Capítulo 51. Ela está voltando.
Enrico estava sentado à mesa de jantar com seus pais, tentando disfarçar a ansiedade que crescia em seu peito. A conversa parecia correr de forma natural até que o telefone tocou. A mãe de Enrico atendeu, e ele não pôde evitar que seus olhos se fixassem nela, tentando decifrar cada expressão em seu rosto. Quando ela finalmente desligou, ele sentiu como se o ar tivesse sido arrancado de seus pulmões. Seu coração parecia querer parar enquanto aguardava, desesperado, por qualquer palavra que esclarecesse a ligação.
Para aliviar sua inquietação, Enrico monitorava discretamente as câmeras instaladas na porta da casa de Layla. Dia após dia, ele observava seus movimentos: ela saía e entrava sempre sozinha, o que lhe trazia uma sensação de alívio. Mas então, algo inesperado aconteceu. Em uma noite, ela saiu e não voltou. A princípio, ele imaginou que ela estivesse retornando para casa, mas os dias passaram, e Layla continuava dizendo que ainda estava em Lisboa. Ele sabia que era mentira.
— O que ela faz em Porto? — perguntou, quebrando o silêncio tenso que pairava na sala.
— Não sei — respondeu a mãe, com a mesma serenidade de sempre.
— Por que ela precisa sair com tanta urgência? — insistiu, tentando manter a voz controlada.
— Não sei — repetiu ela, ainda imperturbável.
— Será que ela está com problemas? — A inquietação em sua voz era evidente agora.
— Enrico, acalme-se — interveio Eleonor, sua irmã mais velha, com um tom firme e tranquilizador. — Todos nós sabemos o mesmo que você. Precisamos atender ao pedido de Layla. Ela vai nos contar o que está acontecendo.
Enrico riu, mas o som estava longe de ser alegre.
— Da mesma forma que ela disse que voltaria? Isso foi há meses, Mamãe! Cinco meses! — Ele quase gritou, seu autocontrole se desfazendo.
— Enrico, vamos resolver isso. Agora, respire. — A tentativa de Eleonor de acalmá-lo não teve grande efeito.
— Ok — respondeu ele, bufando de frustração. Determinado, começou a organizar os preparativos: o avião, os contatos, tudo que fosse necessário para encontrar Layla e obter as respostas que tanto ansiava.
Naquela noite, o sono foi um luxo que ele não conseguiu alcançar. Virava de um lado para o outro na cama, com os pensamentos se sobrepondo como ondas em uma tempestade. Pela manhã, arrastou-se para o trabalho, exausto e mentalmente desgastado. A situação tornava-se insuportável. Respeitar o espaço de Layla e essa filosofia de "deixe ir, se for seu, voltará" não combinavam com ele. Enrico não era esse tipo de homem. Ele precisava de ação, de respostas, de controle.
Seu coração estava decidido: ele não deixaria mais o destino ditar os rumos de sua vida. Era hora de descobrir a verdade, custasse o que custasse.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, Matteo dirigia calmamente. Ainda faltava muito tempo para elas chegarem, mas ele já sentia a ansiedade crescendo em seu peito. Tornar-se pai era algo intenso, uma mistura de alegria, medo e expectativa que parecia inundar cada canto de sua mente.
Ele estacionou no aeroporto e ficou pacientemente aguardando a chegada do avião. Quando finalmente o viu pousar, sentiu o coração acelerar. Layla desceu devagar, carregando algo que, à distância, parecia uma pequena bola branca envolta em panos. Mas, conforme ela se aproximava, Matteo pôde ouvir o som de um choro delicado e insistente.
— Layla — ele chamou, quase sem acreditar.
— Você me deve tanto, Matteo, tanto — disse Layla, a voz exausta. A neném havia chorado durante boa parte do voo. — Eu juro...
— Benvenuta, Bella — Matteo respondeu, com um sorriso emocionado.
Ele olhou para o bebê em seus braços e sentiu os olhos se encherem de lágrimas. O rostinho pequeno, o nariz delicado... naquele instante, Matteo percebeu que sua vida havia mudado para sempre. Ele era, agora, um pai.
— Quer pegá-la? — perguntou Layla, e ele apenas concordou com a cabeça, incapaz de falar. — Vai con papà, è molto piccola. (Vai com o papai, ela é muito pequena.)
— Mia bambina. (Minha menina.)
Matteo a segurou com cuidado, inicialmente meio desajeitado, mas logo encontrou uma posição confortável. Para sua surpresa, a pequena parou de chorar quase imediatamente. Foi um momento mágico e inesperado. Matteo havia sugerido a Layla que usasse seu perfume quando a bebê nascesse, para que ela se acostumasse ao cheiro dele. Embora Layla tivesse achado a ideia um tanto boba, acabou comprando um frasco do perfume e o utilizou. Agora, vendo o efeito calmante que causava na filha, Matteo sentiu as lágrimas escorrerem pelo rosto.
Layla observou a cena e não pôde deixar de pensar em como a mãe de Matteo teria ficado feliz em presenciar aquele momento.
— Parli molto bene l'italiano. (Você está falando italiano muito bem.) — Matteo disse, embalando a pequena suavemente.
— Precisamos ir, levá-la ao hospital — lembrou Layla, a praticidade retornando ao tom de sua voz.
E assim fizeram. No hospital, os médicos examinaram a bebê minuciosamente. Para alívio do casal, ela estava saudável, sem sinais de que o voo tivesse causado qualquer problema. Apesar disso, o médico os repreendeu, alertando sobre os riscos de viagens tão longas com um recém-nascido.
Mais tarde, Layla e Matteo foram para a casa dele. O ambiente estava preparado com todo o cuidado para receber a bebê. Havia um quarto decorado especialmente para ela, cheio de brinquedos de pelúcia e bonecas. Uma poltrona confortável ocupava um canto estratégico do cômodo, pensada para os momentos de amamentação e aconchego. Matteo apontou para as bonecas de Anya, a personagem do anime que Layla reconheceu imediatamente. Ele explicou que Paula, a mãe do bebê, costumava assistir ao desenho nas madrugadas quando a menina chutava demais, e aquilo parecia acalmá-la.
O quarto parecia ser um reflexo do amor e do cuidado que Matteo havia colocado em cada detalhe. As paredes estavam pintadas em tons suaves de creme, decoradas com delicados adesivos de flores e estrelas. Pelúcias de diferentes tamanhos estavam dispostas em uma prateleira ao lado do berço, que tinha lençóis macios e uma manta bordada à mão. No canto do quarto, uma poltrona estofada em um tecido azul-claro oferecia um espaço aconchegante para momentos de amamentação e descanso. Layla, ao observar cada detalhe, sentiu-se imersa na dedicação que Matteo colocara ali.
Enquanto ela admirava a decoração, Matteo ficou em silêncio, observando Layla e a pequena Anya. Apesar de todas as dificuldades e incertezas, ele sabia que aquele era o início de algo extraordinário: a jornada de uma nova família.
— Eu gosto — Layla sorriu, olhando para ele.
— Bom, Layla, eu preciso ir trabalhar — disse Matteo, quebrando o momento de tranquilidade.
— O quê? — Layla pareceu chocada. — Você não tem licença-paternidade?
— Bom, eu vou tirar, mas só a partir de amanhã — Matteo respondeu com um sorriso sem jeito.
— Matteo...
— Por favor, só um pouco. Fique com ela — ele segurou a mão de Layla com suavidade.
— Me deve uma — ela respondeu, estreitando os olhos.
— Sim, juro. Eu volto rápido, prometo.
Layla suspirou, mas assentiu. Matteo saiu, e as primeiras horas foram tranquilas. Contudo, duas horas depois, o bebê começou a chorar. Layla tentou de tudo: embalou Anya, cantou suavemente e verificou se estava tudo em ordem. Apesar de seus esforços, a pequena não parava de chorar. Era uma situação exaustiva e angustiante.
Quando Matteo finalmente chegou, encontrou Layla com a bebê nos braços, andando de um lado para o outro. Ele pegou Anya no colo, tentando acalmá-la, mas mesmo assim o choro persistia.
— O que está havendo? — Matteo perguntou, preocupado. Ele verificou se ela estava limpa e alimentada, mas tudo parecia em ordem.
— Eu não sei — Layla respondeu, desesperada. — Precisamos da sua mãe.
— Layla, eles não sabem.
— Você só pode estar doido! O que vamos fazer? Eu nunca tive filhos!
— Eu também não!
— Matteo!
Enquanto os dois discutiam, o choro de Anya ecoava pela casa, quase abafando o som da campainha. Layla, irritada, passou a bebê de volta para Matteo.
— Eu juro a você, Matteo, você precisa dar um jeito nisso — ela o repreendeu. — Ligue para sua mãe.
— Eu não posso — ele disse, hesitante.
— Liga logo!
Antes que Matteo pudesse responder, a porta foi aberta e uma voz familiar os interrompeu.
— O que está havendo aqui? — perguntou Enrico, entrando na sala com uma expressão confusa.
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