Capítulo 49: Doce Ilusão
— Camus, você já tinha visto isso? — perguntou Iarima.
— Isso? — Camus levantou a cabeça distraído.
— Essas flores. Eu não lembro de elas estarem aqui... Artus?
O elfo tornou o corpo de forma lenta, seus lábios formando um arco para cima e a lateral de seus olhos enrugavam acompanhando a expressão. Ele engoliu o que mastigava. Sua voz saiu tranquila:
— Sim?
Iarima levantou-se com o cenho franzido. Poderia jurar que havia até mais delas agora, desde os dois últimos segundos.
— Você está vendo essas coisas ao nosso redor?
— Coisas?
— Dário? Não é possível que só eu esteja vendo isso.
Dário fitou Iarima com um sorriso perfeito, revelando as covinhas sob sua barba que raramente apareciam. Cruzando os braços de forma relaxada, sua voz grave fez-se dois tons mais leve.
— Vendo? O que?
— Urgh! — arfou Iarima largando sua espada ao chão pressionando os punhos fechados próximos às coxas. Em passadas pesadas, ela se colocou ao lado da flor mais próxima e apontou com as duas mãos para a exuberante pétala. — Aqui! Vocês estão vendo iss...
Iarima conteve seu discurso no momento que suas mãos foram agarradas pelos tentáculos vomitados do interior da planta. A jovem berrou assustada, sentindo seus braços sendo puxados com força.
Os três homens olharam despreocupados. A flor era bem bonita. Fazia sentido Iarima querer fazer parte dela. Talvez eles também pudessem se juntar à flor. Seria bom.
Iarima xingou alguns nomes em meio a pedidos de ajuda, enquanto apoiava a perna no tronco da árvore, fazendo força em direção contrária à que era sugada. Pirita despertou assustada na gritaria e suspendeu-se ao ar em choque à cena da mulher brigando com a planta que lhe envolvia ambos os braços agora.
Com o pé direito apoiado no tronco ao lado, mas escorregando no solo abaixo de seu pé esquerdo, a falta de uma boa base impedia que mantivesse sua posição e cada centímetro perdido se mostrou impossível de reconquistar. Iarima viu a pétala se expandir para recebê-la, revelando um interior rosado e gosmento, muito diferente do que esperava ver em uma flor. Apesar de seus esforços e berros, não demorou para estar perto demais. Quando as mãos de Iarima adentraram o copo da flor, uma espada curta divisou pétala e tentáculos, livrando Iarima e fazendo-a cair para vários passos para trás pelo impulso que fazia tentando se soltar.
Edriên segurava com força a espada na mão trêmula, e a faca entre os dentes. Com a respiração ofegante, ela esticou o braço livre para ajudar Iarima a ficar de pé. Antes de alcançar a mão da menina, Iarima foi puxada pela cintura em outra direção. A ladina correu em seu auxílio, mas caiu ao ser agarrada pelo tornozelo reclamando num gemido abafado.
Depois de desistir de Dário, que ignorou seus chutes em seu nariz, Pirita mordeu a orelha de Artus, zumbindo efusivamente, tentando acordá-lo de seu sonho encantado.
A ladina dobrou-se enquanto era arrastada e, levando a espada a pouco abaixo de seus pés, livrou-se dos cipós que a amarravam. Ficando de pé em um salto, ela voltou a correr até Iarima, que agora se agarrava com todas as suas forças em uma raiz sobressalente no chão, gritando a dor de ser esticada pela cintura. Numa investida desesperada, a pequena loira cortou os tentáculos livrando Iarima mais uma vez. Entregando a faca extra a Iarima, só foi o tempo da guerreira segurar o cabo da arma para que as duas fossem retesadas em direções opostas em novos gritos angustiados.
Pirita quis arrancar os próprios cabelos, nenhum dos homens moveu-se ou demonstrou o mínimo incômodo com as pobres em gritos inflamados. Ela voou agitada até Camus e sacudiu-se a frente de seus olhos, zumbindo inconformada. Estreitando os olhos, o que ela viu à sua frente lhe deu uma ideia inusitada, mas impossível de não despertar a atenção do mago. Ela respirou fundo, lançou-se ao rosto de Camus, agarrou os dois pelos que se destacavam para fora de seu nariz e decolou num voo obstinado.
— Aou! — gritou Camus levando a mão ao rosto. Seus olhos encheram de lágrimas e pela primeira vez ele notou o barulho a sua volta.
Edriên mordia os cipós que lhe puxavam pelos pulsos e Iarima esfaqueava a planta que a suspendia pelos pés, fazendo a garota pendurada mergulhar de cabeça em direção a suposta boca da flor. Camus se levantou em um salto, trazendo o livro em seu flutuar esvoaçante. Movimentando a mão direita como se puxasse algo de dentro das páginas abertas do livro, chamas recobriram seus dedos e se lançaram conforme o garoto as arremessava em seus alvos. Primeiro, a flor que atacava Edriên se revestiu em chamas e depois a de Iarima, que caiu sobre o fogo e precisou rolar para apagar o que tomou suas roupas.
Camus caminhou em direção dela preocupado e logo os tentáculos lhe seguraram os pés. Não foi difícil para ele entregar a estes sua cota de fogo. Em pouco tempo uma série de fogueiras queimavam em pontos diferentes, depois que o mago decidiu queimar logo todas as flores que viu.
Pirita retornou do voo desgovernado que assumiu após os pelos de Camus se desprenderem. Os descabelados analisaram em silêncio os dois que não haviam perdido sua feição feliz desde que chegaram ali.
— Deixa eu acertar um chute para ver se não vão acordar agora — reclamou a menina de cabelos loiros.
— Talvez não precise de tanto. Podemos espetar suas mãos até que respondam — sugeriu Iarima.
— Ah, muito melhor. Me dá a faca!
Camus virou as costas fazendo uma careta, não quis assistir. Pirita flutuou ao seu lado e mirou o horizonte de árvores vermelhas e amontoados terminando de queimar. Um zumbido baixo saiu da boca do ser brilhante.
— Sim, foi por pouco — respondeu o mago.
Com os dois gemidos que se seguiram, Camus entendeu que era hora de seguir viagem.
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