Capítulo 29. Acordada
Todos ficaram em completo silêncio, como se o tempo tivesse parado. Vitória estava ali, após anos no coma, sentada em uma cadeira de rodas, a poucos passos de Enrico. Seus olhos brilhavam com algo entre determinação e melancolia, e a tensão no ar era quase palpável.
— Vitória? — Eleonor, visivelmente atônita, se colocou no meio do caminho, encarando a jovem como se precisasse confirmar que era real. — O que está acontecendo?
— Surpresa. — Vitória sorriu.
— Você está... acordada? — Eleonor deu um passo hesitante, ainda assimilando a cena.
— Sim, Eleonor. — Vitória fez questão de usar o apelido carinhoso de outrora, como se quisesse evocar lembranças. — Não aguentava mais as paredes daquele hospital.
— Quando...? Como...? — Eleonor tentava processar, um sorriso surgindo, embora visivelmente desconfortável.
— Já faz duas semanas. — Vitória falou casualmente, mas havia um peso em sua voz. — Foi... confuso no início, mas os médicos ficaram impressionados com minha memória intacta. Difícil mesmo foi aceitar que fiquei tanto tempo... dormindo.
— Ainda não recuperei as forças nas pernas, então isso aqui é meu novo "trono". — Ela fez um gesto sutil para a cadeira de rodas.
Enquanto Vitória explicava, Fernandes, o pai dela, permaneceu imóvel, sua expressão congelada entre o choque e o constrangimento. Ele não sabia que a filha havia saído do hospital, e nem mesmo a mãe de Vitória parecia ciente de sua chegada. Era claro que Vitória tinha tomado a decisão por conta própria.
— Estão surpresos? — Ela riu, um som breve e amargo. — Eu entendo.
O silêncio foi quebrado abruptamente pelo toque do telefone de Enrico. Ele atendeu automaticamente, sem desviar os olhos de Vitória.
— Alô?
A voz da mãe de Vitória soou do outro lado, ansiosa e aflita:
— Enrico, ela está aí? Meu Deus, ela foi até você? — A urgência na voz era clara. — Eu... eu não sabia como te contar. Eu ainda não falei nada sobre... sobre você e ela. Estou indo para aí. Por favor, não diga nada!
Antes que ele pudesse responder, a ligação caiu. Enrico abaixou o telefone lentamente, seu corpo rígido.
Nesse momento, Vitória começou a se levantar com dificuldade, suas mãos tremendo enquanto se apoiava na cadeira de rodas. Com passos vacilantes, ela se aproximou de Enrico e, antes que ele pudesse reagir, se jogou em seus braços.
Ele a segurou instintivamente, mas sua expressão era de puro conflito. Ele parecia preso entre a culpa e a confusão.
— Não foi sua culpa — ela sussurrou em seu ouvido, sua voz carregada de emoção. — Nada disso foi culpa sua.
Layla deu um passo para trás, tropeçando em Lecce. Seus olhos estavam arregalados, o rosto pálido. Para ela, os segundos daquele abraço pareciam uma eternidade.
Toda a sala parecia prender a respiração. Então, Vitória afastou-se levemente, apoiando-se novamente em Enrico.
— Eu preciso da minha cadeira. — Sua voz voltou ao tom prático, mas havia cansaço ali.
Lucca rapidamente empurrou a cadeira para perto dela. Ela sentou-se com um suspiro, suas mãos tremendo levemente.
— Obrigada. — Ela olhou para todos ao redor, sua expressão desafiadora. — Ficar em pé é exaustivo... mas às vezes necessário.
A sala permaneceu em silêncio mortal. A presença de Vitória havia virado o mundo de todos de cabeça para baixo, mas especialmente o de Enrico. Ele sentia o peso das expectativas, da culpa e de um passado que havia decidido enterrar. Agora, estava tudo de volta, personificado na figura determinada daquela mulher.
Vitória quebrou o silêncio, a voz cortante como uma lâmina:
— Estão comemorando o quê?
— A volta do Lecce. — Lucca, após longos segundos de constrangimento.
Um sorriso enviesado surgiu nos lábios de Vitória, carregado de uma ironia amarga. — Parece que o tempo realmente não passou. — Ela murmurou, olhando diretamente para Enrico. Era impossível não lembrar que, no dia do acidente, a família também celebrava a volta de Lecce.
Layla deu um passo para trás, sentindo-se deslocada, como se invadisse um momento de pura intimidade.
— Acho que vou deixar vocês à vontade. Parece ser um momento... familiar.
— Layla. — Enrico chamou-a antes que ela pudesse sair da sala.
— Filha, pode ficar aqui. Está tarde. — Ela parou por um momento, mas não respondeu. A voz hesitante de Don Corallo interrompeu a ela.
Antes que Layla pudesse responder, Marta, a mãe de Vitória, entrou na sala apressada, os olhos arregalados e a expressão de puro desespero. Sua presença trouxe um turbilhão de emoções conflitantes.
— Filha! Como você fugiu para cá? — Marta praticamente gritou, a voz tremendo.
— Eu precisava, mamãe. Não podia mais esperar. — Vitória, com um olhar casual e calculado.
Marta tentou alcançar a cadeira de rodas de Vitória, mas a jovem desviou, claramente irritada com a tentativa de controle da mãe. Enquanto isso, Layla, em silêncio, se afastava. O tumulto ao seu redor parecia fechar-se em sua mente. Ela conseguiu sair da sala sem ser notada, mas, ao alcançar a sala de estar, sua respiração começou a acelerar.
As paredes pareciam estreitar-se ao seu redor, e sua visão ficou turva. Layla levou as mãos ao peito, tentando controlar a respiração, mas a ansiedade era avassaladora.
— Coalinha? — A voz de Lucca ecoou suavemente ao se aproximar dela.
— As paredes... estão se fechando? — Sua voz era um sussurro entrecortado. Layla olhou para ele, seus olhos desesperados.
— Layla, você está bem? — Ele perguntou, segurando a mão dela com firmeza.
Ela apertou a mão dele com força, buscando um ponto de ancoragem enquanto tentava respirar com dificuldade.
— Preciso... preciso ir embora... — Ela conseguiu dizer entre arfares.
— Não. Calma. Respira comigo. — Ele colocou a outra mão em seu ombro, firme, mas com cuidado. — O Enrico vai ficar perdido se você sair.
Layla tentou seguir a orientação, mas parecia difícil demais. Os minutos se arrastavam como horas enquanto Lucca ficava ao lado dela, falando baixinho para acalmá-la.
Matteo apareceu, a expressão carregada de preocupação. Ele havia percebido que o desconforto de Layla era mais importante do que qualquer drama em curso com Vitória.
— Layla... — Matteo se aproximou lentamente, tentando não assustá-la ainda mais. — Você está em casa. Respira, estamos aqui.
Os olhos de Layla lacrimejaram ao ouvir as palavras gentis de Matteo. Pouco a pouco, sua respiração começou a regularizar, e o aperto em sua mão afrouxou. Lucca permaneceu ao seu lado, enquanto a tensão no ar continuava pesando.
O silêncio na casa era sufocante, pesado como um cobertor de chumbo. O som dos passos de Don Corallo ecoou pelo corredor, carregando consigo uma autoridade que não precisava de palavras. Quando ele finalmente apareceu, sua expressão era dura, e os olhos varreram o ambiente como se procurassem algo fora do lugar.
— Está tudo bem? — Sua voz cortou o silêncio, grave e carregada de preocupação, fazendo com que todos o olhassem imediatamente.
— Sim, senhor. — A resposta veio hesitante, quase um reflexo automático.
Don Corallo encarou Layla, que ainda parecia perturbada, a palidez de seu rosto evidenciando a intensidade da noite.
— Layla, fique. Pode dormir no quarto de hóspedes. Ninguém vai te incomodar, eu prometo.
— Sim, senhor.
— Lucca, leve-a para um dos quartos do lado oposto ao quarto de vocês. E, se você contar algo a Enrico, corto sua cabeça. — Os olhos de Don Corallo então pousaram em Lucca, sua expressão endurecendo mais um pouco.
— Sim, Don Corallo.
Ele se aproximou de Layla, guiando-a com passos firmes enquanto o ambiente permanecia em um desconfortável silêncio. Ao chegar à porta do quarto, Lucca a abriu, gesticulando para que ela entrasse.
— Não vou falar nada para o Enrico. Direi que você foi embora. — Sua voz era baixa, quase um sussurro.
— Obrigada, Lucca. — Layla o olhou com gratidão, ainda respirando com dificuldade, e respondeu.
— Não por isso, coalinha.
Quando Lucca retornou ao salão, o peso da noite parecia ter aumentado. Ele olhou ao redor, tentando processar o que acabara de acontecer. Vitória estava ali, uma figura que os médicos diziam que jamais voltaria, e agora ela estava de volta, trazendo consigo a promessa de mais caos.
O ambiente estava carregado de uma tensão quase palpável. Quando Marta e Fernandes chegaram, a atmosfera, que já estava desconfortável, tornou-se quase insuportável. Ambos se colocaram ao lado de Vitória, como se tentassem formar uma barreira entre ela e os olhares incisivos de todos.
Enrico permanecia imóvel, a palidez em seu rosto destacava o desconforto e a incredulidade. Seus braços estavam rígidos ao lado do corpo, como se ele não soubesse o que fazer com eles.
— Como você está, meu amor? — Fernandes quebrou o silêncio, sua voz embargada enquanto puxava Vitória para um abraço apertado. As lágrimas brilhavam em seus olhos, algo raro para um homem de sua postura forte. — Sua mãe não me disse nada...
— Pai, você vai me sufocar! — Vitória se queixou, mas sua voz carregava um tom afetuoso, ainda que mimado.
— Marta, depois nós dois vamos conversar. — Fernandes a soltou com relutância, e então lançou um olhar severo para Marta.
— Eu ia contar no tempo certo. — Ela não podia sair do hospital sem autorização. Marta, que até então mantinha uma postura defensiva, cruzou os braços, o tom justificativo em sua voz
— Vamos, filha, você tem que voltar para lá. — A urgência na voz de Marta contrastava com a tranquilidade desafiadora de Vitória.
— Mamãe, não quero voltar. Não sou prisioneira. — Vitória falou com firmeza, sua expressão infantilmente teimosa, mas suficientemente persuasiva. — Posso ficar aqui?
— O quê? — A voz de Enrico soou baixa, quase inaudível, enquanto ele processava a pergunta. Sua incredulidade era visível em cada linha de sua expressão.
— Pode. — A resposta veio de Eleonor, sua voz gentil, mas carregada de hesitação. O que mais poderia dizer para alguém que quase morreu em um acidente com o filho e ficou anos em coma? — Vocês também podem ficar, Marta e Fernandes.
— Como nos velhos tempos. — A voz de Lucca cortou o silêncio desconfortável, enquanto ele se servia de uma dose de uísque, tentando aliviar o clima.
— Para mim, não parece. Até ontem, eu ainda estava acordando para encarar isso tudo. — Vitória riu sem graça, mas suas palavras carregavam uma leve ironia.
Eleonor assumiu a liderança, tentando preencher o vazio com ações práticas.
— Vamos. Vou mostrar um quarto para você. Seria mais adequado aqui embaixo por causa da cadeira. — Sua atenção se desviou para uma das criadas, que observava a cena de longe. — Teresa, está aqui? Não, você. Me ajude a arrumar o quarto.
O silêncio voltou a dominar a sala. Fernandes permanecia sério, enquanto Marta se ocupava em ajeitar o cobertor sobre as pernas de Vitória. Enrico, ainda em choque, parecia estar à margem de si mesmo. Matteo, sempre tão eloquente, agora não encontrava palavras adequadas para contribuir.
O som de passos ecoou no piso de mármore enquanto Eleonor e a empregada sairam, deixando os demais em um desconforto palpável. Cada segundo parecia se arrastar, como se todos esperassem que o outro dissesse algo, mas ninguém ousava quebrar o silêncio novamente.
A tensão era quase tangível, o ar pesado com o peso de palavras não ditas e emoções contidas. Vitória quebrou o silêncio com uma pergunta que parecia inocente, mas cujo impacto era inevitável.
— Onde está a Mia? — Ela perguntou, seu tom carregado de uma doçura dissimulada. — Ela está bem? Eu gosto dela.
Matteou respondeu seco, desviando o olhar por um instante antes de responder, sua voz baixa e rígida:
— Estamos casados há alguns anos. Ela ficou em casa.
Vitória inclinou a cabeça levemente, seus olhos fixos em Enrico como se tentasse decifrar cada nuance de sua reação. — Casados...
Antes que a situação pudesse escalar, Fernandes interveio rapidamente, sua voz firme, mas com um toque de urgência.
— Meu amor, você não gostaria de ir ver o jardim?
Vitória franziu o cenho, sua desconfiança evidente. — À noite? — perguntou, seu tom carregado de estranhamento.
Foi então que Eleonor entrou na sala, seu timing impecável, embora suas palavras parecessem cuidadosamente ensaiadas.
— Não sei se a acomodação para você está adequada, Vitória. Vamos, deixe-me mostrar algo mais confortável.
A troca de olhares entre os presentes era intensa, cada um processando a interação de forma diferente. Quando Eleonor finalmente conseguiu conduzir Vitória para dentro, o silêncio que se seguiu foi ainda mais denso.
Foi como se todos tivessem prendido a respiração ao mesmo tempo e, ao soltá-la, o ar foi tomado por uma sensação de alívio misturada com desconforto.
Lucca quebrou o silêncio com uma observação seca, seu tom grave refletindo o ambiente:
— Isso foi só o começo.
A tensão pairava no ar como uma tempestade prestes a desabar. Marta avançou até Enrico, seus passos decididos ecoando pela sala.
— Enrico, filho — começou ela, tentando soar calma, mas havia algo de cortante em seu tom.
Enrico a olhou incrédulo, mal acreditando no que estava ouvindo.
— A senhora não podia ter feito isso comigo — respondeu, sua voz um misto de incredulidade e raiva.
— Eu não sabia que ela iria fugir! — Marta recuou ligeiramente, mas manteve a postura.
— Mas sabia que eu precisava saber! — Ele elevou a voz, o tom afiado. — E Layla... — Seus olhos vasculharam o ambiente desesperadamente. — Onde ela está?
Don Corallo interveio, sua voz grave e carregada de autoridade:
— Ela foi embora.
Lucca, que estava a poucos passos de distância, abaixou a cabeça em silêncio, incapaz de sustentar o olhar de Enrico.
— Foi embora? — repetiu Enrico, sua voz quase um sussurro. — Ela não pode ir assim sem mim.
— Enrico você precisa ser paciente..
— Paciente como? Não posso falar que o tempo passou? Que tudo mudou?
Antes que Marta pudesse responder, Fernandes entrou na conversa, sua voz tentando trazer um equilíbrio impossível.
— Marta, por favor, acalme-se. Você está descompensada.
Ela girou sobre os calcanhares para encarar Fernandes, sua fúria agora completamente direcionada a ele.
— Descompensada? Minha filha ficou anos em coma por culpa dos seus negócios com os Corallos! — Sua voz tremia de emoção enquanto apontava para ele. — E você, Enrico, estava dirigindo. Então, não diga nada a ela sem que eu esteja presente, sem que ela esteja preparada!
— E eu devo fingir que vou me casar com ela? Que nada mudou? — Enrico apertou os punhos, seu semblante era uma mistura de frustração e resignação.
Marta se aproximou novamente, agora com a voz mais baixa, mas igualmente determinada.
— Não estou pedindo que finja. Apenas fique em silêncio. Amanhã, eu a levarei de volta. Os médicos e os psicólogos vão ajudar a contar tudo.
Antes que a discussão pudesse continuar, Vitória apareceu na porta, empurrada na cadeira por Eleonor. Seu olhar alternava entre os presentes, tentando decifrar o desconforto no ar.
— Mamãe? — chamou, sua voz doce e controlada. Marta virou-se, forçando um sorriso.
— Sim, meu amor.
— Pode me ajudar?
— Claro, querida.
A tensão na sala parecia uma corda esticada prestes a romper. Marta e Vitória se afastaram, mas deixaram para trás um rastro de desconforto palpável. Os olhos de Vitória haviam captado algo, mesmo que ela não dissesse. O leve sorriso que curvou seus lábios antes de desaparecer pela porta indicava que, talvez, ela soubesse mais do que deixava transparecer.
— Nossa, que climão, hein? — Matteo quebrou o silêncio com sua usual irreverência.
— Cala a boca, Matteo. — Lucca, já irritado, cortou-o sem hesitação.
— Fiquem com essa história absurda de vocês. Eu vou atrás da Layla.— Enrico, de pé ao lado do bar, respirava pesado, seus punhos cerrados tremendo de raiva.
Don Corallo levantou a mão em um gesto firme, sua voz grave ressoando como uma sentença.
— Não vai.
— Pai, você não pode me impedir.
— Não. — A resposta veio cortante, sem espaço para discussão. — Você fica aqui. Vamos resolver essa bagunça do nosso jeito, com prioridade à legalidade e aos nossos.
A paciência de Enrico se esgotou. Ele deu um passo à frente, sua voz cheia de frustração.
— O que a Layla é para vocês? — gritou, o eco de sua voz preenchendo a sala. — Ela é minha mulher!
Don Corallo permaneceu impassível, sua postura inabalável. Quando ele respondeu, sua voz era afiada como uma lâmina, mas ainda controlada.
— Enrico, nós devemos nossa vida ao Fernandes. Se não fosse por ele, nem eu, nem seus irmãos estaríamos aqui. Você está irritado, eu entendo. Mas a Layla vai entender quando for a hora.
— Eu não vou ficar aqui parado como se tudo fosse se resolver magicamente. — Enrico deu um riso seco, incrédulo, e se afastou para o bar. Pegou um copo, serviu um whisky, e virou-se para encarar todos.
— Enrico, calma. Layla é compreensiva. Ela te ama, não ama? — Lecce tentou intervir, com uma tentativa de trazer racionalidade ao momento.
A pergunta parecia uma provocação, e Enrico bufou em resposta. Ele tirou o celular do bolso e procurou o contato de Layla. Ligou. Dois toques, e a ligação foi para a caixa postal. Seu rosto endureceu ainda mais.
— Deixa a garota — Matteo comentou casualmente, com um tom que soava mais provocativo do que conciliador. — Neste momento, Layla é o menor dos seus problemas. O contrato entre nossos pais e os dela... papai sempre honra seus acordos. Já pensou nisso?
— Eu juro, Matteo, vou socar a sua cara se abrir a boca de novo. — Enrico avançou na direção de Matteo, os olhos cheios de fúria.
— Calma, cara. — Lucca se colocou entre eles, entregando o celular ao irmão. — Liga do meu.
Enrico hesitou por um segundo, mas pegou o celular. Procurou o contato e, enquanto fazia isso, Lucca comentou com um leve sorriso.
— Está salvo como "coala".
Matteo soltou uma risada baixa, servindo-se de mais bebida. Enrico ignorou. Ligou novamente. Dois toques, e outra vez a caixa postal. Ele colocou o celular no balcão com força, o impacto ecoando na sala.
Don Corallo e Fernandes trocaram olhares carregados de significados. Não era preciso falar para que ambos entendessem a magnitude da confusão que se desenrolava. A noite prometia ser longa e cheia de decisões difíceis, mas aquele não era o momento de avançar.
Enrico, agora com o copo de whisky na mão, virou-se para os outros presentes. Seus olhos estavam injetados de raiva e frustração.
— Se alguém aqui acha que vou seguir esse plano ridículo, é melhor repensar. Eu vou resolver isso do meu jeito.
O silêncio que tomou conta da sala era quase ensurdecedor, como se todos tivessem sido atingidos por uma onda de choque. A tensão era palpável, cada respiração parecia pesar toneladas. Enrico, sem esperar qualquer resposta, deu meia-volta. Pegou a garrafa de whisky do bar e saiu com passos firmes. A porta de seu quarto ecoou pela casa ao ser fechada com força.
No isolamento do quarto, ele se jogou na cama, a garrafa de whisky ainda em sua mão. Ele queria ir atrás de Layla, mas o que dizer? Ela estava tão próxima, apenas alguns quartos de distância, mas parecia inalcançável. Agora, um abismo se estendia entre eles, feito de mentiras e segredos, cada um olhando para uma janela em lados opostos de uma mesma casa.
Do lado de fora, Matteo já havia partido, deixando apenas Lucca e Lecce no jardim. Ambos estavam sentados em silêncio, compartilhando uma garrafa de vinho e observando a noite escura como se procurassem respostas no céu.
— Voltou com estilo. — Lucca finalmente quebrou o silêncio, olhando para Lecce com um sorriso cansado.
Lecce tomou um gole antes de responder, sua voz baixa, como se receasse acordar os fantasmas da casa.
— Onde a Layla está?
— No quarto de hóspedes. Sabe que ninguém desobedece a Don Corallo. — Lucca deu de ombros, recostando-se na cadeira.
Os dois caíram novamente em silêncio, mas desta vez havia algo de resignado em suas expressões. A noite estava longe de acabar, mas cada um ali sabia que, quando o sol nascesse, as coisas poderiam estar ainda mais complicadas.
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