Capítulo 52. A descoberta.
Hoje é meu aniversário ai resolvi que meus leitores merecem um presente. Dois capítulos hoje. Se tivesse escrito mais teria postado mais. Natal é complicado.
Enrico teve uma noite terrível e um dia ainda pior. O cansaço pesava sobre seus ombros, a ponto de tornar insuportável qualquer interação social. Ele havia recusado o convite de Isabel para jantar, preferindo algo mais simples e menos formal: beber com seus irmãos. Era raro conseguirem momentos assim desde que fecharam as portas do submundo, e ele ansiava por um pouco de alívio na companhia deles.
Sem pensar muito, dirigiu-se à casa de Matteo. Sabia que o irmão nunca negaria uma oportunidade para uma pequena celebração, ainda que inesperada. Ao chegar, a empregada abriu a porta, como sempre cortês, e informou que Matteo estava no quarto. Enrico subiu as escadas, ouvindo, à medida que se aproximava, vozes alteradas e, estranhamente, o som de um miado.
Ao entrar no quarto, foi surpreendido por uma cena que o deixou sem palavras. Não era um gato que ele tinha ouvido, mas o choro de um bebê. Layla estava ali, segurando uma pequena criança nos braços. A visão foi suficiente para paralisar Enrico. Ele ficou estático, seus pensamentos rodopiando em uma espiral caótica.
Layla se virou devagar ao notar sua presença, seus olhos revelando uma mistura de exaustão e alívio.
— Enrico — disse ela, quase em um sussurro, enquanto ajeitava o bebê em seus braços.
A criança, curiosa, parou de chorar e fixou os olhinhos grandes e brilhantes em Enrico, como se reconhecesse algo familiar. Ele deu um passo hesitante para frente, tentando processar o que via. A mente dele foi inundada por um turbilhão de perguntas, mas a mais insistente o fez relembrar um passado doloroso. E se Layla não tivesse perdido o bebê? E se o médico estivesse errado?
— O que... você... o que aconteceu? — conseguiu perguntar, com a voz carregada de incredulidade.
Layla apertou o bebê contra o peito, os olhos implorando por apoio.
— Enrico, me ajuda. Fala com o seu irmão. Precisamos de ajuda.
Antes que pudesse responder, Matteo se aproximou, cruzando os braços e encarando o irmão.
— De quem é esse bebê? — perguntou Enrico, quase sem fôlego.
— Meu — respondeu Matteo, com firmeza, mas sem a menor cerimônia.
Layla interveio, tentando acalmar a tensão.
— Ela parou de chorar. Vamos colocá-la no berço. Matteo, você vai explicar tudo... tudo que fez e que me arrastou junto! — declarou, o tom oscilando entre raiva e frustração.
Com cuidado, Layla ajeitou a pequena Anya no berço. A bebê não chorou, apenas suspirou, como se finalmente estivesse em paz. Layla soltou o ar em um suspiro igualmente aliviado, sentindo o peso diminuir, mesmo que por um instante.
Os três saíram do quarto em silêncio. O corredor parecia se estender infinitamente, como se cada passo fosse engolido pela tensão que pairava no ar. As sombras alongadas pelas luzes baixas aumentavam a sensação de desconforto, e Enrico, ainda absorvendo o que havia presenciado, tinha certeza de que aquela noite seria inesquecivelmente longa.
— O que houve aqui? — Enrico perguntou, sua voz carregada de incredulidade.
Matteo olhou para o irmão, o semblante cansado.
— Vem, vamos conversar — disse ele, gesticulando para que o seguissem.
A sala estava silenciosa, exceto pelo som abafado dos passos no chão de madeira. Matteo sentou-se em um sofá com um suspiro pesado, enquanto Layla e Enrico se acomodavam no outro, mantendo uma distância calculada. Enrico ainda estava tão atônito que tudo parecia um devaneio absurdo, um sonho confuso que misturava realidade e fantasia.
Quando Matteo começou a explicar, cada palavra parecia trazer mais peso à atmosfera já densa. Enrico ouviu com atenção, os olhos arregalados em descrença, enquanto finalmente compreendia toda a história: o segredo de Matteo e o motivo de Layla estar em Porto.
— Por que escondeu isso da sua família? — perguntou Enrico, a voz transbordando indignação.
— Eu estava preocupado... podia dar errado, e eu... não queria... sei lá — Matteo tentou se justificar, mas sua voz parecia vacilante, insegura.
Layla, com os braços cruzados e o olhar cansado, interveio.
— Ele devia ter contado para todos. Sua mãe tem que saber para ajudar, Matteo. Eu não entendo nada de crianças!
Enrico balançou a cabeça, incrédulo.
— E você, Layla? Podia ter me contado! Disse que estava em Lisboa, mas estava em Porto ajudando Matteo. E ainda mentiu.
Layla desviou o olhar, visivelmente desconfortável.
— Eu prometi não contar... — murmurou, constrangida, suas mãos apertando a barra da camisa.
Matteo inclinou-se para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, e suspirou profundamente.
— Estou tão cansado...
Layla virou-se para ele com uma expressão de irritação.
— Você está cansado? Matteo, você não deu banho nela, não trocou uma fralda, nem sequer deu a mamadeira!
A troca de olhares entre os três era carregada de emoções conflitantes. Enrico suspirou pesadamente e sugeriu:
— Vamos para a casa dos Corallos.
Layla hesitou, mas então perguntou, com um toque de esperança na voz:
— Enrico, ha spazio per un bambino, una culla? (Enrico, há espaço para um bebê, um berço?)
Enrico ergueu uma sobrancelha, surpreso pela súbita mudança de idioma.
— Você fala italiano agora?
Layla balançou a cabeça, exausta.
— Sim... desculpa. É que estou confusa, estou cansada — explicou, claramente envergonhada pela mistura de línguas.
Antes que mais algo fosse dito, Matteo ergueu as mãos em um gesto quase suplicante.
— Fiquem, por favor. Eu preciso de ajuda.
Enrico cruzou os braços e lançou um olhar severo ao irmão.
— Amanhã — respondeu finalmente. — Não por você, mas por ela.
Matteo saiu da sala, deixando Layla e Enrico sozinhos. O silêncio tomou conta do ambiente, e por um longo tempo os dois permaneceram sentados lado a lado, sem se olharem. Era como se o peso de tudo que haviam vivido estivesse presente entre eles, preenchendo o vazio das palavras não ditas.
Finalmente, Enrico quebrou o silêncio com uma voz rouca e hesitante:
— Bem-vinda de volta.
Layla não respondeu. Quando ele se virou para ela, percebeu que estava dormindo, o corpo desabado contra o sofá. Um pequeno sorriso se formou em seus lábios ao vê-la assim. A imagem dela dormindo trouxe uma onda de nostalgia, lembrando-se da primeira vez que a viu adormecer no balcão de sua casa, há tanto tempo.
Com cuidado, ele a pegou no colo, tentando não perturbá-la. Seus cabelos estavam mais longos do que da última vez em que se encontraram, e seu rosto tinha um ar de serenidade que ele não via há muito tempo. Enrico a levou para um quarto de hóspedes que Matteo mantinha, passou por uma porta percebendo a placa com o nome "Anya" gravado, nome de sua sobrinha.
Quando adentrou ao quarto de hóspedes vazio, ele colocou Layla na cama com delicadeza, puxando o cobertor sobre ela. Não resistiu à vontade de sentar-se ao lado, observando-a dormir. Seus olhos se demoraram em cada detalhe de seu rosto, cada traço que ele conhecia tão bem. Era como se todo o caos da noite desaparecesse ao vê-la descansar.
Enrico passou a noite ali, mal dormindo. Cochilava por curtos períodos, apenas para abrir os olhos e encontrá-la ainda ao seu lado. Não havia nada mais reconfortante do que a presença dela, e ele sabia que faria qualquer coisa para proteger aquele momento.
Layla despertou lentamente, seus olhos se abrindo com certa dificuldade enquanto sentia a luz suave da manhã invadir o quarto. A primeira coisa que viu foi Enrico, sentado na beira da cama, olhando para ela com uma expressão serena.
— Bom dia — disse ele, com um sorriso gentil que parecia carregar anos de saudade e arrependimento.
Layla esfregou os olhos e bocejou e disse: — Eu dormi muito tempo? Estava tão cansada... o bebê tem me exaurido esses dias.
Enrico permaneceu em silêncio por um momento, perdido em seus pensamentos. Ele não conseguia evitar lembrar dos filhos que havia sonhado em ter com Layla, do bebê que nunca chegou a nascer. Uma pontada de dor passou por seu coração, mas ele a disfarçou com outro sorriso suave.
— Está tudo bem — respondeu, com a voz baixa.— Sim, mas... você podia ter me contado — Enrico finalizou a olhand.
Layla sentou-se na cama, ajeitando os cabelos bagunçados, referindo-se às revelações recentes. — Me desculpa
— Está tudo bem, é só que... nós prometemos ser sinceros um com o outro. — Enrico respondeu, desviando o olhar por um instante.
— Lo so, amore mio, mi dispiace — murmurou em italiano, sua voz doce e cheia de sinceridade.
— Você fica ainda mais linda falando italiano — Enrico não pôde deixar de sorrir, antes de se inclinar para beijar delicadamente sua testa.
O momento foi interrompido pelo som de um choro vindo do outro quarto. Ambos se voltaram para a porta, e Layla suspirou profundamente:
— Quero chorar também — brincou, embora sua voz tivesse uma pontada de cansaço.
— Ah, para. Ela é filha do Matteo. — Enrico riu, mas logo ficou sério.
Layla inclinou a cabeça, olhando para ele com uma expressão que mesclava ternura e melancolia.
— Se você soubesse, amor... A mãe dela nem quis olhar para ela. Eu segurei aquele bebê no colo e chorei tanto. Pensei em tudo... Fiz as contas na minha cabeça e...
Sua voz falhou, incapaz de completar a frase. Enrico ergueu a mão, acariciando suavemente o rosto dela.
— Poderia ser o nosso filho — murmurou, sua voz quebrada, carregada de emoções.
Layla assentiu em silêncio, sentindo as lágrimas se acumularem em seus olhos.
— Pensei nisso quando vi você com ela... — continuou ele.
— É que... — Layla começou, mas Enrico a interrompeu, abraçando-a com firmeza.
— Eu sei, amore mio.
Ela se aconchegou nos braços dele, inspirando profundamente o cheiro familiar que tanto sentira falta. — Senti tanta falta do seu abraço... — confessou.
— Você podia ter voltado antes — respondeu ele, com um leve tom de repreensão.
— É que... Seu pai me mandou aquele dinheiro, e eu estava comprando as propriedades. — Enrico afastou-se ligeiramente, olhando-a nos olhos. — Você não sabia?
— Não sabia o quê?
— Achei que era um homem... Era com você que eu trocava e-mails?
— Achei que sabia, Enrico. Eu te achava tão frio pelos e-mails...
Enrico suspirou e passou a mão pelos cabelos.
— Jamais deixaria você andar por aí com bolsas de dinheiro ou exposta a riscos. Abriram uma empresa em seu nome para facilitar a corretagem das casas. Eles realmente não têm limites.
— Eu aceitei. — Layla mordeu o lábio, pensativa.
— Mas você não me contou nada — respondeu ele, num tom que misturava mágoa e surpresa.
— Achei que você sabia — insistiu ela, com a voz baixa.
— Eu não sabia... — Ele balançou a cabeça, frustrado.
— Deixa pra lá. Você está aqui. Estamos bem. Foi apenas... uma falha na comunicação. — Layla suspirou profundamente e ergueu a mão para tocar o braço de Enrico.
— Sim, amore mio. Estamos bem agora.
O peso das palavras não ditas pairava no ar, mas ambos sabiam que o mais importante era estarem juntos novamente.
O peso das palavras não ditas pairava no ar, como uma nuvem densa que teimava em não se dissipar. Mas, naquele momento, nada mais importava. Estarem juntos novamente era suficiente.
De repente, a porta foi aberta com força, e Matteo entrou no quarto, o rosto transparecendo desespero. — Me ajudem! Ela está toda suja — implorou, quase choramingando.
Enrico levantou-se rapidamente, franzindo o cenho diante da cena.
— É sua filha, Matteo — respondeu, com um misto de repreensão e preocupação.
— Eu sei, mas... por favor, me ajudem! — Matteo insistiu, a voz embargada pela ansiedade.
Layla e Enrico não hesitaram. Levantaram-se imediatamente e seguiram Matteo, que segurava Anya nos braços. A pequena havia causado uma bagunça tremenda, estava coberta de sujeira, mas ainda assim, sua expressão inocente e curiosa suavizava o caos ao seu redor.
— Foi um desastre.
— Sem dúvidas — respondeu Layla, tentando conter uma risada.
Matteo, pela primeira vez, precisou enfrentar a tarefa de dar banho em sua filha. Enquanto ele se atrapalhava, ensaboando-a com cuidado exagerado, Enrico, estranhamente fascinado, tirava fotos discretamente.
— O que está fazendo? — Layla perguntou, notando o celular em suas mãos.
— Registrando o momento — respondeu ele, com um sorriso. — Um dia, ele vai querer lembrar disso.
Layla não pôde evitar sorrir, embora sacudiu a cabeça em reprovação leve. Quando terminaram, Anya estava limpa, vestida com uma roupinha confortável e exalando o cheiro fresco de sabão.
Minutos depois, todos partiram em direção à mansão de Matteo. No carro, Layla sentou-se no banco de trás, com Anya dormindo serenamente ao seu lado. Ela segurava a mãozinha da menina, seu olhar cheio de ternura.
Enrico, ao volante, espiava Layla pelo retrovisor. A maneira como ela olhava para Anya, o sorriso suave que iluminava seu rosto... era algo que ele não conseguia deixar de admirar. Matteo, no entanto, estava inquieto, sua voz quebrando o silêncio.
— Meu pai vai me matar... Eu tenho um filho bastardo — disse, com um tom de pânico.
— Não fale assim dela! — Enrico o repreendeu, com firmeza. — Você é o verdadeiro bastardo, Matteo.
Matteo engoliu em seco, mas nada respondeu. Layla, enquanto isso, acariciava a mãozinha de Anya, seus olhos fixos na pequena.
— Ela é tão linda... — murmurou, quase para si mesma.
Matteo olhou para trás, seus olhos cheios de um misto de gratidão e arrependimento. — Layla, eu... sou tão grato por você ter cuidado da Paula. Ela estava tão... — Ele hesitou, procurando as palavras.
A verdade era difícil de ser dita: Paula havia rejeitado a gravidez desde o início e estava à beira de tomar decisões drásticas. Matteo sentiu um nó na garganta ao lembrar.
— ...Cansada — completou, finalmente.
— Pode ser — respondeu Layla, com um tom que misturava compreensão e distanciamento.
Ela ergueu os olhos e notou que Enrico a observava pelo retrovisor, fascinado pelo sorriso que ela carregava. Seus olhos se encontraram por um instante, mas o momento foi interrompido por Matteo. — Enrico! — chamou ele, com um tom alarmado.
Enrico desviou o olhar rapidamente, voltando a prestar atenção na estrada. — Desculpe — disse, um pouco envergonhado, enquanto firmava as mãos no volante.
A viagem não demorou muito. A mansão de Matteo estava próxima, e eles chegaram em questão de minutos. Enrico parou o carro na entrada principal, desligando o motor com um suspiro profundo.
Layla olhou para a casa imponente à sua frente, sentindo o peso de um novo começo. Nos braços, Anya continuava dormindo, alheia às emoções que pairavam ao seu redor.
Enrico e Layla entraram pela porta dos fundos, discretos. Algumas empregadas notaram a presença deles, mas Enrico fez um gesto com a mão, indicando silêncio.
— Vamos subir — ele disse em voz baixa. — Se houver gritos, podem acordar a bebê.
Ambos seguiram até o quarto, Enrico carregando algumas bolsas enquanto Layla mantinha Anya aconchegada em seus braços. Uma vez lá, Layla se acomodou em uma poltrona perto da janela, segurando a bebê com cuidado. Enrico sentou-se no braço da poltrona, observando a sobrinha com um sorriso de fascínio.
— Ela é muito fofa — comentou, em tom suave.
— Enrico, foi tudo tão absurdo... A mãe dela não tinha nada. Nem roupinhas, nem fraldas, nada que fosse para a bebê. E o pior... Ela nem quis ver Anya. Nem sabe que é uma menina. — Layla suspirou, a voz carregada de indignação e tristeza.
— Deve ter sido difícil — Enrico coomentou.
— Ela queria fazer uma cesariana antes do tempo, dizia que não aguentava mais a gravidez. Matteo pediu que eu ficasse lá para impedir que ela fizesse isso.
— Por que não me contou antes? — Enrico questionou, a expressão séria.
— Matteo pediu. Além disso, eu mesma não sabia como falar sobre isso.
Por um momento, ficaram em silêncio, até Enrico murmurar, quase envergonhado: — Você acha que ela gosta de mim?
— Gosta sim. Quer segurá-la? — Layla sorriu.
— Posso?
— Claro. Troca de lugar comigo.
Com delicadeza, Layla se levantou, entregando Anya para Enrico. Ele se acomodou no assento da poltrona, ajeitando a bebê cuidadosamente em seus braços. Anya abriu os olhos por um momento, mas logo voltou a fechar, tranquila. Layla sentou-se no braço da poltrona, observando a cena com ternura.
Enrico encostou a cabeça no braço de Layla e sorriu.
— Isso é incrível — disse ele, em um tom de surpresa.
— É mesmo — respondeu Layla, também sorrindo. — Agora ela está em um lugar onde será amada de verdade.
Enrico olhou para Anya com um ar sério, estudando cada traço. — Acho que ela se parece comigo — afirmou.
— Ah, não sei... — Layla arqueou uma sobrancelha, rindo suavemente.
Antes que Enrico pudesse responder, a porta do quarto se abriu. Eleonor entrou apressada, parando ao ver os dois e a bebê e disse:
— Eu vou matar o Matteo! — exclamou, com indignação. Layla se levantou rapidamente. — Minha querida, era essa a sua urgência? — Eleonor perguntou, cruzando os braços.
— Lamento não ter contado antes. Nem sabia o que sentir. Trazer ela tão novinha em um avião foi tão difícil... — Layla foi até ela e a abraçou.
— Essa família é um caos. Mas, e você? Como está? — Eleonor suspirou, o semblante suavizando-se.
— Bem. Mas acho que tem alguém que você precisa conhecer.
Eleonor se aproximou da poltrona, onde Enrico ainda segurava Anya. Ele sorriu, orgulhoso.
— Parece comigo, mãe — disse ele, provocando.
— Deixe os filhos de vocês serem parecidos — respondeu Eleonor, balançando a cabeça com humor. — Matteo não vai ter outro, porque eu mesma vou esterilizá-lo. Agora, me dê minha netinha.
Com a habilidade de uma mulher acostumada a criar quatro filhos, Eleonor pegou Anya nos braços. A bebê olhou para ela com curiosidade, e Eleonor sorriu, encantada.
— Ah, ela é tão linda.
— É mesmo — concordou Layla.
— Ela precisa conhecer toda a família.
— Senhora, eu comprei algumas coisas, mas foi pouco, apenas o básico para a viagem. Ela ainda precisa de fraldas, roupinhas, mamadeiras... — Layla enumerou, enquanto Eleonor a escutava com atenção.
— Matteo tem algumas coisas no quarto dela. Poucas, claro — acrescentou Enrico.
— Ele é um irresponsável — Eleonor resmungou.
— Acho que ele só é sem noção — disse Enrico. — Eu posso ir comprar o que falta. Layla, você vem comigo?
— Claro. Tenho certeza de que tenho mais noção que ele.
— Tragam também um berço e roupas de cama — ordenou Eleonor. — E voltem para o jantar.
— Sim, senhora — responderam em uníssono, saindo do quarto com um sorriso.
Pouco depois, ambos deixaram a casa discretamente pela saída lateral, evitando qualquer atenção indesejada. O céu já começava a tingir-se de tons alaranjados, marcando o final de mais um dia turbulento. Assim que entraram no carro, Layla soltou uma risada leve, quase aliviada.
— Parece que temos muito trabalho pela frente — comentou, ajeitando-se no assento.
— É, mas pelo menos ela está com as pessoas certas agora — respondeu Enrico, ligando o motor. O som do carro preencheu o breve silêncio entre eles, enquanto um sorriso surgia em seus lábios.
— Isso tudo é muito louco — continuou Layla, olhando pela janela.— Imagine aquela mulher horrível sendo mãe dessa pobrezinha.
Enrico assentiu, pensativo, antes de mudar de assunto.
— Não tive tempo de fazer nada para você. Aceita ir jantar comigo mais tarde?
Layla virou-se para ele, surpresa pela súbita proposta, mas respondeu com um sorriso. — Claro, Enrico.
Eles trocaram um olhar cúmplice antes de se concentrarem nas tarefas que tinham pela frente. Na loja, a missão era clara: montar um enxoval completo para Anya. Percorreram os corredores, escolhendo cuidadosamente mamadeiras, chupetas, roupinhas, um berço e roupas de cama. Enrico segurou uma peça minúscula e, de maneira desajeitada, tentou entender onde passariam a cabeça, os braços e as pernas.
— O que acha? — perguntou, segurando a roupa como se fosse um enigma.
Layla não conteve a risada.
— Achei fofo. Matteo vai precisar de um curso rápido.
Eles pararam diante dos móbiles infantis, encantados com o modelo de estrelas que girava lentamente. O brilho suave das luzes despertava um ar de tranquilidade. Layla, no entanto, soltou um bocejo.
— O que foi? — Enrico perguntou, percebendo sua expressão cansada.
— Jet lag. O bebê. Dias sem dormir. Estou exausta.
— Vamos descansar então.
— Nossa, nem sugira isso, ou acabo dormindo aqui mesmo — brincou, esfregando os olhos.
Apesar do cansaço de Layla, Enrico precisava passar rapidamente na empresa que estava montando. Ela concordou em acompanhá-lo, e em pouco tempo chegaram ao imponente prédio. Assim que entraram, foram recebidos por Isabel, que os abordou com entusiasmo.
— Achei que o senhor não vinha hoje — disse Isabel, com uma animação que parecia um tanto exagerada.
— Vim sim. E você também, pelo visto — respondeu Enrico, mantendo a cordialidade.
Layla observava a interação com certo desconforto, especialmente quando Isabel dirigiu a atenção a ela.
— Quem é você? — perguntou a mulher, encarando Layla de cima a baixo.
— Ah, desculpe. Isabel, esta é minha esposa, Layla — explicou Enrico.
— Esposa? — Isabel ergueu as sobrancelhas. — Achei que aquelas fotos na sala dele eram de uma atriz ou algo assim. Até pensei que fosse uma desculpa... sabe, para encobrir...
— O quê? — Layla perguntou, chocada.
— Isabel tem esse jeito peculiar — cortou Enrico, tentando aliviar a tensão. — Layla ainda está lidando com o jet lag.
Layla soltou um riso nervoso, tentando superar a estranheza. Logo depois, eles seguiram para o escritório de Enrico. Assim que entraram, Layla ficou surpresa ao ver várias fotos dela e dele decorando a sala.
— Ah, prefiro aquele bar do Valete de Ouros — brincou Layla, apontando para um canto vazio, fazendo referência a algo íntimo deles.
— Poxa vida, amor — respondeu Enrico com um sorriso.
Ele se acomodou em sua cadeira e começou a revisar e assinar os documentos necessários. Layla, exausta, sentou-se no sofá e acabou cochilando. Ao final do trabalho, Enrico a pegou nos braços com cuidado e a levou para casa.
A casa estava cheia de vida, animada com a chegada de Anya. No entanto, o momento mais doce do dia foi quando Enrico colocou Layla delicadamente na cama. Ele a observou por alguns instantes, a luz suave do abajur iluminando seus traços serenos. Embora desejasse conversar com ela sobre tantas coisas, só de tê-la por perto, sentindo sua presença, parecia suficiente por enquanto.
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