Um Amigo
28 de janeiro
Thomas Lincoln
Abri a porta do apartamento de Judith e a vi deitada no sofá só de pijama, sorri quando percebi que ela estava com um balde de pipoca ao lado.
Fechei a porta lentamente e coloquei os chocolates quentes em cima da mesinha de centro, sentei ao lado dela e vi o que estava assistindo.
-Bob esponja?- perguntei.
-Calça quadrada.- ela completou com um sorriso e empurrei o ombro dela.
-Você é mesmo uma criança.- balancei a cabeça.
-Ah, você gosta das minhas brincadeiras.- ela sorriu colocando o balde nos meus braços.
-Está aqui a muito tempo?- perguntei.
Ela balançou os ombros e se esticou para pegar o chocolate quente, coloquei algumas pipocas na boca enquanto ela bebia um pouco.
-Cheguei a algumas horas.- ela murmurou.- O que você estava fazendo?
-Assim que terminou a aula fui até a minha casa pegar algumas coisas.- expliquei.
Morava com outros dois garotos, mais perto daqui, mas também que fosse perto do hospital onde minha mãe estava.
Minha mãe tinha um tumor inoperável, ela estava vivendo no hospital para fazer quimioterapia, tentando achar um jeito de contornar isso.
-Vai mesmo amanhã?- perguntei quando ela voltou a deitar.
-Claro, faz uma semana que não vejo ela.- minha mãe e Judith se davam super bem.- Já falei que...
-Eu vou deixar ela deprimida.- assenti sorrindo.- Você é o raio de luz.
-Isso mesmo.- ela respirou fundo.- Acho que vou pedir uma pizza.
-Tome cuidado.- comecei a me levantar.- Sabe onde as armas estão, não é?
-Sei, mas...- ela sentou e eu olhei por cima do ombro.- Você não vai ficar comigo?
-Marquei com Alice hoje a noite.- expliquei.- Íamos no cinema.
-Ah.- ela voltou a deitar.
-Não faça essa cara.- tirei as mãos do bolso virando para ela.- Arrume um namorado para ficar com você, então, não sou pago para fazer esse papel.
-Ai.- ela tocou o peito.- Essa doeu, Thomas Lincoln.- ela fingiu estar sentindo dor e então voltou ao normal.- E eu tenho um namorado.- ela falou emburrada.
-Eu vi hoje de manhã, você e seus namorados.- peguei uma almofada.- Ainda não acredito...
-Você já viu coisa pior, soldado.- ela brincou.- Sabe, isso é normal, esquentar o relacionamento.- ela balançou os ombros.- Devia tentar.
-Alice não gosta dessas coisas.- expliquei.
-Ah, é por que ela ainda não provou.- Judith sorriu pensando em algo.
-Está nos chamando para um trio?- franzi as sobrancelhas.
-É uma pena, eu não estou mais disponível.- ela piscou.- Mas sei de pessoas que topariam.
-Chega com essa conversa...
-Qual é, soldado.- ela riu.
Meu pai era do exército, eu tive um treinamento de exército mas não pode servir, minha mãe não deixou depois que meu irmão e pai morreram.
-Ah, por falar em sair.- ela levantou.- Eu vou passar o final de semana fora.
-Para onde vamos?- joguei a almofada para ela.
-Você eu não sei.- ela sorriu.- Mas eu vou para...- ela percebeu que seria um erro dizer.- Eu vou viajar.
-Sabe a regra, sempre que você viajar...eu vou junto.- expliquei.
-Que tal um final de semana com sua namorada?- ela levantou as sobrancelhas.- Vocês estão precisando.
-Nós não estamos...
-A quanto tempo vocês não transam?- ela perguntou.
-Eu não vou falar disso.- comecei a ir até a porta.- Diga para onde vamos, ou não vamos.
-Se você me deixar ir, eu....- ela pensou.- Eu dou as chaves do apartamento do centro pra vocês passarem o final de semana!- ela falou rapidamente e parei.
Quando me virei Judith estava com um sorriso vitorioso, franzi as sobrancelhas e ela assentiu, só tinha um jeito dela saber disso.
-Alice e eu somos amigas, esqueceu?- ela falou com a voz calmamente irritante.- Eu sei que ela não está transando e que gosta do apartamento.
-Você é uma idiota.- balancei a cabeça.
-Você me ama.- ela mexeu a mão.
-Você vai levar uma arma e vai me atualizar de uma em uma hora.- expliquei.- Se perder o horário eu vou descobrir onde você está.
-Sim, senhor.- ela sorriu animada.
-Posso perguntar ao menos com quem você vai?- cruzei os braços calmo.
-Não, não pode.- ela abriu a porta para mim.- Tenha uma boa noite e transe com sua namorada.
-Judith!- falei passando por ela.
-Se as coisas estiverem esfriando eu posso ensinar algumas coisas.- ela sorriu sacana.- Sabe que jogo para os dois times.
-Eu vou embora.- comecei a ir até o elevador e ouvi a risada dela.
O elevador abriu e eu me virei entrando, vi ela escorada na porta e com os braços cruzados, balancei a cabeça e ela sorriu.
Judith era o tipo de pessoa que conseguia fazer todo mundo rir, podia ser em qualquer lugar e em qualquer hora, alguém ao lado dela estaria rindo.
Nos conhecíamos a três anos e eu não conseguia lembrar de um minuto que não tivesse rindo, minha mãe a adorava.
Principalmente nos treinos, quatro dias na semana treinavamos na área da academia que ela tinha improvisado, ela era boa lutando.
O problema era que ela era muito mole para começar a lutar, então apenas ficava deitada no chão fofo que ela tinha mandado colocar.
Não precisava nem dizer, Judith tinha a melhor mira que eu já tinha visto, ela também tinha o chute mais forte que eu já tinha visto....e sentido.
Ela sabia se defender sozinha, porém de alguma forma eu ainda continuava trabalhando para defender ela.
Acho que de alguma forma ela queria que eu continuasse recebendo o dinheiro, e aquele dinheiro ajudava demais.
Os pais dela no começo me pagaram para ensiná-la a lutar, então depois continuaram me pagando apenas para eu ser...amigo dela.
Ela parecia não se importar com isso, então eu fazia de tudo para dizer que eu era amigo dela não por causa do dinheiro, e sim por causa dela.
Tinha conhecido Amelia e Logan, a mãe dela era gentil demais, tinha conversado muito comigo e falado como Judith parecia com uma tal de Mia...tia dela.
Já Logan pareceu apenas ficar me encarando, e no final ele apenas sorriu e perguntou se ele tinha se passado bem pelo papel de pai sério.
Eles eram pessoas boas, com certeza Judith tinha puxado isso deles, talvez fosse um gene de família ou algo assim.
O elevador abriu e peguei minhas chaves no bolso, Alice estava animada pelo jantar, e não queria mentir...mas Judith tinha razão.
Não transávamos a algumas semanas, hoje a noite era hora de conseguir isso, falaria a ela sobre o final de semana.
Precisava transar, e não aguentaria Judith falando no meu ouvido que podia ajudar com isso, por que ela falaria.
✰
Judith Hunt Ballard
"-Estou subindo as escadas.- expliquei.
-Quando eu pedi para dizer o que estava fazendo, não quis dizer tudo.- minha mãe explicou.
-Estou indo até minha cama.- sorri.
-Judith.- ela repreendeu.
-Ok, como foi o dia?- me joguei na cama.
-Foi bom, assuntos de empresa.- ela suspirou.- E o seu dia?
-Foi...- lembrei do que tinha feito com James.- Foi bom.- comprimi os lábios.- Nada demais, sabe? Aulas e mais aulas.
-Onde está Thomas?- ela sempre o chamava pelo segundo nome.
-Não sei, em algum lugar com a namorada.- olhei para o teto.
-O que vai fazer amanhã?- ela parecia estar ouvindo música.
-Eu vou passar metade do dia em aula e a outra metade na casa de Hannah.- expliquei mexendo no meu cabelo.- Ela queria pintar uma das paredes e me pediu ajuda.
-Espere...- ela se remexeu.- Seu pai quer...
-Judy?- meu pai chamou e eu ri.
-Oi.- esperei.
-Quando vem para cá?- ele perguntou.
-Não sei, no seu aniversário, não?- perguntei.
-Isso é daqui a três semanas.- ele pareceu emburrado.
-Bem, eu tenho as aulas, e o emprego.- mordi o dedo.- Mas vamos comemorar muito, posso passar três dias aí...
-Três dias?- ele bufou.- Quanta consideração pelo seu pai...
-Pai.- o repreendi.- Pelo menos eu vou, não?- sorri mesmo ele não vendo.
-Mesmo assim, é muito pouco.- ele parecia uma criança mimada.- Thomas vem?
-Não sei, a mãe dele ainda está muito doente.- expliquei.- Vou com ele amanhã no hospital, mas...
-O que os médicos falaram?- minha mãe perguntou no fundo.
-Que ela não chega até o final do ano.- isso me doía o coração.
-Ele deve estar horrível.- meu pai estalou a língua, nunca tinha visto ele fazer isso.- Tente fazer companhia para ele, ok?
-Ok.- sorri.- Obrigada...por ter chamado o melhor médico.
-Mesmo assim ainda não serviu.- ele parecia triste.
-Valeu a intenção.- tentei animá-lo.- Te vejo em três semana?
-É bom você vir, mocinha.- ele suspirou.- Ok, não durma tarde.- ele mandou.- Boa noite, querida.
-Boa noite.- esfreguei os olhos.
-Querida?- minha mãe perguntou para ver se eu ainda estava aqui.
-Oi.- já estava quase dormindo.
-Me ligue amanhã quando for dormir de novo, ok?- ela perguntou.
-Sim, sim.- me cobri.- Amo você.
-Amo você também.- ela suspirou.- Qualquer coisa...
-Vocês estão aí, eu sei.- falei com os olhos fechados.
-Boa noite.- ela riu.
-Boa noite.- afastei o celular e desliguei."
Coloquei o celular para carregar e voltei a ficar encarando o teto, estava desde que cheguei pensando no dia de hoje.
Eu não gostava do que estava fazendo.....quero dizer, eu gostava de estar com James e transar com ele, a transa era incrível....
Mas ao mesmo tempo eu me sentia mal e culpada por estar fazendo aquilo com um homem casado, e merda....fazíamos aquilo ainda com a aliança dele no dedo.
Fechei os olhos com força e respirei fundo, não sabia o que acontecia comigo, era como se fosse atraída até ele, não conseguíamos ficar longe por muito tempo.
Cocei a sobrancelha e tentei não pensar naquilo, tentei não pensar que ele mentiria para Mary dizendo que iria em uma viagem de trabalho enquanto estava comigo.
Para piorar Mary era uma médica, uma médica que trazia bebês para o mundo, e isso me deixava muito mal.
Me fazia sentir que eu estava traindo os bebês também, sabia que não fazia sentido, mas mesmo assim eu ainda me sentia culpada.
Ela queria tanto um bebê, sabia por que James e ela sempre brigavam por isso, e ele não queria filhos, simplesmente não queria.
Devia ser frustrante trazer bebês ao mundo, mas poder ter um bebê e seu marido não querer ter um bebê.
James falava que iria se separar dela, eu não era burra, já tinha visto isso em filmes....ele não iria se separar dela.
Achava que meu ponto mais forte era ser racional, e eu era racional, mesmo assim eu ainda era burra o bastante para acabar gostando de um homem casado.
Eu era uma pessoa horrível? Era.
Eu iria parar? Provavelmente não.
Isso me fazia ainda mais horrível? Provavelmente sim.
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