Capítulo 7: Uma noite sem lua
Os ventos noturnos uivavam forte do lado de fora da famosa estalagem onde dormia o grupo de viajantes. Se alguém ainda estivesse sóbrio e acordado àquela hora, com certeza começaria a duvidar da capacidade das paredes de madeira em protegê-los das intempéries do clima por muito mais tempo. Confirmando os pressentimentos do inexistente observador, subitamente uma rajada de vento e neve abriu violentamente uma das janelas e irrompeu pelo quarto onde dormiam a loba e seus companheiros.
Iarima acordou assustada, o barulho e vento lhe despertando os sentidos. Tateando a parede acima de sua cama, logo localizou a janela e com algum esforço conseguiu fechá-la. Antes de reclamar a desventura, porém, percebeu que nem Edriên, nem a loba, pareciam ter se incomodado com o forte barulho.
A jovem sentou-se na cama, esfregando os olhos. Ela os via muito claramente, apesar de ser tarde da noite. Olhando pela janela às suas costas, não havia lua no céu para iluminá-los, apenas um céu profundamente negro. Voltou a olhar para seus companheiros e então se deu conta da forte luz oscilante que emanava por baixo da porta que dava ao corredor. Ela apertou os olhos como se esperasse acordar, mas a luz de estranho padrão continuava tremeluzindo.
Iarima se levantou e foi até a porta. Olhou novamente para seus colegas e nada parecia perturbá-los, nem o barulho da tempestade, nem os passos dela no assoalho, nem a estranha luz que invadia o quarto. Ela levou a mão à maçaneta e a girou lentamente tentando não fazer barulho... A porta abriu.
Um profundo silêncio abraçou Iarima. Não havia mais o barulho da tempestade. Não havia frio. Do lado de fora do quarto, ao invés do corredor, se via um trabalhado túnel de pedras que dava para a mesma luz insistente e perturbadora de antes. Ao analisar o improvável caminho que surgiu, ela não se deu conta que já o percorria. Seguindo pelo túnel, após algum tempo, Iarima percebeu que as paredes ao seu redor se tornavam mais altas. Quanto mais ela vencia a distância até a luz no fim do caminho, mais lento seu caminhar ficava.
Ela olhou para o chão e se viu calçada com pequeninos e delicados sapatos que teimavam em chutar as bordas de seu delicado vestido azul cheio de babados enquanto andava. Ao olhar suas mãos, viu dedinhos atarracados e punhos curtos e gordinhos. Iarima soube que estava em mais um de seus sonhos em que aparecia como criança.
Ansiosa em rever as pessoas que gostava de seus sonhos, ela apertou o passo tanto quanto as pernas de um bebê que mal aprendera a andar permitiram. Após ao que para ela pareceu uma eternidade, finalmente ela chegou ao final do corredor.
À sua frente, podia reconhecer bem o pátio de seus outros sonhos. Aquele era o pátio externo do castelo, lugar que se via brincar vez ou outra entre criados e outras pessoas sem rosto. Era um lugar amplo, espaçoso o bastante para receber as carroças que precisavam chegar próximo aos estábulos que ficavam ali, cruzando o pátio. A área era cercada por altas paredes de pedra que separavam o pátio dos jardins, na parte sul, ou das áreas de serviço do castelo.
Contrariando suas expectativas, não foram as pessoas que gostava, ou os cavalos e carroças que viu ali. Ela descobriu enfim a luz que tanto a chamava:
Fogo! Fogo por toda a parte!!!
Ao invés apreciar o lugar de suas brincadeiras, podia assistir aos estábulos à sua frente sendo devorados pelas chamas. As entradas que davam para o castelo também cuspiam graves labaredas. Ao levantar os olhos contemplou o terrível pilar de fumaça negra que se elevava sinistramente aos céus.
Assustada, buscando entender a cena muda, Iarima ouviu um choro de criança. Ela buscou na direção do som, mas não a encontrou. Um novo choro seguiu o primeiro, depois outro e outro... Subitamente, dezenas de gritos infantis ressoaram por todos os lados. Iarima levantou as mãos tapando os ouvidos, mas ao invés de silenciá-los, os mais variados gritos de terror, explosões e toda uma confusão de estrondos juntaram-se em uma sinfonia de caos.
O pavor encheu o coração de Iarima e ela deu receosos passos para trás, voltando ao interior do túnel. Antes de ir muito longe, porém, um tipo de obstáculo invisível surgiu às suas costas, impedindo-a de prosseguir. À sua frente, pilares pontiagudos cor de marfim brotaram do chão e do teto, como grades que se encaixavam entre si e agora prendiam-na naquela cela que surgiu. O breu tomou conta e o chão se tornou irregular e macio, dificultando ficar em pé. As grades se afastaram por um pouco, as de cima para cima, as de baixo para baixo e a luz externa adentrou por instantes. Um vento de ar quente percorreu aquele lugar de dentro para fora e Iarima se deu conta que não estava em uma cela. Ela estava dentro da boca de um monstro!
Inesperadamente, algo começou a substituir o sopro de ar quente de sua "cela", algo mais denso e de temperatura mais alta. Algo que emitia a mesma luz forte e oscilante de antes. Eram... chamas líquidas! Antes, porém, de ser consumida pelas vômito flamejante que vinha em sua direção, Iarima despertou em sua cama na hospedaria.
De volta àquela realidade, Edriên e Luna ressonavam seu respirar de pesado sono. A tempestade rugia violenta e constante do lado de fora e todo o quarto estava mergulhado na penumbra noturna, com absolutamente nada fora do comum. Iarima, por sua vez, estava suada, ofegante e com o pulso acelerado. Ela ficou ali, parada, com os olhos arregalados, buscando recuperar o fôlego. Não tendo demorado tanto, ela ajustou-se na cama e, sem absolutamente nenhuma lembrança do sonho que acabara de ter, voltou a dormir.
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Papapaaaammm (música de suspense)
Não esquece da estrelinha!
;)
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