Traição - Parte 1
20 de março
Thomas Lincoln
Quando uma enfermeira me ligou dizendo o que tinha acontecido eu não consegui respirar, não conseguia simplesmente me mexer.
Kym teve que me levar até o hospital por que eu simplesmente não conseguia fazer nada sem pensar que Judith estava morta.
E arrependimento foi a primeira coisa que me passou, arrependimento de não falar com ela quando ela estava perto de mim.
Então quando cheguei no hospital e vi a recepção com poucas pessoas logo a encontrei, ela levantou o olhar vermelho e o rosto inchado e me encarou.
Suas roupas estavam cheias de sangue, era apenas uma blusa masculina grande e um short de malha, mas estavam com muito sangue.
Ela levantou recomeçando a chorar e simplesmente não falei nada, abracei ela e afundei meu rosto em seu pescoço enquanto ela me apertava.
-O que aconteceu?- perguntei baixinho.
-Ele foi abrir a porta e...- ela soluçou.- Ele levou um tiro.- ela estava tremendo.
-Gabe?- pergunto e ela assente.
Eu nem ao menos sabia que ela estava na casa de Gabe, por que eu não sabia que ela estava na casa dele, deveria saber....
-Ele está em cirurgia ainda.- ela informa.- Já passou tempo demais e ninguém vem aqui.- ela me encara desesperada.- Ele não pode ter morrido, pode?
-Ele não vai morrer.- garanto afagando seus cabelos.- Se acalme, respire.- ela obedece.- Eu vou tentar perguntar a eles, ok?
-Ok.- ela assente.
Me afasto e ela senta de novo abraçando o corpo, ao me aproximar de Kym ela está com lágrimas nos olhos.
-Pode ficar com ela?- perguntou.
-Claro.- ela começa a ir na direção de Judith.
Vou até o balcão e uma enfermeira começa a caminhar até mim, percebo que quando ela fala é a mesma enfermeira que me telefonou.
-Tem notícia sobre Gabriel Callahan?- pergunto e ela olha no computador.
-Tem algum parentesco?- pergunta assim que acha.
-Somos amigos dele.- aponto para Judith e ela percebe.
-Os médicos alegam aqui que já estão encerrando a cirurgia.- ela explica.- Mas ele vai passar o resto da noite na UTI, não vai poder receber visitas.
-Ok.- começo a me afastar.
Não quero dar essa notícia para Judith, mas pelo menos não vou chegar falando que ele morreu, já é algo para se animar.
No meio do caminho meu celular começa a tocar, paro e me afasto um pouco atendendo e vendo só depois quem é.
"-Por que sou avisado horas depois que minha filha está no hospital e com uma vítima de tiro?- Logan pergunta e simplesmente não sei o que falar.
-A vítima é o Callahan.- murmuro e ele fica em silêncio.- Eu só fui saber agora, desculpe...
-Não foi culpa sua, Thomas.- ele logo me fala.- Quão grave?
-Ele vai passar a noite na UTI.- explico.- Judith falou que eles estavam juntos, alguém tocou a campainha e...
-Na casa dele?- faço um ruído confirmando.- Então não era para ela, era para ele.- logo ele percebe.- Não importa nesse exato momento.- pensa em voz alta.- Leve ela para casa...
-Não sei se ela vai querer sair daqui até ele acordar.- conheço bem Judith e Logan também.
-Eu sei.- ele suspira.- Estamos chegando, mais algumas horas e estamos aí. Fique com ela por enquanto, ok?
-Ok.- falo baixo.
-Mantenha ela distraída.- ele pediu.- Sabe como ela é, se começar a pensar vai ficar maluca.
-Eu sei. Obrigado."
Guardo o telefone no bolso e me aproximo de Judith, Kym está afagando seus cabelos enquanto ela olha para o nada com lágrimas no rosto.
Sento ao lado de Judith e ela olha para mim buscando respostas, eu seguro a mão dela e entrelaçou meus dedos.
-Os médicos encerraram a cirurgia.- o rosto dela se ilumina.- Mas ele vai ficar na UTI, não vai poder ver ele...
-Ainda está em estado de risco?- ela pergunta e eu faço que sim.
Ela volta a olhar para o chão e olho para Kym, ela pega o celular e fala com os lábios que vai ligar para Hannah, concordo.
Então ela se afasta e fico com Judith, não consigo parar de pensar que podia ter sido com ela, podia ter sido ela que estaria na UTI hoje.
Seguro sua cabeça e a trago para perto, Judith se aconchega em meus braços e percebo que ainda sim está tremendo.
Apoio o queixo em sua cabeça e esfrego suas costas, agradecendo a Deus por que ela está nos meus braços e perto de mim.
-Que tal ir para casa? Tomar um banho?- pergunto, tento fazer ela ir.
-Não, eu vou ficar aqui.- ela fala com certeza.
-Ok, então.- beijo sua testa.- Vamos ficar aqui.- me ajeito e fico mais confortável.- Estou com você.
Ela tremeu e se afasta me encarando, parece que falei alguma coisa errada, isso faz com que mais lágrimas caiam.
-O que?- pergunto tentando entender.
-Nada.- ela balança a cabeça limpando as lágrimas.- Nada.- volta a me abraçar.
✰
Horas depois
Thomas Lincoln
Já está perto de amanhecer quando sinto um cutucão em meu ombro, abro os olhos e vejo Hannah na minha frente.
Olho para baixo e Judith dorme em meus braços, olho de novo para Hannah e ela aponta para uma direção.
Alívio me percorre quando vejo Logan e Amelia vindo em nossa direção, Judith acorda também e percebe os pais.
Ela levanta e começa a andar na direção deles, Amelia que está na frente e a primeira que Judith abraça, as duas ficam ali por muito tempo.
Logan coloca as mãos nas costas de Judith em apoio, olho para o lado e percebo que Tyler está com Hannah, os dois deviam estar juntos.
Amelia então se afasta da filha e segura o rosto dela, tentando ver se tem algum arranhão, mas aquele sangue não é dela.
Logan fala alguma coisa e Judith segura o choro falando outra, Amelia então comprime os lábios e olha para Logan.
Ele passa a mão pelos cabelos e Judith olha para Amelia, que abre a boca para falar algo e aponta para a saída.
Devem estar tentando fazer com que Judith vá para casa, me levanto indo na direção deles e toco as costas de Judith.
-Por que não vai e eu fico aqui?- pergunto e ela olha para mim.- Qualquer coisa eu falo para você.
-Não, eu vou ficar até...
-Você já ficou demais.- Logan interrompe.- Olha, eu fico com ele.- Logan aponta para mim.- Vá com sua mãe, tome um banho, descanse e então voltei.
Ela parece pensar.
-Querida.- Amelia toca o braço de Judith e isso faz com que ela olhe para a mãe em busca de ajuda.- Vamos.
-Qualquer coisa.- ela me encara logo em seguida.
-Mando mensagem de trinta em trinta minutos.- prometo e ela assente.
Cinco minutos depois Judith está fora daquele hospital junto com Amelia, Logan e eu sentamos lado a lado e com os outros.
Ele então se ajeita na cadeira e olha envolta, parece não estar querendo dizer algo, então eu o encaro por mais alguns segundos.
-Pesquisei sobre ele.- Logan explica.- A família dele.
-O que achou?- pergunto.
-Parecem simples empresários.- balança a cabeça.- Mas tem algo muito errado. Por que um velho casaria com uma mulher já grávida?
-Talvez ele não pudesse ter filhos.- tento explicar.
-Eu também pensei isso.- Logan então suspira.- Até ver a certidão de nascimento de Gabriel.
-O que diz?- pergunto curioso.
-O nome da mãe dele é Carol.- ele explica.
-O que tem?- não consigo chegar a uma conclusão.
-Carol era o nome da amiga de Amelia, a que dormia com Aaron.- ele me encarou.
-Pode ser qualquer Carol.- de alguma forma sabia que Logan sabia que eu diria isso.
-Ele nasceu dois meses antes de Judith.- ele explica.
-Isso não prova....- não queria que Judith se machucasse de novo.
-O nome dele é Gabriel Aaron Woodward Callahan.- Logan acaba com minhas suspeitas de uma vez.- Ele é filho de Aaron.- fala com desgosto.- E está...- engoliu em seco.- Está fazendo Judith de apaixonar por ele.
-Está fazendo?- repito.- Logan, ela já está.- murmuro.
Ele parece desesperado e com raiva, chega a passar a mão pelo cabelo de novo e então tenta não parecer assim diante de todos.
Tento assimilar toda a situação, esse tempo todo Judith estava com o filho de Aaron, o filho do homem que estuprou a mãe dela.
Judith ia ficar destruída quando soubesse, ela iria se odiar e iria odiá-lo, mas acima de tudo...ela iria ficar destruída ao extremo.
Quando ela soube da história da mãe e do pai ela me disse que ficou um dia inteiro enjoada e com raiva daquele homem.
E agora ela estava dormindo com o filho dele, conhecia Judith o bastante para saber que ela iria ficar com nojo e raiva dela mesma.
-Amelia já sabe?- pensei que ela contaria a Judith quando chegassem em casa.
-Não.- balança a cabeça.- Não consegui contar para ela.- ele parecia estar contendo a raiva.
-Você vai contar a Judith?- pergunto.
-Sim.- ele assente.- Mas preciso de um tempo a sós com o canalha.- ele me encara.- Está comigo?
-Claro.- concordo.
Logan mexe a cabeça satisfeito e então eu passo a mão pelo rosto, não consigo imaginar que aguardaria por Gabriel com Logan aqui.
Mas tinha certeza de uma coisa: Judith não iria querer olhar para a cara de Gabriel por um bom tempo, talvez nunca mais.
✰
Judith Hunt Ballard
A água caia pela minja cabeça e me fazia piscar cada vez que passava pelos meus olhos, não conseguia me mexer.
Quando minha mãe percebeu que eu simplesmente não mexia um músculo ela foi obrigada a entrar no banheiro comigo.
Sentia ela esfregar minhas costas e meus braços tirando o sangue, sentia como se eu fosse a culpada por tudo aquilo.
-Pronto.- ela falou com o tom de voz mais calmo do mundo.- Vire.- ela manda e eu obedeço, sinto a toalha em meus ombros.
Assim que estou seca ela me dá uma por uma as peças de roupa, até eu perceber que estou vestindo um pijama.
-Eu não vou dormir...- começo.
-Judith Hunt Ballard.- ela me interrompe.- Sei que quer voltar para lá, mas você é minha filha e sei o que é melhor para você.- então ela coloca meus cabelos para trás.- Você vai descansar.
-Mas...
-Seu pai e Thomas estão lá.- me acalma enquanto vamos até a cama.- Eu fico acordada enquanto você dorme, não se preocupe.
-Estavamos assistindo hóquei.- falo e isso faz ela me encarar.- Era a primeira vez que eu...- tento explicar.- Eu gosto dele de verdade.
-Você gosta mesmo dele.- ela pareceu orgulhosa.- É a primeira vez que diz isso sobre um garoto.
-Eu sei.- tento sorrir.- E ele é baleado.- balanço a cabeça.- Não consigo entender...
-Eu sei, querida.- ela tenta sorrir.- Mas ele está vivo, e você precisa descansar para quando ele acordar pode ficar com ele, ok?
-Ok.- me sinto rendida e exausta.
-Bom.- ela senta na cama.- Vou ficar o tempo todo aqui.- ela fala enquanto eu deito.
-Obrigada.- murmuro deitando no colo dela.
Minha mãe me cobre e então começa a alisar meus cabelos, isso me faz lembrar de quando eu era pequena.
Quando tinha medo do escuro ou quando Tyler começou a dizer que tinha um monstro embaixo da minha cama.
Minha mãe sempre fazia com que eu me sentisse bem, mesmo que eu me sentisse a pessoa mais horrível do mundo.
Fechei meus olhos e deixei com que ela me levasse de volta para a minha infância, quando não tinha que me preocupar com os rapazes que eu gosto serem baleados.
Link me mandaria mensagem quando ele acordasse, e eu estaria pronta para ficar com ele de verdade e não cansada e exausta.
Os dedos da minha mãe acaricando meus cabelos em ritmo lento foram começando a fazer efeito e então eu simplesmente adormeci, fácil assim.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro