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A lua da colheita

Maria Júlia

Jardim Botânico, 1889

-Começo a achar que não foi boa ideia - Narda comentou, brincando nervosamente com o cordão que atava a sombrinha. O sol migrava para o horizonte e a luz, sem forças para escapar por entre as copas das árvores, tornava-se mais e mais esmaecida.

Uma luz que eu classificaria como boêmia...

-Deixe de frescuras, madame... - Eu a admoestei, percebendo-lhe a cara amarrada. - Cadê o seu espírito de aventura? Pra quem veio sozinha da França...

Motivo que madame negava-se a revelar...

Às vezes eu fantasiava que ela teria ofendido alguém importante do crime organizado local, que agora queria a sua cabeça; que ela teria roubado ou matado alguém; que estaria fugindo de um marido abusador...

-A senhorita, que é tão independente e audaz, de súbito ficou medrosa.

Ela não disse nada. Os olhos castanhos perscrutando as sombras cada vez mais compridas, no solo. As mãos apertando a sombrinha. Estava realmente assustada.

Ao avistar o agrupamento de plantas lupinus, respirei aliviada.

-Ali, veja! Não precisamos andar mais!

Narda parou, sem fôlego, meio atordoada, mas penso que foi mais pelo pavor que a dominava do que pelo esforço físico.

Nós nos acomodamos num banco perto da plantação. Eu trouxe o meu caderno de desenho, onde já tinha feito vários esboços da planta em seu estado normal, com data e assinatura. Um dia, eu iria emoldurá-los e pendurá-los no meu herbário. O primeiro do Rio de Janeiro.

Suspirando, olhei para o céu. Teríamos uma lua cheia na sexta feira 13. A lua da colheita, como diziam alguns, prometia ser um evento digno de registro histórico! Não havia nuvens no céu. Seria... perfeito.

-Você não pretende ficar aqui depois de anoitecer, não é? - perguntou-me Narda, horrorizada.

-Pois se é para isso que viemos, para acompanhar o comportamento da planta durante a lua cheia... - minhas sobrancelhas se ergueram, sugestivamente.

Ela continuou me olhando... - Comportamento - repetiu tolamente. - Da planta?

-Isso mesmo - eu disse, ignorando seu tom assombrado.

Apressei-me em tirar a toalha quadriculada de dentro da cesta para podermos sentar no gramado - mais perto do nicho onde as plantas foram cultivas. (Passei muito tempo trabalhando nelas para que o medo de minha acompanhante me detivesse.)

Narda pôs a cesta aos nossos pés. Lembrou-me o tempo todo que o momento era inapropriado para um picnic devido o adiantado da hora; que ela não imaginou que teríamos de andar tanto. Nem que o tempo iria passar tão rápido...

-Tudo fica longe, aqui, no Jardim Botânico - expliquei, pois eu era exímia frequentadora.

-É imenso! - disse ela, reconhecendo o fato. - Por isso, acho melhor voltarmos em outro dia, pela manhã...

-Não, o propósito científico de se observar o comportamento da planta com a mudança de período, é fazendo durante a mudança de período.

Ela resmungou algo sobre propósito científico e mulheres... Retirou do cesto o lanche que encomendamos à cozinheira, e pô-se a desembrulhá-lo.

Bem, nada iria abalar meu entusiasmo. Eu tinha aquele resto de luz do dia para observar as plantas lupinas em seus dois estágios. Diurno e noturno. E era o que eu iria fazer.

E pensar que tudo colaborou para aquele momento, inclusive a viagem de negócios de meu pai, que se estendeu além do previsto. Ele não estaria em casa para vigiar os meus passos, pois estava verificando os boatos das atividades republicanas a serviço do Imperador; aparentemente, os boatos estavam encontrando algum eco entre as tropas do Exército. Essas informações não eram dadas às mulheres, então, eu as coletava escutando atrás das portas. Por isso, sei que a viagem de papai seria o período ideal para fazer as pesquisas que eu queria.

Mamãe não contaria a ele, com receio de que levasse adiante sua ameaça de me mandar para um hospício, na Suíça (para tratar a minha suposta doença dos nervos).

Suspirei de contentamento, antecipando que sairia ilesa de mais uma das minhas pequenas aventuras. O sol continuou migrando, e eu tirei o caderno para poder desenhar a planta com o resto de luz natural. O problema seria quando escurecesse completamente. Daí, eu teria que desenhar com a ajuda de uma vela, rezando para que não ventasse. Pois se isso acontecesse, a vela iria se apagar.

Por sorte, estava tudo realmente parado. Anormalmente parado, como eu já tinha percebido desde que cheguei ao Jardim, sem que as criaturas que vivem nas matas se manifestassem. Era como a calmaria antes de uma tempestade.

E como sempre ventava no litoral, mesmo uma suave brisa, eu estranhei tanta... imobilidade. Havia uma carga no ar. Ou melhor dizendo. O ar parecia pesado. Carregado, como que se pronto para explodir em estranhas irradiações.

Tracei rapidamente o esboço da planta que escolhi como modelo, na posição atual. A medida que a observava, de fato, notei uma leve alteração quando o sol se derramou numa linha incandescente acompanhando os contornos da montanha.

Retirei vela e fósforo do cesto, pronta para acender o meu pequeno candeeiro.

Narda comia seu lanche em silêncio. De repente, começou a guardar tudo e disse:

-Vamos embora daqui, agora!

-Que é isso, Madamoiselle? Eu ainda não terminei a minha tarefa.

A outra se sentou com as costas eretas, inconformada diante do meu calmo destemor. Voltei a atenção para o céu obscurecido e vi a lua majestosa, imensa, dominar o cenário no canto extremo oposto do céu. Como uma diva que precisa do palco só para si. A lua foi subindo e eu notei, maravilhada, que a planta lupina se inclinou, acompanhando o movimento. Desenhei freneticamente o processo quadro a quadro.

Então, um grito agudo cortou o ar. Eu e Narda nos pusemos de pé ao mesmo tempo, num salto.

-Isso foi um grito?

-Receio que sim - respondi, sentindo os pelos dos braços eriçarem. - Olhei ao redor, tentando localizar a origem do terrível som. Não era possível identificar até que eu o ouvi novamente e presumi a direção.

-Vem de lá - apontei; ato contínuo, levantei as saias e corri.

Narda tentou me impedir, mas não conseguiu. Demorou alguns segundos para que saísse de sua catatonia e entendesse que eu pretendia socorrer quem estava gritando. Quando tentou me seguir, eu já estava a meio caminho das árvores, e fora de suas vistas. Virei para trás e também não a localizei mais.

O grito soou novamente. Mais baixo e agonizante. Tentei encontrar o ponto de origem. Era a voz de uma mulher, e parecia estar sendo atacada. Talvez assaltada.

Meu Deus! Nem pensei que estaria correndo algum risco no desejo de tentar ajudar, embora todo o meu corpo e toda a minha intuição gritassem para que eu corresse na direção contrária. Mas quando pensei que realmente deveria procurar ajuda no engenho, ou na sede, já era tarde. Eu estava perdida no meio da mata.

Caminhei alguns passos e me deparei com uma enorme clareira. Havia uma cachoeira artificial com pedras e um jardim criado pela mão do homem. Compreendi que tinha alcançado a área de lazer e descanso do Jardim.

Girei nos calcanhares, movida por impulso inexplicável e surpreendi uma sombra peluda enorme correr em quatro patas para dentro do mato, deixando atrás de si o balançar agitado das folhas das árvores. Um rosnado animalesco seguiu-se à corrida. Eu fiquei congelada no lugar, até que a imagem de uma figura caída no chão colocou-me em movimento.

Enquanto me aproximava, meu cérebro lançava mil questionamentos sobre a coisa que vi desaparecer na escuridão da mata. Era real, ou produto da minha imaginação? Caminhei, trêmula, em direção a figura caída no chão. Meus pés calçados em sapatilhas confortáveis provocavam estalos nos cascalhos espalhados pelo caminho do passeio.

Fui me aproximando devagar, tentando identificar a figura que estava no chão. Parecia uma trouxa de roupas... Só que não era uma trouxa de roupas. Era uma mulher. Uma garota.

Estava...

Parei de chofre, sentindo a bile subir pela garganta... A garota estava com a barriga rasgada na altura do umbigo, as tripas para fora, com as alças intestinais tocando o cascalho ao redor, já pintado de vermelho.

Sangue e carne para todo o lado.

Os olhos da moça estavam abertos, voltados para mim. Vítreos, provavelmente, na posição em que ela morreu. A boca estava aberta, como que na tentativa de emitir um último grito. Ela... tinha parte da blusa arrancada, e no lugar do seio, havia um buraco onde se podia ver parte de uma costela.

Suas roupas eram simples, de uma serviçal. Estava sem chapéu e havia tufos de seu cabelo longo e claro espalhados, como se tivessem sido arrancados. E mal havia trapos cobrindo-lhe o corpo, como se dentes poderosos tivessem rasgado a roupa. Aparentemente, fora arrastada por um bom trecho pelo cascalho até ali, uma vez que as marcas no chão eram evidentes. Estranho que eu ainda conseguisse reparar em tudo isso, enquanto o meu corpo se chocava no solo. E esse foi o meu último pensamento, antes de desmaiar.

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Acordei com alguém gritando o meu nome de longe. Eu fiquei desorientada, por um instante. Era Narda, que vinha correndo em minha direção. Não estava sozinha. Com ela, dois homens, um deles usava indumentária de um policial de rua. Meus olhos se voltaram para o chão e eu vi a garota morta, os olhos vítreos... E a lembrança do que presenciei veio com a força de um soco. Uma náusea violenta tomou conta de mim. De repente, meus olhos foram atraídos para a mata e eu quase desfaleci outra vez ao me deparar com um par de olhos prateados me observando. Pisquei e eles não estavam mais lá.

Os homens me cercaram, sem saber se me ajudavam a levantar ou se ajudavam a moça morta. Eles nunca tinham visto algo assim. Claro que não. Ninguém nunca tinha visto. Acho que eles tiveram um ataque pior do que o de Narda, que gritava e quase arrancava os cabelos.

Mas eu estranhamente não me sentia chocada. Ou estava chocada demais para sentir. Sei lá. O policial finalmente me ajudou a me levantar, enquanto o outro homem, que reconheci como um dos funcionários que trabalhavam no Jardim, cercava a mulher morta. Ele cobriu a boca com a mão, não acreditando no que estava vendo.

Narda veio me ajudar a sentar no banco...

-A senhorita quer que chame alguém para vir buscá-las? - perguntou o policial.

Só então entendi as implicações que estavam por vir, sobre o acontecido. Logo, minha família saberia que sua filha lelé da cuca tinha presenciado um assassinato.

-Por favor, chame Joaquim - eu pedi.

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