ESTÁVAMOS CADA um de um lado do corredor, em frente as nossas respectivas portas. Eram por volta das quatro horas da manhã e depois de uma longa partida de basquete a qual acabou em um empate – por mais que meu orgulho nunca vá me permitir em voz alta, eu tenho certeza de que ele pegou muito leve comigo –,
decidimos que estava na hora de voltarmos para casa.
— Então... o que você achou? – Perguntei, encostada em minha porta. Estava usando a jaqueta de Steve, que foi emprestada por ele quando saimos da escola e percebemos que havia começado a chover, eu também segurava meus sapatos nas mãos, não deveria estar com uma aparência muito boa. Ele estava intacto, fora o cabelo molhado e brilhante de chuva jogado para trás.
— Foi divertido, como há muito tempo eu não experimentava – Respondeu com um sorriso leve nos lábios rosados. – Foi uma ótima idéia.
— Eu sempre tenho ótimas idéias – Falei, um ligeiro biquinho se formou em meus lábios quando disse de maneiro meio arrogante.
Um breve momento de silêncio se seguiu em que apenas ficamos nos encarando. Por alguma razão, apesar de conhecê-lo pessoalmente por tão pouco tempo, isso não foi desconfortável. É bom, só... olhar para ele sem precisar pensar na próxima palavra. Eu só espero que não esteja agindo como uma idiota.
Meu lado água com açúcar que costuma assistir clichês românticos de madrugada sugeria que o próximo passo deveria ser um beijo, e talvez até devesse ser mesmo. No entanto, a realidade se mostrou decepcionante quando meu telefone tocou cortando o clima.
— Celeste, você tem meia hora para estar em frente a Torre Stark ou eu MATO você!!
Era a voz de Harper, uma voz muito raivosa e furiosa. Ela nem mesmo esperou uma resposta e encerrou a ligação bem na minha cara. Foi só ai que vi as assustadoras 49 mensagens que ela estava me mandando desde às duas horas da manhã.
— Droga – Murmurei e em seguida sorri sem graça para Steve que me observava silenciosamente com um olhar de curiosidade. – Acho que acabei esquecendo da hora. Eu tenho que buscar a Harper na Torre, ela está furiosa.
— Claro, tudo bem – Concordou, eu torço para não estar imaginando o tom de decepção em sua voz. Eu entreguei a jaqueta para ele.
— Obrigada, Bonézinho – Falei antes de disparar escada abaixo.
— ALGUÉM já te falou o quanto você é uma péssima amiga? – Harper não perdeu tempo quando entrou no carro, jogando o corpo no banco do passageiro.
— Ei, me desculpe – Pedi. – Eu perdi totalmente a noção da hora.
— Sério? É essa a sua desculpa? Eu esperava algo muito mais elaborado vindo de você.
— Certo, então você quer ouvir que eu me atrasei porque estive durante todo esse tempo em um quase encontro muito romântico com Steve Rogers?
A expressão que tomou seu rosto foi quase engraçada. Os tons de raiva sumiram, então ela parecia muito chocada, só para que no final assumisse uma cara de pura empolgação.
— Você tá falando sério?
— Eu não mentiria sobre uma coisas dessas!
— E o que vocês fizeram esse tempo todo? - Sua voz era quase estridente.
— Eu o levei no ginásio do colégio onde dou aula e ficamos jogando basquete – Respondi enquanto dirigia até meu prédio.
— Você só pode estar brincando?! – Ela elevou a voz. – Pode imaginar a oportunidade que perdeu?
— Steve é um cavaleiro, ele vem de outra época. Não é como se eu não quisesse pular em cima dele, mas isso iria deixá-lo assutado.
— Ele luta contra alienígenas, não iria se intimidar com você, se toca, garota! – Ela contra argumentou.
— Tanto faz. Eu aínda tenho dignidade, sabia? – Ela riu, isso me ofendeu um pouco, não havia sido uma piada. – Você é tão ridícula.
Quando estacionei em frente ao meu apartamento, Harper segurou meu braço com delicadeza.
— Celeste, eu conheço você há anos, era eu quem ficava aturando você falar sobre a 2 guerra e sobre o Capitão América a noite toda, se é que se lembra. Tudo bem, isso me ajudou em muito nas provas, mas isso não vem ao caso agora – Ela sorriu torto, me provocando. – Você sempre se dedicou muito a tudo isso, conhece mais sobre esse cara do que qualquer outra pessoa. Confie em mim, você não estaria sendo precipitada.
Balancei a cabeça em concordância, por mais que aínda sentisse o contrário. Harper é uma boa pessoa e tem ótimas intenções, sem falar no enorme coração, mas ela aínda não entende que cada um possuí seu próprio ritmo. Alguns mais lento do que outros. No entanto, é tarde, estou exausta e não quero ter que convencê-la disso agora. Eu me inclinei em sua direção, abraçando-a.
— Obrigada – Digo ao me despedir.
— Não me agradeça por isso – Ela sorriu de volta. – boa noite.
Sai do carro e entrei no prédio. Os primeiros raios de Sol já estavam despontando no céu de Nova York. Quando parei em frente a porta de meu apartamento não pude evitar encarar por poucos segundos a porta da frente.
O FIM DE SEMANA passou sem muitas novidades. Minha vida voltou ao normal após o pique da sexta-feira. Estava voltando para casa depois de mais um dia estressante no colégio, meu único desejo é tomar um banho, deitar em minha cama e, quem sabe se tiver muita sorte, morrer.
Quando parei em frente minha porta, lancei um breve olhar como de costume para a porta de frente. Isso meio que se tornou um ritual para mim, fazendo isso em todos os últimos dias em uma brevê esperança de qualquer sinal dele. Hoje a porta estava entreaberta e eu escutava algumas vocês saírem de dentro. A curiosidade gritou em mim, mas eu não teria a ousadia de ir até lá conferir.
Volto-me novamente para a minha porta e estou destrancado quando um grupo de paramédicos saem de lá com um cara em uma maca.
Ah, merda... isso não parece nada bom. Steve sai logo atrás e está acompanhado por uma mulher. Franzi as sobrancelhas, reconhecendo rapidamente a loira como sem uma das vizinhas do prédio. Eu não me lembro de já tê-los visto juntos em algum momento, e não faz sentido nenhum estarem juntos agora, mas ambos carregam expressões muito preocupadas.
Nunca fui muito boa quando o assunto era habilidades sociais ou saber como agir em situações complicadas. Imediatamente me sinto ansiosa quando meu cérebro trabalha rápido demais, decidindo qual seria a ação mais apropriada para esse momento. Eu deveria perguntar o que estava acontecendo? Isso parecería sensível ou apenas invasivo? Ou apenas entrar silenciosamente no meu apartamento e fingir não ter visto nada? Ele poderia acharam educado da minha parte respeitar o momento ou apenas alguém rude que não se importa?
Antes que eu tome qualquer decisão, Steve me avistou parada de olhos arregalados e a mão na maçaneta.
— Não se preocupe, está tudo bem – Ele assegurou com tom de voz firme.
Balancei a cabeça concordando em silêncio e entrei apressada em casa, não me esquecendo de trancar a porta.
O que aconteceu dentro daquele apartamento e porque ela estava com ele.
Deixei minhas coisas encima do sofá e voltei até a porta, observando o corredor através do olho mágico. Steve ainda estava lá e a loira também, eles conversavam baixo e ele parecia estar abalado, mesmo com postura tão firme, as expressões em seu rosto dizem o oposto. Penso se não foi muito insensível da minha parte entrar em casa daquela maneira, como se estivesse fugindo dele.
Como sempre, sinto que tomei a atitude errada. Me afasto da porta, sem querer me torturar mais pensando no que eu deveria ou não ter feito e vou para o banheiro tomar um banho.
Embaixo do chuveiro, senti uma forte vertigem. Me segurei no box, respirando fundo e tentando me equilibrar. Pode ser uma simples queda de pressão, porém as luzes piscaram uma vez, duas vezes, três e então apagou. Acabei caindo de joelhos no chão.
Não tenho ideia de quanto tempo havia passado comigo estatelada no chão quando abri os olhos. As luzes estavam acesas e água jorrava. Eu me levantei, estava me sentindo normal novamente. Nenhum sinal da tontura avassaladora. Desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha, saindo do banheiro e entrando em meu quarto.
Me sento na cama, ainda de tolha ainda em um estado letárgico de choque. O que foi isso que aconteceu?
Um medo se instala em mim, esse desmaio não pode ser normal. Talvez eu esteja doente, eu posso até estar morrendo.
Tento conter o pânico, também não é para tanto, certo? Eu tenho trabalhado muito. Pode ser apenas estresse. Mesmo assim, decido marcar uma consulta com algum médio. Tenho alguns problemas na família relacionado a doenças neurológicas e prefiro não arriscar.
Me troco rapidamente e apago a luz. O sono chega mais rápido do que o esperado e logo estou dormindo.
O DIA AMANHECEU e quando acordei, a sensação de que alguma coisa estava errada não saía da minha cabeça. Esse meu tipo de "sexto sentido" sempre esteve presente em minha vida, minha avó costumava dizer que era algo místico de nossa família, mas eu nunca dei tanta atenção para isso. Agora tenho tido essas sensações estranhas praticamente todos os dias, sempre acompanhadas de uma impressão de que tem algo fora do comum acontecendo.
O dia foi mais cansativo do que o normal, uma exaustão mental enorme me dominou e senti a necessidade de voltar para casa mais cedo. Quando cheguei em meu apartamento, minha primeira reação foi observar brevemente a porta da frente, como de costume. Estava fechada e em qualquer outro dia eu simplesmente entraria em casa e deixava isso para lá, mas hoje algo está diferente.
Me afastei da minha porta e caminhei até a da frente. Bati levemente contra a madeira, mas não houve resposta.
— Steve?
Além da curiosidade eu também estava preocupada com ele. Afinal, um homem saiu ferido de lá e eu nem mesmo tive a coragem de me certificar de que ele próprio não estava machucado. O silêncio do outro lado me preocupou, girei a maçaneta e abri a porta, ficando surpresa por encontrá-la destrancada. O apartamento estava destruído.
Entrei no lugar e olhei espantada para as coisas reviradas e a janela quebrada. Parecia que um furacão tinha passado por alí.
O som de uma explosão e vidro quebrando me fez saltar apavorada para trás, mas, quando girei a cabeça procurando a origem da explosão... não encontrei nada. Permaneci minutos encarando a janela sem entender o que aconteceu. Eu podia jurar ter visto ela explodir com algo que se pareceu com um tiro, mas estava tudo exatamente igual e silencioso.
Isso me assustou. Eu estou ficando maluca agora? É só o que está me faltando, começar a ter alucinações.
Me virei para sair e disparei um grito quando vi Steve correndo em minha direção usando seu escudo. Achei que fosse ser atropelada, ele parecia não me ver, quando acreditei que seria pisoteada ele simplesmente atravessou meu corpo.
Novamente me vi sem ar, meu coração batendo tão forte quanto um tambor, encarando o ponto onde Rogers estava a tão poucos segundos. Não era real?
Sai do apartamento quase correndo e fechei a porta. Quando estava no meu, a única coisa que conseguia pensar era que estava ficando louca de estresse. Simplesmente imaginando coisas.
Alguns minutos depois, quando me encontrava sentada no chão de minha sala, com a cabeça entre as pernas, tentando encontrar sentido em toda essa situação, meu celular tocou:
— Alô? – Me esforçando para manter minha voz firme.
— Filha – Era minha mãe. Ela também parecia frágil do outro lado.
— Aconteceu alguma coisa?
— Sua avó, ela não está nada bem – Falou, imediatamente entendi o motivo da apreensão em sua voz. – Os médicos... disseram que ela não tem muito mais tempo. Ela quer ver você, não parou de te chamar um só muito.
— Eu... vou ver o que eu posso fazer – Falei.– Prometo tentar ir. Eu preciso apenas conseguir licença no trabalho. Diga a ela que tente me esperar.
Eu estava prestes a chorar, e foi o que fiz assim que encerrei a ligação. Eu choraria agora, sozinha, pois quando estivesse frente a ela deveria ser forte.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro