Acordei mais cedo que Bucky, e como eu não aguentava mais ficar tão próximo dele sem perder a sanidade mental, consegui me desfazer do abraço dele. 

Levantei e terminei de catar as calcinhas e os sutiãs e enfiei a gaveta de volta no lugar. Além de rearrumar algumas coisas que ele tinha bagunçado, como as blusas e as calças. 

Como ele era desorganizado! E como isso me dava raiva! 

Também, tive que reajeitar a pilha de lençóis e toalhas porque quando ele puxou a colcha, derrubou e desdobrou tudo. 

-Tô te dando muito trabalho? 

Estremeci de susto e me virei para ele, com a mão na cintura. 

-O que você acha?! 

Ele riu, bocejando em seguida. Ainda teve o displante de colocar as duas mãos atrás da cabeça e ficar me olhando com um sorrisinho. Taquei um gatinho de pelúcia nele. 

-Idiota! 

-Ai! Estúpida! - Ele pegou o gatinho e me olhou torto. - Não sabia que curtia pelúcia... 

Dei de ombros. 

-Achei fofinho, tá? 

Ele riu de novo. Estiquei a mão. 

-Anda! Devolve o Senhor Bigodes antes que eu te enfie ele goela abaixo ppr ter bagunçado meu armário! 

Ele riu mais uma vez (eu ia socar a cara dele) e jogou o gato. 

-Toma esse treco! 

-Treco?! Isso é meu gato de pelúcia, Bucky! 

Ele franziu os olhos. 

-Gosta de gatos? 

-Gosto. - Dei de ombros, empilhando ele de volta em cima das toalhas. - Ao menos, acho que sim. 

Bucky não respondeu. 

-Dormiu bem? 

Era uma pergunta que ele sempre, em todas as manhãs, me fazia. Mas teve algo no tom de voz dele que me arrepiou e me deixou com as pernas bambas. 

Confirmei, ainda "concentrada " em escolher roupas para aquele dia, completamente ciente do olhar dele. 

Sentei na cama e olhei para ele. Foi inevitável não sorrir. 

-Por quê está me olhando assim, Bucky? 

-Assim como? 

Automaticamente, vi o rosto dele ir ficando rosa, até atingir um tom de vermelho carmim. 

-Sei lá... Você está me olhando esquisito! 

-Não tô, não! - Ele jogou os lençóis para o lado e levantou de uma vez, me dando um beijo rápido na testa. - Vou tomar banho, tá? Vai querer café? Eu faço pra você... 

Confirmei. Quando Bucky ia sair do quarto, eu o chamei e pedi para ele confirmar o almoço com o Steve e ele disse que ia ser a primeira coisa que ia fazer. 

Não encontrei Bucky depois, mas ele deixou meu café separado e pediu para Natasha tomar conta para mim. 

Acabei conversando a manhã inteira com Bruce e Tony (que surpreendentemente, pediu minha opinião para turbinar um motor) e me assustei quando Steve apareceu por trás de mim e colocou a mão no meu ombro, porque tinha me chamado e eu não escutei. 

Dei um grito e virei. Steve ficou com a mão suspensa no ar e me olhou, meio assustado, meio surpreso. 

-Ah... Desculpe. Eu não quis te assustar, é só que você não tinha ouvido... 

-Tá... - Forcei um sorriso e controlei a vontade de socar a cara do imbecil. Bufei. - Só não me toca mais sem eu deixar, tá? 

Steve ficou hiper vermelho e confirmou. 

-Bem, tá no horário do almoço... Vamos? 

Ele concordou e acenei para Bruce e Tony, mas antes, passei no quarto e peguei uma blusa de manga comprida e um casaco. 

Steve acabou ficando preso com o casaco em uma das milhões luzinhas de Natal que Tony instalou e eu me controlei muito para não cair na gargalhada. 

Andamos, quase em silêncio, até um restaurante há umas quatro quadras da Shield. Me recusei, terminantemente, a tirar o capuz, por mais aquecido que o restaurante fosse. Porém, ao menos, o casaco eu tirei e pendurei no encosto da minha cadeira. 

Quando olhei para frente, Steve tinhas as sombrancelhas unidas. 

-Que foi? 

-Essa blusa não é do Bucky? 

Senti meu pescoço esquentar, mas por ter os cabelos soltos e o capuz na frente do rosto, achava que ele não tinha reparado. Dei de ombros. 

-É? Não lembro... 

Um garçom apareceu e eu avisei que Steve poderia escolher qualquer coisa. Depois de feito os pedidos, embarcamos em um silêncio um pouco desconfortável. 

Eu sei que devia ter puxado assunto, perguntado logo o que ele queria comigo, mas me distraí vendo um casal na mesa quase do lado. 

O carinho entre eles era visível a qualquer um que olhasse. Não só na troca de olhares, claro, mas no sorrisinho idiotado na cara do rapaz enquanto a garota falava sem parar. Nas mãos dadas em cima da mesa e no jeito que as pernas deles se encostavam embaixo da mesa. 

E quando ele a beijou, interrompendo o discurso dela, acabei desviando o olhar, constrangida e dando de cara com o olhar curioso de Steve. Ele olhou na direção de onde eu estava olhando e voltou a olhar para mim. 

Se ajeitou na cadeira, suspirando. 

-Você tinha um namorado? Na Hydra? 

Neguei, cruzando os braços. Lembrei do meu psicólogo dizendo que um dos primeiros passos para eu tentar me abrir para outras pessoas era não cruzar os braços. Os soltei um suspiro pesado, juntando minhas mãos em cima da mesa. 

-Não. 

-Por quê? Não conheceu ninguém ou...? 

-Não conheci. Mas duvido que fossem deixar eu acabar namorando alguém. 

Steve assentiu. 

-Nunca acharam que você e o Soldado...? 

A mania dele de deixar as perguntas no ar estava começando a me irritar. Suspirei. 

-Que tínhamos mais que "uma transa" casual? 

Steve fez uma pequena careta, mas confirmou. 

-Na verdade, sim. Achavam que ele estava se apegando a mim, por isso, depois de um tempo, colocaram uma segunda garota que eu não conhecia. 

Steve cruzou os braços e assentiu. Percebi que ele já sabia disso, lógico. Bucky devia ter contado. Ele estava só me testando. 

-E deu certo? 

-Não, o Soldado ficou muito irritado e atacando qualquer um. Inclusive a garota. Só se acalmou quando eu voltei. Então, eles realmente não começaram a ligar com o que eu fazia com ele ou não, contanto que ele ficasse feliz e obedecesse... - Olhei para ele. - No fim, ela era até legal, entende? 

Steve arregalou os olhos. 

-Ela era? 

-Era. Não é mais. Morreu enforcada. 

-E devo supor que foi o Soldado. 

-Foi. - Dei de ombros. - Mas sabemos que a culpa não foi dele. Ele pediu durante semanas para eu voltar e ninguém ouviu. 

Steve suspirou, bem forte. 

-Nunca teve medo dele, Naomi? 

-Você já? - Devolvi a pergunta. 

Steve ergueu as sombrancelhas. Assentiu. 

-Claro... Eu achei que ele ia me matar na segunda ou terceira vez que o vi, mas... Bem, eu sabia que ele estava lá dentro de alguma forma e acabei aceitando que seria uma péssima forma de morrer, mas que era melhor do que na mão dos inimigos. 

Quando nossos pratos chegaram, começamos a comer. 

-Mas respondendo sua pergunta, Rogers... 

-Steve. 

-Steve... Okay. Enfim, é claro que eu senti medo! Muito! Implorei para não ir, mas me obrigaram e eu achei que ia morrer. Porém... 

Notei que ia contar a história do apelido e calei a boca. Steve me olhou, intrigado. 

-Porém...? 

-Bem... Depois de um tempo, de alguma forma, percebi que quando ele não estava sob o controle de alguém, ele era legal... Muito, na verdade. 

Steve deu um sorriso enorme. 

-Ah, bem... Isso eu tenho que concordar, sabe? Ele sempre foi muito legal! - Steve ergueu uma sombrancelha e deu de ombros, comendo. - Ele falava demais de você... 

Abaixei a cabeça e tentei controlar a vontade de sorrir. 

-É? 

-Aham... De você e uma garota chamada Ellen. 

Dessa vez, até minha mão parou suspensa no ar. 

-Quem era Ellen? O Bucky contou que ela... 

-Minha irmã. 

O queixo de Steve foi ao chão. Não chorei, claro. Chorar era sinal de fraqueza. Mas deu um longo suspiro. 

-Irmã? 

-Sim. Por parte de mãe. Ela trabalhava para a Hydra, mas odiava. - De repente, senti uma vontade enorme de falar dela, como se ao citar Ellen, ela pudesse continuar alí, do meu lado. - Ela era bem mais velha que eu, porém, mãe dela foi só a barriga de aluguel que meu pai precisava. Enfim... Nos conhecemos quando eu conheci o Soldado. Ela... Era tão legal, Steve! 

Steve esperou. Apertei minhas mãos. 

-Ela sempre conversava comigo e ficava muito revoltada quando via ao que eu era submetida. É claro que eu não entendia porquê, afinal, eu achava que tudo que eu fazia era normal. Mas, depois de um tempo, quando acabei deixando escapar que o Soldado Invernal ia fugir e prometeu me levar junto e eu não queria ir, ela explicou que eu devia ir, porque o que eu vivia não era vida. E me explicou do abuso sexual, psicológico, físico... No começo, é claro que eu não aceitei, achei que ela estava mentindo. 

Steve parecia meio nauseado. Mas eu já tinha contado ao Fury e, algo me dizia que Steve já sabia o que eu estava contando. 

Melhor ser honesta de uma vez. 

-Como você viu que ela não estava mentindo? 

Suspirei. 

-Foi o Bucky. Ele estava mudando, sabe? O choques já não adiantavam muito... E ele estava desesperado para ir. É claro que eu pedi para ele não ir, já que ele era o único homem que não me tocava e que não deixava ninguém me tocar, se estivesse perto. Acabei falando o que a Ellen disse e ele confirmou, dizendo que era, exatamente por isso, que ele ia voltar para me tirar de lá. 

Steve franziu a testa. 

-Espera... Como ele não esquecia de quem você era depois dos choques? 

-Não faço idéia. 

Ficamos em silêncio vários minutos, minha mente voltando para Ellen. 

-Eu posso... Perguntar como....? 

-Quando o Soldado fugiu, acharam que eu sabia do plano e não informei. Mandaram atirar em mim, mas Ellen assumiu a culpa e morreu por mim. 

-Eu sinto muito, Naomi. De verdade. 

Vi verdade nos olhos dele e Assenti. 

-Obrigada. Eu não fico de todo triste porque sei que foi uma forma dela se libertar, também, entende. Ela odiava aquela vida. 

Ele assentiu. E mudou drasticamente o assunto. 

-Bucky me falou que vocês vão para Washington. Tá animada? 

Neguei. 

-Tô com medo de acontecer algo. Mas ele insistiu tanto que não tive coragem de negar. 

Steve maneou a cabeça. 

-Claro, é compreensível, mas não acho que algo vá dar errado. E ele precisa de companhia, Naomi. Esse término com a Sophie mexeu com a cabeça dele. 

Encarei Steve. 

-Eu sei. Mas você não deveria estar fazendo companhia a ele também? 

-Eu faço. Mas de dia. Você, a noite. Duvido que ele vá querer dormir comigo. 

Dei um sorrisinho discreto. 

-Você sabia da Sophie? 

Steve balançou a cabeça. 

-De forma alguma. Na verdade, eu suspeitava. Mas não sabia. 

Dei de ombros. 

-É uma pena, eram um casal lindo! - Decidi jogar no ar. - Dava para ver, de longe, que se amavam! 

Steve me encarou e franziu as sombrancelhas.

-Dava? 

-Ué, não dava? 

-Você acha que eles se amavam? 

-Você não? - Fiz uma pausa. - Tá, talvez a Sophie não amasse ele, mas o Bucky com certeza ama ela, não? 

Steve fez uma cara de resignação e balançou levemente a cabeça, em negativa, antes de responder: 

-Não é a Sophie que o Bucky ama. 

Engoli em seco. Ele continuou. 

-Sinceramente? O Bucky precisava de alguém para suprir a carência e a Sophie precisava de alguém para subir de cargo, sabe? É claro que cheguei a achar que eles se gostavam mas.. Tem uns meses que nunca mais pensei nisso. Sabe, Naomi, eu conheço o Bucky desde a gente tinha sete ou oito anos, e eu sei, exatamente, quando ele gosta de alguém. 

De repente, ficou muito, muito calor no restaurante. Bebi meu refrigerante de uma vez. Steve continuou me encarando.

-Enfim... Quanto à viagem... Aproveita. Vocês não vão trabalhar o tempo todo e precisam, mesmo, distrair a cabeça. 

Concordei. 

Realmente, era tudo que eu precisava. 

Me enfiar em outra cidade, ignorando o fato que sou procurada, com um outro cara, que também era procurado, o qual, secretamente, eu tenho uma paixão platônica do tamanho de um abismo. E ainda por cima, eu não tinha instabilidade emocional alguma! 

Nossa, eu realmente precisava muito disso! Perfeito! 

Eu vou matar o Bucky quando a gente chegar em Washington... 

-Naomi? 

-Hm? 

-Obrigado. Por aceitar almoçar comigo. E por se abrir. 

Dei um pequeno sorriso. 

-Me odeia menos agora? 

Ele riu, sem graça. 

-Não te odeio, Naomi. 

-Mas não gosta de mim. 

Ele revirou os olhos. 

-Você é lerda mesmo, né? 

Franzi a testa. 

-Sou? 

-Eu não tenho nada contra a sua pessoa. 

Silêncio. 

-Se você não tem nada contra a minha pessoa, então você tem contra o que? 

Steve piscou, bebendo o copo dele. 

-Se Deus quiser, em Washington você descobre. 

Ooie, Meus anjos!

Retornei com um Capítulo que é muito especial para mim, onde o Steve e a Naomi começam a se resolver! 🤭❤

Eu sei que eu estou muuuito sumida daqui, mas é por causa da faculdade. Assim que eu tiver um tempinho, eu juro para vocês que vou voltar a postar direto!

Ah, estamos quase chegando em 900 visualizações! Eu tô tão soft! 🥺🥺💖🤧

Até o próximo e obrigada pela paciência!

Bjs 💋💋