Capítulo sete
Rebeca, diante daquela situação, ficou visivelmente assustada. Ali, na mão de sua avó, estava o brinco que tinha perdido. A velha senhora Edwirges o tinha encontrado e, pior, próximo à garagem. Rebeca começou a suspeitar que a avó a tinha visto, bisbilhotando.
- Muito obrigada... Vovó... - Disse, com muito custo. - Eu não sei como ele foi parar lá... Eu me lembro de não tê-lo visto desde o ocorrido na cachoeira... - Rebeca deu um gole no café, a fim de disfarçar seu desconforto e receio.
- Engraçado... Eu podia jurar que vi este brinco em sua orelha ontem à noite. - Comentou Dona Edwirges, olhando seriamente para a neta.
- Nã... Não, Vovó... - Retrucou Rebeca, gaguejando. - Acho que a senhora se enganou, eu achei que tinha perdido esse brinco... Na cachoeira...
Dona Edwirges continuou encarando a neta seriamente. Após um tempo, deu um leve sorriso e, com uma voz calma, disse:
- Você deve estar certa, meu amor. Tome, pegue. - E entregando o brinco à neta, concluiu. - Agora tome cuidado com as suas coisas, está bem?
Rebeca apenas assentiu e baixou a cabeça, estava intimidada com o olhar acusador da avó. Tomou o restante do seu café sem pronunciar uma só palavra. Guto percebeu o desconforto da irmã, mas sabia que, talvez, ela tivesse procurado por isso. Ficaram ainda mais alguns minutos à mesa, mesmo quando terminaram de tomar o café da manhã. Guto e Lucas agora conversavam, relembrando das férias passadas e das aventuras que já tiveram na fazenda. Estavam falando de um velho cavalo da avó, que lhes proporcionou inúmeras alegrias enquanto estava vivo. Rebeca ainda sentia-se deslocada, não tinha interesse em interagir com os irmãos, tampouco conversar com a avó. Não bastasse isso, estava com medo de ir para o quarto, não queria ficar só. Os sustos que teve nos últimos dias não permitiam que ela se sentisse à vontade estando sozinha. Já não aguentando estar ali, enfim falou:
- Guto? Você pode ir comigo até o quarto? Eu acho que minha febre está voltando, preciso do remédio.
- Ai, ai, essa febre, achei que não voltaria tão cedo. - Comentou Guto, levantando-se. - Vamos logo, antes que fique mais forte.
Os dois irmãos dirigiram-se ao quarto, enquanto Lucas optou por ficar mais um pouco na cozinha, comendo umas frutas que restaram do café da manhã. Rebeca estava apressada e Guto percebeu isso. Quando entraram no quarto, a garota trancou a porta e, puxando o irmão pelo braço, o conduziu até a cama. Ambos sentaram. Rebeca encarou o irmão por uns segundos, deu um longo suspiro e se pôs a falar.
- Guto, eu sei que pode parecer loucura ou coisa da minha cabeça, mas eu estou com medo, estou com muito medo da vovó. - Disse ofegante. A caçula dos Malter estava trêmula, assustada.
- Ei, calma, tenta manter a calma, está bem? Eu estou aqui, não se preocupe. - Guto deu um abraço apertado na irmã, a fim de lhe passar segurança. Logo em seguida, continuou. - Eu não sei se ouvi direito, mas você disse que está com medo... Da vovó?
Rebeca contou ao irmão tudo o que tinha acontecido naquela manhã. Contou o pequeno "passeio" que fez pela fazenda e da cena grotesca que presenciou na garagem e, para concluir, supôs que tudo o que vinha acontecendo com ela poderia estar relacionado com a avó.
- Eu sei. - Disse a caçula dos Malter aos prantos. - Pode parecer loucura, ou extraordinário demais para ser verdade, mas é verdade, eu juro que é. Eu jamais brincaria com coisas desse tipo, muito menos mentiria. Eu amo nossa avó, só que agora eu sinto uma sensação estranha quando estou perto dela, você entende? Se sim, me ajuda, por favor. - Rebeca já não conseguia segurar as lágrimas. Estava, de fato, desesperada.
Guto, observando o estado da irmã, tornou a abraça-la, passando, agora, a fazer cafuné em seus cabelos. Permaneceu em silêncio por um tempo, até se pronunciar.
- Eu acredito em você, Beca, não se preocupe.
Rebeca mal podia acreditar no que tinha ouvido. Finalmente alguém estava acreditando no que ela falava. Mesmo que ainda estivesse um pouco assustada, sorriu para o irmão, mostrando estar bem mais aliviada. Guto, por sua vez, retribuiu o sorriso, a fim de confortar ainda mais a irmã. Dando um leve suspiro, o garoto continuou a falar.
- Eu não sabia por qual motivo nossa mãe estava preocupada contigo antes da viagem, mas, agora, depois de tudo o que aconteceu, começo a entender, as mães sempre sentem, não é?
- Como assim? Indagou Rebeca, curiosa.
Guto começou a explicar a irmã tudo o que sua mãe havia lhe falado antes da viagem, enquanto puxava, em sua memória, recordações da conversa que teve.
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-
Meu filho, eu quero que me prometa que vai cuidar bem dos seus irmãos, principalmente da Rebeca. - Pediu a senhora Malter naquela noite, assim que chegou do trabalho. - Me desculpe por ter te acordado a uma hora dessas, meu amor, mas talvez não tenhamos oportunidade de ter essa conversa pela manhã, não quero que seus irmãos se preocupem. Você é o mais velho, eu confio em você.
- Tá tudo bem, mamãe. - Respondeu Guto, com os olhos entreabertos e com voz de sono. - Mas, por que a preocupação? Beca está bem?
- Eu só preciso que você me prometa, Gustavo, me promete?- Insistiu a senhora Malter. - Eu sei que eu estou longe de ser a melhor mãe do mundo, mas eu juro que não há nada que eu ame mais do que você e seus irmãos. É só por isso que, por vezes, eu comprometo momentos com vocês em troca do meu trabalho, é só para garantir que vocês tenham tudo o que precisam...
Lágrimas escorreram pelos olhos da senhora Malter. Guto a fitava, mas não compreendia o porquê daquela conversa. Nunca duvidou do amor de sua mãe por ele e pelos irmãos, o que não estava entendendo era a preocupação excessiva pela viagem desse ano, afinal de contas não era a primeira vez que Rebeca, Lucas e ele iam para a fazenda. Contudo, mesmo sem saber as razões da mãe, buscou confortá-la e, a olhando nos olhos, disse.
- Não se preocupe, mamãe, eu cuidarei dos meus irmãos, eu lhe prometo, tá bem? Nós entendemos as razões pelas quais você e papai trabalham tanto, está tudo bem.
Guto mentiu. Embora tentassem, ele e os irmãos não compreendiam a prioridade que os pais davam ao trabalho e não a eles. Porém, mesmo não sendo sincero nas palavras, sentia que era aquilo que a mãe precisava ouvir.
- Só mais uma coisa, meu amor. - Comentou a mãe. - Seu pai e eu teremos que buscar vocês uns dias antes do fim das suas férias, está bem? Tivemos uns contratempos na empresa e se quisermos passar ao menos dois dias lá, teremos que vir antes que termine o verão.
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- Então quer dizer que nossos pais chegam esses dias, Guto? - Questionou Rebeca, entusiasmada.
- Sim, sim. - Afirmou Guto, sorrindo. - Pelos meus cálculos, eles devem chegar depois de amanhã. Enfim passaremos um tempo de lazer em família. A ideia era fazer surpresa, mas achei que tinha que contar a você.
- Guto, você tem noção do quanto essa noticia é boa? Vem, vem. - Rebeca segurou na mão do irmão. - Temos que contar isso ao Lucas.
Os dois irmãos saíram do quarto e foram falar com Lucas. Chegando à cozinha, não encontraram ninguém. Procuraram Lucas e a avó outros cômodos e, mais uma vez, não encontraram nada. Estavam sozinhos na casa, Rebeca preocupou-se.
- Guto, onde eles estão?
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