CAPÍTULO 2
JÁ PASSAVA DA meia-noite, eu estava praticamente caindo no sono encima do notebook, quase totalmente debruçada sobre o teclado enquanto preparava a aula para o dia seguinte. Estava empolgada pela aula, isso se dava grande parte a forma positiva como responderam a primeira aula, isso me motivou.
Fui até a porta, conferir se estava tudo certo, abri ligeiramente para observar o corredor e me deparei com uma visão inesperada e... bem, agradável.
Se tratava de ombros largos, seguidos por músculos que das costas que marcavam na camisa apertada. O homem estava de costas, então eu não conseguia ver seu rosto. Ele destrancava a porta do apartamento da frente ao meu e pareceu perceber que eu o estava observando. Quando ele ergueu a cabeça e se virou em minha direção, ambas as minhas sobrancelhas se ergueram em surpresa. Imediatamente reconheci o bone azul em sua cabeça.
— Boa noite, senhorita – Ele sorriu com dentes brancos e lábios rosados. Sua voz é suave, mas masculina. Daquelas que são agradáveis de se apreciar durante uma conversa. Tentei ver mais de seu rosto, mas o corredor não estava muito bem iluminado.
Me senti constrangida por alguma razão. Me sentia como uma criança que foi pega espiando o que não devia. Senti meu rosto esquentando de vergonha.
— Boa noite – Respondi com certa demora enquanto tentava me concentrar em algo que não fosse a grande estatura do homem. Eu também estava torcendo para que ele não ache que sou estranha. Abro mais a porta e saio para o corredor. – Acho que foi você que quase atropelei hoje pela manhã, não é? Eu queria me desculpar por aquilo.
— Não tem problema – Respondeu ainda com um rastro de sorriso, os dentes perolados brilhando na pouca luz. – Imaginei que estivesse com pressa, além de tudo você também se desculpou.
Balancei a cabeça. Eu não sabia mais o que dizer. Mesmo que ele dissesse que estava tudo bem, eu me sentia constrangida pelo meu comportamento.
— Você é novo no prédio, certo? Não me lembro de ter visto você por aqui – Comentei, tentando mudar de assunto para apaziguar meu constrangimento. Eu também não queria encerrar a conversa tão rápido.
— Sim, eu... me mudei tem pouco tempo – Respondeu. Seu tom é gentil e doce, apesar da voz ser meio rouca. Ele deu um passo em minha direção e estendeu sua mão. – Sou Steve.
— Celeste – Também me apresentei, apertando sua mão. – É um prazer conhecê-lo.
Nossas mãos só ficaram unidas por talvez três segundos, mas foi como uma eternidade. Seu toque é quente, como se sua pele fosse um cobertor aquecido, é confortável. Ao mesmo tempo seu aperto também é firme. Soltamos nossas mãos e eu voltei para minha porta.
— Peço desculpas novamente por hoje cedo – Falei. – Eu... preciso ir, mas foi ótimo falar com você.
— Digo o mesmo – Ele afirma. – Boa noite.
— Boa noite, Boné azul – Pisquei para ele, sorrindo furtivamente enquanto entrava em casa e fechava a porta.
Enquanto estava cumprindo minha rotina noturna, minha mente não conseguia se distanciar de Steve, o novo vizinho. Não chegam pessoas novas com muita frequência no prédio, mas ele provavelmente é tão discreto que eu nem me dei conta quando ele se mudou. Meu coração acelera um pouco quando penso em seu toque e sua voz gentil, mas logo os expulso rapidamente antes que possam fazer morada. Eu acabei de conhecê-lo, ele é meu vizinho e não tivemos nada além de uma interação comum. Eu não posso agir como uma adolescente apaixonada em cinco minutos.
Com tudo pronto, vou para meu quarto e deito na cama, apagando a luz do abajur em seguida, permitindo que o quarto fosse tomado pelo completo breu. Eu nunca fui do tipo romântica, muito pelo contrário, borboletas no estômago não é meu estilo. É por isso que sou tão aversa a esses pensamentos. Nunca acreditei em amor a primeira vista... oh, Deus. Veja só! Eu já estou falando da palavra amor. Eu definitivamente preciso me controlar, isso deve ser apenas carência, certo? Eu mal me lembro da última vez que tive um encontro, com certeza deve ser isso.
Além do mais, não tem razão alguma para que esse homem tenha qualquer interesse por mim. Um encontro noturno com sua vizinha desastrada vestindo um pijama dos Muppets não me parece muito propício. Cobri minha cabeça com o cobertor e fechei os olhos perseguindo o sono, tenho muito o que pensar para perder tempo com bobagens amorosas.
PARA MEU alívio eu cheguei na hora certa no dia seguinte. Preparei meu notebook e também o projetor um pouco antes do inicio da aula. Eu estava animada para que os alunos chegassem logo. Meu plano de aula havia ficado como eu queria, eu havia trabalhado muito duro nele.
Aos poucos a classe encheu e assim que todos estavam em seus devidos lugares, me preparei para começar:
— Bom dia! - Eu os cumprimentei. Obtive poucas respostas, um coro meio desanimado. Certo, não é como se eu esperasse muita energia de adolescentes ás 8 da manhã. - Talvez vocês ainda estejam dormindo, mas não por muito tempo. Hoje vamos continuar falando sobre a Segunda Guerra, mas de uma maneira que nenhum de vocês vai querer dormir.
Dei inicio ao assunto, continuando de onde parei na aula anterior, percebi que já havia conquistado um pouco mais da atenção deles e muitos já estavam bem mais acordados.
— Parker! - Chamei o garoto de cabelos castanhos sentado ao lado das janelas, ele estava quase cochilando e se assustou quando ouviu o próprio nome ser chamado. - Feche as cortinas, por favor.
Liguei o projetor e a imagem de um homem alto, mascarado e trajando um uniforme azul, branco e vermelho surgiu diante de todos. Seu escudo reluzia com as cores da bandeira americana, assim como seu uniforme. Imediatamente os olhares de todos se tornaram atentos e curiosos.
— Para quem não conhece, se é que alguém aqui não o conhece, eu lhes apresento o Capitão América - Iniciei meu discurso, minha voz ecoou na sala silenciosa. - Acho que não existe alguém neste país que nunca ouviu alguma história sobre ele. Eu, quando tinha a idade de vocês adorava histórias da Segunda Guerra, estava sempre procurando informações novas, principalmente as que envolvessem o Capitão América...
A aula não poderia ter sido melhor. Os minutos passaram de modo que ninguém percebeu e o sinal anunciando o fim da aula logo soou. Enquanto todos deixavam a sala, eu me preparava para a chegada da próxima turma, me perdi observando uma das fotos que separei do acervo nacional e imprenssa para usar hoje, acabei parando em uma delas. A imagem era de alguns meses atrás, de quando Nova York foi atacada por alienígenas comandados por um Deus nórdico sociopata e narcisista chamado Loki. O Capitão estava usando um uniforme ligeiramente diferente do original, sua máscara estava suja de fuligem escura e em meio ao caos seus olhos azuis reluzentes se sobressaiam.
Franzi as sobrancelhas, meu rosto tomando a forma de uma expressão de confusão. Voltei a encarar a foto, tentando captar cada detalhe que me soava familiar. Tudo o que sei sobre ele aprendi em livros e documentários, há alguns meses ele retornou quando encontraram seu corpo congelado, mas para mim ele ainda se trata de uma lenda. Ainda assim, por que é como se eu o conhecesse? Acho que isso acontece com estudiosos. Quando vamos tão fundo na história de alguém, sempre nos sentimos um pouco próximos dessa pessoa.
Soltei um pequeno suspiro. Além de que eu sinto que todos nós temos algum tipo paixão platônica por alguma figura história. Esse é o meu, mas claramente também é o de metade das pessoas no mundo. O sinal acaba de tocar e a nova turma lentamente enche a classe, vindas do intervalo. Reorganizo os slides e me preparo para começar com a aula.
JÁ ERA NOITE, e eu sinto que não poderia estar mais cansada. Depois de preparar outra aula para o dia seguinte, peço uma pizza para o jantar. Ao sair para receber a comida, não posso evitar de manter um olhar furtivo na porta da frente em expectativa para que o Boné azul apareça. Minhas expectativas são totalmente frustadas, pois não vejo nenhum sinal dele.
Volto para dentro e tranco a porta, sento-me em frente a TV e passo a pular de canal em canal enquanto procuro por qualquer coisa minimamente interessante. Não encontro nada de novo ou que desperte meu interesse, então deixo em qualquer canal que está passando um noticiário. Mal percebi quando peguei no sono.
Meu corpo estava leve, tão leve que eu não sentia o chão sob de meus pés. Ao olhar em volta tudo o que via era infinitos pontos brilhantes espalhados por um negro tapete,bem, pelo menos parecia um tapete. Até que percebi... eu estava flutuando, e a pespectiva do cenário inverteu totalmente com um giro, o tapete se tornou um vasto céu estrelado. Era como aqueles espetáculos no planetário durante as excursões escolares. A sensação de estar voando entre as estrelas é sem igual. O friozinho em meu estômago é excitante, o vento que bate em meu rosto me proporciona uma onda de gargalhadas.
Tão súbito quanto começou, as coisas congelam. É como se o mundo tivesse sido posto em pausa. A sensação de divertimento desaparece e um certo medo me toma. Meu corpo parou de se mover e eu estava suspensa no ar. Ergui os olhos para olhar em volta e vi algo que claramente não estava lá antes. Em volta, formando um círculo em torno de mim haviam diversas sombras. Eram gigantescas, e a silhueta era humana, mas meu extinto sugeria que eles não eram humanos.
A gravidade então decidi mostrar seu poder e provou-se ser uma vadia sem coração quando simplesmente despenquei. Antes que meu corpo colidisse contra o chão, eu abri os olhos.
Eu estava ali, em meu sofá, exatamente onde adormeci. Meu peito subia e descia rapidamente, eu estava ofegante. Minha mente girava confusa, tentando encontrar explicações lógicas. Era um sonho, certo? Certo! Apenas um maldito sonho tão realista que me deixou totalmente sem fôlego como se eu tivesse corrido a maratona de Nova York.
Acontece que eu não costumo ter sonhos tão criativos assim. Geralmente nem mesmo me recordo dos sonhos que tenho. O relógio na parede marca três da manhã, então eu me levanto e me dirijo para o quarto. Eu duvido que possa mesmo voltar a dormir.
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