Capítulo cinco
- Rebecaaa... Rebeca?!... Rebecaa, ei, acorde...
Rebeca, após soltar um grito espantoso, acordou com os batimentos mais acelerados do que nunca. Estava suada, com a respiração ofegante, assustada com tudo e todos ao seu redor. Ao abrir os olhos, enxergou Guto em sua frente e, ao lado dele, Lucas e a velha senhora Edwirges que também estavam assustados com tudo o que estava acontecendo. Rebeca, por impulso, abraçou Guto e começou a chorar. Ainda estava apavorada, ao mesmo tempo em que sentia um alivio por tudo aquilo ter sido apenas um pesadelo. Os irmãos e a avó não compreendiam o que estava se passando e, após uns minutos, Guto, enfim, questionou.
. - Beca, o que aconteceu? Estava tendo pesadelos? Você estava gritando, tão alto que pudemos ouvir lá da cozinha, foi assustador.
Guto sentiu que a irmã estava quente e ao colocar a mão em sua testa, apenas confirmou.
- Beca, você está ardendo em febre. - E olhando para a avó, pediu. - Vó, a senhora pode preparar um chá para ela?
- Claro, claro que sim, meu filho. - Respondeu Dona Edwirges, prontamente. - Enquanto isso, eu peço que faça uma compressa nela, ainda se lembra de como faz, não é?
- Sim, lembro sim! - Afirmou.
- Ótimo. - Comentou a avó. - Lucas, venha comigo pegar uma bacia com água e um guardanapo na cozinha, por favor.
Lucas e a avó saíram do quarto, a fim de providenciar o que lhes foi solicitado. Enquanto isso, Guto buscava compreender o que tinha se passado, permanecia assustado com toda aquela situação.
- Então, Beca, você ainda não me respondeu o que houve. Estava tendo pesadelos, não estava? - Insistiu o irmão mais velho.
A caçula dos Malter apenas assentiu com a cabeça e não disse mais nada.
- Com quem... Ou o quê? - Insistiu Guto, mais uma vez.
Rebeca, mais uma vez, começou a reviver o pesadelo em sua mente. A escuridão, o quarto frio, a mão amedrontadora lhe tocando o pescoço, a agonia, os gritos, mas, sobretudo, o medo que sentiu e que ainda permanecia ali. Não conseguiu falar, apenas colocou a cabeça entre os braços e se pôs a chorar. Guto tornou a abraça-la, fazendo carinho em seus cabelos, tentando lhe passar segurança.
- Tá tudo bem agora. - Comentou Guto. - Eu estou aqui, nada vai acontecer com você. - E após uma pequena pausa, continuou. - Não precisa falar nada se não quiser, esta bem? Só tenta se acalmar, foi apenas um pesadelo.
- Não é que eu não queira falar... - Disse Rebeca, relutante. - Você não vai acreditar... Ninguém vai... - E continuou chorando.
- Ei, ei... Tenha calma... - Disse Guto, abraçando-a mais forte. - Por que não tenta me contar e depois eu decido se acredito ou não, está bem?
Os dois permaneceram abraçados por mais um tempinho, Rebeca ainda estava muito nervosa. Lucas trouxe a bacia com água e o guardanapo e, logo em seguida, retirou-se para ajudar a avó com o chá. Guto começou a compressa e, aos poucos, sentiu que a febre da irmã estava baixando.
- Foi aquilo, Guto... - Disse Rebeca, baixinho.
- Oi? Você disse alguma coisa? - Perguntou Guto, que estava distraído.
Rebeca respirou fundo. Estava criando coragem para falar. Enfim, conseguiu.
- Foi aquilo... Na cachoeira... A mesma coisa que segurou minha perna... Estava no meu sonho... Tentou me enforcar... Uma mão horrível... Com marcas... Sangue... Meu pescoço... - Rebeca não aguentou continuar falando e voltou a chorar, aquilo, de fato, mexia com ela.
Guto, percebendo o desespero da irmã, buscou acalmá-la.
- Ei, Beca, tenta ficar calma... Está tudo bem agora... Já passou, foi só um pesadelo e...
- Não foi, Guto... - Disse Rebeca, furiosa. - Que droga! Não foi apenas um pesadelo, era real, eu senti a mão tocar meu pescoço, apertá-lo... Na cachoeira, eu senti tocar minha perna, me levar para o fundo... Tem alguma coisa horrível atrás de mim, eu sei... Eu estou com medo, entende? Medo...
Guto ficou se reação, apenas ouviu tudo calado e, por um momento, acreditou no que a irmã disse. Viu o medo e a aflição nos olhos dela e aquilo, de fato, não pareceu brincadeira. Passado mais alguns minutos, Lucas e a avó entraram no quarto, cada um com uma bandeja em mãos. Dona Edwirges trazia o chá com algumas xicaras e Lucas trazia alguns biscoitos que já vinha devorando no caminho. Sentaram-se todos próximos da cama de Rebeca. Tomaram chá, comeram biscoitos e, aos poucos, a situação foi sendo apaziguada. Rebeca tinha decidido que não falaria mais sobre o ocorrido, ao menos não naquele momento. Ela queria esquecer aquilo, ainda que considerasse isso difícil. Enquanto tomavam o chá, a velha senhora Edwirges não tirava os olhos da neta, parecia até saber pelo que ela tinha passado, com o que tinha sonhado.
Assim que terminaram o lanche, os quatro foram para a sala. Guto exigiu que Rebeca estivesse com eles, já não queria deixá-la sozinha. Como de costume, todos começaram a jogar banco imobiliário e, assim, as coisas foram voltando aos seus eixos. Rebeca já estava dando risadas com os irmãos, ao mesmo tempo em que fazia piada com eles e, às vezes, sobre eles. Apesar dos sustos que ela levou anteriormente, ela parecia, de fato, estar se divertindo. Os quatro estavam tão animados com a conversa e com o jogo, que nem perceberam as horas passarem. O relógio já marcava 21h33 e eles ainda nem tinham jantado. Decidiram deixar o jogo de lado e, enquanto os netos lavavam as mãos, Dona Edwirges foi esquentar a lasanha que, outrora, fizeram para se desculpar com a neta.
O restante da noite foi agradável. Jantaram, conversaram, mais uma vez, sobre como é a vida na cidade e o quão é diferente estar ali, na fazenda. Relembraram das outras vezes que passaram as férias ali, das aventuras que os irmãos tiveram e do quanto eram gratos pelas coisas que viveram naquele lugar. Após o jantar, Rebeca e Guto foram lavar as louças, enquanto que Lucas se distraia folheando um livro e a velha senhora Edwirges tecia alguma coisa no crochê. Os quatro ficaram mais algum tempo conversando na sala, pararam quando perceberam que o relógio já marcava 00h03. Eles precisavam dormir, mesmo que Rebeca não estivesse tão à vontade para isso. Os três irmãos abraçaram a avó e foram para o quarto, enquanto que a velha senhora Edwirges deitou-se em sua rede. Estava sem sono, apesar do horário e do dia cansativo que teve. Fechou os olhos e, por um momento, reviu em sua mente cenas de sua infância, ao lado de sua mãe, seu pai e seu irmão Caruso.
_______________
- Por que não posso brincar na garagem, mamãe? - Questionou Edwirges, aguardando uma resposta convincente.
- Seu pai não gosta que a gente vá até lá enquanto ele está trabalhando, meu amor, você sabe disso. - Respondeu sua mãe, dando um leve sorriso.
- Está bem, então... - Disse Edwirges, dando-se por vencida. - Posso brincar com o tutti, então?. - Insistiu, mesmo com medo da resposta.
- Tá bom... Tá bom... - Respondeu a mãe da garota, dando um longo suspiro. - Mas só até aprontar o almoço, que já não demora...
Edwirges nem respondeu mais nada, apenas deu um sorriso de satisfação e saiu à procura do tutti, seu cachorrinho de estimação. Foi até a varanda da casa, intencionando avistá-lo, mas nem sinal dele. Desceu para o quintal e passou a chamá-lo.
- Tutti... Tutti... Vem cá, garoto, vem...
O cachorro não apareceu, mas, de repente, Edwirges escutou um barulho estranho, parecendo gritos abafados. O barulho vinha da garagem e, analisando direito, os gritos pareciam de Caruso, seu irmão. Mesmo sabendo que não devia ir até a garagem, a garota foi. À espreita, olhou pelo canto da janela. Seus olhos arregalaram. Não acreditou na cena. Seu irmão estava ali, chorando, com um pano tapando sua boca. Seu pai, com uma pequena faca, fazia uns símbolos estranhos no braço e na barriga do irmão. Assustada, Edwirges deu um curto grito, mas foi o suficiente para chamar a atenção de seu pai que, ao olhar para trás, a enxergou.
_______________
A velha senhora Edwirges deu um pulo, assustada. Tinha certeza que aquilo não foi apenas um pesadelo, mas recordações de sua infância. Em seu íntimo, sentiu um grande medo de que tudo aquilo estivesse se repetindo.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro