02 de dezembro - Parte 09
Nós já havíamos passado a tarde toda ali na areia. Confesso que meu rosto estava muito mais vermelho do que eu pensava, mas a hora passou tão rápido! Tinha tanta coisa que eu gostaria que fizéssemos em Santos... Infelizmente não seria possível, era muito arriscado. Não valia a pena nem tentar, correndo o risco de sermos descobertos. Eu não queria perder as últimas horas com Sean.
Gostaria de poder gravar todos esses momentos na memória e não esquecer de nenhum detalhe. Como num filme, reproduzir todas as lembranças, até mesmo as constrangedoras – são elas que me tornam real, como ele mesmo disse.
Para falar a verdade, eu queria poder contar pra Sean minha vida toda, e queria ouvir o passado inteiro dele também. Queria saber o que ele mais sonha em fazer, agora que já havia realizado o desejo de ser cantor. Queria perguntar onde ele se via velhinho: seria numa cidade movimentada, ou numa casona no campo? Queria tirar mil fotos juntos e pregar todas nas paredes de casa. Quem sabe, nas paredes da nossa casa.
Eu iria adorar acordar com o som dos passos dele no corredor, quase como uma melodia, e o cheiro de comidas diferentes invadindo minhas narinas. Queria que ficássemos juntos e escrevêssemos nossa história, uma completamente nova, que eu nunca imaginei antes.
Comprar um cachorro, viajar para o Canadá. Passar a mão em sua barba por fazer, sem sentir vergonha.
Não queria que esse final de semana se resumisse em história que ficou para trás, gostaria que houvesse todo um futuro pela frente, como em minha imaginação. Todos os momentos preciosos que podemos viver, como eu poderia te contar tudo isso, sem parecer uma completa maluca?
Mas escolher essa versão da minha vida significaria abrir mão da outra que eu já planejei, com Mateo, e ela também é linda!
Qual é a certa?
E se eu estivesse errada até agora, e essa sensação repentina não se tratar de meu cérebro tentando me sabotar, mas sim do destino me colocando no lugar em que preciso estar? E se houver mesmo uma possibilidade concreta de estar com Sean, e ser feliz com uma pessoa completamente nova?
Quero dizer, talvez eu esteja preparada para arriscar.
Ou não. A verdade é que nós passamos dois dias juntos, enquanto eu e Mateo somos felizes por anos. Eu não poderia fazer isso com ele. E não é só questão de poder, eu não quero fazer isso com ele.
Eu pretendo mudar para o seu apartamento e dizer adeus para minha vista linda da janela. Mas tudo bem! Haverão novas vistas para serem apreciadas. Vamos passar um tempo na Itália, como combinado, e vamos conhecer grande parte da família de Mateo. E teremos muitos filhos, pelo menos três.
Fala sério, não é um ótimo plano também?
Porque, na verdade, não há nada de errado em meu relacionamento com Mateo. Ao contrário disso, nós somos muito felizes e ele é tudo que eu poderia desejar. E é isso que mais me dói. Quantas pessoas não gostariam de poder viver essa experiência com um homem tão incrível? E eu aqui, me esforçando para perde-lo.
Às vezes, fico pensando que ouvi tantas vezes que meu relacionamento é perfeito que eu não sei se realmente acredito nisso, ou fui convencida. Eu não tenho dúvidas que poderia passar a vida inteira com Mateo. Mas sabe aquela sensação de frio no estomago? Pois é, eu não sinto. E isso me deixa apavorada. No entanto, na maior parte do tempo, eu tenho sim noção de que dei muita sorte de encontrá-lo.
Não seria incrível se pudéssemos viver duas vidas, ao mesmo tempo? Ou talvez, que esses momentos tivessem acontecidos em períodos diferentes, pelo menos. Como seguir em frente na próxima semana, fingindo que esses dias não aconteceram? Toda vez que eu olhar pela minha janela e observar as luzes da cidade, vou me lembrar que Sean está vivendo ao mesmo tempo que eu, mas longe.
Era para tudo isso não ter significado nada, só uma mísera entrevista. E agora, eu queria que fosse para sempre.
Provavelmente nunca estive tão indecisa em toda a minha vida. Estarmos nos aproximando da hora de dizer adeus também não ajudava em nada. Meu humor estava cada vez mais afetado pela situação, e eu parecia nem conseguir mais sorrir.
Entrei no lado do passageiro do carro, deixando Sean tomar a direção até São Paulo. Por irmos embora no sábado mesmo, provavelmente não pegaríamos trânsito. Eu estava muito cansada para dirigir também, fiquei feliz por ele ter se oferecido.
Sean ajustou o banco do motorista sorrindo e olhando para mim algumas vezes, mas eu não conseguia evitar uma leve expressão de tristeza. Sabia que estava acabando, e estava arrasada. Em minha cabeça, moravam um turbilhão de pensamentos, quase como se eu tivesse passado o dia todo trabalhando em planilhas do Excel. Cada micro pensamento sendo uma célula, e minhas ideias pulando de uma em uma, tentando realizar uma fórmula que funcione e me mostre o resultado que eu gostaria. O que, com certeza, é humanamente impossível, levando em consideração o fato de que eu gostaria de viver duas situações ao mesmo tempo.
- Por que essa cara, Lena? – Sean questionou enquanto eu terminava de atualizar o Waze para inglês.
Tentei murmurar algumas palavras, mas meus olhos foram mais rápidos que minha boca, e algumas lágrimas começaram a escorrer.
Traidoras de uma fíga. Não se podia mais confiar nem nos próprios olhos.
- Está tudo bem? Eu fiz alguma coisa? – ele me disse, enquanto limpava minha bochecha com a costa de sua mão.
Tentei de todas as formas abrir um pequeno sorriso, e corrigir a situação.
- São de felicidade – disse rápido. Mas eu sabia que ele não cairia nesse papo, estava torcendo para que, pelo menos, ele entendesse que eu não gostaria de falar sobre o assunto, e deixasse para lá.
Por sorte, foi isso que Sean fez.
Provavelmente não vou conseguir esquecer a ideia de nós dois juntos, mas talvez sejamos feitos para ficarmos na memória, e só.
- Tenho que ir embora amanhã. Vamos aproveitar o nosso tempo juntos ao máximo, promete? – Sean parecia ler meus pensamentos.
- Prometo – respondi - eu gosto de você para valer.
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