Fury.
-Eu juro para você, Naomi, que estou tentando entender como que alguém se esquece de mencionar um detalhezinho tão importante quanto esse, sabe? - Fury me olhou com o olhar reprovador.
Senti a base da minha coluna arrepiar.
Eu estava sentada na frente da mesa dele, lutando contra a claridade do Sol que entrava pela janela atrás dele. Ao menos, não conseguia enxergar totalmente o semblante de Fury.
-Eu só achei que não era importante... - Dei de ombros.
-Achou que não seria importante mencionar que você é filha dele?!
Abaixei o olhar para minhas próprias mãos. Ótimo, ele ia me expulsar da Shield.
-Eu achei que você tinha apenas uma síndrome do pânico fortíssima mas agora eu entendo toda a sua paranóia de ficar com capuz direto e odiar sair na rua... Como você pode ser filha dele e mesmo assim, ele ter te obrigado a fazer... Aquilo tudo?
Suspirei, erguendo o olhar novamente.
-Não sei... Mas era essa a premissa que ele usava: "Você é minha filha, Kaya. Fará tudo que eu mandar! Confie em mim, sei o que é melhor para você, para nós! Eu nunca faria nada de mal, Kaya! Preciso que você entenda que deixar os amigos do papai feliz, me deixa feliz! Você pode fazer isso?". - Imitei a voz dele. Cruzou os braços irritada. - Humpft!
Fury não respondeu. Apenas massageou a ponte do nariz.
-Como soube, Fury?
Fury olhou para mim com aquele olho único.
-A questão não é como... A questão é que você deveria ter muito mais supervisão e segurança por ser filha de quem é. A Hydra não vai medir esforços para pevar você de volta, nem que para isso, ela precise eliminar qualquer um na sua frente... O que me faz pensar: Aquele tiroteio ontem... Ele foi aleatório ou proposital?
Abaixei, de novo, a cabeça. Ele tinha razão.
Como se tivesse lido meus pensamentos, ele apenas disse:
-Fugir não é a solução, Naomi.
O encarei, perplexa. Ele continuou.
-Querendo ou não, você sabe muita coisa sobre nós agora. Não vou deixar que vá embora.
Assenti.
-Você também acha que eu posso ser uma armadilha, mesmo depois de dois meses?
Fury franziu a testa.
-Também?
-A Wanda faz questão de tentar espalhar isso ao máximo. E tenho motivos para achar que é isso que o Rogers pensa.
Furu balançou a cabeca.
-Não é pessoal, Naomi. Eu não confio nem mesmo na minha própria sombra. E acho que você me entende um pouco, não?
Dei um sorriso culpado.
-Infelizmente, sim, Senhor.
-Até onde a falta de confiança é uma forma de defesa e até onde é paranóia? - Fury mumurou, como se estivesse falando sozinho. - Levando em conta que seja apenas paranóia... Naomi, como posso acreditar que você não está em contato com a Hydra? Ou que não pretende nos trair, nos entregar? Ou que os laços sanguíneos não vão falar mais alto?
Suspirei, cansada. A sono começava a me abater.
-Só o tempo vai poder dizer, Fury. Mas se eu posso deixar uma pequena garantia...
-Garantia?
Peguei uma caneta na frente dele e rabisquei um pedaço de papel com uma espécie de contrato. Assinei e o entreguei.
Fury ergueu as sombrancelhas e fez uma cara engraçada.
-Está me dando autorização para te matar, caso você volte para o lado deles? Está de brincadeira?
Neguei.
-Não. A autorização é real. Eu nunca descumpro uma promessa, Fury. Pergunte ao Bucky.
-E como isso vai me ajudar a confiar em você?
-Não vai, na verdade. - Admiti. - Mas, em parte, vai aliviar sua culpa caso você tenha que me matar. Já é algo, não?
Fury deu um meio sorriso e guardou no bolso o papel.
-Já... Já é algo, sim. Não tem mais nada que queira me contar? Algo que esqueceu de mencionar, junto à identidade do seu pai?
Eu já estava na merda mesmo. O que custava me afundar mais um pouco nela?
Terminei de contar todo o resto ligado ao meu pai que não contei antes por medo.
Saí da sala do Fury com dor de cabeça e com o corpo todo dolorido de tensão. Mas pensando bem, ele foi bem compreensivo e não surtou, como eu achei que faria. Talvez, a impressão que tive quando o conheci, a que eu teria um amigo além de um chefe, era verdadeira.
Olhei para o relógio do meu celular e vi que já eram duas da tarde. A conversa tinha durado muito mais tempo do que eu previ. Como não vi ninguém conhecido, fui direto para o apartamento. Quando entrei, senti cheiro de comida e imaginei que fosse Wanda e Visão .
Me joguei no sofá, procurando pelo celular algum lugar que eu entregasse por alí.
-Oi, Naomi! - Natasha entrou na sala, vestindo um avental rosa. - Já almoçou?
Neguei.
Natasha me olhou seriamente.
-Você está bem?
Exitei. Porém, neguei de novo. Agarrei uma almofada e fiquei olhando para o nada, tentando controlar o choro que queria vir. Natasha andou até a minha frente e se ajoelhou, pegando a minha mão.
-O que houve? Você está com uma cara péssima...
-Nat... Você sabe de quem eu sou filha? - Perguntei, bem baixinho.
Achei que Natasha não tivesse escutado. Mas ela suspirou e se levantou, se jogando ao meu lado.
-Eu não deveria... Porém, eu sei, exatamente de quem você é filha.
Assenti. Obviamente, Clint contou para ela.
-O Steve sabe?
Natasha me olhou torto.
-Eu acho que não. Ao menos, nunca falei sobre isso com ele.
Assenti de novo.
-Nat... Trair é muito feio?
Natasha me virou de frente para ela.
-Quer me contar algo, Naomi?
Levantei do sofá e puxei Natasha até o meu quarto, tirando a blusa do Bucky quando entrei e ficando só com as minhas. Sentei na cama e puxei ela junto.
Acabei explicando tudo que houve desde que Bucky apareceu na porta do meu quarto, até o momento que ele saiu aborrecido.
Natasha suspirou, prendendo os cabelos em um coque no alto da cabeça.
-Eu entendo que você tenha tido outra criação, Naomi. Até certo ponto, eu tive quase a mesma. Mas aprendi com o tempo e na própria pele que sim, traição é algo errado e feio, mas que não possa ser perdoado.
Abrecei meus joelhos e encostei a cabeça neles.
-Eu... Eu só quero que ele fique feliz, sabe? Achei que voltar para ela seria a solução. E além disso, eu não o obriguei a voltar. Ele pediu uma opinião e eu dei. Não sei porquê ficou tão aborrecido!
Natasha riu, se apoioando nos cotovelos.
-Humanos são complicados, Naomi.
-Não vejo nada de complicado! - Retruquei, mesmo sabendo que parecia infantil. - Se eles se amam...
Natasha suspirou e me encarou com um sorrisinho.
-Naomi... Você acha mesmo que eles se amam?
Ergui a sombrancelha. Para mim, parecia que sim.
-Não?
-Escuta... Eu poderia te beijar agora. E sair por aquela porta falando para todo mundo que somos namoradas. Isso quer dizer que nos amamos?
Torci a boca.
-Não...
-Exato!
-Tá, mas por quê o Bucky ficaria junto com ela se não a ama? E por quê ela ficaria com ele?
Natasha bateu na própria testa. A impressão que eu tinha é que ela estava tentando explicar a uma criança de cinco anos quanto era um mais um.
-Ela, eu não sei... Status? Interresse? Ela pode até ter gostado um dia dele, mas o sentimento mudou e ela se acomodou. Mas ele... Eu acho que foi por carência, entende? Para ser aceito e se aceitar... Pensa só : Quando o Bucky chegou aqui, ele era um bicho assustado, mais que você. Talvez, na cabeça dele, namorar alguém poderia ser uma forma de dizer para si mesmo e para todo mundo que ele seguiu em frente e se aceitou.
Refleti.
É, isso fazia sentido.
-Ele não se aceitou. - Falei.
Natasha me encarou.
-Como?
-Ele não se aceitou, Nat. - Expliquei. - Olha, eu conheço cada linha de cicatriz que tem naquele ombro. Já vi, mil vezes as curvas da barriga dele e sei cada pelo que ele tem no peito...
-Nossa... - Natasha sorriu, maliciosamente. - Fiquei até excitada, agora...
Abri a boca, mas não saiu som algum. Senti que fiquei vermelha e a encarei. Começamos a rir igual duas hienas drogadas.
-Desculpe interromper, continue. - Natasha gesticulou, com a mão.
-Enfim... O que eu quis dizer é: Ele não se aceitou. Não aceitou o Soldado e nem tudo que ele passou. O Soldado não exitava em ficar sem camisa, fazendo calor ou frio. Nem se importava se falava alto ou não... O Bucky se policia o tempo todo, tentando entrar nos padrões.
Natasha assentiu.
-Nunca vi ele sem camisa.
Concordei.
-E não é só isso. Ele sorri o tempo todo, mas quando fica alguns segundos sozinho, dá para ver, pelo olhar dele, tudo que ele passou refletido alí. Toda dor, raiva, mágoa, tristeza... - Suspirei e abracei meus joelhos de novo. - Se eu pudesse, tirava tudo dele e transferia para mim.
Natasha ficou imóvel. Me dei conta do que eu disse segundos depois, mas ela já sabia. Não tinha porquê esconder.
-Amiga... Por quê "Abelhinha"?
Corei e virei para o lado.
-Nada demais...
-Então me conta?
-Não.
-Por quê?
-Porque é ridículo!
-Naomi!
-Ai, tá bom! Mas não ri! - Reclamei,
-Juro que não vou rir.
Suspirei.
-A primeira vez que me mandaram ver o Soldado Invernal, eu estava vestida de Abelha sexy. Ele deu um sorriso quando viu e...
-E?
-Ah, ele perguntou...
-Perguntou...?
Respirei fundo e falei de uma vez.
-Ele perguntou se era para ele ser o Zangão.
Natasha deu uma risada mas mordeu a boca, controlando.
-E...?
-E ai... - Bufei. - E ai, eu respondi que só se eu fosse a Abelhinha dele.
Enterrei minha cara no travesseiro. Natasja explodiu em gargalhadas. Eu sabia que ela ia rir de qualquer forma, mas mesmo assim, me irritei.
-Natasha! Você prometeu que não ia rir!
-Você tinha quantos anos?!
-16.
-E ele era o Soldado Invernal?
-É, era...
Natasha não sabia com o que estava mais impressionada: O Soldado Invernal rir e fazer uma piada, ou o Bucky não lembrar o porquê me chamava de Abelhinha.
-Mas temos que admitir, Naomi... O Bucky é mesmo um zangão!
E eu não sabia do que eu me arrependia mais: Contar a ela ou achar a história, realmente, engraçada e concordar sobre o Zangão!
Quando terminamos de rir, ficamos em silêncio durante vários minutos, cada uma perdida em pensamentos, até que Natasha me dá um tapinha na coxa e um pulinho no sofá.
-O que foi? - A olhei de lado.
-Vamos implicar com o Sam?
-Implicar com o Sam?
-É! - Natasha levantou do sofá e me puxou pelas mãos. - Tem algo melhor para fazer?
Dei de ombros.
-Na verdade, não...
-Então, vem!
Deixei que Natasha me arrastasse pelos corredores da Shield, até pegarmos o elevador e irmos para a garagem. Andamos entre os carros e motos e Natasha foi até uma portinha, no final da garagem, falando animada sobre uma Agente chamada Barbara e a queda dela pelo Clint.
Natasha colocou um código de acesso e a portinha abriu, revelando o que me pareceu uma oficina, mas toda tecnológica.
Achamos Sam entretido em colocar as asas que ele tinha polido de volta na estrutura de vôo dele. Natasha fez sinal para eu calar a boca e andou devagarinho até ele, e no nomento em que ia dar um susto em Sam...
-Nem pense nisso, Natasha!
Natasha fuzilou Sam com o olhar e revirou os olhos. Sam largou as asas e tirou os óculos de proteção, me dando um sorriso.
-Como sabia que a Nat ia te assustar? - Indaguei, encostando na mesa ao lado dele.
Sam deu de ombros e observou Natasha sentando na mesa, aos lado das asas.
-Escutei os saltos dela e senti o perfume das duas.
Natasha deu um tapa nele.
-Parece um animal!
-Ai, Nat! Doeu! - Sam esfregou o braço. - Acho que não é à toa que eu sou o Falcão, não?
Tentei reprimir, mas o bocejo veio três vezes seguidas. Sam e Natasha ainda estavam discutindo sobre Sam ter mexido sozinho nas asas. Ele revirou os olhos e exclamou:
-Eu pedi pro Tony fazer tem duas semanas, Nat! Não dava mais para esperar, eu não estava conseguindo planar direito de tanta poeira e fuligem...
-E imagina se agora você não consegue voar direito porque fez besteira nesses trecos?
-Asas, Nat! Me ofende mas não chama isso de treco...
Dei um risada que fez Sam rir também. Em seguida, Natasha também. Nos entreolhamos. E começamos a rir.
Uns cinco minutos e três faltas de ar depois, nos encaramos.
-Tá, por que estamos rindo igual três hienas retardadas? - Sam questionou.
Dei um abraço nele e Sam envolveu meus ombros, me dando um beijo na testa. Notei o olhar de Natasha e desviei.
Eu mereço...
-Porque você é estranho! - Comentei.
-Eu? Foi você que começou a rir!
-Se você não fosse tão idiota eu não ria!
-Eu não sou idiota! Você que é palhaça demais, Naomi!
Dei um soquinho no peito dele, o que fez Sam rir. Natasha pulou da mesa, mexendo no celular e saiu da sala, apressada, porquê foi convocada por Fury urgentemente.
Encostei ninha cabeça no ombro de Sam e bocejei de novo. Sam suspirou.
-Tá com sono?
-Um pouco. Não dormi direito...
Sam desencostou de mim e ergueu as sombrancelhas.
-Não dormiu, é?
-Nada.
-Hummmmmm....
Revirei os olhos.
-O que foi?
-O Bucky dormiu no seu quarto, né?
Silêncio. Devo ter ficado vermelha.
-Não é nada disso!
-Aham! Sei...
-Sam!
Ele riu e entrelaçou nossos braços, me guiando para fora da oficina.
-Não quero saber, Naomi! E como também não quero morrer enforcado e nem levar um soco daquele braço... Vou te levar para dormir!
Não adiantou reclamar, afinal, eu sabia que ele estava insinuando para me irritar, então desisti.
Mas ele tinha razão, eu precisava mesmo descansar!
Assim que entrei no apartamento, fui correndo para o meu quarto e dormi em minutos.
Ooie, Pessoal! ❤❤
Voltei com mais um Capítulo! 🤭💖
E eu não sei vocês, mas eu fiquei com tanta pena da Naomi quando ela deu a autorização para o Fury matar ela... 😭
Mas eu também ri muito quando a Natasha descobriu o porquê do apelido! 🤣🤣🤣🤣🤦🏻♀️👀
Espero que tenham gostado!
Até o próximo!
Bjs 💋💋
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