Capítulo 21
ALICE
Quando acordou na quarta-feira, Alice estava bem ansiosa. Se tudo estivesse como ela esperava, seu pai não haveria comunicado seu suposto sequestro para a polícia, então não seria surpresa ela aparecer na sua agência do banco.
Colocou um vestido elegante, mas simples, calçou um salto e fez uma maquiagem discreta. Tinha que agir normalmente, como alguém que simplesmente desejava sacar 50 mil reais. Além do dinheiro que pretendia dar a Victor, precisava de mais para si.
Como não daria para fazer isso pelo caixa eletrônico, precisava da burocracia de ir até a agência e falar com o gerente. Se isso estragaria seu plano, paciência, ela precisava fazer isso por Victor.
E por que precisava? Ela se perguntava. Porque havia ficado tocada pelo seu desespero, pela situação absurda em que ele se encontrava, porque mesmo com alguns desentendimentos, ele havia dado a ela mais do que precisava, como sua genuína preocupação.
Sem contar com o fato de ter impedido que ela fosse estuprada, o que Alice não gostava nem de lembrar. Havia outro motivo, mas ela não queria admitir para si mesma, afinal, não podia acreditar que pudesse estar ficando apaixonada por ele em tão pouco tempo. Certamente, deveria ser carência por toda a situação.
— É aqui, Alice? Foi mal, Clara. — pergunta Jonas, fazendo Alice despertar dos seus devaneios.
— É sim. — ela responde.
Jonas havia estacionado numa agência que ficava na Barra da Tijuca. Alice combinou com ele que seria melhor ela entrar sozinha e ele ficar aguardando no carro. Dessa forma, ela adotou sua postura altiva de quando precisava resolver alguma situação e entrou no banco, logo informando que gostaria de falar com o gerente, pois iria fazer um saque.
Depois de alguns minutos aguardando, aparece um homem que apresentou-se como o novo gerente. Melhor assim, alguém que não estaria familiarizado com os Kubrick.
— Eu quero fazer um saque de 50 mil reais. — ela diz como se estivesse fazendo um pedido num restaurante.
O homem levanta um pouco as sobrancelhas e da uma olhada na tela do monitor à sua frente.
— Perfeitamente, senhora Alice, deixe-me apenas verificar algumas coisas. — diz olhando o documento que ela lhe entrega.
Alice ainda guardava sua identidade real e o homem deu algumas olhadas para a foto e para ela.
— Mudei o cabelo. — ela diz, com um sorriso.
Ele olha o cartão do banco, confere alguns dados e faz uma cara que Alice não gosta, pois franze as sobrancelhas ao olhar para o monitor.
— Senhora Alice, receio que não será possível a retirada do dinheiro, a conta encontra-se bloqueada. — ele informa, ainda com uma expressão desconfiada.
— Bloqueada?? Mas como? — ela pergunta, levantando um pouco a voz.
Alice até esperava que fosse encontrar alguma dificuldade, mas achou que seria apenas relativa ao prazo de retirada do dinheiro, não passou pela sua cabeça que a conta pudesse ter sido bloqueada.
— Não tenho maiores informações, desculpe. É o que consta no sistema. — ele diz.
Alice balança a cabeça, olhando para o vazio. E agora, o que irá fazer? Ela olha para o homem novamente e sente que é inútil continuar ali. Ele não pode fazer nada, nem saberia informar, já que é novo na função. Além do que era óbvio que só poderia ter sido a família de Alice a mandar bloquear sua conta.
Ela não sabia como poderiam fazer isso sem uma razão válida legalmente, mas não se surpreendia com o que seu pai conseguia realizar, não deve ter sido nada de mais para ele.
Alice simplesmente levanta-se e sai da agência. Caminha até o carro de Jonas, entra e senta no banco, dando um suspiro.
— Putz, pela tua cara, já vi que não rolou sacar a grana hoje. Deram algum prazo? — Jonas pergunta.
— Minha conta foi bloqueada, Jonas, não posso sacar. — ela responde, desanimada.
— Sério? Que merda!
— Achei que meus pais estavam pensando que o Maia havia me sequestrado por alguma razão qualquer, será que não deu certo essa parte do plano?
— Vai saber se aquele mané falou alguma coisa. Será que se borrou tanto que nem reparou no que o Victor disse?
Victor... ele contava com ela e estava dando tudo errado.
— Eu preciso descobrir e vou tentar outra coisa, Jonas. A gente precisa passar na minha casa. Ou melhor, na casa dos meus pais.
Jonas arregala os olhos para Alice, que diz:
— Eu tenho que falar com a Lou, ela vai me ajudar. Pode dizer como estão as coisas e pegar mais algumas joias pra mim.
— E como a gente vai fazer isso? — Jonas faz essa pergunta a encarando.
Mesmo com a tensão da situação, Alice fica feliz com a atitude dele de incluir-se na tentativa de resolver o problema.
— O ideal seria se você conseguisse entrar lá, de alguma forma. — ela diz, pensativa.
Jonas também pensa um pouco e fala:
— Será que rola eu entrar de entregador de aplicativo? Eu fazia uns bicos desses, o Victor também, inclusive. Tenho as paradas de transporte lá em casa.
— Pode ser... eu tinha que conseguir falar com ela, mas como não pude trazer meu celular para não correr o risco de ser rastreada, não tenho o número da Lourdes.
— Tem alguma coisa que ela conseguiria te identificar? No pedido, to falando...pra sacar que é tu. — Jonas pergunta.
Alice pensa por algum momento e logo arregala os olhos, dizendo:
— Jonas, você é um gênio! — faz uma pausa e continua — tem uma coisa que eu gostava de comer quando era criança e a Lou dizia que só eu mesma pra comer aquilo... tomara que dê certo!
Jonas pega seu celular, que toca com uma ligação de Victor. Ele mostra o aparelho para Alice, que diz:
— Não fala nada pra ele ainda, Jonas... não quero que fique naquele estado de novo. Vou tentar conseguir dinheiro de outra forma.
— Tu tá se arriscando muito, gata. Curtiu mermo a pegada dele, hein? — ele pergunta, com um sorriso malicioso.
— Eu só quero ajudar... — ela responde, sem graça — e também preciso de mais dinheiro pra mim.
Jonas apenas assente, ainda com um sorriso no rosto.
Algumas horas mais tarde, ele segue em direção ao Joá na sua moto e Alice vai dirigindo o carro. Ainda bem que Jonas foi esperto e o trocou, dessa forma, não teria a possibilidade do segurança reconhecer o veículo. Alice não iria entrar, mas queria estar por perto para poder ver a governanta, caso fosse necessário.
Sendo assim, ela estaciona o carro numa rua próxima e fica aguardando. Já estava quase roendo as unhas, quando avista a moto de Jonas aproximando-se e Lourdes caminhando ao seu lado. Alice não resiste a sair do carro e correr para abraçá-la.
— Alice! Então é verdade, é você! Eu sabia que aquela história de sanduíche de feijoada estava estranha! — ela diz, abraçando-a — você mudou o cabelo! Como você está, menina? Que machucado é esse no seu rosto?
Alice precisava dar uma pausa em todas essas perguntas, então diz:
— Desculpa, Lou, mas não tenho tempo para explicar. Preciso que você entre no cofre do meu quarto e pegue algumas joias para mim.
A mulher apenas balança a cabeça e diz:
— Seu pai sabe, Alice.
— Sabe o que? — ela pergunta, sentindo um arrepio na nuca.
— Não que tenha certeza, mas desconfia que você, na verdade, fugiu. Eu escuto algumas conversas e já o ouvi dizer que descobriu os diversos saques que você havia feitos há dias, então está desconfiado. Sua mãe notou que sumiram algumas joias suas e ouvi ela comentar com seu pai que havia guardado o resto no cofre pessoal dela.
— Meu Deus... — Alice diz.
— E não é só isso... eu ouvi seu pai conversando com aquele médico amigo dele, o doutor Teixeira, sabe? Eles combinaram do doutor dar um diagnóstico de insanidade temporária para você quando a encontrassem, obrigando a lhe internarem numa clínica, minha filha. — Lourdes diz, com pesar.
— O que?? — Alice pergunta, em choque — Mas como ele faria isso? Eu teria que ter uma segunda opinião médica, alguma coisa!
Ela tenta argumentar, mas sabe que seu pai compra muitas pessoas, ela jamais estaria segura.
— Alice, se ele já sacou que foi armação, melhor tu se ligar, o cara do banco pode avisar a ele que tu pintou por lá. — Jonas diz.
Ela apenas assente, assustada. Tinha dado tudo errado e a situação era pior do que ela imaginava.
— Eu preciso ir... me leva daqui, Jonas.
— Tu vai ter que ir dirigindo, Alice, consegue? To com a moto. — ele comenta apontando para o veículo.
Alice da um abraço apertado em Lourdes, que diz:
— Se cuida, minha querida.
Ainda em choque, ela da a partida no carro e segue Jonas em direção ao Vidigal. Ela estava quase sem dinheiro tanto para si, como para Victor e ainda corria o risco de perder sua liberdade e sanidade mental. O que iria fazer agora?
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A situação é pior do que Alice pensa, o que será que vai acontecer agora? Espero que estejam gostando da história, não esqueçam de votar 😘
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