Capítulo 44
ALICE
Desde que havia recobrado a consciência, Alice tinha uma rotina um tanto desgastante. Ela recebia os pais diariamente, que a bombardeavam de perguntas, as quais ela tentava responder o mínimo possível. Mesmo lembrando bem de muitas coisas, ela preferiu fingir que havia perdido parte da memória, o que não era totalmente mentira, já que realmente não se recordava do acidente.
Ela percebia que os pais estavam confusos com toda a situação, se antes duvidavam da veracidade do plano dela, agora não pareciam certos disso e Alice ia enrolando enquanto dava.
Certo dia, no entanto, ela recebeu a visita de um agente policial querendo que ela relatasse o ocorrido, o que a deixou tensa. Não queria revelar que conhecia Vini, pois temia que a ligação dele com Victor pudesse prejudicar seu namorado.
Também não queria falar que havia armado um plano de fuga, pois os pais ficariam sabendo e ela tinha receio que planejassem alguma retaliação. Decidiu que o melhor a fazer seria simplesmente alegar falta de memória, o que parecia estar funcionando, dado seu estado.
Alice percebia que seus pais ficavam frustrados com essa situação, mas não havia nada que pudessem fazer e a vantagem dela continuar no hospital era que não precisava estar com eles o tempo todo.
Nos últimos dias, houve uma mudança na sua rotina, pois como seu quadro já tinha evoluído bem, o médico responsável disse que não seria mais necessário que ela permanecesse na UTI, dessa forma, Alice foi transferida para um quarto, até estar totalmente restabelecida e poder receber alta do hospital.
A vantagem era que poderia receber visitas por um período muito maior, apesar da proibição dos pais. Quando Alice já estava instalada no quarto, ela conversou sobre isso com a enfermeira responsável pela sua ala.
— Essa proibição de receber visitas não faz sentido, não estou mais inconsciente, então posso decidir sozinha esse assunto, afinal, sou maior de idade — ela disse — não quero receber a imprensa nem curiosos, posso deixar alguns nomes de pessoas permitidas, certo? Qualquer dúvida, vocês podem vir me questionar.
— Tudo bem, Alice. — diz a enfermeira, não podendo negar.
Alice estava muito ansiosa para informar Victor, então pega o telefone do hospital e liga para ele, já que ela não tinha mais seu celular.
— Alô? — ele atende desconfiado, já que não conhece o número.
— É tão bom ouvir sua voz, amor.
— Alice?? De onde tu tá ligando? Já saiu do hospital??
— Não, mas eu fui transferida para um quarto e sabe o melhor? Você pode ficar o tempo que quiser comigo.
— Sério?? Que bom, linda! To morrendo de saudade, não aguento mais! Quando posso ir?
— A hora que você puder.
— Não vai ter problema com teus pais?
Alice pensa que não quer mais ficar se escondendo para sempre, se quer ter o controle da sua vida, precisa lutar por suas escolhas. Não iria jogar fora tudo o que havia conquistado, ela teve uma nova chance de viver depois do acidente e não seria mais a Alice de antes.
— Não quero mais ficar me escondendo, Victor. Quero lutar pela gente, eles vão ter que aceitar.
— Tá...to indo já, então. Te amo!
— Também te amo, meu amor.
Alice diz o número do seu quarto e quando desliga o telefone, pede para a enfermeira ajudá-la a arrumar-se um pouco, queria estar bonita para Victor. Algum tempo depois, ela ouve uma batida na porta e ele entra, lindo, sorridente e trazendo uma sacola.
Ele vai até ela e eles se abraçam, fazendo-a sentir um pouco de dor nas costelas que haviam sido fraturadas.
— Te machuquei?? Desculpa, amor! — ele diz, assustado.
— Não, nunca. — Alice responde — estou louca pra poder apertar você bem forte, ter você de novo... — ela diz, em tom sugestivo.
— Tá, é? — ele pergunta, com um risinho, deitando na cama com ela — eu também, linda.
Eles ficam um tempo namorando até ouvirem uma batida na porta e verem Angélica entrar no quarto.
— Mas olha só, vim ver como está minha antiga paciente e percebo que está muito bem! — ela brinca.
Alice e Victor riem e eles conversam um pouco. Como Angélica trabalha apenas na UTI, não terá mais contato com Alice, mas havia se apegado à moça, por isso, quis visitá-lá. Logo quando ela vai embora, uma auxiliar de enfermagem chega com o lanche de Alice e fica surpresa por Victor estar na cama.
— É melhor eu sair daqui pra tu comer, né amor? — ele diz.
— Não, da minha cama você não sai! — Alice diz, fazendo a moça dar uma risadinha.
— Com um namorado desse, eu entendo você, moça. — ela diz e sai do quarto.
— Mas olha só, de olho em você, Victor! Que atrevida! — Alice diz e ele da uma risada.
— Eu trouxe um lanchinho também, teu chocolate, quer?
Ela aceita e eles comem juntos.
— Quando tu vai sair daqui, sabe? — ele pergunta.
— O médico que conversou comigo disse mais uns quatro ou cinco dias, talvez.
— E depois? — ele pergunta, num tom de voz mais baixo.
— Depois eu vou com você, Victor. Pelo que lembro, você me pediu em casamento, ou já desistiu?
— Claro que não, linda, nunca...tu é minha princesa pra sempre. — ele diz e eles se beijam.
Sem nenhuma batida, a porta do quarto é aberta e a mãe de Alice entra. O olhar dela fica estático e arregalado ao ver a cena, Victor também leva um susto e faz menção de sair da cama, mas Alice o segura e fala baixinho:
— Não.
— O que significa isso, Alice?? Quem é esse rapaz? — Sônia pergunta, ríspida.
— É meu namorado, mãe. O nome dele é Victor.
— Namorado?? — ela pergunta com uma careta, examinando Victor de cima a baixo.
Ele fica constrangido e diz, sem jeito:
— Prazer, dona Sônia.
— Você pode me explicar como isso aconteceu, Alice? — pergunta a mãe com um gesto de desdém, ignorando o cumprimento de Victor.
— Não quer que eu saia pra tu conversar com ela? — ele pergunta baixinho para Alice, que nega.
— Ele é meu anjo, mãe. Ele me salvou de todas as formas possíveis. Eu o amo, ele me ama e nós vamos casar. Pronto, é isso que você precisa saber.
Sônia olha para Alice como se achasse que a filha está louca e pisca os olhos rapidamente. Passa a balançar a cabeça e diz:
— Mas o que você está dizendo, Alice? Cadê o médico?
— Eu estou muito lúcida, se você está em dúvida. — Alice diz.
Sonia continua os encarando e pergunta para Victor:
— Qual é o seu nome?
— Victor, dona.
— Victor DE QUE? — enfatiza.
— Victor Silveira.
— Onde você mora?
Ele hesita e Alice fala:
— Ele mora no Vidigal, mãe.
— O QUE?? Um favelado, Alice?? Não acredito que você chegou tão baixo, só pode ter sofrido algum dano psicológico, vou conversar com o médico!
— LAVE A BOCA PRA FALAR DELE!! — Alice diz, tremendo de raiva — você não tem ideia do ser humano maravilhoso que o Victor é!!
— Calma, amor, não é bom tu ficar nervosa. — ele diz.
Nesse momento, uma enfermeira entra no quarto, pois Alice estava aos gritos.
— Algum problema aqui? — a mulher pergunta, cautelosa.
— Sim, tem um problema! Gostaria de saber como vocês deixam minha filha hospitalizada ficar na cama desse jeito com qualquer um. Pensei que havíamos sido claros em proibir visitas! — diz Sônia.
Victor sai da cama e Alice acha melhor não intervir, pois ele parece realmente constrangido.
— EU não proibi a visita do Victor, mãe. Ele é meu namorado e pode me visitar a hora que quiser. Sou adulta e não estou mais inconsciente, vocês não tem o direito de decidir sobre isso.
Sônia olha espantada para a filha, parecia não estar reconhecendo-a. Por mais que Alice se rebelasse de vez em quando, dessa vez, seu tom era diferente e a mãe parecia perceber isso.
— Vamos ver o que seu pai vai dizer sobre isso! — ela diz em tom de ameaça, saindo do quarto.
Alice tem um momento de insegurança, pois teme que o pai possa realmente prejudicá-los de alguma forma e quando a mãe bate a porta, Alice respira fundo. A enfermeira se aproxima e afere a pressão de Alice, dizendo:
— Não é bom você passar por stress nesse momento, Alice, você ainda está se recuperando.
— Então sempre que meus pais vierem me visitar, diga que estou dormindo, a presença deles é stress na certa. — Alice responde, dando um longo suspiro.
A mulher faz uma expressão de compreensão e olha para Victor, ainda constrangido com toda a situação. A mãe de Alice o havia humilhado na presença de estranhos, ela não sabia como ele estava se sentindo.
— Sua pressão está um pouco elevada, mas é normal, depois do ocorrido. Daqui a uma hora, venho aferir novamente. Tente ficar calma. — a enfermeira diz, deixando o quarto.
Alice olha para Victor, que havia sentado numa cadeira. Seu olhar encontra o dela e ele pergunta:
— Quer que eu vá embora pra tu descansar?
— Não, Victor, vem aqui. — ela pede.
Ele chega mais perto e ela faz um gesto para ele subir na cama de novo, então ele deita novamente. Ela o abraça e fala perto do ouvido dele:
— Não liga pro que minha mãe fala, ela é uma pessoa horrível, eu já havia comentado com você. Eu te amo e você é a coisa mais maravilhosa que já aconteceu na minha vida, nunca vou ter algo mais precioso do que você.
— Eu não fico chateado não, linda, relaxa... — Victor diz, mas Alice acha que ele não está sendo sincero. Várias vezes, ele já havia comentado que achava não ser o bastante para ela e as ofensas de Sônia certamente devem tê-lo chateado.
— Eu vou lutar pela gente, meu amor, chega de me esconder.
— Será que teu pai pode fazer alguma coisa?
— Não sei, Victor... talvez a gente possa bolar outro plano. — ela diz e Victor a olha sem entender.
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Alice pensa em mais um plano. O que será dessa vez? Deixem uma estrelinha pra mim 😘
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