Capítulo doze
- Guto, você esta me dizendo que nossa avó estava certa? - Perguntou Lucas, assustado. - Ah, meu Deus, Guto, eu matei nossa avó... Eu matei nossa avó... Eu sou um monstro.
Guto ouvia tudo aquilo incrédulo. Sentiu uma grande aflição e aperto no peito. Não queria acreditar no que o irmão estava falando. Só conseguia pensar em todos os momentos bons que passou ao lado da avó. Lucas, por sua vez, caiu numa grande crise de choro, mal conseguia falar. Os dois permaneceram calados por um longo tempo, até que Guto questionou.
- E a Beca, Lucas, onde ela está?
Lucas, apreensivo, compreendeu o que Guto queria saber. Se dona Edwirges era a inocente da história, Rebeca só poderia estar sendo vítima da herança de família. Só agora a ficha tinha caído. Rebeca representava perigo a eles.
- A Beca... Ficou na garagem... Ela ficou na garagem, Guto... - Respondeu Lucas, soluçando.
- Mas, Lucas, você tem certeza que matou nossa avó? Ela estava morta quando você saiu de lá?
- Guto... Eu a derrubei... Uma pancada na cabeça... Eu achava que ela queria matar a Beca... Fui tolo... Não dei ouvido a você e nem a nossa vó... Eu escutei a Beca e... Agora... Nossa vó está... O que faremos agora? - Lucas estava aos prantos, concluía as frases com muito custo.
- Tentaremos manter a calma, Lucas. - Disse Guto, tentando acalmar o irmão. Nossos pais devem chegar ao amanhecer. Eles disseram que viriam nos buscar antes esse ano e eu estou confiante que eles cumprirão o que prometeram.
Lucas, ao ouvir aquilo, deu um sorriso irônico e forçado. Em seguida, se pronunciou.
- Ótimo... Ótimo... Agora vamos ficar dependentes dos nossos pais, muito bom. - O garoto colocou as mãos no rosto e continuou chorando.
Os dois permaneceram calados, pensando no que poderiam fazer. Em meio ao silêncio, uma voz conhecida se fez presente, tomando conta da sala e pegando os irmãos de surpresa.
- Então quer dizer que nossos amados pais estão vindo para a fazenda? Que notícia maravilhosa, enfim teremos a família reunida.
Guto e Lucas redirecionaram o olhar para o local de onde vinha a voz. Avistaram, na porta, a figura macabra da irmã que, dessa vez, possuía uma imagem assustadora. Seus cabelos estavam todos bagunçados, seus olhos estavam arregalados. Em sua mão, trazia um grande pedaço de vidro. Em seu corpo, tinham uns símbolos estranhos que pareciam ter sido feitos há pouco tempo, pois ainda sangravam.
- Oi, Lucas. - Disse Rebeca, olhando para o irmão. - Obrigado por ter salvado a minha vida. Se não fosse por você, eu nem sei onde estaria agora, mas certeza que já não estaria aqui. - Rebeca deu uma risada forçada, mas assustadora. Parecia estar delirando. Seu aspecto era de uma pessoa irracional, louca.
- Beca... Teu corpo... O que foi que você fez? - Questionou Guto, puxando Lucas para que se afastassem cada vez mais da irmã. - Por que você fez isso? Por que, Beca?
- Beca? - Ironizou a caçula dos Malter. - Com certeza a sua Beca não pode atender agora, Guto. Gostaria de deixar algum recado?
- Beca, para, por favor. - Pediu Lucas, aos prantos. - Para, por favooor...
Os irmãos estavam visivelmente amedrontados, sobretudo por conta do aspecto horripilante de Rebeca. Guto estava preocupado com o quê a irmã poderia lhes fazer, ela estava completamente fora de si, parecendo outra pessoa. Rebeca começou a andar na direção dos irmãos. Apertava o vidro em mãos e, cada vez mais, o sangue escorria por entre os dedos. Parecia que aquela dor não a incomodava. Guto e Lucas, assustados, correram em direção ao quarto e, ao chegarem lá, trancaram-se.
- Guto, o que vamos fazer? É a Beca, é a nossa irmã, ela está perdendo muito sangue, pode morrer. - Lucas estava com muito medo, mas também preocupado com a irmã. Enquanto os dois pensavam como agir, Rebeca começou a dar altas batidas na porta, acompanhadas de seus gritos.
- GUTOOO... ABRE ESSA PORTAAA... LUCAAAAAS... MEU AMADO IRMÃO, ABRE ESSA PORTA... SOU EU, A IRMÃZINHA DE VOCÊS, POR QUE TER MEDO?... ABRAM A DROGA DESSA PORTAAA...
Lucas colocou as mãos nos ouvidos e jogou-se na cama, chorando desordenadamente. Guto tentava se controlar, mas isso estava ficando cada vez mais difícil. Abraçou o irmão do meio, como se estivesse o protegendo. Lá fora, na parte da frente da fazenda, ouviu-se um barulho de carro e, instantaneamente, os barulhos na porta cessaram.
- Lucas, são nossos pais. Só pode ser eles, Lucas, eu tenho certeza. - Guto sentiu-se um pouco aliviado. Contudo, por um momento, esqueceu-se de um detalhe.
- Eles estão lá fora, Guto. - Comentou Lucas, assustado. - Estão lá fora, sozinhos com a Beca... Eu não quero nem pensar no que pode acontecer.
Em frente à casa, o casal Malter, após estacionarem o carro, saíram do mesmo. Ao longe, na varanda, avistam Rebeca que, assustada, ia na direção deles. Ficaram amedrontados quando viram o estado da filha.
- Filha, meu Deus, o que houve? - A senhora Malter não conseguiu conter suas lágrimas e se pôs a chorar. - O que aconteceu com você, minha filha? Quem foi que fez isso?
- Meu Deus, Rebeca, você precisa urgentemente de um hospital... Que cortes são esses, minha filha? Quem foi que fez isso? - Questionou o senhor Malter.
Rebeca ficou calada por uns tempos, fingindo estar passando mal. Com a voz alterada, ofegante, ela, finalmente, disse:
- Mamãe? Mãe?
- O que foi, meu amor? Mamãe está aqui, não se preocupe, eu cuidarei de você agora.
- Guto e Lucas, mamãe... Guto e Lucas estão no quarto...
- Eles estão bem? - Questionou o senhor Malter, assustado.
Rebeca, porém, não falou mais nada, apenas fechou os olhos. A senhora Malter, sem pensar duas vezes, saiu correndo na direção da casa. O marido ainda gritou por ela, mas foi em vão, pois ela sequer olhou para trás. Ao entrar na casa, a senhora Malter chamou pelos filhos que, do quarto, a responderam.
- Mamãe... Mamãe... Estamos aqui...
Rapidamente, a mãe foi ao encontro dos filhos, encontrando-os no quarto. Guto e Lucas estavam trêmulos, mas demonstraram felicidade ao enxergá-la. A senhora Malter começou a abraça-los e beijá-los, ao mesmo tempo em que lágrimas escorriam por seus olhos.
- Ah, meu Deus, eu pensei que tivesse acontecido alguma coisa com vocês, seu pai e eu não nos perdoaríamos nunca. - Disse, aos prantos.
- Mamãe, me desculpa pelas coisas horríveis que eu te falei, por favor, me desculpa... - Pediu Lucas, abraçando a mãe.
- Está tudo bem, meu amor, você não precisa se desculpar por nada, não se preocupe com isso.
Guto emocionou-se com a cena, mas, no mesmo instante, sentiu uma grande preocupação.
- Mamãe, onde está o papai? - Questionou.
- Ele ficou lá fora com a irmã de vocês... - As lágrimas caíram mais rapidamente. - A Beca está... Tão... Machucada... Ela tá sangrando e...
- Sozinhos? - Questionou Lucas, interrompendo a mãe. - Eles ficaram sozinhos?
Calmamente, a senhora Malter e os filhos saíram do quarto, a fim de ir ao encontro do pai. Ao saírem pela porta da frente, descendo as escadas, avistaram, próximo ao carro, um corpo estendido no chão, sangrando, com um pedaço de vidro afincado no pescoço.
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