para cá. O sorriso sumiu do meu rosto fazendo com que compreendesse que eu só era a herdeira perdida que ele procurava, não a filha, mas a próxima na linha de sucessão, o sangue real corria em minhas veias e representava a continuação legitima da família real.
—Não procurava a uma filha e sim a uma herdeira? —questiono me colocando de pé abismada com tudo. Aidan franziu a testa atônito como se minha acusação não fizesse sentido algum, mas para mim fazia todo o sentindo. Encarei tudo a minha volta assustada com toda a hipocrisia, meu coração duvidava, porém minha razão tinha certeza.
—Brianna, passei dezoito anos a sua procura. — defendeu-se também ficando de pé, porém com o tom de voz controlado.
—Isso não significa nada! — o interrompi de maneira rude. — Explique como demorou quase duas décadas para encontrar sua própria filha? Não é o rei? E toda a sua influência? — cada palavra saiu ríspida, mas cortante que qualquer espada. Palavras feriam mais do que uma arma disparada de forma acidental.
—Acha que é simples encontrar uma pessoa em bilhões? Influência não significa nada quando não se sabe absolutamente nada de quem se procura. Qualquer pessoa teria desistido, mas eu não, passei dezoito anos lutando para tirar a ideia de encontrá-la morta, a minha filha. — disse visivelmente afetado. — Zander, leve-a para o quarto.
Encarei Zander que até então não havia dito uma palavra sequer. O príncipe levantou-se organizando o terno bem passado e respirando fundo. Ele apontou para a porta dourada esperando que eu desse o fora dali. Meus olhos se voltaram uma última vez a Majestade e fiz uma referência antes de sair.
—Não precisa me acompanhar se não quiser. — falei tentando controlar minhas emoções que afloraram. Zander olhou para mim com o mesmo olhar sombrio e raivoso de mais cedo.
—Acha que faço isso por você? — os olhos verdes compenetrados estavam mais escuros. — Garota, você falou tanta besteira que acredite se quiser, eu não consegui pensar em nada bom que viesse de você. Não faz ideia dos poços que ele teve que enfrentar para te achar, achar a filha dele, pena que és a representação de uma garota mimada e rebelde. Áster sonhou com o dia do reencontro com a princesa e sinceramente espero que não se decepcionem. — concluiu me dando as costas, sem interesse se eu tinha um argumento. Claramente ele não se interessava pela minha opinião. Respirei fundo tentando absorver e não me afetar por cada palavra sua.
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