Capítulo 1
ALICE
Mais uma noite daquelas, não sei por mais quanto tempo vou aguentar isso, pensa Alice. Nelson Kubrick, seu pai, é um importante homem de negócios, dono de uma extensa rede de hotéis luxuosos espalhados nas principais capitais do Brasil e do exterior. Hoje, está oferecendo um jantar na mansão da família, no Joá e o local está movimentado.
É dessa forma que o público em geral o conhece, mas Alice desconfia de que ele está envolvido em atividades ilícitas. Desde criança, quando tinha mania de escutar conversas escondidas, via seu pai reunir-se com figuras estranhas no escritório de sua mansão e ela ouvia constantemente mencionarem polícia, investigação e a frase não podemos ser descobertos.
Mesmo em tenra idade, já tinha a consciência de que isso não era uma coisa boa, havia algo de errado. Hoje, com 23 anos, continuava captando indícios de atividades escusas, mas não se dava mais ao trabalho de tentar descobrir o que era, só queria distância.
Sônia, sua mãe, era uma típica socialite que se preocupava mais com as aparências e colunas sociais em vez de pensar no que acontecia em sua própria casa. Talvez desconfiasse de como tanto dinheiro entrava na conta bancária do marido, mas preferia perder tempo pensando em como gastá-lo.
Essa noite é mais uma das oportunidades de esbanjar, já que estão oferecendo um rico banquete para parte da sociedade carioca. Alice odiava esses jantares, se dependesse dela, estaria longe de casa nesses momentos, mas os pais exigiam que estivesse presente.
Dessa forma, ela estava circulando com seu preto longo pelo gramado da mansão, onde alguns convidados divertiam-se, quando ouve a voz de seu pai:
— Alice, venha aqui! Preciso apresentá-la a uma pessoa.
Ela fecha os olhos, suspira fundo e dá meia volta, nem tentando disfarçar um sorriso. Mais do que nunca, adorava mostrar sua rebeldia nesses momentos e sabia que seu pai ficava furioso com isso.
Ao caminhar em direção de onde ele havia chamado, viu-o na companhia de um homem alto, loiro, com uma expressão de deleite no olhar, o que não a agradou nem um pouco.
— Esse é Bernardo Guimarães, Alice. Herdeiro da rede de supermercados Montblanc. Pensei que poderiam ser bons amigos – diz Nelson, dando um sorriso e um tapinha nas costas do rapaz, enquanto sai dizendo que precisa cumprimentar outra pessoa.
Que sutil, pensa Alice. Seu pai achava mesmo que ela iria entrar nessa de namoro arranjado com algum filho de amigo dele? Pois estava muito enganado!
— Oi, Alice – diz o rapaz. – Seu pai falou muito bem de você.
— Jura? Acho que você não deve ter ouvido direito – ela responde.
— Além de linda, é espirituosa. Tenho certeza de que nos daremos muito bem, Alice – diz Bernardo, com um sorriso malicioso.
Ela tem um estremecimento, não gosta desse sorriso. Quando pensa em fugir, sua mãe aparece e cumprimenta o rapaz com muita empolgação.
— Bernardo, querido! É um prazer recebê-lo em nossa casa! – diz Sônia, dando um abraço no rapaz. – Vejo que já conheceu Alice – completa, olhando para a filha e dando uma piscadinha que fez a moça ter vontade de revirar os olhos.
— Sim, dona Sônia, sua filha é encantadora – Bernardo responde lançando um olhar de cima a baixo à Alice.
Sônia dá um sorriso satisfeito e antes de deixá-los mais uma vez sozinhos, finge que vai dar um beijo na filha, mas sussurra em seu ouvido:
— É esse o rapaz, Alice. Não faça nenhuma besteira.
O que? Como assim? Do que a mãe está falando? Quando fica sozinha com Bernardo novamente, ele pergunta:
— Soube que você faz faculdade de Administração. Ansiosa para assumir os negócios do seu pai?
Tudo o que Alice mais queria era não ter nada a ver com tais negócios, até porque não entendia bem o que o pai fazia e tinha receio de envolver-se em algo criminoso.
Era verdade que fazia faculdade de Administração, mas o que gostava mesmo era de desenho, inclusive tinha um Instagram anônimo em que postava diversas fotos e contava com mais de 20 mil seguidores.
Nem a porcaria de uma rede social ela podia ter sem ser monitorada pela família, então resolveu criar essa conta como uma forma de sentir-se um pouco livre. Ela postava fotos de seus desenhos e recebia muitos comentários elogiosos, mas nunca revelava sua identidade. Alice gostava de desenhar pessoas, costumando colocar, lado a lado, uma fotografia real e seu desenho.
— Alice? – A voz de Bernardo desperta a moça de sua divagação.
— Na verdade, eu vou para um convento no final do ano, meu pai não disse? Por falar nisso, está na hora de rezar o terço das 22 horas, com licença – diz Alice, deixando o rapaz sozinho com uma expressão confusa.
Não sabia o que seus pais estavam aprontando, mas não iria de jeito nenhum submeter-se a namorar algum herdeiro apenas para satisfazer quaisquer relações profissionais que fossem.
Alice consegue passar o resto da noite esquivando-se de Bernardo, que a olhava de uma forma estranha em alguns momentos. Também deu um jeito de não ficar perto de seus pais, pois não queria cobranças. Dessa forma, acabou indo para o segundo lugar favorito da mansão, fora seu quarto: a cozinha.
— O que você está fazendo aqui, menina? Desde criança com essa mania de ficar enfurnada na cozinha quando tem festa! – diz Lourdes, a governanta, mas para Alice ela era muito mais do que isso.
— Ah, Lou, você sabe que detesto essas festas, não sei porque sou obrigada a participar, não sou mais nenhuma garotinha.
Lourdes trabalha na mansão dos Kubrick desde quando Alice nasceu e sempre tratou a menina com muito carinho, pois tinha pena de como a mãe a negligenciava. Por sua vez, Alice encontrou na governanta um porto seguro, sempre recorrendo à senhora quando precisava de apoio. Ela era a única que sabia de seus desenhos.
— Mas o que você está fazendo aqui, Alice? – questiona a mãe, entrando na cozinha de repente. – Será possível que não perde essa mania de ficar com a criadagem enquanto várias pessoas importantes estão aqui?
Esses comentários da mãe deixavam Alice extremamente constrangida, pois ela falava na frente dos funcionários, não fazia a menor questão de esconder.
— Você sabe muito bem que odeio essas festas, prefiro ficar na cozinha, aqui tem pessoas muito mais agradáveis – diz Alice, fazendo a mãe dar um riso de escárnio.
— Você só pode estar brincando! – diz Sônia. – Você deixou o Bernardo sozinho, que falta de educação, vamos!
— Ele não está sozinho, tem mais de 50 pessoas nessa casa hoje, tenho certeza de que ele consegue companhia mais interessada nele – Alice rebate.
— Vá, Alice, obedeça à sua mãe – Lourdes pede.
Alice acaba seguindo a mãe apenas para deixar os funcionários trabalharem em paz, já que a cozinha estava sendo palco dessa conversa desagradável.
Ao voltar para a sala, Alice encontra Eduarda, a filha insuportável de uma amiga igualmente insuportável de sua mãe e dá um sorriso amarelo quando a moça vem em sua direção.
— Alice, quanto tempo! – diz, medindo-a de cima a baixo. – Não havia visto você desde que retornei da Europa.
Eduarda acaba de passar um ano fora do país e não perdia a oportunidade de meter esse assunto em qualquer tipo de conversa.
E vamos para mais uma chatice da noite, pensou Alice.
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Olá, leitores! Nesse capítulo vocês
conheceram um pouco a Alice. Os capítulos serão alternados entre a vida dela e a de Victor.
Não esqueçam de deixar suas estrelinhas e comentários 😘
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