Primeiro Contato
15 de abril
Judith Hunt Ballard
Estou caminhando com Gabriel por uma feira que acontece todos os sábados no centro, meu pai achou que seria uma boa demonstração.
Eu realmente queria ajudar minha família, e por algum motivo não conseguia ficar longe de Gabriel, mesmo que ele fosse quem era.
Passei uma semana pensando e cheguei no pensamento de que a culpa não era dele, quer dizer, não o que aconteceu antes.
Ele não tinha culpa de ser filho de Aaron Woodward, ele não tinha culpa do que o pai tinha feito com minha mãe.
Ele só tinha culpa do que aconteceu enquanto ele estava vivo, isso queria dizer me enganar no começo do relacionamento.
E agora que eu....que eu estava grávida dele, queria que desse pelo menos alguma coisa certo, porém não sabia o que fazer também.
Meus pais disseram que me apoiariam em qualquer coisa, e eu realmente acreditava nisso, e eu também não me sentia culpada por pensar em abortar.
Mas de alguma forma eu não conseguia pensar nisso por enquanto, minha consulta de oito semanas já era amanhã.
Gabe sabia disso, meu pai sabia disso, todos da família sabiam que eu iria na consulta do primeiro trimestre amanhã.
E mesmo que minha família tivesse voltado para LA eu ainda tinha Hannah aqui, foi então que me lembrei de algo.
Não tinha contado para Link, ultimamente não contava muita coisa para ele, tinha que ter uma conversa com ele, uma noite divertida antes de jogar a bomba.
Meu pai vai para a consulta comigo e com Gabriel, e por mais que eu pense que vai dar briga quero ele lá.
Não sei por que...mas meu pai sempre foi presente de vários modos que muitos pais não são, que o pai de Gabriel não foi.
Olho para ele e observo a cicatriz em seu maxilar, lembro de que Callahan batia nele quando era criança.
Abaixo os olhos e vejo nossas mãos dadas, tento pensar que é por causa dos vigias, mas gosto disso.
-Você falou com Miguel?- pergunto.
-Estou atualizando ele todo final de noite.- ele suspira.- Deve estar achando que o susto nos aproximou.
-Você vai falar para ele que eu estou...
-Não.- ele fala convicto.- Não, não vou colocar uma criança inocente nisso.- ele me encara.- E vou fazer de tudo para tirar você...vocês dois disso.
-Não está nervoso? Para amanhã?- pergunto.
-Estou, ainda mais quando seu pai vai ficar na sala conosco.- isso me faz sorrir.
-Ele está preocupado.- murmuro e isso o faz parar.
-Se você quiser o presidente dos Estados Unidos lá dentro, ele vai estar lá dentro, Judith.- sinto os dedos dele correrem por minha bochecha.
-Gabe, eu ainda...- falo sem me afastar para não alertar os vigias.- Eu ainda não...
-Ok.- ele se afasta imperceptível.- Vamos continuar, então.- ele volta a caminhar comigo.
Ficamos em silêncio e eu respiro fundo, não sei o que está acontecendo, a outra gravidez não passou da sexta semana, nem senti nada direito.
Tudo bem que só estava na oitava semana, e não sabia se eram os hormônios que me diziam para ficar perto de Gabe.
E eu fiquei com tanto medo dele ser baleado de novo que disse que enganariamos os vigias melhor se ele dormisse no meu apartamento.
Isso o fez sorrir e aceitar prontamente, ele dormia ao meu lado, não nos tocavamos, mas ainda sentia o calor dele.
E parecia cada vez mais que eu precisava de mais, e depois que fiquei sabendo que minha mãe contou a ele toda a verdade e que disse que ele era um bom menino...
Eu não podia voltar rapidamente, eu queria ter um tempo para pensar, sem ficar transando com ninguém, apenas pensando.
Sinto cheiro de pretzels e olho para a barraquinha que está vendendo, Gabe percebe que estou olhando.
-Quer um?- pergunta.
-Quero.- admito.
-Vou lá.- ele começa a se afastar.
Rodo o corpo vendo algumas coisas e me aproximo de uma barraquinha que vende pulseiras feitas a mão e coloco minhas mãos dentro dos bolsos.
Fico observando o trabalho meticuloso, o trabalho e bem bonito, com certeza se fosse eu não aguentaria tamanha paciência.
Mordo o lábio e olho para o lado, Gabe está sorrindo enquanto faz o pedido, e aquele sorriso...balanço a cabeça voltando minha atenção.
-Judith?- alguém me chama e viro o corpo.
-Mary.- minha voz sai triste.
-Achei que tinha visto você.- ela está ao lado de james.- como você está?
-Bem.- assinto.- E você?
-Bem, James falou que você saiu da empresa.- ela toca o ombro dele.
-Aimda não entendo, o que tinha naquela empresa a beneficiava muito.- ele murmura e eu fico seria.
-Apareceu uma oportunidade bem melhor.- o encaro.
-Você está radiante.- ela me observa.
Droga! Eu simplesmente esqueci que ela é médica, e obstetra ainda por cima, se ela não perceber eu dou cem dólares para a pessoa que passar por nós.
-Eu passei um tempo em LA.- explico tentando fugir.- Estou com alguém, então...
-De quanto tempo?- ela pergunta e sei o que quer, acho essa pergunta tão específica....
-Como?- pergunto.
-De quanto tempo está?- ela aponta para a minha barriga e James arregala os olhos.
-Aqui está.- Gabe aparece ao meu lado e pego o pretzels.
-Acho melhor irmos.- seguro a mão dele.- Foi bom ver vocês.
Começo a puxá-lo e Gabe não parece entender, nesse meio caminho eu como metade do pretzels com tanta ansiedade.
Assim que chegamos perto do meu carro Gabe olha para trás e observa James e Mary se afastarem, termino de comer e jogo o papel no lixo.
-Por que estávamos fugindo?- pergunta.
-Não estávamos.- murmuro mastigando.
-Estávamos sim.- ele sorri.
-Aquele é James.- aponto com a cabeça.- Ele...
-Eu sei quem é ele.- Gabe fica sério.- Sinto muito, fiz um trabalho meticuloso pesquisando sua vida.
-Tudo bem, explicar seria confuso.- olho para o pretzel na mão dele.- Você...- aponto.- Você vai comer?
-Não.- ele sorri e me sinto culpada.- É seu, Judith.- ele me oferece.
-Obrigada.- tento sorrir e pego o outro pretzel.
-Vamos fazer o que agora?- ele suspira pronto para qualquer canto.
-Meu estoque de chocolate acabou.- falo enquanto como.
-Então vamos passar no mercado.- ele pega as chaves.
-Ok.- abro a porta.
Respiro fundo e entro no carro acabando com o pretzel, limpo os dedos na embalagem e coloco no saquinho do lixo.
Gabe liga o carro e começa a sair e percebo que um carro também liga saindo da vaga, não sei como vai ser amanhã.
Meu pai disse que todos estariam ocupados demais lidando com algo imaginário que ele inventaria e que nem veriam nada.
Tenho um minuto de paz enquanto Gabe dirige tranquilamente, parece até que tudo está normal, e isso me faz sentir...normal.
✰
16 de abril
Gabriel Callahan
Estou sentado em uma cadeira, ao meu lado Judith está lendo uma revista de fofoca, e do lado dela Logan está conversando com o que suponho ser um fornecedor.
Olho para a mulher com um barrigão na minha frente e fico assustado com o tamanho e elasticidade da pele.
A porta abre e o nome de Judith é chamado, nós três levantamos e a médica fica surpresa mas não fala nada.
As duas trocam algumas palavras e ela da um avental para Judith, Logan desliga o celular e se aproxima da médica enquanto Judith está no banheiro.
-Você fez o aborto na última gravidez?- pergunta.
-Sim, e você é...
-O pai dela.- ele fala tranquilamente.- Acha que pode ter alguma complicação? Algum problema?- ele parece preocupado.
-Vou saber melhor quando eu vir.- ela sorri controlada.- E você é...
-Gabriel.- me apresento.- O...- não sei o que dizer.
-Entendo.- ela sorri.
A porta abre e Logan desvia o olhar ficando atrás da cadeira enquanto Judith senta na cadeira e abre as pernas naquele equipamento.
Fico ao lado dela para não se sentir tão exposta e vejo que não é um ultrassom normal, é um ultrassom para introduzir...
A médica repara.
-No primeiro trimestre é difícil ver com um ultrassom normal.- explica e eu assinto.- Como foram essas semanas, Judith?
-Tenho comido muito.- é verdade.- E sempre acabo vomitando depois.- outra verdade.
-Isso é completamente normal.- a médica sorri mexendo naquilo.
-Também tenho um pouco de tontura e cólicas leves.- ela se remexe.
-Isso é normal também, mas se as cólicas aumentarem você deve ir para o hospital.- ela explica.- Só para garantir.
-Ok.- Judith coloca os braços atrás da cabeça e Logan coloca a mão em seu antebraço.
-A placenta parece boa.- a médica sorri.- O embrião está no canto certo, não apresenta sinal de gravidez ectópica.- ela parece satisfeita.
Mais um minuto se passa e ela franze as sobrancelhas, Judith percebe a expressão no rosto dela e apoia o corpo nos cotovelos.
-O que foi?- Logan é quem pergunta.
-Um minuto...- a médica demora.
-Tem alguma coisa errada?- sinto um nó enorme na minha garganta.
-O feto é maior do que o esperado.- ela explica.
-Isso quer dizer...
-Ele ainda tem oito semanas.- a médica a tranquiliza.- Mas parece maior que o normal.
-Quão maior?- Judith engole em seco.
-Nesse estágio é para estar do tamanho de uma amora.- ela gira a tela e vejo a manchinha.
Não parece nada, apenas uma grande coisa escura com uma mancha branca, mas eu vejo, eu sei que aquilo é...
Não parece um bebê, na verdade não parece nem um feto, mas ainda sim sei o que é e sei que é algo feito de Judith e eu.
O meu coração se enche de um calor estranho e sou obrigado a me segurar na cadeira, só ver aquilo me deixa tonto.
E só saber que ela deve estar achando algo errado com ele....ou com ela, isso me deixa maluco para saber mais e mais.
-Mas esse aqui está do tamanho de uma uva.
-O que pode ser?- Logan pergunta.
-Não é comum, mas alguns embriões se desenvolvem mais rápido.- ela sorri tirando o aparelho.- Não vamos nos alarmar, entendeu?- ela encara Judith.
-Ok.- ela assente tentando se acalmar e esfrego as costas dela, Judith não se afasta, um avanço em semanas.
-Começaremos a tomar as vitaminas e a fazer o pré-natal.- ela explica se afastando e Judith senta e cruza as pernas.- Ah...- ela a encara.- Você já decidiu se vai continuar com a gravidez?
-Eu...- ela parece confusa.
-Tudo bem, ainda temos algumas semanas.- ela toca o ombro de Judith.- Pode se trocar e eu vou arranjar a receita.
Judith vai até o banheiro e ela sai, isso me faz ficar a sós com Logan, ele cruza os braços e começa a me encarar.
Respiro fundo não sabendo o que fazer e tento a certeza de que vou entrar em pânico ou ele vai me socar de novo.
-Sabe, não precisa assumir.- ele diz.- Judith tem todo apoio de que precisa, assim que dizer seu combinado, estará livre...
-Estarei livre e continuarei aqui.- falo sério.- Não vou deixar Judith sozinha, com ou sem bebê.
Ele parece gostar da resposta e a porta abre, Judith ajeita o casaco e limpa uma lágrima que está descendo da bochecha.
Ela sempre está mudando de humor, ontem estava rindo de um filme e do nada começou a chorar dizendo que aquela piada lembrava que não tinha chocolate em casa.
Por isso eu tive que sair às três da manhã para comprar um chocolate de avelã, sabe o quão difícil é achar um chocolate de avelã que ela queria?
-Tudo bem, querida?- Logan pergunta.
-Sim.- ela fala chorona.
-Vamos mudar os planos do feriado em família.- ele explica.- Podemos passar apenas em LA.
-Mas vocês queriam ir para a Argentina.- ela vai chorar e Logan fica em pânico.
-Ei, calma.- murmuro a abraçando.
Judith afunda o rosto em meu peito e sinto as lágrimas molharem minha camisa, afago seus cabelos e espero ela parar.
-Vamos passar o feriado em família, isso é o que importa.- Logan toca as costas dela.
-Ok.- ela limpa as lágrimas e se afasta.- Desculpa.
-Tudo bem.- ele beija a cabeça dela.
-Aqui está tudo que precisa.- ela voltou com uma folha dobrada.- Tem a frequência de cada remédio e alguns dos melhores cantos para as aulas de parto e pré-natal.
-Obrigada.- ela pega e guarda na bolsa.
-Nossa consulta é no próximo trimestre, mas qualquer coisa ou mudança de ideia estarei aqui.- ela segura a mão de Judith.- Ok?
-Ok.- Judith parece mais leve.
Simplesmente saímos da clínica e entramos na SUV, o motorista começa a dirigir e Judith apoia o rosto no punho fechado.
Seguro a mão dela e Judith encara o gesto, logo entrelaçamos nossos dedos, um passo de cada vez, é o que repito na minha cabeça.
Um passo de cada vez.
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