
Capítulo 21. Novo Emprego
Enrico levantou com cuidado, tentando não acordar Layla, que dormia serenamente ao seu lado. O apartamento parecia iluminado pela presença dela. Com passos leves, ele seguiu até a cozinha e improvisou um café com os poucos itens disponíveis. As xícaras, ligeiramente desiguais, eram um reflexo da simplicidade do lugar, mas naquele momento, ele sentia que tinha tudo o que precisava.
Na pequena cozinha, ele abriu os armários e improvisou o café da manhã com o que encontrou: um pouco de pó de café, uma xícara e nada de açúcar. Enquanto a água fervia, seus pensamentos vagaram até Layla. Ela tinha transformado aquele pequeno apartamento em um lugar que parecia um lar.
Com a xícara de café pronta, Enrico voltou ao quarto, onde o sol agora iluminava delicadamente os contornos do rosto dela. Ele deixou a xícara no criado-mudo, mas não resistiu à vontade de se juntar a ela novamente. Deitou-se com cuidado, puxando as cobertas sobre os dois e envolvendo-a com um abraço. O corpo dela, ainda morno de sono, instintivamente se acomodou no dele.
Layla resmungou algo inaudível, mas depois suspirou e abriu os olhos devagar.
— Buongiorno, amore mio (bom dia meu amor) — Enrico murmurou contra seus cabelos, sua voz grave carregada pelo sotaque italiano.
Layla sorriu, o coração aquecendo com aquelas palavras familiares. Ela se virou levemente, encontrando o olhar suave dele, e esticou os braços em um espreguiçar preguiçoso.
— Bom dia... que horas são? — perguntou, a voz rouca de sono.
Enrico sorriu e acariciou seu rosto com o polegar, adorando o jeito que ela parecia tão natural e vulnerável naquele momento.
— Não importa a hora — sussurrou, seus lábios roçando a testa dela. —È importante che tu sia con me. (É importante que você esteja comigo.)
Ela riu suavemente, sentindo o calor de sua voz e o toque reconfortante dele.
— Certeza? — brincou, ajeitando-se para ficar mais próxima.
— Sì, amore mio (sim meu amor)
O aroma sutil do café se misturava com o perfume que ela usava na noite anterior, e ele percebeu que seu sabonete havia deixado um leve cheiro floral em sua pele. Para ele, aquele cheiro combinava perfeitamente com Layla: delicado e marcante.
— Gosto quando você fala italiano — comentou ela, fechando os olhos por um instante. — Sua voz fica... mais sensual.
Enrico soltou uma risada baixa, cheia de diversão. Seus dedos desceram para acariciar o ombro dela, onde ele plantou um beijo suave.
— Quer aprender algo para dizer? — perguntou, inclinando-se para mais perto.
— Sempre! — respondeu, animada.
Ele sorriu com malícia e sussurrou devagar:
— Diga: Vuoi sposarmi. (você quer casar comigo?)
Layla franziu o rosto, tentando repetir sem tropeçar nas palavras.
— Vuoi... sposarmi.
— Sì.
Ela piscou, confusa, antes de perguntar:
— O que quer dizer?
Enrico riu novamente, seus olhos brilhando de travessura.
— Quer casar comigo? — explicou ele. — E eu disse que sim.
Layla revirou os olhos, embora não conseguisse esconder o sorriso que crescia em seus lábios.
— Ah, Enrico, você é muito bobo.
— Agora que me pediu em casamento — respondeu ele, virando-a gentilmente para encará-lo de frente — e eu aceitei, acho que podemos planejar o casamento.
— Claro, claro. Vamos marcar a data agora mesmo — disse ela com sarcasmo, tentando segurar o riso.
Ele estreitou os olhos, fingindo indignação.
— Você está brincando com meus sentimentos? — Antes que ela pudesse responder, ele começou a fazer cócegas na cintura dela, arrancando gargalhadas.
— Não! — Layla disse entre risos descontrolados, tentando empurrá-lo. — Para, Enrico!
Quando ele finalmente parou, ambos ficaram deitados lado a lado, o quarto preenchido apenas pelo som de suas respirações. A leveza deu lugar a algo mais profundo, um momento de conexão silenciosa.
Enrico levantou a mão para acariciar o rosto dela, seu olhar carregado de ternura.
— Fiz café para você — disse suavemente, entregando-lhe a xícara.
Layla tomou um gole e imediatamente fez uma careta sutil ao perceber que o café estava amargo. Ainda assim, sorriu para ele.
— Obrigada.
Ele se ajeitou na cama, observando-a com um sorriso satisfeito.
— Seu pai não me deu o dia de folga — comentou ela, sem encará-lo diretamente.
— Deu sim, você só não sabe ainda — respondeu Enrico, piscando para ela.
— Enrico...
— Eu dei! — retrucou com um sorriso travesso. — Fica comigo hoje, poxa. Vamos passar o dia juntinhos.
Layla balançou a cabeça, rindo.
— Você é tão carente.
Ele ficou sério por um instante, sua voz mudando de tom.
— Na verdade, não sou. Nunca fiz muita questão de ficar perto de ninguém. Mas você... você é diferente.
Layla sentiu o coração acelerar com aquelas palavras. Enrico raramente falava sobre si mesmo com tanta sinceridade.
— É mesmo? — perguntou baixinho.
— Sim — respondeu ele, seus olhos fixos nos dela.
Ele se inclinou, prestes a beijá-la novamente, mas o som estridente do telefone ecoou pelo quarto. Enrico suspirou, frustrado, e pegou o aparelho.
— Não acredito... — murmurou, olhando o visor.
— Quem é? — perguntou Layla, tentando esconder a curiosidade.
— Meu pai. — Ele revirou os olhos e jogou-se de volta na cama. — Ele tem um timing perfeito, não acha?
Enrico deslizou o dedo pela tela do telefone, atendendo com a alegria ainda estampada em seu rosto.
— Bom dia, pai.
Sua voz estava leve, reflexo da noite que passara ao lado de Layla, mas o tom do outro lado da linha cortou qualquer traço de entusiasmo.
— Quero você em casa. O quanto antes.
A seriedade na voz de Don Corallo era inconfundível, carregada de uma autoridade que não deixava espaço para discussões.
— O que aconteceu? — perguntou Enrico, alarmado, a expressão imediatamente se fechando.
Mas a resposta nunca veio. O som seco da linha sendo desligada deixou no ar um peso que Enrico não conseguiu ignorar.
Na casa da família, Don Corallo estava sentado à cabeceira da mesa do café da manhã. Sua postura rígida, as mãos cerradas sobre a madeira escura, traíam a tempestade que rugia dentro dele. Lucca e Matteo, seus outros filhos, estavam presentes, mas o clima pesado tornava impossível qualquer conversa descontraída.
O patriarca estava furioso, mas era uma raiva que não vinha apenas da decepção — era um sentimento profundamente pessoal. Ele gostava de Layla como a uma filha, talvez até mais do que gostava dos próprios filhos em certos momentos. Para ele, ela era uma jovem de princípios, uma alma trabalhadora que nunca reclamava de suas circunstâncias, mesmo estando longe de casa e da família. Saber que ela fora deixada em uma situação constrangedora, exposta por Enrico, o deixava enojado.
Ele fechou os olhos por um instante, tentando conter a torrente de emoções. Sua mente voltou às fofocas que haviam chegado aos seus ouvidos naquela manhã: sussurros sobre a irresponsabilidade de Enrico e sobre como Layla fora deixada sozinha no que descreveram como um verdadeiro escândalo.
"Como ele pôde?" pensou Don Corallo, o peito apertado. Ele sempre acreditou que Enrico tinha um bom coração, mas o comportamento do filho parecia provar o contrário.
— O que houve, pai? — Lucca perguntou, interrompendo o silêncio. Seu tom era de curiosidade, mas também de receio.
Don Corallo abriu os olhos lentamente, lançando um olhar severo ao filho.
— Seu irmão foi um canalha.
Matteo ergueu as sobrancelhas, mas Lucca franziu o cenho, intrigado.
— O que ele fez?
— Deixou Layla no meio de um... bacanal — respondeu Don Corallo, a última palavra cuspida com desgosto.
Lucca se ajeitou na cadeira, tentando minimizar a situação:
— Foi ela quem quis ficar, pai.
Don Corallo bateu a palma aberta sobre a mesa, fazendo os pratos e xícaras tremerem.
— Não repita isso, Lucca! Não se atreva a colocar a culpa nela! — A voz dele reverberou pelo cômodo, carregada de uma indignação que fez até Matteo endireitar-se na cadeira. — Se Layla ficou, foi porque acreditava que Enrico a protegeria, que ele a trataria com respeito. Não esperava ser deixada sozinha, à mercê de olhares e comentários sujos.
Ele se levantou abruptamente, caminhando até a janela. O sol brilhava lá fora, mas o brilho não alcançava seu humor.
— Layla não merece isso. Ela tem mais caráter do que todos vocês juntos! — continuou, a voz ainda pesada de frustração. — E Enrico... ele vai ouvir tudo o que tenho a dizer.
Don Corallo permanecia de pé junto à janela, o maxilar tenso e a expressão dura enquanto lutava para conter sua frustração. O silêncio na sala foi quebrado quando Matteo, com um ar de desdém e um sorriso enviesado, decidiu se manifestar.
— Acho que você se enganou, pai. Pelo que vi, ela não tem nada de inocente.
O patriarca girou a cabeça lentamente, seu olhar pesado pousando sobre Matteo, que continuou sem se intimidar:
— Vi Layla no colo do Enrico... e, bom, digamos que ela estava ocupada com ele de uma forma bem íntima. Se minha esposa fosse assim, talvez eu estivesse mais feliz.
— O que você está insinuando, Matteo? — perguntou Don Corallo, a voz baixa, mas cortante como uma lâmina.
— Que agir daquele jeito, uma mulher sem inibições, é o meu sonho — Matteo respondeu, dando de ombros, o tom desrespeitoso.
Lucca balançou a cabeça, claramente incomodado, e interveio:
— Matteo, cala essa sua boca. Você sabe que o Enrico vai acabar com você se souber que está falando disso. E, só pra deixar claro, eu não disse nada.
Don Corallo estreitou os olhos, sua paciência diminuindo rapidamente.
— O que houve entre eles? — perguntou ele, agora voltando sua atenção para Lucca.
O irmão mais velho suspirou, relutante, mas respondeu:
— Pai, eles ficaram lá por um tempo e depois foram embora. Só isso.
— Só isso? — Matteo riu, debochado, enquanto pegava um pedaço de pão na mesa. — Esqueceu da demonstração?
Antes que pudesse continuar, Lucca atirou o pedaço de pão em sua direção, acertando-o no peito.
— Cala a boca, Matteo! — disparou Lucca, claramente irritado.
Don Corallo levantou a mão, pedindo silêncio, mas sua expressão se tornava cada vez mais sombria. Respirou fundo, controlando a raiva crescente, e olhou diretamente para Matteo.
— Você, mais do que ninguém, devia entender que respeito vem em primeiro lugar nesta casa. Não quero ouvir mais uma palavra sobre o assunto.
Matteo abaixou o olhar, finalmente intimidado pela gravidade na voz do pai.
— Bom, parece que Enrico terá que se preparar para um casamento — Don Corallo declarou com firmeza, seus olhos escuros brilhando com determinação. — Ele assumirá a responsabilidade pelo que fez com Layla.
A sala mergulhou em silêncio novamente. O peso das palavras de Don Corallo pairava no ar como uma sentença definitiva, inquestionável. Lucca e Matteo evitaram se olhar, ambos cientes de que Enrico teria que enfrentar a fúria e a autoridade do pai.
Don Corallo virou-se de volta para a janela, o olhar fixo no horizonte, mas sua mente estava longe, pensando em como garantir que Layla fosse tratada com a dignidade e o respeito que ela merecia.
Assim que Don Corallo saiu, Matteo se largou na cadeira, rindo com desdém.
— Tá um velho amargo, hein?
Lucca revirou os olhos e cruzou os braços.
— Amargo? Ele trata Layla como se fosse filha. Aí vem você, falando essas merdas. Tá sem noção nenhuma.
Matteo deu uma risada debochada.
— Sem noção? Tô é com inveja! Cara, você viu aquela mulher ontem? Rebolando naquela roupa vermelha colada... — Ele estalou a língua, balançando a cabeça. — Por Deus, que visão.
— Cala essa boca, Matteo! — Lucca bufou, mas o tom de repreensão soava meio vazio.
— Ah, vai se ferrar! — Matteo levantou as mãos como se estivesse rendido. — Tô só brincando. Por que vocês são tão sensíveis? Sempre fizemos festa, papai nunca ligou. Sempre fomos incentivados a... curtir com o máximo de pessoas possíveis.
Lucca não respondeu, mas Matteo continuou, mais animado:
— Só que com ela... Papai quer casamento. — Ele deu uma gargalhada curta. — Tá usando essa história de ontem como desculpa, mas a verdade é que ele quer enfiar a aliança no dedo do Enrico.
— O Enrico vai aproveitar, ele também quer... casamento.
Matteo abriu um sorriso sacana, inclinando-se para perto do irmão.
— Vai casar com uma mulher dessas e você vai me dizer que não reparou? Tá cego?
Lucca ficou calado, mas a forma como desviou o olhar já entregava a resposta.
— Tá vendo? Nem você consegue negar. — Matteo riu mais alto. — Aquela mulher... Ela não é só bonita, cara. É pura sacanagem. Sabe quando você olha pra uma mulher e pensa: "essa aí me destruiria na cama"? É isso!
— Você é nojento, Matteo. — Lucca balançou a cabeça, mas não conseguiu conter um leve sorriso.
— Nojento, nada. Só tô dizendo o óbvio. Ela é um tesão, e todo mundo sabe. O Enrico que abra os olhos, porque, se ele vacilar, vai ter fila pra pegar o lugar dele.
— Cala a boca.
— Por quê? Vai dizer que tô errado? Aquela rebolada de ontem... Puta merda! O jeito que ela mexia os quadris... Irmão, eu até sonhei com aquilo.
— Você está precisando de uma mulher nova, Matteo. Isso tá virando desespero. Como vai sua esposa?
Matteo ignorou a pergunta, como se ela nunca tivesse sido feita. Era o jeito dele de lidar com aquilo. Todos sabiam que o casamento não passava de um acordo frio, um negócio conveniente, sem faíscas, sem paixão.
— Preciso, sim. Uma igual a ela, de preferência.
Lucca riu, balançando a cabeça, mas logo ficou sério.
— Só espero que o Enrico tenha noção do que tá fazendo. Layla não é do tipo que estamos acostumados.
Matteo deu de ombros, o sorriso sacana voltando aos lábios.
— Ele que se cuide. Porque, se não souber o que fazer com ela, aposto que vai ter muita gente disposta a ensinar.
Lucca bufou, mas não retrucou. Sabia que, por mais sujo que Matteo falasse, havia uma verdade ali. Layla era diferente. E, pelo jeito, todos estavam percebendo isso a cada um à sua maneira.
Ao era fim de tarde quando Enrico, finalmente vencido pelo cansaço e pelas incessantes chamadas do pai, aceitou ir para casa. Layla havia insistido o dia todo para que ele fosse, mas ele evitou o máximo possível, aproveitando o tempo juntos, sem pressa de voltar para as obrigações.
Quando chegaram, a casa estava estranhamente silenciosa, sem ninguém por perto.
— Casa parada, hein? — Enrico comentou com um sorriso travesso, segurando a mão de Layla e puxando-a suavemente até o jardim. Ele se sentou na cadeira de ferro, dando tapinhas no assento ao seu lado. — Mau sinal — resmungou, em tom brincalhão.
Layla sentou-se ao lado dele, sorrindo, sentindo a paz da noite cair sobre eles. Enrico, porém, parecia mais atento ao que estava por vir. Ele puxou o celular e mandou uma mensagem rápida para Lucca, dizendo que estava no jardim. Não demorou muito até Lucca aparecer, quase correndo, com os olhos arregalados.
— Vocês estão ferrados — Lucca disse, sem rodeios. Layla se assustou com a brutalidade da fala, olhando para Enrico com um leve receio.
— Como assim? — Enrico perguntou, a expressão descontraída sumindo rapidamente.
— Você não, coalinha — Lucca olhou para Layla com um sorriso malicioso. — Você é só uma vítima de Enrico.
— Vítima? — Enrico encarou Lucca, levantando uma sobrancelha, sem entender a brincadeira do irmão.
— Claro que alguém fez uma grana, porque alguém foi contar o que aconteceu entre vocês na festa, e o Matteo... bem, o Matteo ajudou, né? Confirmando a história do jeito que só ele sabe. — Lucca riu de leve, observando o rubor tomar conta do rosto de Layla, que agora se sentia mais tímida.
— Quem foi? — Layla perguntou, tentando entender, mas a vergonha já a havia acometido.
— Não sei. — Lucca olhou para Enrico e, com um sorriso travesso, falou em italiano. — Papà ti costringerà a sposarti. (Papai vai forçar você a se casar.)
Layla olhou para eles, sem entender, enquanto Enrico beijava sua mão com um sorriso. Ele virou para Lucca e disse em italiano, com a voz brincalhona:
— Mi è piaciuta l'idea. (Eu gostei da ideia.)
— O que vocês estão falando? — Layla perguntou, sua curiosidade misturada à confusão.
Enrico, rindo, olhou para o irmão e respondeu:
— Lucca sabia que Layla me pediu em casamento? — Ele começou a rir mais, deixando o tom ainda mais leve.
— Não foi isso! — Layla retrucou, mas o sorriso dele indicava que sim.
— Eu devia ter gravado, é claro.
— Como é? — Don Corallo apareceu de repente, como uma sombra, vindo de trás deles. Ninguém tinha percebido sua chegada silenciosa.
— Não foi isso que aconteceu, senhor — Layla tentou se defender, mas seu tom não foi convincente.
Enrico, com o sorriso mais travesso ainda, olhou para Layla e disse, enquanto ela ficava visivelmente mais constrangida:
— Foi sim. Ela disse "Vuoi sposarmi?" e, como um cavalheiro, eu aceitei.
Layla olhou para Enrico com um misto de surpresa e vergonha.
— Eu só pedi pra ele me ensinar algo em italiano, não foi bem assim — Layla balbuciou, tentando justificar.
— Enrico, pare de brincar — Don Corallo disse, agora com um tom sério. — Venham até o meu escritório. Lucca, você fica.
Enrico percebeu o nervosismo de Layla e levantou rapidamente, colocando a mão sobre a dela, que estava suada de tanto nervosismo.
— Fica calma, amore — ele sussurrou, tentando acalmá-la com um sorriso reconfortante, mas sentindo o peso da situação.
Ao entrarem na biblioteca, o clima mudou completamente. O ambiente, que antes era leve, agora estava frio, carregado de tensão. Don Corallo se acomodou em sua cadeira de sempre, com o olhar severo. Layla e Enrico ficaram em pé, sentindo a pressão do momento. Enrico, normalmente tão despreocupado, sentia uma leve apreensão, mas tentava disfarçar.
— Bom, eu fiquei sabendo do ocorrido — Don Corallo disse, sua voz firme e controlada. — Enrico, você deve assumir a responsabilidade do que fez. Vocês dois precisam se casar.
— O quê? — Layla disse, surpresa, com a voz alta, quase sem acreditar no que acabara de ouvir. A última coisa que ela imaginava era ser forçada a um casamento por causa de fofocas.
— Depois de macular sua reputação, filha, ele não pode sair impune disso. — Don Corallo disse com uma frieza que deixou Layla sem palavras. — Enrico, não quero desculpas.
Enrico olhou para Layla, a expressão dura como a de seu pai, mas havia uma pequena dose de culpa em seus olhos. Ele sabia que o que acontecera entre eles não poderia ser ignorado.
— Tudo bem, pai — Enrico respondeu sem pestanejar.
— Não — Layla interrompeu, olhando fixamente para ele. — Não podemos tomar essa decisão assim.
— Ué, tudo bem por mim — Enrico respondeu de maneira despreocupada, tentando disfarçar a tensão que sentia.
Layla se virou para Don Corallo, sentindo uma mistura de raiva e impotência. O que ela estava sendo forçada a viver era muito mais do que um simples erro cometido entre quatro paredes.
— Senhor, tudo o que houve entre nós... foi consensual, e eu... — Ela tentou explicar, mas Don Corallo levantou a mão, interrompendo-a com um gesto seco.
— A fofoca se espalhou. Matteo não tem língua dentro da boca, e as empregadas todas sabem do envolvimento de vocês. Por isso, filha, acho melhor você se mudar.
As palavras de Don Corallo caíram como um peso em Layla. A sensação de estar sem saída a invadiu, e os olhos dela se encheram de lágrimas.
— Mas senhor... — Layla tentou argumentar, mas sua voz falhou.
— Você vai ficar no apartamento de Enrico. Passarei ele para o seu nome. E também há uma vaga numa loja, elas estão precisando de uma vendedora. Acho que seria melhor evitar mais comentários das pessoas — Don Corallo concluiu, como se já tivesse tudo resolvido.
Layla olhou para Enrico ela estava perdida. Não tinha para onde ir, e agora, parecia que tudo estava sendo decidido por outros.
— Pai, Layla tem direito de decidir o que quer — Enrico disse, suas palavras vindo com mais força do que ele queria demonstrar. Ele se odiava por ter de se colocar nesse meio, mas sabia que ele poderia mudar tudo.
Don Corallo o encarou com fúria.
— Como é? — Don Corallo disse, sua voz carregada de raiva. Ele não suportava que o filho questionasse suas ordens.
— Se ela quiser um novo emprego, se ela quiser o apartamento, ou se ela quiser se relacionar comigo, tudo será uma escolha dela, pai. — Enrico segurou a mão de Layla, que o olhou com uma gratidão silenciosa, um alívio por ter alguém ao seu lado. — Eu sei que o senhor deseja protegê-la, e eu também desejo, mas ela tem suas próprias vontades. Layla, se você quiser o novo emprego, será uma escolha sua, amore mio.
Layla sentiu o toque de Enrico e a sinceridade em suas palavras. Era a primeira vez que ela sentia que ele estava realmente ao lado dela. Ela sabia que ele estava fazendo isso por ela, e pela primeira vez, se sentiu grata e protegida, mas ainda estava confusa com tudo.
— Senhor, eu agradeço tudo o que está fazendo por mim... mas isso é demais — Layla disse, sua voz vacilante.
— Layla, eu entendo, mas deveria pensar na oferta. Eu sei que trabalhar aqui é muito digno, mas você poderia tentar o teste naquela loja. O que meu pai disse — Enrico a olhou e sorriu, tentando acalmá-la. — E o apartamento, você pode pagar um aluguel, sem apertar muito. Vai ser uma escolha sua também.
Don Corallo observou a maneira suave com que Enrico guiava as palavras. Ele era mais esperto do que todos pensavam, parecia saber exatamente o que dizer.
— Por favor, pense nisso. — Enrico beijou a mão dela novamente, com carinho. — Pode ser uma oportunidade para você crescer lá.
— O que acha, filha? — Don Corallo perguntou, olhando de forma desafiadora para Layla.
Layla apenas concordou com a cabeça. O peso da decisão estava em suas mãos, mas ela precisava de mais tempo para entender o que queria de verdade. Ela não podia tomar uma decisão assim, sem antes refletir sobre o que realmente queria para sua vida.
— Posso pensar até o fim de semana? — Layla perguntou, seu olhar esperançoso.
— Claro, pense com calma. Se desejar começar na segunda-feira, avise-nos. — Don Corallo concluiu, já se retirando da conversa.
Layla e Enrico saíram juntos da sala, de mãos dadas, mas o peso da conversa ainda estava no ar. Quando a porta se fechou, Layla se virou para ele e, sem pensar duas vezes, pulou em seus braços, abraçando-o forte.
— O que foi, amor? — Enrico perguntou, surpreso com o gesto de Layla.
— Obrigada por me ajudar com seu pai. Eu sei que você tem dificuldades para enfrentá-lo — ela disse, com a voz suave, mas cheia de emoção.
Enrico sorriu, sentindo um carinho por ela que ia além das palavras.
— Pois é, eu devia ter aceitado o nosso casamento. Mas se você ficar comigo, quero que seja um desejo seu, amore mio — ele disse, seus lábios se aproximando dos dela.
— Eu quero estar com você — Layla respondeu, seus lábios tocando os de Enrico, em um beijo suave.
— Eu te amo — Enrico disse, sem conseguir mais se conter. Ele beijou-a novamente, desta vez mais profundo, sentindo que tudo o que estavam vivendo agora valia a pena.
Quando se afastaram, Layla o abraçou, encostando a cabeça em seu ombro.
— Você acha que eu devo aceitar? — Layla perguntou, olhando para ele com um olhar carregado de dúvida.
— Importa o que eu penso? — Enrico perguntou, a pergunta carregada de humor.
— Eu gostaria de saber — Layla disse, com a voz baixa.
— Eu acho bom — Enrico sorriu para ela, passando os braços ao redor de sua cintura. — Eu poderia assumir nosso relacionamento. Poderíamos viver no meu apartamento e não precisaríamos ficar o tempo todo aqui.
— Estou dizendo o que é bom pra mim, Enrico — Layla disse, tentando entender suas próprias emoções.
— Você sabe o que é bom para você, Layla. Você é uma garota esperta. — Enrico a olhou com carinho. — Mas você vai ter o fim de semana para pensar. E a gente podia sair.
— Não quero sair — Layla fez um bico, desviando os olhos de Enrico.
— Quer nadar na piscina pelada? — Ele se aproximou dela, mordendo o lábio com provocação.
Antes que ela pudesse responder, uma tosse os interrompeu. Era a mãe de Enrico, com um olhar severo, já sabendo que a conversa deles não tinha terminado.
— Vocês vão jantar com a gente? — Eleonor perguntou, com um tom ríspido.
— Não sei, mãe — Enrico respondeu, tentando evitar a tensão.
— A esposa de seu irmão está vindo. Então, se quiserem, já avisem logo. — Ela disse de forma áspera, batendo os pés no chão. Layla abaixou a cabeça, sentindo o peso do olhar dela.
— Não vamos, obrigado — Enrico respondeu com firmeza, tentando dissipar o clima pesado.
Eleonor saiu da sala, furiosa, batendo o pé. Layla ficou quieta, sentindo que as tensões familiares de Enrico ainda estavam longe de terminar. Enrico a envolveu em seus braços novamente, com um suspiro pesado.
— Ela ainda está furiosa por causa de Lecce — Enrico disse, com um tom frustrado. Ele sabia que a mãe não havia superado a partida de Lecce, que parecia ter sido em grande parte devido aos sentimentos que ele tinha por Layla. Eleonor não via com bons olhos o relacionamento deles, e isso tornava tudo mais difícil.
— Não é justo o que ela está fazendo com você — Enrico murmurou, a raiva crescendo dentro dele, mas ele a manteve sob controle.
Enrico e Layla estavam prestes a sair, a tensão do jantar ainda pairando no ar.
— Amore mio, junte suas coisas, vamos passar o final de semana no apartamento. Você quer continuar usando minhas camisetas? Não estou reclamando, elas ficam ótimas em você — Enrico sorriu, observando Layla usando uma de suas camisetas grandes. Ele gostava de vê-la assim, com as roupas dele, parecia como se ela já fizesse parte de sua vida, algo mais íntimo e confortável.
Layla não disse nada, apenas deu um leve sorriso e assentiu com a cabeça. As palavras de Enrico sempre pareciam envolver seu coração em um laço apertado. Ela não precisava de muito mais do que isso, o sorriso dele era capaz de aquecer sua alma. Ela se dirigiu ao quarto, pegou o pouco que tinha, já que suas posses eram modestas, e voltou para o quarto de Enrico.
— Pegou suas coisas? — ele a perguntou, erguendo o olhar.
— E a Bola de Neve? — Ela se aproximou dele, um pouco apreensiva.
— Lucca vai cuidar dela, não se preocupe. A ala pode ficar aberta, ela vai correr pelo lugar o tempo todo. Vai ser bom para ela — respondeu Enrico, com um tom tranquilo e confiante. A menção do cachorro, uma pequena bola de pelos e energia, parecia aliviar um pouco a tensão no ar.
Layla ainda estava um pouco insegura. — Certeza de que ela pode ficar com Lucca? Não vai ser um problema?
Enrico sorriu, puxando-a para mais perto. — Claro que sim, e se você resolver ficar com o emprego, ela vai poder ir e vir. Eu acho que seria uma boa, você está se saindo bem por lá, e posso te ajudar com isso. O que acha?
Nesse momento, uma batida na porta interrompeu a conversa. Lucca entrou no quarto com seu sorriso irreverente, sempre a fazer piadas que pareciam desconcertar todos ao redor.
— Olá, devo dar parabéns aos noivos? — Lucca se aproximou de Layla, abraçando-a com carinho. — Tudo bem, coalinha? — Ele disse de forma carinhosa, usando seu apelido irritante.
Enrico revirou os olhos — Você sabe que eu odeio esse apelido, né?
— Eu sei, mas gosto assim mesmo. — Lucca riu, apertando mais um pouco o abraço, claramente se divertindo com a situação.
Enrico, que já estava começando a ficar impaciente, puxou Layla para perto de si. — É, ela gosta tanto que não para de reclamar — ele disse, um sorriso suave nos lábios.
— Sabe, você vai ficar com a Bola de Neve, certo? — Layla perguntou, percebendo a troca de olhares entre o casal.
— Vou sim — Lucca sorriu. — Não se preocupe, ela vai ficar bem. Só não fique chateada com a situação da mamãe, Layla. A situação dela ainda está muito tensa com tudo isso.
Layla sorriu com um olhar grato para Lucca, que, apesar da maneira irreverente de ser, estava sendo gentil. — Obrigada por falar disso, Lucca. — Enrico suspirou — Fique longe da minha garota, por favor — Enrico brincou, mas com um tom firme.
Lucca deu um sorriso travesso. — Bom, eu vou ter que enfrentar um jantar interminável com a mamãe, papai, Matteo e a senhora de ferro.
— Boa sorte com isso, irmão. — Enrico disse rindo.
— Matteo tem um casamento aberto? — Layla perguntou, olhando para os irmãos com uma curiosidade ingênua. Ela sentiu o rosto aquecer ao se lembrar do que havia presenciado na noite anterior, mas não conseguiu se controlar.
Enrico, que estava distraído, estourou em risos. — Não, por que? — Ele olhou para ela, curioso.
Layla, percebendo o erro, corou de vergonha, tentando se corrigir. — Eu... quer dizer, não era nada. — Ela olhou para o chão, tentando esconder o rubor crescente em seu rosto.
— Estava observando, coalinha? — Lucca provocou, rindo com gosto. O tom dele estava mais leve, mas a piada tinha um fundo de malícia que fez Layla corar ainda mais.
Enrico, visivelmente irritado com a provocação, fez uma careta e puxou Layla pela mão, afastando-a de Lucca. — Ok, chega disso. Vamos, Layla — ele disse, com uma expressão de quem já não queria mais ouvir aquele tipo de conversa.
Layla deu um beijo rápido no rosto de Lucca, um gesto de carinho antes de sair. Os dois saíram em silêncio, tentando não chamar atenção, fazendo o possível para não serem notados. A tensão entre os irmãos estava crescente, e, mesmo que eles quisessem escapar da situação, sabiam que em algum momento teriam que enfrentar a dinâmica complicada de suas famílias.
Enquanto isso, a esposa de Matteo acabara de chegar. Sua presença foi o suficiente para deixar todos desconfortáveis. Ela era conhecida por ser uma mulher de temperamento forte e exigente, e isso só aumentava a tensão na sala.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro