VICTOR

       Os próximos dias que se seguiram à invasão à casa de Victor foram tensos, ele ficava muito preocupado em deixar a mãe sozinha. Sentia cada vez mais raiva do irmão, pois tudo o que conseguiram comprar foi com muito sacrifício e agora perderam por conta das tramoias de Vini.

        Quando recebeu o primeiro salário, Victor deu entrada em uma televisão para a mãe, pois era a única distração que a mulher tinha depois de um dia cheio de trabalho. Joana ficou muito agradecida ao filho e o encheu de beijos.

         Ele disse a ela que caso os bandidos aparecessem de novo, era para procurarem por ele, ela poderia dar o número do seu celular. Victor tentaria combinar algum tipo de parcelamento dessa dívida do irmão enquanto ele não voltasse, se é que voltaria algum dia, apesar de não fazer ideia de quanto tempo levaria para pagar uma dívida de 50 mil reais.

         O que estava recebendo no seu novo emprego não era muito, dava apenas para contribuir com as despesas da casa e vez ou outra comprar algum item de uso pessoal. Victor estava planejando trocar seu celular por outro melhor, mas com a compra da televisão para a mãe e a preocupação com essa dívida de Vini, esse gasto estava fora de questão.

        Precisava encontrar outra fonte de renda, mas não sabia como, pois seu dia já era cheio. Ao chegar em casa numa noite de terça-feira, leva um grande susto, pois é abordado por um grupo de homens que não fazem questão de esconder as armas que carregam.

        — Tu é o mané irmão do Vini, meu chapa? – pergunta um deles.

        — O que vocês querem? – Victor pergunta, tenso.

        — A grana! O filho da puta do teu irmão pensa que pode deixar a parada zuada assim? Se ele não paga, a família vai ter que dar um jeito de resolver o bagulho! – o homem diz, chegando bem perto de Victor.

       — To ligado... – ele diz. – Vamo acertar isso então, mas a gente não tem grana, cara. Posso te dar uma parte todo mês?

       Quando Victor faz essa pergunta, os homem começam a rir.

      — O mané é muito comédia, cara! Hahaha! – diz um deles.

      — Tá me achando com cara de loja de eletrodoméstico, filho da puta?? — pergunta o homem que o havia abordado no início, o sorriso já morrendo no seu rosto. – Vou te mandar o papo: tu vai me dar 25 mil até semana que vem e o resto dou mais uma semana pra tu arranjar. Se não me der a grana, já sabe, né? Vala, começando pela tua mãe!

      Depois dessa ameaça, o homem dá um soco na barriga de Victor, que acaba tombando com os joelhos no chão. Antes de irem embora, ele consegue ouvir a voz do homem:

      — Porra de barriga dura desse filho da puta! – ele diz, sacudindo a mão.

       Os outros riem e vão andando até sumirem de vista. Victor continua no chão, sentando e levando as mãos à cabeça, desesperado. Como ele iria conseguir esse dinheiro? Tentou ligar para Vini mais uma vez, mas o celular do irmão estava fora de área de novo.

        Como não queria entrar em casa nesse estado de nervos em que estava, resolveu procurar Jonas e desabafar, pedindo alguma ajuda, se é que isso era possível. Quando chega à casa do amigo, é recebido e logo que entra, senta-se no sofá, levando as mãos à cabeça.

        — Que cara é essa, brother? – pergunta Jonas ao ver a expressão do amigo.

       — Tô muito fudido, Jonas... – começa a falar, balançando a cabeça. – Os bandidos pra quem o Vini tá devendo tão tocando o terror lá em casa. Primeiro quebraram tudo e assustaram a mãe, agora apareceram dizendo que eu tinha até semana que vem pra dar 25 mil e mais uma semana pra dar o resto, senão vão matar a gente. Agora eu te pergunto, cara: como que vou arranjar a porra dessa grana??

       A essa altura, Victor já chorava, não conseguia encontrar uma saída para sua situação, muito preocupado com a mãe. Jonas observa o amigo por algum tempo até que diz:

      — Mermão, pintou uma parada aí, posso te por dentro.

     Victor levanta a cabeça, passando as costas de uma mão no rosto para secar uma lágrima e pergunta:

      — Que parada?

      — Uma menina me ofereceu uma grana pra sequestrar ela, posso dividir contigo.

     — Como é que é? – Victor acha que não ouviu direito e questiona, fazendo uma careta.

     — A loira amiga da Talita, aquela que falei que era cheia da grana. Ela diz que precisa sumir, questão de vida ou morte e me ofereceu 100 mil conto pela parada. Se tu entrar no esquema comigo, fica com 50, quer?

      Victor fica boquiaberto com a informação. Passa alguns segundos em silêncio, tentando absorver tudo aquilo, até que diz:

       — Não queria fazer nada criminoso, cara.

       — Mas ela quer, brother! Vai até pagar! Tu tem outra ideia pra conseguir esses 50 mil conto? – Jonas questiona. – Ela disse que tinha pressa e já que tu tem também, vamo pensar em como fazer isso logo.

      Victor ainda está processando na sua mente todas aquelas informações, mas sabia que Jonas tinha razão. Essa proposta havia caído do céu, pois de que outra forma ele conseguiria esse dinheiro sem cometer um crime? Ou pelo menos um crime real, essa história estava muito confusa na sua cabeça ainda.

      — Essa mulher é maluca ou o que? – Victor pergunta, por fim.

      — Sei lá, cara. Ela não me explicou direito, só mandou o papo reto e porra... 100 mil, né? Não dá pra recusar. Como vai ser difícil armar essa parada sozinho, tu pode me ajudar, já que tá precisando da grana.

      Victor fica em silêncio por algum tempo, pensativo, até que diz:

      — Beleza, tô dentro. Quando ela vai pagar a gente?

   — Vou trocar uma ideia com ela ainda, a gente tem que pensar como vai fazer – Jonas comenta.

     — Pois acerta logo com essa maluca, cara, tô desesperado aqui, preciso dessa grana rápido!

     — Pode deixar. Fica tranquilo, brother, vai dar tudo certo.

      Victor assente e levanta-se dizendo que precisa ir embora. Enquanto caminha de volta para casa, consegue ficar mais tranquilo, apesar de ainda confuso com toda essa situação.

       Pensa por um momento em qual seria o motivo da menina querer ser sequestrada. Não é pelo dinheiro do resgate, já que ela vai desembolsar 100 mil para isso, não teria lógica. Acaba desistindo de tentar descobrir, não importava, afinal. Ele apenas tinha que agradecer aos céus por ela ser maluca o suficiente para querer armar uma loucura dessas, pois ele precisava desesperadamente do dinheiro.

        No final de semana, ele estava tenso pela proximidade dos dias seguintes, quando teria que pagar a primeira parte da dívida de Vini. Felizmente, Jonas vai procurá-lo dizendo que havia conversado com a garota e já tinham um plano em mente. Ficaram algumas horas na casa do amigo planejando como seria.

      — Que bizarro isso, cara! Será que vai dar certo mermo? Tem certeza de que essa mulher não é maluca? – Victor questiona, achando tudo muito surreal ainda.

      — Sei lá em que rolo ela tá metida, mas foda-se, o que interessa é que a gente vai descolar a maior grana, foca nisso! – diz o amigo. — Ela ficou de me dar 50 mil amanhã pra gente conseguir adiantar algumas coisas, o resto ela dá depois. Aí tu pega teus 25 e resolve a tua parada logo.

      — Porra, nem acredito nisso! Tá tirando um puta peso das minhas costas – Victor diz, com alívio.

      Na semana seguinte, já com o dinheiro em mãos, Victor consegue pagar a primeira parte da dívida de Vini.

       — Viu só? Na hora do desespero, a grana aparece rapidinho, né, meu chapa? – comenta o homem que havia aparecido para cobrar o dinheiro. – Semana que vem, o resto, hein?

       — Não sei se vou conseguir o resto tão rápido, tem problema se atrasar um pouco? – Victor questiona. Não sabe quando a garota ficou de pagar o restante, sequer havia falado com ela.

      — Ihhh já ta de caô, filho da puta?? – O homem se aproxima batendo um dedo no peito de Victor.

      — Não, cara, vou pagar, eu juro! É que não sei se já vou ter a grana semana que vem, mas fica tranquilo que não vou te enrolar, não!

     — Te vira, mané! Semana que vem mais 25 mil! Já tô te dando moleza de pagar em duas vezes, tá achando que sou otário?? – o homem diz, inflexível.

     — Não, cara... vou dar um jeito, só não faz nada com minha mãe, por favor!

     — Só depente de tu, mané! Vou te dar até sexta-feira da semana que vem pra tu descolar a grana.  Uma mixaria dessa, 25 mil, fala sério!

      Ele vai embora na companhia dos comparsas e Victor respira fundo, passando a mão no cabelo. A primeira etapa foi cumprida, agora precisa tentar conseguir a outra parte do dinheiro logo.

      Victor até pede a Jonas a parte dele, podendo o amigo ficar com os outros 50 mil restantes, mas Jonas diz que vai usar os 25 mil pra comprar um carro que vão precisar na fuga. Ele ficou de ir num desmanche que tinha no morro pra conseguir algum veículo em bom estado.

       Victor teria que dar um jeito de falar com a garota sobre o dinheiro e esperava que ela conseguisse adiantar ao menos mais 25 mil, senão todo o esforço não adiantaria de nada.

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Uma parte da grana já foi, será que Victor vai conseguir o resto a tempo? Peço que deixem uma estrelinha pra ajudar da divulgação e comentem para dizer o que estão achando 😘