VICTOR

Já fazia cerca de duas semanas do retorno de Alice à mansão, quando Jonas, finalmente, colocaria parte do plano em prática. Ele acompanharia Talita a uma visita à Alice, como se fosse namorado da amiga.

— Será que não da pra eu ir também? — Victor questiona — Tu não vai quando os pais dela estiverem fora de casa?

— Pô, cara, não rola... sei que a parada deve tá complicada pra tu, mas segura a tua onda. É arriscado demais tu ir, o pai dela fica fora, mas a mãe pode aparecer qualquer hora e ela te conhece. — Jonas diz e Victor da apenas um suspiro cansado, pois sabe que o amigo tem razão, mas está sendo muito difícil para ele estar há dias sem ver Alice.

O plano seria Jonas aproveitar a visita para instalar câmeras e microfones escondidos no escritório de Nelson Kubrick, a fim de flagrá-lo em algum tipo de armação criminosa que certamente estaria envolvido. Alice pretendia juntar provas contra o pai para denunciá-lo à polícia, algo que já poderia ter feito há algum tempo, mas não havia tido a chance. Agora, ela faria a oportunidade acontecer, como havia dito para Victor.

Alice havia combinado com Jonas de ele ir em um dia que ela sabia que a mãe não estaria em casa, para facilitar o acesso ao escritório, apesar de ela poder chegar a qualquer momento, pois não tinha horário certo.

Depois de resolver essa questão, Jonas havia combinado de fazer uma chamada de vídeo com seu celular, para que Victor pudesse ver Alice. Quando recebe a ligação, ele logo atende e abre um grande sorriso ao ver o rosto dela na tela.

— Ai, Victor, é tão bom ver você! — ela diz — você não imagina a saudade que estou sentindo!

Ela está com uma camisa branca de alcinhas e um short jeans, como sempre gostava de usar. Victor sente o coração apertado ao vê-la e não poder tocá-la.

— Oi, linda! Também to morrendo de saudade, como tu tá?

— Tentando aguentar um dia após o outro, não está sendo fácil. Mais do que nunca, não me sinto fazendo parte de nada disso, sabe? Quero nossa vida de volta.

— Aguenta mais um pouco, amor. Tu quis fazer isso, segue teu plano. — ele diz, tentando incentivá-la.

— Sim, eu vou. Eu penso muito na gente pra conseguir ter força, Victor.

— Quando tudo acabar, eu vou botar aquela aliança no teu dedo, tá?

Quando o ouve dizer isso, Alice fica emocionada e apenas assente com um sorriso trêmulo, não conseguindo falar. De repente, ela olha para o lado e diz, com um tom de voz mais baixo:

     — Agora preciso desligar, Victor, acho que minha mãe chegou. Te amo muito, tá?

    — Também te amo. Tu é minha princesa, não esquece disso. — Victor diz com uma piscadinha para ela, que joga um beijo e logo a ligação é interrompida.

      Algumas horas depois, Jonas liga para Victor e diz que havia dado tudo certo, ou seja, tinha conseguido instalar os equipamentos no escritório do pai de Alice antes da mãe dela chegar. Seria apenas uma questão de tempo até conseguirem alguma prova contra Nelson.

       Como estava de volta ao Rio de Janeiro já havia alguns meses, Victor precisava conseguir alguma fonte de renda melhor do que o bico como entregador de aplicativo lhe proporcionava, então preparou um currículo constando sua experiência como supervisor de estoque de supermercado, cargo que ocupou quando morava em Maceió.

       Depois de tentar vaga em alguns estabelecimentos sem sucesso, finalmente conseguiu uma na mesma função, o que o deixou muito aliviado, pois o salário era o suficiente para pagar suas poucas despesas.

       Victor falava com a mãe frequentemente e ela sempre questionava quando e se ele voltaria para Maceió, mas ele não tinha uma resposta. Não queria contar para ela sobre o plano de Alice, achava melhor evitar a preocupação da mãe, então dizia apenas que a moça estava ainda em recuperação depois do acidente.

         A verdade era que ele realmente não sabia o que seria do futuro deles, ele e Alice não haviam conversado sobre o que fariam depois do plano dela ser concretizado, caso o que ela havia planejado realmente acontecesse. Então, Victor não fazia a menor ideia se continuariam no Rio ou se retornariam à Maceió.

        Como nem ele nem a mãe corriam mais riscos, não havia a preocupação de sair da cidade, a não ser que algo desse errado com o plano de Alice, algo que ele não gostava nem de imaginar. Já estava cansado de tanto sofrimento, queria, simplesmente, ter uma vida tranquila ao lado dela, será que era pedir muito?

         Sendo assim, aguardava ansioso por qualquer novidade relativa ao caso dos Kubrick. Não podia falar sempre com Alice, apenas quando ela conseguia despistar os pais e pegar o celular de Lourdes por alguns minutos.

Essa situação estava cada vez mais difícil, pois Alice dizia que a mãe quase não estava saindo mais de casa e ficava sempre no seu pé. As últimas notícias que conseguia ter vinham da própria Lourdes, que ligava para ele de vez em quando.

Certa noite, Victor estava em casa, descansando após um dia de trabalho, quando recebe a visita de Jonas. O amigo está um tanto retraído e Victor fica preocupado.

      — Que cara é essa, pô? — questiona — aconteceu alguma coisa?

Jonas coça a cabeça, com uma expressão no rosto que Víctor não gosta.

     — É que o Gustavo ouviu uma conversa do pai da Alice que tu não vai gostar.

     — O que??

   Jonas encara o amigo e depois de uma breve pausa, diz:

    — Ele falou que vai fazer a Alice voltar a ficar noiva daquele cara. Pelo jeito, vai seguir com aquele plano. Mas relaxa, cara, isso vai acabar levando o pai dela a falar da armação pra cima do mané, isso é bom pro plano dela!

     — Porra, Jonas, como que vou relaxar com uma porra dessa?! — Victor pergunta, irritado.

    — Não era isso que a Alice queria, cara? Uma prova das merdas do pai? Ele vai acabar falando alguma coisa que incrimine ele! — o amigo tenta tranquilizá-lo.

    — Mas não to gostando nada dessa merda! Ela vai ter que aceitar e se esse filho da puta se aproveitar dela??

    — Tu vai ter que segurar tua onda, Victor! Tu sabe que a Alice não vai ficar com ele de verdade nem ia deixar ele fazer nada com ela, né?

    — Porra, mas é foda, né! — Victor diz, passando a mão no cabelo, com uma bufada.

    — Eu sei, mas pensa que é pro bem de vocês.

Victor não diz mais nada, apenas balança a cabeça e imagina aquele riquinho arrogante perto de Alice. Eles já passaram por tantos problemas, mas esse o irritava em especial, era como se existisse um universo paralelo onde tudo que viveram foi uma ilusão e ela voltasse a ser noiva de alguém que não suportava. E o pior de tudo era ele não poder fazer absolutamente nada.

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Calma, Victor! Foca no plano! Será que vai dar certo? Continuem aqui comigo e deixe seu voto 😘