Capítulo 35
ALICE
Quando Alice ouve uma voz masculina dizendo "oi mãe", tem um sobressalto, ao mesmo tempo que percebe Victor tensionar o corpo ao seu lado. Ela olha para a direção da voz e vê um rapaz alto, parecido com Victor, mas não tão bonito e mais magro.
Enquanto Joana corre para abraçá-lo, Alice nota que Vini lança um olhar curioso para ela e depois para Victor, dando um sorriso que ela achou desagradável.
— Por onde tu andou, Vini?? Como sabia que a gente tava aqui? — a mãe pergunta, afastando-se o suficiente do corpo dele apenas para examiná-lo — tu tá muito magro, menino! Não tá comendo direito?
— To bem, dona Joana! — ele responde, sorrindo — e tu, irmãozinho, não vai me dar um abraço? — ele pergunta para Victor.
— O que tu veio fazer aqui, Vini? — Victor pergunta, com o semblante fechado.
— Tava com saudade da minha família, ué! — ele responde — não vai me apresentar a gata? — pergunta, dando um olhar para Alice que ela não gosta.
Victor fica com o corpo na frente dela e pergunta:
— Como tu sabia que a gente tava aqui?
— Tavam se escondendo de mim, por acaso? — ele pergunta, num tom debochado.
Victor fica muito irritado e avança sobre o irmão, fazendo Alice achar que ele vai socá-lo, mas ele apenas se aproxima e diz, num tom de voz mais baixo, com medo de ser ouvido:
— A gente tava se escondendo da roubada que tu meteu a gente! Tu tem ideia do que a gente passou, filho da puta??
Vini responde, ao mesmo tempo que a mãe aproxima-se e põe uma mão no ombro de Victor, tentando acalmá-lo.
— Calma, cara, tu é muito estressado! A parada já tá resolvida, eu falei que ia dar um jeito, não falei?
— Tu teve alguma coisa a ver com o que aconteceu com o Mário e o bando dele, Vini? — Victor pergunta, assustado.
— Tive nada a ver não! — ele responde, mas Alice nota que Victor não parece muito convencido.
— Deixa ele, Victor, o que importa é que agora tá tudo bem, graças à Deus! — Joana diz, intrometendo-se na conversa — Teu irmão deve ter aprendido a lição e agora vai levar jeito.
Vini abraça a mãe e lança um sorriso malicioso para Victor. Alice está tensa com essa aparição e sabe que Victor sente o mesmo, pois não confia no irmão.
Joana leva Vini até a cozinha, dizendo que vai preparar algo para ele comer e antes de sair, ele olha de novo para Alice. Victor continua com o semblante fechado e ela diz:
— Você quer ficar pra conversar com seu irmão, Victor? Eu posso ir pra casa logo.
Ele passa alguns segundos em silêncio, refletindo e diz:
— Não quero te deixar sozinha... tu pode só ficar um pouco aqui na sala, enquanto converso com ele?
— Tudo bem. — ela responde.
Alice senta num sofá, pegando uma revista para ler. O lugar está vazio e ela agradece por isso. Seria desagradável alguém presenciar a cena ocorrida anteriormente. Algum tempo depois, Victor volta, ainda com uma expressão carrancuda. Passa a mão no cabelo, da um suspiro e diz para ela:
— Vamo?
— Você ainda quer ir ao cinema? A gente pode deixar pra outro dia, sei que você não está mais com cabeça. — ela diz.
— Não... tu tá falando desse filme há um tempão, vamo sim. — ele responde.
Nesse momento, Vini entra na sala e segue na direção de Alice, estendendo a mão.
— Como meu irmão não me apresentou, eu faço isso. Vinícius, mas pode me chamar de Vini. — ele diz, pegando a mão de Alice e depositando um beijo, olhando para ela com um sorriso de canto.
Alice nota que Victor fica bastante incomodado com essa abordagem do irmão, apertando mais ainda o maxilar e segurando a mão dela.
— Bora, Clara. — ele diz, olhando feio para o irmão e levando-a para fora da pensão.
Eles caminham um pouco em silêncio até a parada de ônibus, até que ela pergunta:
— O que vocês conversaram?
— Eu queria saber o que ele veio fazer aqui, mas o merda só enrola, fica com aquela conversinha fiada dele. — Victor responde, balançando a cabeça com certa irritação.
— Ele vai passar quando tempo aqui? — Alice questiona.
— Disse que ia passar uns dias.
— E ele falou como soube que vocês estavam aqui?
— Ele disse que descobriu pelo Jonas, mas to achando estranho porque ele não me disse nada.
— Tenta falar com o Jonas. — ela sugere.
— Depois eu faço isso, vamo curtir nossa noite. — ele diz, dando um selinho nela, mas ainda com um ar preocupado.
Eles pegam o ônibus até o shopping e vão ao cinema e apesar de Victor tentar aparentar tranquilidade, Alice sentia que ele estava um pouco tenso, pensativo, mais introspectivo. Ela também ficava meio apreensiva com a presença de Vinicius, pois sabia que ele não era de confiança e já tinha feito Victor sofrer bastante.
No entanto, Joana parecia não estar muito preocupada, ela estava feliz por ter o filho de volta. Alice acreditava que ela imaginava não haver mais nenhuma ligação perigosa do filho com traficantes, já que o Mário Maluco tinha sido morto numa chacina, junto com seu bando.
A mulher parecia fazer questão de tentar reaproximar os filhos, tanto que fez um almoço especial e convidou Alice e Victor, que acabou aceitando, mas estava claramente desconfortável com a situação.
O irmão e a mãe conversavam sobre amenidades e Victor estava mais calado, apenas respondia algumas perguntas de vez em quando, monossilábico.
— Tu é lá do Rio também, né, Clara? A mãe disse. — Vini comenta.
— Sou. — Alice responde.
Antes que o irmão continue a conversa, Victor questiona:
— Tu vai embora quando, Vini?
O irmão sorri e responde, olhando para Alice:
— Não sei, to curtindo ficar aqui, vou ficar uns dias. Ceis vão me mostrar a cidade, né? Dizem que as praias daqui são bem maneiras.
Como Victor não diz nada, a mãe fala:
— Leva ele, Victor. É bom que ceis dão um passeio, tu tem trabalhado muito.
Vini, novamente, da um risinho para o irmão, com certo ar de deboche, mas a mãe não percebe.
— Quem diria, o Victor morando junto com uma menina... a parada é séria mermo, hein? — ele diz — ela é muito gata, se deu bem, irmãozinho.
— Cala a porra da boca, Vini! — Victor diz, furioso, mas controla o tom de voz.
— Parem com isso, vocês dois! — pede Joana — Ele tá só elogiando a Clara, Victor, deixa disso!
Victor apenas olha para a mãe e Vini da mais uma risadinha, dizendo:
— Eu achava que esse stress todo do Victor era falta de mulher, mas pelo jeito, não.
Victor levanta da mesa e diz:
— Mãe, valeu pelo almoço, mas é melhor eu ir embora. Vamo, Clara?
Alice levanta, aliviada, ela não aguentava mais esse clima pesado e não gostava dos olhares que Vini lançava para ela.
— Já? Mas eu nem trouxe a sobremesa ainda! — diz Joana — Fiz bolo de cenoura com cobertura de chocolate, como tu gosta.
Alice nota que Victor tem um momento de hesitação. Não porque quer muito comer o bolo, mas por querer agradar a mãe. É algo que a faz amá-lo ainda mais, ser tão atencioso e ter consideração pelas pessoas.
— Relaxa, cara! Não vou falar mais nada da tua mulher não, já saquei. — Vini fala, levantando as mãos, como em rendição.
Victor olha para Alice e ela assente, concordando em ficar, então ele senta, meio a contragosto. Da um leve sorriso para a mãe, que vai buscar o bolo. Logo quando ela sai, Victor diz para o irmão:
— Só to aqui em consideração pela mãe, que ainda se ilude contigo, tá ligado? Depois de hoje, não quero mais te ver, é bom tu vazar logo pro Rio!
Vini não tem tempo de responder, pois Joana volta com o bolo nas mãos e um sorriso no rosto. Depois de servir os filhos e Alice, ela pergunta:
— Ainda prefere meu bolo ou o da Clara é melhor?
— Coitada de mim, dona Joana. Meu bolo nem chega perto do da senhora. — Alice responde, com um sorriso.
— Teu bolo é bonzão, amor, para com isso. — Victor diz, mais relaxado depois de começar a comer o bolo.
Vini fica mais calado, mas Alice percebe que ele observa a interação entre ela e Victor e não consegue sentir-se confortável com o olhar dele sobre si. Algum tempo depois, Victor diz que vai embora e o irmão sai do silêncio, dizendo:
— Eu deixo vocês, to de carro.
— Precisa não. — diz Victor, sério, já em pé.
— Deixa ele te levar, Victor, que é que tem? Domingo passa menos ônibus por aqui. — Joana diz.
Dessa vez, Victor não cede ao pedido da mãe e nega novamente. Quando já está do lado de fora da pensão, diz para Alice:
— Porra, o Vini é foda! Fica com aquela cara de merda, como se não tivesse feito a gente passar o maior sufoco! E a mãe querendo passar pano, puta que pariu!
— Calma, Victor. Ele não deve ficar aqui por muito tempo. — Alice tenta acalmá-lo.
— Também não gostei nada do jeito que ele ficou olhando pra tu, Alice.
— Alice? O nome dela não é Clara? — é a voz de Vini atrás deles.
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Tudo o que a Alice não queria 🤦🏻♀️
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