Capítulo 2
(Júlia)
Acordei as cinco da manhã, e perdi o sono. Inquieta na cama decido que precisava de um tempo só para mim, depois de tudo que eu passei, ainda me sinto um pouco sufocada, precisando urgentemente de respirar ar fresco da natureza. Sem contar que ainda fico um pouco constrangida por chorar na frente do Ralph e saber que ele sabe de toda a minha história. Ele tem sido um anjo comigo, meu protetor. De um dia para o outro, caiu de paraquedas no meu mundinho de desgraça.
Olho para o lado, e vejo Ralph dormindo sereno ao meu lado, ele está sem camisa e vestindo apenas uma cueca samba canção.
“Meu Deus! Que homem lindo!” Penso.
Levanto da cama bem devagar para não acordar ele, e vou para a minha suíte para tomar um banho. Termino o banho e visto um short jeans e uma blusa branca. Me olho no espelho, e a mulher que vejo está com os olhos fundos, marcas de hematomas na pele, e um cérebro doente, com as lembranças tristes do passado.
Pego a chave do meu apartamento. Já que agora o Renan e seus comparsas estão presos, posso sair tranquilamente nas ruas.
Passo no quarto do Ralph de novo, para me certificar que ele ainda está dormindo, e sim ele ainda está.
Antes de sair, escrevo uma breve carta para deixar para o Ralph, para ele não se preocupar comigo.
"Bom dia lindo! Desculpe sair sem avisar, mais preciso pôr meus pensamentos em ordens, e decidir como será minha vida daqui para a frente. Não posso ficar no seu apartamento para sempre. Volto assim que meu lado triste passar e a verdadeira Julia corajosa voltar. Nao se preocupe comigo.
Um beijo,
Júlia"
Não posso ignorar a lembrança, de que na última vez que deixei uma carta para ele, não tinha a intenção de voltar. Deixo a carta em cima da minha cama, pois certamente virá aqui para me procurar.
Abro a porta do apartamento, e vou em direção do elevador, em alguns minutos chegam no hall de entrada do prédio. O porteiro se assusta ao me ver tão cedo ali e me pergunta se está tudo bem. Respondo que sim com a cabeça e saio do prédio.
Atravesso em frente ao prédio e ando na orla da praia. Há poucas pessoas na rua, devido ao horário tão cedo. Passo por um ponto de ônibus e escuto uma senhora comentando com a outra: olha não é aquela menina que foi sequestrada a pouco tempo.
Finjo não ouvir e continuo andando tranquilamente em frente, enquanto houver calçada continuarei andando.
O ar fresco da manhã bate na minha pele me trazendo uma sensação de leveza e liberdade.
Depois de caminhar por mais de 40 minutos, chego no final da orla, resolvo descer para caminhar na areia. Mais a frente vejo umas árvores e umas pedras grandes, me sento em uma e fico de frente para a praia. Ali se torna meu refúgio, admirando a água batendo na areia toda hora, fico a refletir.
Fecho meus olhos e fico ali relembrando tudo mais uma vez, os surtos de Renan, o carinho do Ralph comigo, a mãe dele me expulsando, a morte do traidor do Marcelo na minha frente e ainda por cima meu pai. Que droga ele deve estar tentando fazer agora? Porque ele resolveu aparecer?
Fico ali por algumas horas chorando, até minhas lágrimas secarem. Com os olhos ardendo e vermelho, decido que não posso ficar ali para sempre. Preciso ir no meu apartamento. Saio da praia e faço uma parada até o caixa eletrônico, não tenho muito dinheiro em conta-corrente, mais faço um saque necessário para cobrir os possíveis gastos para passar o dia. Na mesma calçada, entro em uma cafeteria e compro um enorme copo de cappuccino. Pois, sai do apartamento em jejum.
Com meu café na mão, chamo um táxi, e sigo para o meu prédio.
Uns vinte minutos depois, finalmente chego, dei conta que nao pensei exatamente antes de vir aqui. Não tenho como ficar aqui com todas as coisas destruídas, mais já que estou, vou entrar.
Entro no predio e o porteiro me cumprimenta um pouco assustado, ansiosa do jeito que sou não faço paradas e já vou entrando no elevador, ele até tenta me chamar, mais o elevador fecha antes que ele consiga falar comigo.
Quando chega no quinto andar e a porta do elevador se abre, sinto um aperto no meu peito, vou cruzando o corredor até a porta do meu apartamento. Abro a porta e quando olho fico em choque, paralisada na porta.
— Júlia! Tentei te avisar mais você entrou tão rápido no elevador que não me deu tempo. — falou o porteiro sem fôlego por ter subindo as escadas correndo.
Como assim está vazio? Questiono entrando e olhando cada cômodo daquele que era meu apartamento.
— Quem veio aqui retirar? — pergunto.
"Isso não pode estar acontecendo comigo?" penso alto.
— A senhora Margareth, ficou sabendo do seu sequestro e que o tal traficante, esteve aqui, e como alguns moradores reclamaram com ela, alegando sentir medo de que ele aparecesse aqui de novo. Ela conferiu os recibos de pagamento, e viu que havia atrasos, ela então ordenou que esvaziassem o apartamento. Estava tudo destruido, a única coisa que ela mandou separar foi alguns documentos que foram encontrados. Está comigo la na recepção. — Falou rápido e ainda ofegante.
— Isso não pode esta acontecendo comigo, minhas coisas, e agora como vou fazer?
Sento no chão da sala, daquele que era meu apartamento ainda em choque.
— Me deixa um pouco sozinha por favor! Já vou descer. — peço.
— Claro! — ele diz saindo, me deixando sozinha.
Olho para a parede vazia do corredor que ficava o meu quadro, uma pintura que fiz questão de trazer da casa dos meus pais. Depois olho para o canto da sala onde ficava minha mesa, e me lembro do dia que preparei um escondidinho para almoçar com o Ralph. Mais em seguida também lembro que foi esse dia que Renan apareceu aqui e me levou para o morro, dando início um inferno em minha vida.
Olha para a frente e lembro do meu sofá paradinho ali de frente a TV e eu sentada nele, enquanto Ralph me beija pela primeira vez.
Dou mais uma olhada e me despeço do apartamento.
Pego o elevador ainda em choque, e me encontro com o porteiro de novo, ele me entrega uma bolsa com meus documentos.
— Desculpe Julia, tentei pedir a ela para que esperasse mais um pouco as coisas acalmarem para você, mais ela é a dona desse lugar, não pude impedi-la.
— Eu sei! Eu só não sei o que fazer — Como vou recomeçar, sem uma casa e sem emprego? — comento.
Dou um abraço no senhor a minha frente que foi muito carinhoso comigo durante os meses que ali morei e quando vou saindo. Vejo a Sra. Margareth entrando no prédio, ela cumprimenta o porteiro e se vira para mim.
— Olá Julia, pensei que você não fosse voltar mais — fala ela.
— Como pôde mandar retirar as minhas coisas do apartamento sem me avisar, sem meu consentimento? — pergunto direta.
— Eu sei Julia que você deve estar chateada, mais não havia outro jeito, os moradores estavam reclamando, e realmente eu pensei que você não voltaria — fala ela tentando se explicar.
Quando eu pensei em responder, o elevador se abre, e duas senhoras saem me olhando, cochichando uma com a outra dizendo bem feito para mim.
Margareth me chama para conversar em particular, na sala de reunião dos síndicos.
Aceito e sigo ela até a sala. Nós sentamos de frente uma para a outra.
— Olha Julia eu sei que não agi certo, mais você estava com alguns aluguéis atrasados, seu apartamento estava todo destruído, não tinha condições de você morar lá, eu tentei te ligar sim, mais seu telefone só dava na caixa postal.
— Liguei para cá várias vezes para saber se tinha alguma notícia sua e nada. Eu tinha que tomar uma atitude até para calar a boca dos outros moradores.
Sei que ela está falando com sinceridade, mais o desespero dentro de mim de não saber o que fazer agora, eu só consigo olhar para o lado tentando disfarçar a lágrima que quer cair no meu rosto.
— Ok, você está certa! Falo sem olhar nos olhos dela.
Me levanto e entrego a chave do apartamento.
— Eu vou pagar a senhora! Afirmo.
— Você está bem Julia? Fiquei sabendo de tudo que você passou, está bem abatida.
— Não! Mais vou ficar. Obrigada — falo.
— Você tem onde ficar? — Ela me pergunta com os olhos cheios de lágrimas.
— Sim, pelos menos por enquanto, vou ficar com um amigo. Eu quero pagar a senhora. Se você quiser posso pagar com serviços, já que estou sem trabalho, tenho tempo. Posso limpar sua casa, redecorar alguns de seus imóveis, e só falar.
— Nao precisa fazer nada para mim. Está tudo certo! Não precisa me pagar, sei que está passando por uma fase difícil. Você tem um número de um telefone que possa deixar, caso eu saiba de algum serviço?
— Estou sem telefone no momento, e não sei de cabeça o telefone da onde eu estou ficando.
— Entendi. Leva meu cartão, assim que puder me liga ou me envia uma mensagem com um número para contato. Se eu souber de alguma coisa eu te aviso e se precisar de alguma coisa pode me ligar — fala estendendo a mão com o cartão.
Pego o cartão e agradeço. Ela me ajudou muito quando aluguei o apartamento, contei que tinha perdido meu trabalho por uma influência de uma pessoa e que não tinha muitas opções para ir. Ela baixou um pouco o valor do aluguel e me permitiu alugar sem muita burocracia. Talvez seja até por isso que eu não quis arrumar uma confusão com essa mulher agora.
Saio do prédio totalmente sem chão. Sinto meus machucados doerem, me avisando que seria horário dos meus remédios. Pego outro táxi e resolvo ir no buffet, para implorar para o Sr. Jorge me aceitar de volta.
Chego no buffet, e avisto Gustavo, que larga tudo para me abraça.
— O que você está fazendo aqui? — questiona ele.
— Vim implorar para o Sr. Jorge me aceitar de volta, acabo de voltar do meu apartamento e tudo meu foi retirado de lá. A dona me expulsou depois de tudo que aconteceu e, porque eu estava com pagamento atrasado.
— Boa Sorte amiga! Ele está na sala dele — Ela podia ter aliviado para você — será que não ficou sabendo o que houve?
— É justamente por ter ficado sabendo, os moradores ficaram com medo de Renan voltar lá — falo.
Ele me abraça e fala em meu ouvido, que é só uma fase e tudo vai se resolver.
Digo a ele que vou falar com o chefe, e ele pisca para mim, cruzando os dedos desejando sorte.
Caminho em direção a sala, rezando para da tudo certo e receber mais uma oportunidade. Para na porta e respiro fundo, e depois bato na mesma.
— Entra! — grita ele.
Entro pedindo licença e me assento na cadeira de frente para o Sr. Jorge.
— Quem é vivo sempre aparece! A que devo a honra da sua visita? — Comenta ele.
— Imagino que o senhor esteja chateado comigo, e queria primeiramente pedir desculpas, e também te perguntar se pode me da outra oportunidade aqui.
— Lamento Julia! Mais não posso mais. Depois de tudo o que houve com você e sua falta de comunicação, não posso te recontratar — Sem contar, que as pessoas vão ficar com medo de seu namorado traficante aparecer atirando em todo mundo — Agradeço por sua dedicação durante o período que trabalhou aqui, mas não posso permitir sua volta, inclusive até já coloquei outra em seu lugar.
— O senhor na está entendendo, não tenho aonde recorrer, e acabei de saber que fui expulsa do meu apartamento, como vou me levantar sem um trabalho.
— Tudo que eu fiz, eu não tive escolha — tento explicar desesperadamente.
— Desculpe Julia! Terá que procurar outro lugar para trabalhar. — Se estiver com algum documento, me empresta para que eu possa estar te pagando o seu tempo trabalhado.
Depois dos processos burocráticos de RH, me despeço e saio da sala do meu ex chefe.
Gustavo estava eufórico ansioso do lado de fora. Não precisei nem responder para ele, minha cara já revelou que não consegui nada. Dou um abraço nele e me despeço para ir embora.
Vou andando sem direção na rua, passo em frente ao shopping, até que avisto um bar, mais a frente e entro. Me surpreendo com o que vejo, é bem chique para um bar, e bem frequentado, apesar do horário. Um bar para o povo da classe alta, vestida do jeito que estou, nota-se que não sou, mais posso me permitir pagar duas cervejas, não vão me fazer mal. Eu preciso para lidar com tudo isso.
Não há muita gente, mais quem vai beber em pleno meio-dia, em dia de semana? Só eu mesma! Sento no balcão e peço uma cerveja bem gelada. O garçom lança um olhar surpreso mais me serve.
Tomo dois copos rápido como quem bebe água.
— Vá devagar moça! — O garçom fala.
Um rapaz de terno sento ao meu lado e pede uma bebida. Olho para ele que claro, está muito bem-vestido e com cara de derrotado. Com certeza também está na merda, igual a mim.
— Bonita as tatuagens! — fala ele.
Olho surpresa para o lado e digo:
— Obrigada!
Tomo mais um gole da minha cerveja!
Ele fica me observando, enquanto o garçom o serve.
— Você é a garota que foi sequestrada pelo ex namorado traficante? — fala ele curioso.
— Sim! Prazer, a garota problema — falo levantando meu copo.
— Vi seu caso na televisão.
— Imagino que sim, todos viram! Onde passo escuto alguém falando algo — Acredito que estou nos meus 15 minutos de fama.
— Pelo menos você tem uma fama. As pessoas te enxergam pelo menos. Passei dias e noites elaborando a porra de um projeto para uma apresentação na empresa em que trabalho, onde não tive nem a oportunidade de apresentar, porque o filho mimado do chefe, escolheu o melhor amigo idiota, que passa o dia inteiro na praia, ao invés de ficar com a porra da bunda sentando no escritório igual a mim.
— Uau! Que Merda heim! — E quando você está com uma pessoa maravilhosa, porém a família dessa pessoa são fúteis e te odeia.
— Clima legal em família. — responde ele irônico.
— Mais ainda é melhor que saber que a pessoa que você havia escolhido para passar o resto da vida, enquanto você pagava os preparativos do casamento, ela te traía com outro. — completa ele.
Viro surpresa para ele e abro um sorriso sarcástico dizendo:
— Um brinde a nossa vida maravilhosa! — falo estendendo o copo de cerveja em direção ao meu novo amigo de bar e ele trinca o correspondendo com o seu copo.
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(Ralph)
Tem uns 20 minutos que terminou a reunião. Depois do show do Eduardo, quando divulguei a escolha do Diego como responsável pela publicidade e divulgação da empresa esse mês. Estou nervoso até agora. Como um merdinha daquele puxa saco, pensou que eu ia escolher ele?
Já liguei para casa e Maria disse que Julia ainda não chegou.
Ela pediu para não me preocupa. Mais como faço isso? Saiu de casa do nada, sem me acordar. Eu sei lá, o que pode está acontecendo com ela, detalhe que teve febre na madrugada. Estou aflito com isso e puto da vida com essa empresa. Se eu pudesse, eu largaria tudo aqui e iria para a praia.
"O que será que a Julia está fazendo?" (Penso mais uma vez)
Meu telefone toca anunciando uma nova mensagem.
Abro a mensagem que contém uma foto e leio.
Enquanto você está trabalhando, sua queridinha está se divertindo com outro.
Bjs karina
✅visualizado
___________A Garçonete 2_____________
Pag. 03
Quem será esse com a Júlia? E no que vai dá heim?🤔
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