ALICE

      Depois de uma noite de sexta com muito amor, Alice e Victor foram ao shopping na manhã de sábado para dar uma olhada nas alianças. Victor disse que fazia questão de que ela tivesse um anel do jeito que quisesse.

       Eles ficam olhando vitrines e quando Alice mostra interesse em alguma, procura olhar o preço, mas Victor diz:

      — Gostou dessa? Então vai ser, deixa de olhar o preço!

      — Não quero que você gaste muito dinheiro, Victor. Ainda tenho algumas joias, posso vender pra você não ter esse gasto.

      — De jeito nenhum! Eu posso comprar a aliança da minha mulher, tu não precisa vender tuas coisas, Clara. — Victor diz. Estava tomando o cuidado de não chamá-la pelo verdadeiro nome quando estivessem fora de casa. 

     — Eu te amo, sabia? — Alice diz.

     — Também te amo, linda.

     Depois de mais alguns minutos escolhendo, eles decidem por um modelo, mas não levam ainda, pois Victor manda gravar suas iniciais.

     — Não queria colocar teu nome falso na nossa aliança, amor. — ele sussurra.

        Sendo assim, cada aliança teria as letras A e V entrelaçadas, apenas. Saem muito felizes da joalheria e aproveitam para almoçar no shopping mesmo, conversando sobre os planos para o futuro.

       No domingo, Alice tinha combinado de passar na pensão, pela manhã, para Joana ensiná-la a fazer algumas comidas novas. Ela havia descoberto esse novo prazer que era cozinhar, distraia-se muito ao fazer cada prato e ficava na expectativa para Victor provar.

       Nesse dia, Victor não ficaria lá, pois precisava ajudar um amigo do trabalho que havia pedido seu auxílio com uma mudança. Eles não sabiam se Vini ainda estava em Maceió, mas Victor pediu pra ela ficar calma e não dar muita conversa para o irmão, caso eles se encontrassem.

       Chegando lá, Alice não o encontrou, o que a deixou aliviada e logo seguiu para a cozinha com Joana. A mulher não fez nenhuma pergunta pessoal, apenas passou a instruí-la no preparo de algumas comidas. Alice também não pergunta sobre Vini, acha melhor nem tocar no assunto.

       Quando já era cerca de 13 horas, estavam acabando de almoçar e Alice tem uma surpresa desagradável, pois o irmão de Victor chega à pensão, parecendo ter vindo da praia.

       — Que cheiro bom, dona Joana! — diz, adentrando na cozinha — Opa, a cunhadinha tá aqui!

       Alice apenas da um meio sorriso sem graça e ele pergunta, olhando ao redor:

     — Victão não ta na área? Que milagre é esse de deixar a mulher dele sozinha aqui?

     — Ele foi ajudar um amigo, mais tarde ele vem. — Alice responde.

    — Saquei... — ele diz, pegando um pouco de comida direto da panela.    

    — Não faz isso, menino, pega um prato! — Joana o repreende.

      Ele ri e faz o que a mãe pede. Estão apenas os três na cozinha, os demais inquilinos que ainda almoçam, estão na sala de jantar. Vini senta à mesa com elas e passa a comer, dando umas olhadas e sorrisos para Alice de vez em quando.

     — Tu ta com o Victor desde quando? — ele questiona, em determinado momento.

     — Há alguns meses.

     — Tu era la do Vidigal? Nunca te vi por lá. Eu lembraria.

     — Não, eu morava em Jacarepaguá. — ela diz, como já havia dito para Joana.

     Ele não faz mais perguntas, mas continua olhando para ela enquanto come, deixando Alice desconfortável. Quando ela levanta para lavar seu prato, Vini pergunta:

     — Vai me dizer por que o Victor te chamou de Alice se vocês dizem que teu nome é Clara?

     Alice hesita por alguns segundos, mas tenta recobrar uma postura natural, seguindo para a pia. Nesse momento, eles estão sozinhos na cozinha, pois Joana havia ido retirar os pratos da sala de jantar.

     — É uma brincadeira interna nossa. Quando a gente se conheceu, ele me confundia com outra menina que se chamava Alice, aí às vezes, me chama assim, só isso. — ela pensa nessa desculpa rápida e torce para Vini acreditar.

      — Saquei, cunhadinha... — ele diz e ela consegue sentir o olhar dele sobre si, mas não olha nos seus olhos. Tem receito dele perceber que ela mentia.

      Quando ela termina de lavar sua louça e está secando as mãos num pano de prato, ele pergunta, fazendo-a estancar:

      — E por que tu saiu escondida do Rio também?

     Alice pisca os olhos e não consegue entender como ele sabia de sua situação. Tem certeza que Victor não falaria sobre isso com ele, terá sido Joana? Certamente.

    — Desculpa, mas isso não lhe diz respeito, é assunto meu. — ela responde, tentando aparentar naturalidade.

    — Tu é do negócio também? — ele pergunta, em tom de confidência.

    — Que negócio? — Alice pergunta, sem entender.

    — Tráfico, ué. Por isso tu teve que fugir? Sei como é...

    — Não, claro que não!

      Ela ia falar mais, mas, nesse momento, Victor entra na cozinha, deixando Alice mais aliviada. Ele parece perceber certa tensão entre ela e o irmão, olha para ela com as sobrancelhas levemente franzidas, mas Alice tenta, mais uma vez, fingir naturalidade, não quer dar bandeira na frente de Vini.

     — Oi amor, já almoçou? — pergunta a ele.

     — Não, deixei pra almoçar aqui.

     Vini levanta, deixa o prato na pia e diz:

     — O rango tava maneiro, agora ceis me dão licença que vou tirar um cochilo, to cansadão.

     — Tu não lava nem teu prato não, Vini? Não sabe o trabalho que a mãe tem aqui? — Victor questiona, com raiva.

     — Ah, é só um pratinho. — ele responde e sai da cozinha.

     — Tudo bem? — Victor pergunta baixinho para ela, quando estão sozinhos.

      Alice assente e da um beijo nele.

    — O que ele tava falando contigo? — Victor insiste.

   — Ele queria saber por que saí escondida do Rio, acho que sua mãe deve ter comentado alguma coisa.

   — É, ela falou mermo... — diz Victor, balançando a cabeça — já disse pra ela não falar mais nada de tu pra ele.

   — Mas acho que não tem problema, ele perguntou se eu era do tráfico, não faz ideia dos meus motivos.

      Victor da um riso sarcástico e balança a cabeça.

     — Fica tranquila, amor. Acho que não tem como saber quem tu é de verdade, relaxa.

     Victor da mais um beijo nela e faz seu prato. Quando começa a comer, elogia a comida e Alice diz, toda feliz, que foi ela quem havia feito. Algum tempo depois, após tomar um cafezinho com sua mãe, Victor se despede dela e segue com Alice para casa.

Na semana seguinte, Alice faz alguns trabalhos para a agência que são muito elogiados e ela recebe uma boa comissão. Já fazia algum tempo que ela planejava fazer uma pequena viagem com Victor para Maragogi, então começa a pesquisar hospedagem.

        Sabe que ele está economizando para comprar um carro, mas ela queria que passassem a lua de mel deles na praia paradisíaca, então planeja vender mais algumas joias. Pensa que eles merecem um tempo de sossego, apenas curtindo a vida, nem que seja por alguns dias, depois do tanto que sofreram nos últimos tempos.

        Como seu horário de trabalho é bem flexível, Alice sempre chega em casa antes de Victor e nesse dia, recebe uma mensagem dele:

Victor: 
"Tenho uma surpresa pra tu hoje, linda."

                                              Alice:
"Oba! Vou fazer um jantarzinho especial para comemorar. Também tenho novidades"

         Victor:
"O que é??"

Alice:
"Surpresa! 😘"

Ela, então, passa no mercado próximo e compra camarão para fazer um risoto. Compra também vinho branco e umas velas. Quer deixar o ambiente bem romântico para eles. Decide tentar fazer mousse de chocolate, já que os dois são bem chocólatras.

       Cerca de 18 horas, estava na cozinha, deixando os camarões marinando, quando ouve a campainha tocar. Lava as mãos rapidamente e vai até a porta, perguntando em voz alta:

      — Esqueceu a chave, amor?

      Quando abre a porta, porém, da de cara com Vini, que sorri para ela daquela forma desagradável e diz:

       — Oi, Alice Kubrick.

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Vini não podia deixar de aprontar, né? E agora, o que será que vai acontecer? Espero que continuem acompanhando e deixem uma estrelinha para mim 😘