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As instituições um dia caem

Diana

À caminho do Condado de Williamson

Arredores de Liberty Hill, dias atuais

Ao chegarmos, em Dallas, havia um carro esperando por nós, enviado por Ruth. Eu imaginei que toda a família estivesse reunida para o enterro, quero dizer, aqueles parentes que eu não conhecia e viviam espalhados pelo mundo. Se é que eles existiam. Eu só saberia ao chegar à sede da fazenda.

O motorista era um tanto estranho. Um homem alto, forte, com feições exóticas: nariz aquilino, maçãs altas, olhos verdes, mas cabelo encaracolado e pele muito bronzeada. Ele quase não falava. Disse apenas que Ruth o enviou.

E que seu nome era Sony.

Seb me contou que ele era mestiço de cigano com afro-americano. Seu antepassado mais remoto foi um guerreiro zulu que lutou e cavalgou lado a lado com Alec James, chamado Wayo.

Eu comecei a rir silenciosamente. Mas me contive quando o rapaz nos encarou pelo retrovisor. Cochichei no ouvido de Seb:

-Ele se chama Sony Wayo? Pra valer?

Só então Seb entendeu a analogia. Os computadores.

Conteve um sorriso e encolheu os ombros.

-Meus pais me deram o nome muito antes de inventarem esses malditos computadores - resmungou Sony, lá da frente.

Nossa, que audição tinha o rapaz.

-Dizem que Wayo era um príncipe em sua terra – comentou Sebastian, lançando um olhar de esguelha pelo espelho retrovisor. Como se estivesse provocando o outro.

Sony revirou os olhos e continuou dirigindo.

Ao chegarmos à sede da fazenda Quint, o clima que nos envolveu logo na entrada, era de tristeza. Os empregados tinham um ar tão melancólico que dava para ver que sentiam a falta do falecido patrão.

-AJ era querido entre os empregados da fazenda - explicou Seb. – Aliás, ele viu muitos deles nascerem e crescerem. Na verdade, ele viu nascer e crescer os pais e os pais dos pais deles. Para todos, aqui, AJ era como uma instituição. Embora fosse inevitável, ninguém estava preparado para a sua morte. - Ele parou de falar e ficou muito sério. – Preciso descobrir como aconteceu. Com licença, Diana, vou conversar com Ruth.

-Ótimo, eu também...

-Não! - ele disse num tom brusco, que me espantou, já que era sempre gentil comigo. Ele imediatamente se deu conta e suavizou tanto a expressão, quanto o tom. - É melhor não. Acho que Ruth vai se abrir comigo sem testemunhas... Além do mais, você é muito parecida com Maria Júlia.

Ele esperou que eu assimilasse a informação por trás da informação. Claro, Ruth era a segunda esposa e não iria se sentir confortável com a imagem viva da primeira. Eu me senti tão constrangida, que disse:

-Acho melhor eu ir para um hotel. Não quero causar constrangimento - eu balancei a cabeça, girei nos calcanhares, mas ele me deteve pelo braço.

-Não, pelo amor de Deus! Ruth iria se sentir mal com isso. E hoje, o luto dela já é um fardo pesado demais para acrescentar a culpa. Por favor, Diana. Apenas... Espere!

Eu entendi o que ele queria dizer, em seu linguajar curto e direto de cowboy. Eu deveria apenas recuar um pouco. Dar espaço a viúva. Ele tinha razão, não era o meu momento de dor, mas o dela. Eu não tinha o direito de fazer uma saída dramática, como uma diva ofendida.

-Claro, está certo...

Ele sorriu aliviado e disse:

-Seu quarto deve estar preparado. Mandei orientações quanto a isso. Por que não vai tomar um banho e logo, poderá encontrar nossas mães em algum lugar por aí. Acho que elas também estão dando um espaço para Ruth.

-Certo - balbuciei e me dirigi à escada. Imediatamente, a governanta apareceu do nada e disse:

-Por aqui, senhorita - e subiu na minha frente para indicar o caminho.

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