01 de dezembro - Parte 09
Desliguei rápido o aparelho e senti vergonha.
Pensei em Mateo chegando e entendendo tudo errado. Abrindo a porta e nos vendo ali, felizes.
O que eu faria se fosse o contrário?
Me notei estragando tudo de novo, como sempre. Eu ia perder o cara que mais amei, em troca de que?
Senti minhas mãos molhadas de suor e quase consegui ouvir a maçaneta da porta girando, os passos dele no corredor.
O celular vibrou mais uma vez, em cima da mesa. O barulho do aparelho contra o mármore era alto, quase ensurdecedor.
Não queria atender, não queria ter que me explicar. Não queria perder a pessoa que mais me amava nessa vida, que mais me faz bem.
Desliguei de novo, e digitei:
"Desculpa, ainda estou em entrevista. Nos falamos mais tarde, ok? Te amo – Ena".
Naquele instante, notei Sean me encarando com uma cara de dúvida.
- Você está bem?
Agora, sim.
***
- Me desculpe, eu não quero te atrapalhar. Posso ir embora agora, se for melhor para você.
Ele não estava me atrapalhando, mas também não gostaria de conversar com Sean sobre minha relação.
- Não quero que você vá embora agora, estou realmente me divertindo.
Eu não sabia explicar o motivo por que queria tanto que ele continuasse por aqui. Sabia que isso poderia me trazer muitos problemas, mas eu lidaria com eles depois. No momento, eu só queria mais uma taça de espumante e uma garfada em meu prato.
Voltei a mesa e me sentei ao seu lado. Sem pensar, coloquei minha mão de leve em cima da dele.
- Tem sido um dia muito bom, obrigada por sua companhia. – Eu sentia isso de verdade. Estava grata pela oportunidade de conhece-lo melhor, de reconhecer seu lado humano em meio a tanta fama que o cercava. Tenho certeza que essas lembranças darão uma entrevista incrível, mas não sei se quero compartilhar com o mundo minhas memórias.
Não, algumas coisas eu vou guardar só para mim.
Acho que nem todo mundo entenderia também. Muitas revistas noticiariam um romance. Pensando bem, se eu não estivesse vivendo esse momento, também seria essa minha notícia, sei que esse é o assunto que mais vende. Mas nossa situação era diferente disso. Eu me sentia em paz.
Sean abriu um grande sorriso, enquanto retirava os pratos da mesa.
- Não, eu que lavo. Ninguém que cozinha lava a louça, essa é a regra.
Ele não pareceu protestar, mas quem, em sã consciência, iria?
O streaming pareceu entender que a situação pedia por uma música mais animada, e Fly With Me começou a tocar. Se eu já tinha me animado antes, perdi completamente a noção da autopreservação naquele momento.
Fiz o pote de detergente de microfone e preparei minha melhor performance, esfregando e cantando.
Ouvi barulhos de click e virei para trás, preocupada. Será que os paparazzi conseguiam nos ver de novo? As cortinas ainda estavam fechadas.
- Ah não! Quem te deu permissão?
Sean ria tanto que quase caiu da cadeira.
- Meu Deus, ninguém deve ganhar de você no karaokê – ele ria cada vez mais, e aproveitava meu momento de distração para tirar fotos. – Você gosta tanto deles assim?
- Eu não gosto. Eu amo Nick. Ele é o melhor cantor que existe. Sei que estou um pouco velha para isso, mas não tenho vergonha de assumir.
- Ei! Como assim o melhor cantor do mundo? E eu?
- Você pode ficar em segundo lugar né? Sean, você acabou de chegar, não dá para querer sentar na janelinha.
Gastei alguns minutos explicando essa expressão para ele, depois de sua cara de dúvida.
Anotação mental: parar de dizer expressões que são difíceis de explicar em inglês.
- Eu poderia ligar para ele agora mesmo, você sabe, não é? Quer que eu faça isso?
- NÃO! Você faria isso por mim?
- Claro, já estou ligando. – Ele disse, enquanto parecia procurar o número no celular.
Olhei para baixo, para o meu pijama. De repente, me senti tão infantil. Como eu poderia ligar para ele? O que eu teria para falar para alguém que nem sabe da minha existência? Ele seria uma estátua como o Sean do começo?
- Não, é melhor não. Não quero atrapalhar ele agora – disse, enquanto ajeitava meus cabelos atrás da orelha. – Ele provavelmente está muito ocupado.
- Besteira. Já estou ligando.
Havia um grande frio dominando minha barriga. Meu sorriso parecia pregado no rosto, um sorriso pouco verdadeiro. Senti como se estivesse observando a cena na TV enquanto Sean conversava com Nick pelo FaceTime. Ouvi ele dizendo algo sobre ter conhecido a maior fã dele e que ele precisava me conhecer também, pois eu era bem bacana. Não sei se foi exatamente isso, mas foi tudo que eu consegui absorver no momento.
Quando ele finalmente virou a tela para mim, meus olhos se encheram de lagrimas e a adolescente que habitava meu corpo tomou conta. Dei um tchauzinho, incapaz de dizer alguma palavra.
Acho que não saberia dizer algo nem em português.
- Oi! Você é a minha maior fã então? Poxa, obrigado. Você foi nos meus shows aí no Brasil? Vocês são incríveis por aí, muito animados.
Fiz que sim com a cabeça. Eu havia ido em todos. Fiquei longe, mal conseguia enxergar o palco, mas tenho ótimas lembranças.
- Que bom! Eu espero voltar em breve, foram ótimas experiencias!
- Sim, por favor! – "Ah! Ela fala!" ele deve ter pensado.
- Da próxima vez, peço para Sean me encaminhar seu endereço e eu farei questão de te mandar um ingresso, ok? Quem sabe a gente até se conhece! Agora eu realmente preciso ir, mas foi um prazer te conhecer!
Devolvi o telefone para Sean, que se despediu. Meus olhos ainda estavam vidrados, eu não acreditava no que tinha acabado de acontecer.
Quando ele finalmente desligou o aparelho, me joguei em cima de Sean, num grande abraço.
- Obrigada, obrigada, obrigada – Era tudo que eu conseguia dizer enquanto as lagrimas escorriam pelas bochechas. Nesse caso, a estátua era eu - mas eu nem ligava.
Sean não me respondeu, apenas me segurou mais apertado.
- Você é realmente fã dele. – Disse, alguns momentos depois – Eu nunca havia visto o processo de ser fã tão de perto. Quero dizer, eu vejo as pessoas um pouco travadas perto de mim, mas eu não conheci elas antes para saber o tanto que mudaram, como eu conheço você.
- Difícil, não é? Vocês têm uma grande responsabilidade.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro