VICTOR

     Depois da última ligação de Alice, Victor havia ficado com um sentimento ruim no peito. Por mais que soubesse da farsa de toda a situação envolvendo o noivado dela com Bernardo Guimarães, era inevitável o mal estar que aquilo lhe causava.

     Ele sentia como se a vida dele estivesse em suspenso, seguia do trabalho para casa diariamente, raras eram as vezes em que ele saía para espairecer. Nada parecia certo sem Alice, nada parecia ter graça. Ele continuava sendo assediado pelas mulheres com frequência, mas não imaginava nenhuma outra em sua cama que não fosse ela.

       Certa noite, havia acabado de sair do banho, quando ouve algumas batidas em sua porta. Veste uma bermuda rapidamente, imaginando que talvez Jonas tenha alguma novidade, mas quando abre a porta, fica surpreso com o que vê.

       Alice está parada diante dele, linda, com um vestido vermelho e salto, um visual bem diferente de quando estavam juntos. Ela da um grande sorriso para ele, que retribui, ainda sem acreditar que ela estava ali, bem na sua frente. Já fazia mais de um mês que ela havia voltado para a mansão e que ele não a via pessoalmente. O cabelo dela estava maior e mais claro novamente.

      — Não vai me convidar para entrar? — ela pergunta.

        Victor da uma olhada em volta e diz:

       — Claro, amor...porra, vem cá!

        Ela entra e eles logo dão um abraço apertado de muito tempo. Victor procura a boca dela para um beijo e antes diz, meio assustado:

       — Desculpa, eu te apertei tão forte, te machuquei?

       — Não, amor, não estou mais sentindo dor, pode me apertar, quero sentir você.

        Eles se beijam e suas bocas refletem toda a saudade que estavam sentindo um do outro. Victor a traz cada vez mais para junto de si e Alice passa suas mãos por todo o corpo dele, cabelos, nuca, ombros, costas. Quando já não possuem mais fôlego, as bocas se afastam e ela diz:

       — Não aguentava mais de saudades, tinha que ver você.

       — Eu também, linda, mas foi seguro tu vir aqui?

        — Não se preocupe, eu combinei que iria sair com o Bernardo, meus pais não desconfiaram de nada.

        Victor enrijece um pouco seu corpo ao ouvir esse nome e questiona:

        — Ele sabe que tu tá aqui??

        — Sabe, Victor. Eu contei pra ele sobre o plano do meu pai, ele tinha que saber, né? Fica tranquilo que ele é uma vítima dessa situação toda, não vai fazer nada pra prejudicar a gente.

        — E ele não se incomoda de tu vir me ver?

        — Claro que não, amor. — Alice diz com um sorriso, envolvendo o pescoço de Victor — põe nessa sua cabecinha dura que esse noivado é de mentira, ele não me ama, eu não o amo... eu amo você.

          Victor sorri e a beija novamente, levantando-a do chão e seguindo até o quarto. Quando a deita na cama, entrelaça seus dedos nos dela e leva seu olhar até a mão direita de Alice.

         — Tira essa aliança, por favor. — ele pede.

         Ela olha nos olhos dele e sem desviar o olhar, tira o anel e deixa em cima da cabeceira ao lado da cama. Eles se encaram por alguns segundos, antes de Victor voltar a beijá-la, primeiro na boca e depois em seu pescoço, levando sua boca a todas as partes do corpo dela que vai desnudando ao tirar seu vestido.

          Alice suspira, soltando gemidos, ele consegue perceber o quanto ela também sentia sua falta e fica feliz em poder tê-la novamente, como se nunca houvessem se separado. Quando enfim estão sem roupa alguma, ele diz:

        — Não tenho camisinha aqui...

        — Eu trouxe — ela diz, abrindo um sorrisinho malicioso.

        — Hum...veio preparada, é?

        — Vim... — Alice responde, pegando na sua clout um pacote de preservativos — e você, tá preparado pra mim?

       — Vem aqui conferir. — Victor diz e eles sorriem, com a certeza de que a noite será longa.

          Quando já passa de duas da manhã, Alice está deitada no peito de Victor, descansando depois de muita atividade na cama, até que seu celular recebe uma notificação. Ela levanta, confere a mensagem e diz, com um ar de pesar:

       — Preciso ir agora, amor. Queria passar a noite toda com você, mas não posso.

       — Tá bom, eu entendo. — ele diz — gostei muito de tu ter vindo, tá?

       — Eu também, Victor, precisava muito disso.

       — Só veio aqui pra isso, é? Poxa... — diz Victor, fingindo indignação.

       Alice da uma risada e diz, já de calcinha e sutiã:

       — Claro que não, mas que eu tava morrendo de saudade de sentir você dentro de mim eu tava.

      — Porra, não fala assim que não deixo tu ir embora! — ele diz, agarrando-a e caindo por cima dela na cama.

       Eles riem e depois de mais um beijo, Alice levanta-se de novo e coloca seu vestido. Vai até o banheiro dar um jeito no seu visual e quando volta para o quarto, Victor está sentado na cama, já de bermuda.

      — Não vai esquecer isso aqui. — ele diz com um ar mais sério, estendendo a aliança para ela.

        Alice pega o anel e põe rapidamente em seu dedo, sem desviar os olhos dele. Por fim, da um sorrisinho, dizendo:

       — Você sabe que a única coisa real na minha vida é você, não sabe?

         Ela está em pé na frente dele, que continua sentado na cama e segura a cintura dela com as mãos.

        — Ele não encosta no teu corpo não, né?

        — Não, Victor, só você encosta em mim. — ela diz, deixando um beijo suave nos lábios dele.

          Nesse momento, o celular dela toca novamente, ela olha e diz:

       — Tenho que ir agora.

       Ele a acompanha até a porta, onde se despedem e a vê entrando num carro luxuoso, todo preto. Os vidros são escuros e ele não consegue perceber quem está dentro. Fica na porta ainda por um tempo, observando o veículo sumir de vista.

       Depois dessa noite da visita surpresa de Alice, Victor ficava na expectativa de ser surpreendido novamente, sempre observando para ver se aquele carro aparecia no Vidigal, mas ela não veio de novo, já fazia duas semanas do encontro.

Victor procurava saber de Jonas as novidades e o amigo dizia que continuavam captando imagens e conversas, mas nada comprometedor ainda. Ele procurava manter a paciência, pois, agora com o noivado já oficializado, Nelson Kubrick certamente não tardaria em voltar a falar no plano de matar Bernardo Guimarães.

Certo dia, aceitou o convite de Jonas e Talita para irem à praia, pois precisava distrair-se um pouco. Quando voltava de um mergulho no mar, foi abordado por um homem meio grisalho, que disse:

         — Oi, tudo bem? Será que eu posso falar com você?

     Victor o olha desconfiado e pergunta:

         — Falar o que?

         — Meu nome é Roberto Alves, trabalho da agência Magnus, conhece?

      Victor faz uma negativa com a cabeça e o homem continua:

          — Somos uma das maiores agências de modelos do Brasil e acho que você se daria muito bem fazendo parte do nosso cast. Você já fez algum trabalho de publicidade ou passarela? Qual o seu nome?

          — Victor Silveira — ele responde, ainda um pouco atordoado com aquela conversa estranha para ele — nunca fiz nada disso não senhor.

      O homem, então, estende seu cartão para Victor, dizendo:

          — Pois pense a respeito e entre em contato comigo. Tenho certeza que se você aparecer na agência, vai conseguir fazer um book sem custo. Fica aqui pertinho, em Ipanema.

      Victor olha para o cartão e responde ao aceno do homem, que vai embora. Quando retorna para onde estão Jonas e Talita, o amigo pergunta:

          — O que aquele cara queria?

           — Ele disse que era de uma agência de modelo, me deu esse cartão.

      Talita pega o cartão da mão de Victor e depois de dar uma olhada, diz, com empolgação:

         — Victor!! A agência Magnus é super famosa, não acredito que esse cara falou com você!

        — É? — Victor pergunta, com as sobrancelhas meio franzidas — achei que fosse caô dele, sei lá.

       — Não, essa agência existe sim e vários modelos famosos fazem parte dela! O que ele disse pra você?

       — Ele perguntou se eu já tinha feito algum trabalho desses daí e falou pra eu aparecer na agência que eu talvez ganhasse um book, o que é isso?

    Talita da um grito, assustando os amigos e diz:

        — São fotos, Victor! Para ficar na agência, aí se as pessoas gostarem de você, chamam para fazer campanhas publicitárias, desfiles... você vai descolar a maior grana! E book é caro, que bom que você não vai precisar ter esse custo!

         — Será mermo? Num sei se levo jeito pra isso não... — ele diz, meio desconfiado.

         — Ah Victor, deixa de ser bobo! Esse Roberto deve entender do assunto, se ele chamou você é porque enxergou potencial! Vai lá e tenta, você pode ficar famoso! A Alice vai pirar quando souber, hahaha! — diz Talita.

        — Maneiro, muleque, tu devia tentar! Essas paradas dão grana mermo, já pensou? — é a vez de Jonas incentivar.

        — Ta, vou ver qual é. — diz Victor, resolvendo dar uma chance.

         Na semana seguinte, ele consegue sair mais cedo do trabalho e passa na tal agência. Nota que o ambiente é bem moderno, bonito, com móveis de luxo e fica menos desconfiado. Caminha até a recepção, onde uma moça de cabelo curto e bem vermelho está, ela o olha de cima a baixo e pergunta:

        — Posso ajudar você, querido?

        — Oi... é que o seu Roberto me deu o cartão dele falando pra eu vir aqui. — Victor diz, meio sem jeito.

       — Ah, você é o Victor? Ele comentou de você. — diz a moça, com um sorriso — você teve sorte de vir agora, a dona da agência ainda está aqui, vou levá-lo até a sala dela.

    Ele acompanha a moça por um corredor e percebe vários quadros com fotos de homens e mulheres, ele imagina que são modelos da agência. A moça para em frente a uma grande porta, bate e a abre em seguida, dizendo:

        — Dona Vera, o rapaz que o Roberto falou está aqui.

         A ruiva da passagem para Victor, que entra na sala, meio acanhado. Vê uma senhora de cabelos brancos, bem estilosa, sentada atrás de uma grande mesa.

        — Olá, rapaz, entre. — ela diz, com um gesto.

        — Boa tarde. — Victor a cumprimenta.

        A mulher o examina da cabeça aos pés e um sorriso vai surgindo em seu rosto.

        — Você é perfeito. Pronto para fazer seu book?

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Reta final da história, queridos! Será que tudo vai dar finalmente certo para Victor e Alice? Eles merecem, né? Deixe seu voto 😘