Capítulo 3
ALICE
— Você pode explicar que palhaçada foi aquela que inventou, Alice? – pergunta o pai furioso, ao invadir o quarto da filha no sábado de manhã.
— Pai? – diz Alice num pulo, havia acabado de acordar e estava dando uma olhada no celular.
— Que ideia foi aquela de dizer ao Bernardo que você iria a um convento? Tá maluca? – Nelson continua seu interrogatório.
Alice senta-se na cama, coloca parte de seu cabelo loiro para trás e diz:
— E qual é o problema de ele pensar que vou ser freira? Ele não tem nada a ver com a minha vida!
— Olha aqui, mocinha, acabou minha paciência com você! Escute bem: o Bernardo Guimarães é um ótimo partido e será excelente para ambas as famílias que vocês se entendam, está me compreendendo?
— Não, pai, não estou entendendo, o que o senhor quer de mim?
— Não se faça de desentendida, Alice! Tenho uma importante ligação com a família Guimarães, precisamos estabelecer certos vínculos e seu casamento com Bernardo vai ajudar a selar nossos compromissos – diz o pai, com impaciência.
— O QUE?? – Alice dá um pulo da cama. – O senhor falou CASAMENTO? Como assim, pai??
Ela está em completo choque. Desconfiava, claro, que seu pai queria empurrar um relacionamento de conveniência para ela, mas jamais pensou que seria algo sério como casamento.
— Qual o problema? Bernardo é um rapaz rico, bem apessoado, não queira transformar tudo num grande sacrifício, Alice!
— Mas por que o senhor tem que me enfiar nos seus negócios?? O que minha vida pessoal tem a ver com isso?? – Alice pergunta praticamente aos gritos, cada vez mais desesperada. – Minha resposta é NÃO, fique o senhor sabendo!
— Olha como fala comigo, menina! Que atrevimento é esse? Não vou ter prejuízos por conta dos caprichos de uma moça mimada como você, ora bolas! Conforme-se logo com esse casamento! – Nelson diz e sai do quarto da filha, batendo a porta.
A essa altura, Alice está trêmula e lágrimas caem no seu rosto. Não consegue acreditar que o pai a trate como uma mercadoria desse jeito, sem dar a mínima para seus sentimentos.
Um outro sentimento vem à tona, que é o pânico. E se a tal família Guimarães estiver envolvida com os negócios escusos do seu pai e ela for uma espécie de prometida ou algo assim?
Foi tomada por uma forte náusea, o que a fez correr para o banheiro e vomitar no vaso. Infelizmente, não duvidava de que seu pai pudesse envolvê-la numa situação desse tipo.
Depois de ficar um pouco mais calma, coloca um biquíni e desce para a piscina, pois quer nadar até seus braços aderem e perder o fôlego.
Quando chega a hora do almoço, dá graças à Deus que os pais haviam saído para algum compromisso social e ela pode almoçar na cozinha com Lourdes.
— Você está tão abatida, menina. O que aconteceu? – a governanta pergunta.
— Meu pai, Lou. Ele quer que eu case com um cara só porque será bom para seus negócios. Não estamos já no século XXI? Como esse tipo de coisa ainda existe?
Lourdes olha para a moça com pesar e balança a cabeça.
— Às vezes eu penso que ter tanto dinheiro é uma maldição – diz a senhora.
— Não vou casar com esse Bernardo, Lou, não vou! Nem que eu tenha que fugir de casa!
— Não fale bobagem, menina!
Alice não diz nada, apenas fica fitando o vazio. Depois do almoço, volta para o quarto e tira do fundo do armário seu material de desenho. Hoje ela quer desenhar uma imagem triste, que é como está seu estado de espírito.
Pesquisa algumas fotos na internet e decide por um rosto de uma mulher ruiva, com sardas, com uma lágrima caindo de seus olhos azuis. Acende a luminária da sua escrivaninha e passa a trabalhar no desenho. Alice gosta de usar lápis, consegue fazer traçados com intensidades diferentes, proporcionando um lindo efeito final.
Estava concentrada nos detalhes finais da sua obra quando seu celular toca. Constata que é sua amiga Talita e dá um sorriso.
— Fala, Talita!
— Oi, Alice! Tá fazendo o que?
— Nada... vendo uma série, apenas – mente. – E você?
— Como foi a festa ontem? Queria tanto participar desses eventos chiques! – comenta a amiga, ignorando a pergunta.
— Você não está perdendo nada, Talita. É um tédio só.
— Ah, vai! Aposto que tem uns caras interessantes! Não conheceu nenhum?
— Conheci um que meu pai quer que eu case, dá para acreditar?
— E é gato?
— Talita! É sério, poxa. Meu pai quer mesmo que eu case com esse tal de Bernardo Guimarães, até brigou comigo e tudo, hoje.
— Nossa, amiga, é assim? Que barra... — Talita faz uma pausa e pergunta: – Diz uma coisa, tá afim de uma festinha diferente hoje?
— Festinha diferente? Onde? – pergunta com curiosidade.
— Baile no morro. Antes que você diga que não é ambiente para uma princesinha como você, saiba que o local é até bem frequentado, viu?
Alice não consegue conter uma risada ao imaginar a cara de seus pais se soubessem que ela estaria num ambiente desses e como estava revoltada com toda a discussão do dia, não pensa duas vezes e resolve aceitar o convite.
— Aí! Passo na sua casa às 21 horas, certo? – diz a amiga.
— Beleza, falou! – diz Alice e desliga.
Algumas horas mais tarde, Alice está pronta e já espera Talita. Usa um vestido preto justo e curto, um salto e faz chapinha em seu cabelo. Depois de terminar sua make, olha no espelho e o resultado final a agrada bastante. Quando sai do quarto e desce as escadas para chegar à sala, encontra sua mãe, que pergunta:
— Aonde você vai, Alice?
— Uma festa – limita-se a dar apenas essa resposta.
— Não chegue muito tarde, seu pai marcou um almoço aqui amanhã e você deve estar apresentável – diz a mãe e segue caminho para seu quarto.
Alice tem um estremecimento. Será que tem algo a ver com o tal Bernardo? Nesse momento, recebe uma mensagem no celular, é Talita que acaba de chegar. Alguns minutos depois, está no carro da amiga, no banco de trás, pois Rafaela, outra amiga, já está no assento da frente.
— Que trabalheira é entrar aqui, hein? Mil seguranças! Deus me livre ser rica, mas quem me dera! – diz Talita com uma risada, seguida por Rafaela.
— E esse baile, como você descobriu isso, garota? – Alice pergunta, mudando de assunto.
— A Talita tá pegando um carinha da comunidade – diz Rafaela, com um sorriso malicioso.
— É mesmo? Conheceu ele onde? – Alice pergunta, curiosa.
— Ah, por aí... — Talita responde, sem dar mais detalhes.
Algum tempo depois, as amigas chegam à entrada do morro e tem um certo movimento de carros, o tal baile deve ser mesmo conhecido. Consegue uma vaga e saem do carro. Talita usa um vestido também justo e curto, mas vermelho. Ela é morena, tem um corpão e seu cabelo é comprido. Já Rafaela é loira e magrinha. Ela usa uma calça skinny e um cropped branco.
As amigas recebem vários olhares enquanto caminham para o local em que estava ocorrendo o baile e quando chegam à entrada, um homem muito forte e careca aparece, dando um abraço em Talita.
— Oi gata! Tá maravilhosa, hein? Que é isso... – diz, afastando-se um pouco para examinar o corpo de Talita.
Logo depois, o cara olha para Alice e Rafaela, perguntando:
— E as loiras, quem são?
— Alice e Rafaela, esse é o Jonas, meninas — Talita diz.
Depois das apresentações, entram no ambiente em que está havendo o baile e Alice já consegue sentir as vibrações da batida.
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Muitas cobranças para a Alice e as coisas ainda vão piorar.
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