Conversa - Parte 1
22 de abril
Judith Hunt Ballard
Entro com a minha mãe naqueles tipos de salão de retiro que minha tia vive indo e a vemos na recepção lendo uma revista.
Ela levanta os olhos e sorri quando me vê, eu sempre esfrego isso na cara de Tyler e Brandon, sei que sou a favorita dela.
-Ah, você está linda.- ela me abraça apertado e eu solto um gemido de dor.
Meus seios estão sensíveis, bem sensíveis, e isso faz com que qualquer abraço me deixe com dor, ela percebe isso e se afasta.
-Não acredito...
-Como descobriu tão rápido?- pergunto bufando.
-É um dom.- minha mãe sorri.
-Você também descobriu?- fico surpresa.
-Assim que vi você.- ela assente.
-De quanto tempo?- minha tia sorri animada.
-Em cinco dias entro na décima.- explico.
-Ela ainda não decidiu.- minha mãe explica mais controlada.
-Ah, é por isso que estamos aqui?- Mia pergunta.- Para ajudá-la?
-Pra me dar uma guia.- assinto.
-Então vamos entrar por que vai ser melhor quando estiver lá dentro.- Mia começa a me levar.
Sei que minha mãe e ela vão me contar tudo, que não vão dizer mentiras nem me dizer o que fazer, apenas me dizer as possibilidades.
É por isso que gosto de ficar com elas, eu preciso de um guia e elas vão servir muito bem para fazer isso.
Vamos até o vestiário e tiro as roupas, coloco o roupão por baixo do biquíni e amarro em um laço frouxo.
Assim que saio elas já estão prontas, somos levadas até um salão com algumas outras mulheres e sentamos mãos longe.
Não gosto muito de vir nessas coisas, mas parece que Mia adora, então eu sou obrigada a vir com minha mãe para ter como conversar.
Sentamos nas cadeiras e eu me vejo entre Mia e minha mãe, coloco o cabelo atrás da orelha tentando ficar calma.
-Vai continuar a gravidez?- Mia pergunta.
-Eu não sei.- admito.
-Se for por causa do pai não querer assumir, não é problema, todos nós podemos cuidar.- Mia começa a falar e minha mãe sorri.
-Eu sei, mas não é por causa disso.- balanço a cabeça.- Ele vai assumir.- minha mãe disse que era melhor não contar para Mia o que estava acontecendo.
-Então qual é o motivo para aborta? Liste.- ela fala racional.
-É cedo.- falo.- É cedo, eu não me formei, o mundo é cruel, tem terrorismo, tem acidentes, carros capotam, tem armas, bombas...
-Ok.- Mia vê que começo a me exaltar.- É uma boa lista, não, Amelia?
-Sim, são bons motivos.- Amelia concorda.
-E os motivos para continuar.- Mia fala calma.
-Eu acho que amo ele.- murmuro e elas ficam caladas.- Gabriel, eu acho que amo Gabriel. E ele vai me apoiar em qualquer decisão.- tento sorrir.- E...
Abaixo a cabeca e começo a olhar para minhas mãos, não sei o que dizer, não sei os motivos para continuar essa gravidez.
-Acho que tem mais motivos para eu abortar do que para continuar.- penso em voz alta.
-Mas não se trata dos motivos, trata?- minha mãe pergunta.
-Não.- respiro fundo.
-Vou conhecer o tal do Gabriel, não?- Mia fala curiosa e eu começo a rir.
-Sim, amanhã.- minha mãe responde.
-Ótimo, tenho que ver se ele é bom para a nossa Judith.- ela explica.
-Eu ainda não sei o que fazer.- olho para minha mãe.
-Você me salvou.- minha mãe fala e Mia olha para ela.- Depois de tudo o que eu passei, você me salvou, Judith. Não sei o que seria da minha vida sem você.
-Está dizendo para eu ter, então.- vejo um tipo de luz.
-Estou dizendo que tem vezes que bebês salvam.- ela explica.- Salvam pessoas.
Sabia que não era a mim que ela estava se referindo, e sabia que nem mesmo era a Gabriel, era a outra família, a família dele.
Respiro fundo e vejo as pedicures chegarem, ficamos em silêncio enquanto elas preparavam, e eu estava pensando no que minha mãe tinha falado.
-Você tem que pensar em uma coisa.- Mia fala agora.- Você está mesmo preparada para mudar seu corpo? Para doar cem por cento do seu tempo a alguém cem por cento dependente de você?
-Eu vou ter ajuda...
-Claro que vai, todos aqui vão ajudar.- Mia nem pisca.
-Se você abortar, vamos todos apoiar você e ir com você nessa.- minha mãe fala.- Se você continuar, vamos todos estar no hospital, e em todos os momentos bons.
-Ok.- assinto.- ok.
Não sei como me sinto em relação a isso, não sei como isso pode ter me ajudado, mas sei que minha conversa com elas já acabou.
Eu não preciso mais conversar com elas sobre isso, sei o que preciso saber e sei que elas vão comigo para onde eu quiser ir.
Eu sei com quem eu preciso falar, eu sei quem vai me ajudar a fazer isso, e a única pessoa que pode fazer isso é Gabriel.
É uma decisão nossa, por mais que ele fale que está comigo para o que eu decidir, é uma decisão nossa e ele deve ter uma opinião.
Eu quero saber a opinião dele, quero saber o que devemos fazer juntos, por que eu sei que quero ficar com ele.
Então vamos decidir juntos, vamos decidir juntos, por que eu não posso tomar essa decisão sozinha, eu não consigo fazer isso sozinha.
✰
Gabriel Callahan
Tyler e Logan estão comigo, eu não sei o que é mais estranho, Tyler estar escolhendo um terno ou Logan estar testando gravatas com o terno.
-Eu não estou entendendo o que está acontecendo aqui.- admito a eles.
-Vai ter uma festa de comemoração no dia vinte cinco.- Logan explica.- Tyler ainda não tem terno.
-Comemoração?- minhas sobrancelhas franzem.
-Sim, é mais um tipo de arrecadação.- Tyler explica.- Devia saber, você vai.
-Eu vou?- pergunto.
-Claro, é o namorado de Judith.- ele me encara.- Pelo menos deveria ser.
-Tudo está confuso, ela está confusa.- explico.
-Claro, ela está grávida.- ele não esconde o sorriso.- Confusão vai ser o que deve esperar.
-Algum conselho, então?- coloco as mãos dentro dos bolsos.
-Perdi todo o desenvolvimento dela.- ele explica.- Amelia queria ficar sozinha e não me disse para onde foi.
-Depois do sequestro.- murmuro e ele assente.
-Eu a conheci no dia do parto.- ele sorriu.- Você acha que não vai ser um bom pai ou vai dar tudo errado...mas quando vê aquela coisinha...- ele me encara.- Você fica nas nuvens.
-Ela ainda não sabe se vai...
-Eu sei.- ele assente.- Por isso ela veio para cá, para saber o que fazer e eu conheço minha filha.- ele se aproxima.- Ela precisa de fatos, precisa saber os prós e contras.
-Azul ou vermelha?- Tyler pergunta.
-Azul, combina com os olhos.- ele fala rapidamente.
Vejo Tyler pegar a gravata azul clara e então volto a olhar para Logan, ele parece calmo demais para quem parece que vai me ameaçar agora.
-Você vai dar tudo que ela quiser, entende?- ele pergunta.- Se ela quiser ir pra Santa Mônica de manhã, você vai levá-la. Se ela quiser ver neve, você vai fazer nevar. Se ela quiser chocolate italiano, você vai lá na Itália buscar, entende?
-Sim, senhor.- assinto.
-Ótimo.- ele olha para o lado e Tyler está indo tirar o terno.- Agora vá ali para provar seu terno.
Engulo em seco e percebi que ele realmente pediu um terno para mim, assinto mais uma vez e vou na direção do provador.
Não sei se isso é só para uma demonstração ou se ele mandou fazer aquele terno por que realmente me queria na festa.
-Meu pai já ameaçou você, mas...- Tyler chega mais perto.- Minha irmãzinha provavelmente vai ter um bebê e eu preciso ser bem claro.- ele afrouxa a gravata.- Se machucar ela, vai machucar a todos aqui, entendeu?
-Sim.- mexo a cabeça.
-Bom.- ele sorri igual a Logan.- Dito isso...acho que é um bem-vindo a família.
Vejo ele se afastar, então começo a pensar que nunca participei de nenhuma família, nem a minha família foi minha família.
Não sei como deveria ser isso, não sei como deveria me sentir em relação a isso, mas alguma parte de mim me faz ficar com um pontinho de esperança.
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