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CAPÍTULO 1 - O GAROTO MISTERIOSO


Elayne mora em um vilarejo pacato onde pelo menos uma vez por mês o único evento, chamado de purificação, acontecia.

A purificação era como se chamava a execução de bruxas e bruxos capturados  pelos caçadores.

Elayne estava na praça junto a todos do vilarejo, perto do lugar onde uma garota estava queimando em uma fogueira. A garota tinha por volta de 20 anos, era muito bonita, seus cabelos eram negros e seus olhos cinza.
Por alguma razão desconhecida todos os magos tinham olhos cinza.

A garota gritava enquanto sua pele muito clara se tornava escura, e antes dela morrer, Elayne notou que ela fechou os olhos e murmurou  algo, mas não compreendeu o que foi dito.

Após a purificação, Elayne voltou para sua casa onde morava com seu pai e irmãos, ambos membros da ordem de caça às bruxas. Seu pai era dono de um estábulo.

Elayne era tratada como empregada em sua casa. Seu pai, Ronald, e um de seus irmãos, Salazar, a desprezavam porque para eles Elayne era a culpada pela morte de Katrina, sua mãe, que morreu no parto.

***

Um jovem caminhava por entre as árvores da floresta até chegar em uma depressão.

— Está atrasado Kyrtash.-
Disse um homem que tinha cerca de  40 anos, pele clara, cabelos negros.

Ele carregava um semblante muito sério e parecia furioso.

— Perdoe-me mestre Acaren. -
O jovem disse se aproximando do homem que estava no centro da depressão, onde havia muitas pessoas em círculo de mãos dadas.

— Hoje perdemos mais uma vida, mas seu espírito continua nesta floresta, alimentando nossa magia. - Acaren disse e seus olhos cinza mudaram para um tom prata.

No céu acima deles um cavalo feito de luz branca surgiu trotando no ar e então rapidamente desapareceu.

Acaren disse:

— Shyon, recebemos seu espírito.

***

Elayne varria a casa quando Salazar chegou com os pés cobertos de lama.

— Ei! Você poderia ter limpado os pés pelo menos Salazar!

Ele nada disse, apenas a empurrou fazendo-a cair para trás e bater em um móvel que era um santuário para Katrina. Ali tinha suas fotos e era notável sua semelhança com Elayne. O mesmo tom claro de pele, cabelos castanhos claros e os olhos amarelados. No móvel também havia uma urna com as cinzas de sua mãe, urna essa que com o impacto, caiu no chão abrindo sua tampa, fazendo o conteúdo ser lançado sobre Elayne.

— Salazar, olha o que você fez! - Elayne gritou se levantando.

— Eu?! Mas foi você quem caiu e está coberta pelas cinzas da mamãe. - Salazar respondeu ironicamente.

Ronald ouviu os gritos de Elayne, foi ver o que estava acontecendo e se deparou com ela naquele estado e a urna no chão. 

— Sua maldita! O que você fez?!

— Pai, o Salazar…

— Cala boca Elayne! Você tirou ela de mim outra vez!

— Não! Foi um acidente, eu juro!

— Sai daqui!

— O Quê?!

— Sai da minha casa agora! -Vociferou Ronald.

— Mas pai! Já é noite! - Staroça, o outro irmão de Elayne, disse em protesto. — E as bruxas?!

— Não se mete Staroça! Elayne, está surda? Sai agora!

A garota assim fez, saiu da casa e começou a caminhar sem rumo, e só parou ao perceber que estava na fronteira do vilarejo, bem na frente da Floresta da Morte. Então, olhando para as copas das árvores que dançavam com o soprar do vento, Elayne caiu de joelhos e começou a chorar,  pois ela já não aguentava aquela culpa que carregava.

Seu pai e Salazar faziam questão de lembrá-la todos os dias.

— Aqui não é um bom lugar para isso. Não acha? -
Uma voz masculina muito suave e profunda disse, fazendo Elayne se assustar.

Ela acreditava estar sozinha.

Se colocou em pé e olhou em direção de onde a voz tinha vindo e viu um jovem vindo em sua direção.

Assustada Elayne perguntou:

— Quem é você?

— Você não deveria estar fora de casa tão tarde. - Disse o jovem.

Ele parou diante da garota, completamente alheio à pergunta da mesma. Elayne então retrucou:

— Nem você.

— Por que acha isso?

— Meu irmão diz que as bruxas que vivem na Floresta da Morte sequestram os jovens durante a noite para fazerem rituais sangrentos para o demônio.

Elayne parou de falar pois o garoto começou a rir freneticamente

— Qual a graça?

— Isso que você disse.

Elayne ficou furiosa. Como alguém poderia achar aquilo engraçado?

— É verdade, nós dois não devíamos estar aqui.

— Para começar, isso que você disse é mentira.

— É mesmo? Como pode ter tanta certeza?

— Eu nunca vi um único ritual desse tipo lá.

— Como assim? Não entendi.

Ela estava tentando compreender quando ouviram sons de passos correndo do vilarejo para a floresta.

— Abaixe. - O rapaz disse a empurrando para trás de uma grande rocha que estava do lado dela.

Confusa, Elayne perguntou:

— Por que você fez isso?!

— Não faça nenhum barulho. -  O jovem sussurrou.

Por trás da rocha, Elayne e o jovem viram um casal sendo perseguidos por um grupo de quatro homens. O casal desapareceu na floresta e Elayne pôde ouvir os homens conversarem:

— Esses bruxos!

— Na próxima a gente pega esses corrompidos.

— O certo era botar fogo nessa maldita floresta.

— Está doido?! Assim o demônio da floresta vem para o vilarejo!

— Isso não importa agora. Vamos, ainda temos que encontrar Elayne.

— Verdade Staroça.

Os homens voltaram para o vilarejo. Elayne sussurrou:

— Estão me procurando.

— Então você deve ir.

— Sim, e você também. Eu nunca te vi no vilarejo antes.

— Não moro lá.

— Você! - Elayne exclamou desesperada.

Mas ela notou que o garoto não estava prestando atenção, ele acabara de fechar os olhos e assim ficou por alguns segundos, coisa que fez Elayne lembrar daquela garota na fogueira mais cedo.

Quando o garoto abriu os olhos parecia sério.

— Estou indo agora, mas nós nos veremos outra vez. Elayne.

— Como sabe meu nome?!

— Você disse que aqueles homens estavam te procurando, e Elayne foi o nome que um deles disse.

— É mesmo…

— Ah, e a propósito, me chamo Kyrtash. Agora vá.

O rapaz se colocou em pé. Elayne se levantou e começou a andar para o vilarejo e quando olhou para trás Kyrtash havia desaparecido.

Quando Elayne entrou no vilarejo, não demorou para  encontrar Staroça.

— Elayne! Que bom que você está bem! - Disse ele parecendo cansado.

— Staroça, o que faz aqui? -
Elayne perguntou tentando se fazer soar como se não soubesse a resposta.

— Estava te procurando para te levar para casa.

— Mas e o papai, não está bravo?

— Claro que está. É o papai. Quando ele não está bravo?

— Quando estou longe.

— Não fale assim. Vamos, é perigoso ficar vagando a essas horas pelo vilarejo.
Eu e uns amigos afugentamos dois bruxos. Deve ter mais deles por aí.

Elayne e Staroça chegaram em casa e seu pai e Salazar estavam jantando.

— Senta irmã, vou te servir.

— Obrigada, Staroça.

Depois do jantar Elayne limpou a cozinha, lavou toda a louça e foi dormir. Ela não parava de pensar no garoto que conheceu. Qual era mesmo o nome dele? Será que ele era um bruxo? Talvez, mas se ele fosse, por que não a matou? E o que ele fazia lá?

Como estava muito escuro, Elayne não viu muito bem sua aparência, mas a voz dele certamente era
muito sedutora.

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